quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Para Alberto Carlos Almeida, só a escola garante uma sociedade ética

Para o sociólogo, mais tempo de estudo dará aos brasileiros valores mais nobres, essenciais para o crescimento do país

Cristiane Marangon (novaescola@atleitor.com.br)

Alberto Carlos Almeida. Foto: Daniel Aratangy
Alberto Carlos Almeida
Ética, sexualidade e família são alguns dos temas tratados por Alberto Carlos Almeida - no livro A Cabeça do Brasileiro, um desdobramento da Pesquisa Social Brasileira (Pesb), em que o sociólogo investigou os atuais valores de nossa sociedade. As obras do antropólogo Roberto DaMatta e de seus seguidores, que afirmam ser o Brasil um país antiquado, serviram de base para o trabalho. Nos tempos de graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Almeida lia os livros de DaMatta e pensava em provar que suas definições estavam equivocadas. "Com a pesquisa, vi que, na média, elas estão corretas", afirma. Durante cerca de três meses, em 2002, pesquisadores percorreram 102 municípios para entrevistar, em casa, 2 363 pessoas. A amostra revelou um retrato desolador no que se refere aos princípios do brasileiro.
Nesta entrevista concedida a NOVA ESCOLA, o coordenador do trabalho, que cursou mestrado e doutorado em Ciências Sociais, faz relação entre o pouco tempo de estudo do cidadão e os valores ruins que possui. "Para resumir a conclusão da pesquisa em uma frase, digo que só a Educação pode melhorar uma pessoa."

O que a pesquisa realizada sob sua coordenação revelou sobre os valores do povo brasileiro?
Alberto Carlos Almeida
No Brasil, há a idealização de que os pobres são bons e ingênuos, e os ricos, maus e espertos. No entanto, a pesquisa mostrou que pessoas menos favorecidas economicamente e que têm pouco estudo defendem o "jeitinho brasileiro" e a violência policial e confundem o espaço público com o privado - valores considerados arcaicos. Por outro lado, quem tem nível superior e compõe a parcela mais rica apóia valores sociais democráticos, essenciais para um país desenvolvido.

Que dados confirmam isso?
Almeida
Um princípio que pauta as relações humanas é a hierarquia. Esse aspecto ficou claro nas respostas à seguinte pergunta: o patrão diz ao empregado que a partir daquela data ele pode ser chamado pelo pronome de tratamento você. A maioria das pessoas menos favorecidas acha que o funcionário deve continuar usando o tratamento de senhor. Outra questão apontava que os moradores de um edifício liberariam o uso do elevador social aos trabalhadores do condomínio. Grande parte desse mesmo grupo disse que o certo seria continuarem utilizando o de serviço. Para eles, pessoas diferentes têm direitos e lugares distintos. No filme Tropa de Elite, por exemplo, há espectadores que aplaudem quando a polícia é violenta. A Pesb comprova esse comportamento medieval. As pessoas não apóiam que o bandido seja preso e julgado, com direito a defesa. Elas acham certo matá-lo independentemente de ele ser ou não culpado.

É possível que os entrevistados com mais instrução tenham dado respostas "ideais" em vez de ser sinceros?
Almeida
As perguntas foram feitas de maneira indireta, ou seja, representavam condições hipotéticas. Por exemplo: uma mãe que está com o filho doente conhece alguém que trabalha no posto de saúde e consegue passar na frente de outras pessoas. Você acha que o "jeitinho" está sempre certo, certo na maioria das vezes, errado na maioria das vezes ou sempre errado? Para chegar a esse formato, fizemos pré-testes perguntando se o sujeito furava a fila, se conhecia alguém que fazia isso e se ele era a favor dessa atitude. A resposta era sempre não. Então, concluímos que não poderíamos perguntar desse modo, pois todo mundo mentiria. Mesmo assim, vamos supor que quem estudou mais se policiou nesse momento. Isso revela que esses indivíduos prezam alguns valores, diferentemente dos que têm menor grau de instrução, que nem sequer cogitaram essa possibilidade.(fonte: Nova Escola)

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