sábado, 6 de outubro de 2012

27º Domingo do Tempo Comum - Comentário litúrgico


            Nesta introdução ao 27º domingo do tempo comum (07.10.2012), que traz a família como temática central, faz-se necessário acenar para um dos caminhos dos quais percorrem homens e mulheres.
            Dentre esses caminhos, o mais importante, sem sombra de dúvida é a família: uma via comum, mesmo se permanece particular e única, como única é cada homem e cada mulher; uma via da qual o ser humano não pode separar-se. A Igreja une-se com afetuosa solicitude, porque está ciente do seu papel fundamental que a família é chamada a desempenhar (cf. J. Paulo II, Carta às famílias, n. 2).
            Deus criou o homem e a mulher para que vivessem por vocação a doação entre si, conscientes de que são “uma só carne” (I leitura). Seguindo esta mesma lógica, Jesus, no evangelho de hoje, é categórico em afirmar e solicitar aos esposos e esposas que não se esqueçam de viver para sempre o amor, evitando assim que alguém se intrometa a separar, desmantelando o que Deus uniu (Evangelho). Quanto ao texto (Hb, 2,-11), a (II leitura), o autor nos levar a refletir sobre a opção de Jesus para com toda a humanidade, ao identificar-se em sua radical humildade e obediência ao plano de Deus. No final das contas, fidelidade só é provável na obediência a Deus que acontece no amor-solidariedade.
            Queremos ainda chamar atenção para o mês missionário. Neste seu primeiro domingo – que neste ano tem como tema: “Brasil missionário, partilha tua fé” -, a Igreja realça o dom da aliança matrimonial dos casais-protagonistas missionários do amor.
I leitura (Gn 2,18-24)
            Se não estou equivocado, penso que o autor quer tratar do seguinte tema: A realização do ser humano.
            A propósito da narração do texto, é possível que inúmeras indagações e afirmações, desde quando surgiu o texto até os dias atuais, sejam assim formuladas, por exemplo: “É verdade que Adão ficou com menos uma costela?”; “A mulher é inferior ao homem”; “Quanto ao homem, suas faltas não lhe causam nenhuma sanção divina. Sobre a mulher, sim! E, por aí, vai!”.
            Trata-se exatamente da preocupação que os mestres do povo de Israel tinham para responder a determinadas questões de cunho existenciais e também de fé, como as que foram feitas.
            Atenção, irmãos, quanto às perguntas, o próprio Deus responderá a todas.
            O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe um “auxiliar” semelhante a ele” (v18). “Auxiliar”, é o mesmo que submissão na cultura patriarcal? Pode ser, mas aqui neste contexto, não. Aqui, trata-se de igualdade na diferença; companheiros na extensão um do outro. “Necessitam-se, admiram-se, atraem-se mutuamente, unem-se, formam uma só carne”.
            É essa a interpretação bíblica a respeito do homem-mulher. Vejamos a descoberta que alguém tem sobre esse texto: “Por que Deus tirou a mulher do lado (da costela) do homem? Do lado pra caminhar juntos, para ser companheira. Por que não foi tirada do osso do pé? Se fosse pra ela andar debaixo dos pés do homem, Deus a teria tirado do osso do pé. Ela é companheira, por isso foi tirada do osso do lado. É aquela que caminha junto, que decide junto. É aquela que trabalha junto” (Luzia Santos Florêncio). É do lado do coração que nasce a mulher.
            Destas considerações nascem mais uma: duas pessoas se casam para realizar em conjunto um projeto comum.
            Por fim, cuidado para não esquecermos: quanto amor comprovado por parte do Criador! “O artífice divino tudo fez com muita arte e criatividade. E tudo entregou ao nosso cuidado”.
Evangelho (Mc 10,2-16)
            Não são poucas as situações, e algumas delas, por conseguinte, deixam determinados casais totalmente desapontados, a ponto de se perguntarem se ainda vale a pena insistir na tentativa de conciliar uma relação que iniciou na contramão e que vai despontando como irremediavelmente insustentável. “Não seria mais coerente que cada um seguisse o seu caminho, buscando descobrir novas perspectivas de vida?” A essas insistentes e sofríveis indagações, a razão humana responde sem titubear: é melhor a separação!
Nessa mesma linha de pensamento, o Antigo Testamento justifica a possibilidade da efetuação do divórcio, uma vez que era permitido pela lei judaica. Assim, no livro do Deuteronômio (24,1) lê-se: “Quando um homem se casa com uma mulher e consuma o matrimônio, se depois ele não gostar mais dela, por ter visto nela alguma coisa inconveniente, escreva para ela um documento de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair de casa em liberdade,”. Com base nessa orientação, justificava-se a liceidade do divórcio.
Por esses meandros, lá vêm de novo os fariseus com suas armadilhas maldosas, tentando encurralar Jesus. Dessa feita, eles trazem a seguinte questão: “se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher”.
O texto adota o esquema dos diálogos didáticos, ou seja, o processo dialético e pedagógico socrático (maiêutico). Os interlocutores se sentem obrigados a responder, revelando seus pontos fracos. O Mestre corrige a resposta dos interlocutores, apresentando a novidade.
Na perspectiva deuteronomista, o documento de divórcio visava proteger a mulher, coibindo o inveterado arbítrio machista. Com esse documento, a mulher estaria livre para se casar com outro homem, sem ser acusada de ter cometido adultério. Os fariseus, portanto, ao responder que Moisés permitiu escrever o documento de divórcio, legitimam a discriminação, querendo torná-la parte integrante da vontade e do projeto de Deus.
Sábia, livre, corajosa e acertada é a resposta de Jesus, mostrando, em primeiro lugar, que a prática farisaica é um gesto de impiedade e de idolatria; “Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse documento” (v.5). O que Jesus pretende dizer com seu ensinamento é que homem e mulher, unidos em matrimônio, formam uma unidade corpórea indissolúvel. É questão de projeto de Deus! Portanto, quem terá a autoridade de contrariá-lo? “A separação se transforma num atestado destruidor da obra de Deus”.
Terminadas as instruções catequéticas sobre o matrimônio cristão, na última parte do evangelho (vv. 13-16) Jesus retoma a condição da criança e convida os seus discípulos a acolherem o Reino de Deus com ela.
O v. 15 traz a declaração solene de Jesus: “Em verdade, digo a vocês: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nele não entrará”. Os pobres, portanto, são apresentados como condição para acolher o Reino e entrar nele.
Para compreender melhor a indissolubilidade é preciso voltar a ser criança e deixar-se penetrar por uma sabedoria completamente nova, a de Deus. Eis a condição sine qua non! (sem a qual não!).
II leitura (Hb 2,9-11)
            A segunda leitura está sintonizada com o tema do matrimônio e família segundo o projeto de Deus: Jesus, embora sendo homem como nós, está em condições de entender as dificuldades que encontramos também na execução do projeto de Deus.
            Que não ouçamos tão somente as leituras, mas procuremos apreender o seu conteúdo, tendo-o como luz na execução, sobretudo da compreensão em relação aos casais que se encontram em situações dificílimas. Assim seja!
Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco de Nova Cruz-RN

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