sábado, 22 de setembro de 2012

Visita papal ao Líbano promoveu o diálogo, reflexão e a “cultura da paz” 

Visita papal ao Líbano promoveu o diálogo, reflexão e a “cultura da paz”
O Arcebispo caldeu-católico de Kirkuk (Iraque), Dom Louis Sako, fez um balanço positivo da última visita do Papa ao Líbano, realizada entre os dias 14 e 16 de setembro, e afirmou que esta foi uma ocasião de promover a “cultura da paz”, o diálogo entre cristãos e as demais religiões do Oriente Médio.
Em conversa com fontes da Fundação “Ajuda à Igreja que Sofre” (AIS) em Beirute neste domingo, 16, Dom Louis mostrou-se convencido de que a visita também levará muitos muçulmanos à reflexão, graças ao testemunho de paz e abertura ao diálogo do Papa e dos cristãos ali congregados.
«A cultura da paz que assim se expressa é de grande ajuda para todos nós no Oriente Médio, muçulmanos e cristãos», afirmou o Arcebispo, que afirmou também já ter recebido reações muito positivas de amigos islâmicos do Iraque que admiraram na televisão o pacífico encontro de centenas de milhares de cristãos. «O sorriso do Papa por si só já foi uma mensagem», acrescentou.
Ao ser perguntado se a mensagem de respeito e de paz, transmitida pelo Papa Bento XVI no Líbano, poderia ajudar a tranquilizar a ira desatada no mundo árabe por um recente vídeo considerado um insulto ao islã, o Arcebispo Sako respondeu: «Assim espero. O vídeo despertou protestos também no Iraque; a televisão iraquiana me entrevistou sobre o assunto. Agora depende de nós. Que saibamos traduzir em nossos países o que disse o Papa aqui, em Beirute».
O Arcebispo iraquiano expressou também a esperança de que a Carta Apostólica «Ecclesia in medio oriente», agora publicada pelo Papa, ajude a reforçar a comunidade entre as Igrejas no Oriente Médio. Será necessário aprofundar na cooperação tanto com as Igrejas não católicas como com as Católicas de outros países da região. Além disso, para por em prática a Carta Apostólica, é importante aprofundar no diálogo, também teológico, com os muçulmanos.

A revolução sexual e suas consequências

reportagens / Transtornos da sexualidade

Houve um tempo em que falar sobre sexo era um verdadeiro tabu, um tema que estava ligado à procriação, à intimidade dos lares e dos esposos. Com a revolução sexual dos anos 60 e a invenção da pílula anticoncepcional, o sexo deixou de ter fins procriativos, foi do “proibido” ao “libera geral”, passou a ser um produto de consumo, algo superestimulado e até mesmo comercializado.
Historicamente, a revolução sexual tem, na sua gênese, o fenômeno ideológico e filosófico da contracultura, cujo principal objetivo é obter mudanças nas relações humanas, caracterizada pelo seu interesse nas drogas, no sexo e rock’n roll. Na base desta ideologia está o filósofo alemão e naturalizado norte-americano Herbert Marcuse, com a ideia de que a livre expressão da sexualidade seria uma arma política contra o sistema capitalista.
Padre Paulo: "A revolução sexual foi uma engenharia de desconstrução social"
Com a sua obra ‘Eros e civilização’, Marcuse injetou na juventude norte-americana do pós-guerra a ideia do sexo livre como o mais alto grito de protesto contra o sistema. Palavras de Marcuse viraram chavões de uma época: “Não faça guerra, faça amor” ou “paz e amor”.
“Com a invenção da pílula anticoncepcional e a propagação cada vez maior do uso da camisinha, as pessoas passaram  - até culturalmente – aceitar a ideia de que sexo nada tem a ver com filho (abertura à vida) ”, diz o sacerdote da Arquidiocese de Cuiabá (MT), padre Paulo Ricardo considerando este fato um dos pilares da revolução sexual.
O grande problema é que, a partir daí, o negócio ‘desceu ladeira abaixo’. Os homens passaram a ter comportamentos cada vez mais femininos como cabelos longos, roupas justas, brincos e até maquiagens. Surgiu a industria pornográfica e a manipulação do sexo pela mídia, numa crescente onda de exposição dos corpos para vender produtos. As mulheres passaram a colocar, no rol dos seus direitos, o sexo livre, o exibicionismo, direitos reprodutivos como aborto, direito sobre o corpo, etc. A proliferação de doenças como AIDS, Sífilis, HPV e outras doenças de cunho sexuais se transformaram em verdadeiras epidemias.
“O feminismo radical, por exemplo, fruto desta revolução sexual, tornou-se o grande inimigo da mulher. As feministas americanas fazem, ainda hoje, passeatas com cartazes escritos ‘It’s nice to be slut’, cuja tradução é: ‘é legal ser uma vadia’. Como pode uma mulher orgulhar-se de ser fútil, ser devassa?”,  diz padre Paulo.
Para o sacerdote existem também forças espirituais que atuam na desconstrução da pessoa e que age na sociedade. “Nós devemos entender que existe uma obra de engenharia que está destruindo a criação. Por trás desta revolução sexual, existe muito mais do que sexo, há também uma revolta do mundo espiritual”, conclui o sacerdote. (fonte: canção nova)
Artigos - CNBB

