32º Domingo do Tempo comum
Este 32º domingo, trás na dinâmica da liturgia, o
comportamento assinalado pela extraordinária solidariedade de duas mulheres
viúvas (1ª leitura e Evangelho). A hospitalidade da primeira é compensada pelo
milagre de Elias, sobretudo porque foi acompanhada pela fé na palavra de Deus e
a humildade generosa da segunda mereceu ouvir de Jesus um elogio sem igual. Ensina-nos
S. Paulo que o único sacrifício que agrada a Deus é o do coração disposto a
amar quem quer que seja, não só oferecendo-lhe o que se possui, mas até a
própria vida, se necessário for (2ª leitura).
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Primeira
leitura: 1 Rs 17,10-16
Contextualizando
a primeira leitura, é possível chamar atenção para o confronto que havia entre
os profetas de Baal, que eram adorados pelos habitantes de Canaã e o profeta de
Deus, Elias, o homem da esperança.
No
tempo de Elias quase todo o povo foi vítima das seduções desse deus Baal. Os
ídolos são sempre assim: prometem o que não têm, por isso terminam iludindo os
que lhes prestam culto.
Diante
dessa apostasia, qual a postura de Elias, o profeta de Deus? Fazer a vontade de
Deus, conscientizando povo a não entrar “nessa!”
O
rei, após ser informado pelos bajuladores a respeito do trabalho de Elias, deu
ordens para localizar o profeta e condená-lo à morte. É nessa faze da história
de Elias que se insere o episódio da leitura de hoje.
Para
livrar-se da ira de Acab, o profeta foge. Certo dia chega à cidade de Sarepta
onde encontra uma viúva, à qual restou só um punhado de farinha e um pouco de
azeite. O profeta é alimentado pela viúva, que lhe oferece o único alimento que
lhe restava.
A
viúva acredita nas palavras do profeta, oferece-lhe tudo o que tem e Deus
abençoa a sua generosidade.
Vejamos,
pois: Deus abençoa os que partilham os seus próprios bens; a multiplicação dos
nossos bens é consequência da nossa generosidade.
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Evangelho:
Mc 12,38-44
Marcos divide o texto de hoje em duas
partes: O primeiro (vv. 38-40), Jesus lembra aos discípulos para que tenham
cuidado, quanto ao comportamento dos doutores da lei; a segunda parte (vv.
41-44) trás a narração sobre a viúva pobre que deposita seu donativo, o último
recurso que ela tinha no cofre do templo.
Mas então, quem eram essas “figuras
impolutas”, os doutores da Lei? Tratava-se dos “especialistas no conhecimento
dos preceitos da LEI de Deus e de suas prescrições para o povo de Israel”
(Esdras 7,11); além do mais, eram eles que exigiam e julgavam nos tribunais o
que deviam também cumprir e não cumpriam.
Um
detalhe: Por que Jesus aparece sempre reprovando a atitude dos “doutores da
lei”, os “escribas”? Por que não desfrutavam de forma alguma da sua simpatia?
Porque eram “exibicionistas”, “orgulhosos”, “injustos” e “desumanos”, portanto,
incoerentes com o que ensinavam e exigiam em relação aos outros. Folcloristas,
no sentido negativo; a ponto de tornarem-se ridículos. O Mestre não tolerava
essas facetas “encenações”, aliás, até parece que sentia alergia.
Jesus é encontrado no templo de Jerusalém,
o centro do poder político e religioso daquela época, condenando não só o
pecado de vaidade por parte dos doutores da Lei, mas, sobretudo porque eles
“dilapidavam as casas das viúvas” (v. 40). Elas são as protegidas por Deus (Sl
146,9): “Ai de quem as maltrata! Ai de quem as faz chorar!
Em contraposição aos doutores da lei, às
pessoas que dominam a sociedade, a segunda parte do evangelho, apresenta um
exemplo de religiosidade autêntica: uma pobre viúva que escancara o seu coração
e doa tudo o que tem.
Que lições é possível tirarmos? A mais
simples e imediata, é de humildade, confiança, generosidade e fé em Deus,
apesar de nunca ter acompanhado Jesus, como fizeram os doze, e como fazemos
muitos de nós.
E mais: Precisamos entender melhor que,
“cristão não é o homem rico que, possuindo muito bens, pode dar generosas
esmolas, oferecendo parte daquilo que lhe sobra: cristão é só aquele que, rico
ou pobre, coloca à disposição dos irmãos, ´tudo´ o que possui”.
O pobre também é convidado a partilhar os
seus bens. Não há ninguém tão pobre que
não tenha nada a oferecer.
Mais uma lição: a viúva que oferece tudo é
a imagem de Deus – a imagem de Jesus Cristo que – como ensina S. Paulo – “sendo
rico, se fez pobre” (2 Cor 8,9).
Para Jesus, é evidente o contrate
alarmante e injusto entre as lideranças (doutores da lei, escribas, fariseus,
políticos, ricos e outros) e a classe das viúvas, representantes dos pobres,
marginalizados, das “classes sobrantes”.
Enquanto os outros só buscam ver por fora,
Jesus vê além das aparências, vê lá por dentro! Jesus vê o coração fechado do
rico; Jesus vê o coração aberto da viúva pobre, que termina oferecendo tudo o
que tem.
Pois bem, aí está a autêntica atitude
religiosa que é a de entregar-se totalmente a Deus, doando do que tem,
doando-se a si mesmo ao seu semelhante, ao invés de confiar no seu poder e na
sua riqueza.
O trecho estudado, faz-nos alguns
questionamentos sobre as razões que trazemos no coração. Chega de máscaras e
subterfúgios. Precisamos ser francos e sinceros. Cuidado para não ficarmos tão
somente nas boas intenções, apesar das mesmas serem a primeira condição para se
alcançar uma vida autêntica.
·
Segunda
leitura: Hb 9,24-28
O
trecho da Segunda leitura nos indica dois motivos pelos quais Jesus deve ser
considerado como único e verdadeiro sacerdote.
Os
antigos sacerdotes (Antiga Lei) – nos diz a leitura – ofereciam os seus
sacrifícios num templo material. Cristo, ao contrário, cumpre o seu ministério
no céu, num santuário não construído pelas mãos humanas.
Jesus,
ao invés, ofereceu um só e perfeito sacrifício, não derramou o sangue dos
animais, mas doou o seu próprio, e, com o seu gesto de amor, destruiu
definitivamente o pecado (9vv. 25-27).
Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco de Nova Cruz