EM QUEM VOCÊ VAI VOTAR?
29/8/2012

eleiçoes1.jpgCom os programas eleitorais pelo rádio e a TV, inicia a fase decisiva na campanha eleitoral para as eleições municipais de 2012. É a hora de conhecer melhor os candidatos, os programas e propostas de seus partidos e de fazer o discernimento para a escolha dos candidatos.
Estas eleições são importantes e merecem toda a atenção, pois nos municípios está a base da vida política nacional: ali está o povo que vota; vereadores e prefeitos darão, depois, o apoio aos candidatos a deputados estaduais, federais e governadores e à própria escolha do mandatário supremo do país. Sua importância maior, porém, está na gestão do poder local: escolher bem o prefeito e os vereadores é fundamental para a comunidade municipal.
Os candidatos farão a sua parte, nessas próximas semanas, para se apresentarem aos eleitores e para obter o seu voto. Também os eleitores deverão fazer a sua parte; vale a pena recordar alguns critérios para acompanhar a campanha eleitoral e para discernir sobre as escolhas a fazer. Abster-se de toda informação, votando em branco, ou escolhendo apenas na última hora não seria a coisa mais aconselhável.
É fundamental o conhecimento dos candidatos, sua história pessoal e seu preparo para assumir o cargo que pretendem exercer. E é necessário conhecer suas propostas e as de seus partidos, para avaliar se elas levam em conta as reais necessidades da população e do município. O Legislativo e Executivo municipal devem estar atentos às grandes questões que interessam à vida da cidade: educação, saúde, segurança pública, transporte, habitação, cuidado do meio ambiente, limpeza pública, saneamento básico; atenção especial merecem os pobres e as camadas sociais mais vulneráveis da cidade. Propostas com soluções mirabolantes e irreais devem receber a desconfiança do eleitor.
Infelizmente, a campanha eleitoral tem mostrado, com frequência, maior preocupação doseleições1.png candidatos em "demolir" os adversários do que em apresentar aos eleitores propostas de governo dignas de fé e adequadas para o exercício do mandato pretendido. Os eleitores têm o direito de cobrar propostas dos candidatos e de esperar que eles estejam atentos às necessidades das comunidades locais.
Os bons políticos não podem estar atrelados apenas ao interesse de algum grupo, mas comprometidos com a promoção do bem comum. É necessário desconfiar de quem pede o voto, mas, depois de eleito, nunca mais se interessa pelas necessidades da população, em geral, e fica apenas a serviço de algum grupo de interesse. Nesse particular, vale a pena avaliar o desempenho político de quem pede para ser reeleito.
A corrupção na vida política é um grande mal e deve merecer uma atenção especial dos eleitores; a eleição é a grande chance de manter longe do poder quem não tem "ficha limpa", ou já esteve envolvido em desonestidade, ou tem histórias pouco claras na gestão do poder público. Mais uma vez, é preciso conhecer os candidatos e conferir: ficha limpa e "cheia" de credibilidade...
A corrupção política pode começar na própria campanha eleitoral, quando há o abuso do poder econômico, ou se o candidato tenta "comprar" o voto dos eleitores, em troca de pequenos benefícios. Mas também os eleitores não devem "vender" seu voto, nem trocá-lo por favores, mas votar com liberdade e responsabilidade; o voto representa a dignidade pessoal, que nenhum preço paga. A compra de votos e outras formas de pressão sobre o eleitor devem ser denunciadas, com base na lei 9.840, como "crimes eleitorais", cuja pena pode levar à perda do mandato.
Religião e política devem ficar distantes? Depende. O critério religioso não deve ser o mais importante; trata-se de escolher pessoas honestas e dignas, capazes de governar e legislar. Mas é bom verificar, se os candidatos respeitam a liberdade de consciência, as convicções religiosas e morais dos cidadãos, seus símbolos religiosos e a livre manifestação da fé; não vote em quem vai criar depois, de alguma forma, problemas para esses direitos. E apoie candidatos que protejam e amparem a família diante das ameaças à sua identidade e missão natural. A cidade que descuida ou abandona a família herdará muitos problemas.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)





25º Domingo do Tempo Comum Quem quiser ser o primeiro deve ser o servidor
cônego Celso Pedro da Silva
Sb 2,12.17-20; Sl 53 (54); Tg 3,16 – 4,3; Mc 9,30-37
Pela segunda vez, Jesus anuncia a sua Paixão, morte e ressurreição. Este anúncio é feito de forma breve: Ele vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-lo, mas Ele ressuscitará. Jesus estava voltando para casa, em Cafarnaum, e durante o caminho conversava com os discípulos e ensinava a eles o que deviam aprender. No primeiro anúncio, Pedro reagiu e recebeu uma chamada. Agora, no segundo, ninguém disse nada. Não entenderam e tinham receio de perguntar. Durante o caminho, Jesus adiantou-se e os Doze vinham um pouco atrás, discutindo algum assunto.
Em casa, Jesus perguntou sobre o que estavam discutindo, mas eles ficaram quietos. Continuavam com receio de falar ou estavam com vergonha do assunto sobre o qual discutiam. De fato, eles estavam brigando para saber quem deles era o maior, o mais importante do grupo dos Doze. Ora, enquanto Jesus anuncia sua entrega, seu sofrimento, sua morte, eles alimentam rivalidades e se tornam adversários uns dos outros.
Com muita paciência, Jesus se senta, chama os Doze e lhes diz: “Quem quiser ser o primeiro deve ser o último de todos e o servidor de todos”. Jesus então pega uma criança e a abraça ensinando aos Doze que o serviço que se presta a alguém, aparentemente frágil e sem importância, é feito a Ele mesmo e a Deus Pai que o enviou. Na sociedade de então o homem era o primeiro, a mulher e a criança vinham depois. Jesus inverte o quadro e coloca quem é o primeiro a serviço dos demais. Pode ser que os Doze Apóstolos tenham entendido a lição. Seus sucessores e todos nós, entendemos? Cobiça, inveja, rivalidade geram a desordem, ensina São Tiago. É na paz que devemos viver, e ela é fruto da justiça. Dando atenção aos mais fracos, pondo-se ao lado dos indefesos, rejeitando o pecado, mas compreendendo os pecadores, Jesus incomodava, por isso queriam matá-lo.
O “pecado” vai matá-lo porque Ele veio para tirar o pecado do mundo. Na sua morte, já não somos mais dependentes. Somos livres para criar um mundo novo, administrando com sabedoria a nossa inclinação para o mal. A sabedoria vem do alto e entra em nossa vida como força de equilíbrio. Os sete pecados capitais, expressão prática da nossa má inclinação, continuam tentando se assentar em nossas cabeças, mas não perdemos o equilíbrio. Necessitamos de autoestima sem, porém, nos deixarmos dominar pela inveja e pela soberba. Comemos sem ser gulosos, administramos sem avareza, reagimos sem ira, descansamos sem preguiça, geramos vida sem luxúria.
O último lugar é o lugar de Jesus, lugar santificado e valorizado pela sua presença. Sua importância vem de seu próprio ser. Nele nada é artificial, não importa onde esteja. Importante é o lugar onde Ele está. Podemos ocupar o primeiro lugar e significar pouco para os tempos em que vivemos. Podemos estar no primeiro lugar e bloquear a passagem, impedir o crescimento, criar o vazio.
No entanto, é verdade que o último lugar pode ser um lugar cômodo. O equilíbrio da sabedoria se faz necessário também aqui. Posso ocupar o último lugar não para servir, mas para não fazer esforço, para não ser chamado, para viver a minha vidinha. E o último lugar passa a ser o da mediocridade.
21/09/2012 - 11:39 Mesa da Palavra




Calma X Desespero
Maria Regina Vicentin *
Nesta nossa vida existem inúmeros momentos de sofrimento, desalento, desespero, dor, inquietação, ansiedade, medo e outros tantos sentimentos desagradáveis que só quem passa sabe como é. Em maior ou menor proporção todos nós experimentamos pelo menos algumas dessas sensações. O que quero mostrar hoje, é que a calma é algo extremamente necessário nessas horas. Quando vivenciamos a aflição e o desespero temos a sensação de que estamos completamente desamparados. Escutamos a todos e ao mesmo tempo a ninguém. Nossa cabeça parece pensar sem parar e acreditamos que vamos enlouquecer ou que, de qualquer forma, não vamos suportar tamanho peso, tamanho desgaste, tamanho baque.
Essa sensação é normal, embora acreditemos que já não estamos mais no nosso juízo perfeito. O que ocorre com muita freqüência, entretanto, é que o desespero nos leva a perder aquilo que mais deveríamos prezar nessas horas: a nossa calma. Isso é realmente algo desastroso, pois tendemos a cometer muitos erros quando estamos alterados emocionalmente. Vemos coisas onde elas não existem e as deixamos de ver onde se mostram, às vezes, claramente. Ficamos com nosso senso crítico prejudicado e podemos assumir atitudes de completo destempero com quem não merece isso de nós. A ausência de calma, normalmente, cria um clima tenso em todos que participam ativamente ou não do problema em questão, basta que estejam próximos ou ligados emocionalmente à pessoa que sofre. Isso só conduz a mais sofrimento e incompreensão.
Quando conseguimos manter a calma, os problemas continuam acontecendo, mas nossa visão sobre eles é modificada. Percebemos que, em muitas circunstâncias, não há mesmo nada que se possa fazer a não ser esperar ou aceitar o ocorrido. E se é só isso que se pode fazer, porque é que você vai exatamente se desesperar? O desespero traz desgaste dobrado. Nada no mundo muda realmente com o desespero, somente nosso próprio eu, que fica em frangalhos e as pessoas que se importam conosco, que sofrem junto. Em horas difíceis nada melhor que uma boa dose de calma, silêncio e resignação, ainda que momentânea. E é claro que você deve estar pensando: na teoria isso é fácil Maria Regina, quero ver na prática. E eu lhe direi: quem foi que disse que é fácil? Eu não disse que é fácil, disse que é necessário, bom, e que deveríamos tentar.
Para obter calma num momento desesperador temos que, antes de mais nada, avaliar que a afobação só irá servir para atrapalhar nas providências a serem tomadas, pois quando estamos assim tensos e esbaforidos costumamos ter que realizar as coisas repetidas vezes, pois não as fazemos bem feitas. Lembra-se daquele ditado: "a pressa é inimiga da perfeição"? Tenho certeza de que você já o comprovou inúmeras vezes nessas situações. Uma vez consciente de que esse é o melhor caminho, você deve ordenar a seu coração que se acalme, baixando a pulsação. Você pode conseguir isso mentalizando e respirando várias vezes de modo profundo, contando até dez. Depois de algum tempo, sua mente e seu coração já estarão mais calmos e você poderá programá-los positivamente. Volte seu olhar para o alto (isso é muito importante) e peça a Deus que o oriente e guie em direção ao melhor caminho a seguir. Acredite (isso é mais importante ainda) que Ele fará isso por você e descanse nessa certeza. Com descansar, quero dizer: aceite o que vier Dele, certo de que foi o melhor para você.
Depois de ter feito tudo isso, você estará apto a buscar alternativas e possíveis soluções empregando a sua capacidade racional, que já estará serena e certa de que conta com o apoio do Criador. Talvez, existam outras formas de acalmar-se quando em desespero, e muitos médicos e cientistas possam ridicularizar o meio por mim empregado. Eu não tenho a pretensão de esgotar todas as alternativas para lidar com essas dificuldades do ser humano, entretanto, a minha prática profissional tem mostrado que em situações limites o homem sempre recorre a quem ele julga mais poderoso que ele. Quem então, melhor do que nosso próprio Pai?
 * Maria Regina Vicentin é psicóloga




Religião e política no Brasil: o novo paradigma dos movimentos sociais

Num país como o Brasil, em que 92% dos brasileiros se declaram religiosos, é difícil desvincular a religião do debate político. Essa relação de proximidade pode ser explicada, em parte, pela religiosidade popular e pela influência que o catolicismo e as religiões protestantes tradicionais exerceram na constituição dos movimentos sociais brasileiros a partir da década de 1980, sob influência do marxismo e da Teologia da Libertação.
Apesar da influência religiosa, na última década os movimentos sociais “estão abandonando o discurso religioso, utópico, marxista-cristão e assumiram o discurso pragmático-capitalista neoliberal”, assinala o psicólogo e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, Nadir Lara Junior.
Na entrevista a seguir, concedida ao portal IHU On-Line, o pesquisador também comenta a ascensão da bancada evangélica no Congresso e a influência da religião nas eleições municipais deste ano. “Não adianta os candidatos laicos criticarem os candidatos religiosos, ainda mais num momento em que o Estado laico está mostrando uma dimensão de desonestidade política muito assustadora. Quando você debate com um candidato assim, não sabe se ele é de esquerda, de direita, de centro, se ele está agradando você porque ele quer seu voto ou porque quer lhe ludibriar. Então, essa diluição da fronteira política no Estado laico faz com que os candidatos religiosos cresçam, porque eles não omitem a sua ideologia”, aponta.
Confira a entrevista.
Historicamente, como as religiões e a religiosidade influenciaram a formação política e constituíram o núcleo ideológico dos brasileiros?
Nadir Lara Junior –
Várias pesquisas demonstram como a questão da religiosidade marcou a formação do povo brasileiro. A professora Maria Isaura Pereira de Queiroz apontou as experiências messiânicas existentes no Brasil desde os indígenas e como eles traziam esses elementos religiosos, os quais serviram de referência para criar um sentimento de revolta e indignação contra a opressão portuguesa.
Depois de 1950, quando o cristianismo já tinha se alastrado e criado um tipo de religiosidade mais sincrética, misturando elementos das religiões afro e indígenas, que denominamos de religiosidade popular, que constitui o universo simbólico do povo brasileiro. Posteriormente, a partir de 1960, a Igreja Católica introduz a Teologia da Libertação, quando passa a observar a experiência das comunidades mais pobres do Brasil e a fundamentar isso teoricamente, numa experiência cristã mais aprofundada. A Igreja assume essa realidade não como um elemento negativo, pejorativo da cultura, mas como um elemento religioso e político, porque a Teologia da Libertação sofre uma influência do cristianismo e do marxismo. Então, aqueles aspectos que já faziam parte da cultura brasileira são sistematizados pela Teologia da Libertação, que começa a organizar o povo a partir desta experiência de religiosidade popular, que já estava presente na cultura. Tanto que os métodos usados por essa teologia são ler a Bíblia a partir da realidade, ensinar as pessoas a ler e escrever, alfabetizar, capacitá-las a compreender seus direitos a partir da experiência de Jesus Cristo, que é visto como o libertador da opressão que está instalada historicamente.
Particularmente falando, eu estudo política, não religião. Porém, para falar de política no Brasil, não posso ignorar a influência religiosa que sempre esteve presente. De acordo com o último censo, 92% das pessoas se declaram religiosas no país. E o próprio conceito de não declarar-se religioso no sentido de não estar vinculado a uma religião não significa que a pessoa não seja religiosa. Estamos em um país que é religioso; então, como falar de política cerceando a religião?
Qual foi a influência das religiões no processo de constituição da identidade e do discurso político dos movimentos sociais brasileiros? O senhor menciona que há uma crescente apropriação de elementos religiosos por parte dos movimentos sociais. Do que se trata especificamente?
Nadir Lara Junior –
Boa parte dos movimentos sociais brasileiros nasce de uma influência cristã e da religiosidade popular, assim como de uma influência marxista. Esses são elementos fortes que marcam os movimentos sociais das décadas de 1980 e 1990. Entre os fenômenos político-religiosos, destaca-se a mística, que está presente no MST e que articula, dentro desse fenômeno, elementos religiosos, políticos e culturais. A mística é uma encenação, um ritual coletivo em que as pessoas cantam, celebram, elaboram hinos do próprio movimento para se prepararem e conseguirem alcançar seu próprio objetivo dentro do movimento e fora dele. Portanto, a mística é um elemento de constituição da identidade coletiva do MST e de outros movimentos que a assumem como elemento fundamental e estruturante. Trata-se de um elemento próprio do movimento que, assumidamente, faz política costurando esses elementos cristãos e marxistas.
Qual a raiz desta relação do catolicismo brasileiro com o marxismo? Por que parte da Igreja brasileira buscou elementos teóricos em Marx?
Nadir Lara Junior –
Essa situação é complexa e central para compreender a trajetória da Igreja no Brasil. Na década de 1960, vivia-se a chamada guerra fria e o mundo estava dividido entre socialistas e capitalistas. Nesse período, a América Latina começa a ser influenciada por pensadores marxistas nas correntes intelectuais existentes. Essa influência se deu tanto pela vinda de operários europeus para as grandes cidades brasileiras – que trouxeram o marxismo e o anarquismo – como pelos intelectuais latino-americanos, que haviam estudado na Europa. Nessa época, o marxismo era um movimento intelectual que estava pairando pelas universidades europeias, onde os intelectuais brasileiros e latino-americanos estudavam e, portanto, ele exerceu muita influência aqui, especialmente porque havia uma tentativa de pensar uma ciência para a América Latina. É com esse objetivo que diversos intelectuais formularam teorias para tentar compreender a realidade latino-americana.
Paulo Freire, com sua pedagogia do oprimido, deu o grande “pontapé” no movimento intelectual da Libertação através da educação; Gustavo Gutierrez deu início à Teologia da Libertação; Enrique Dussel, na Argentina, iniciou os estudos da Filosofia da Libertação; e Ignacio Martín-Baró, que morreu junto com Ignacio Ellacuría, fundamentou a Psicologia da Libertação. Então, iniciou-se um movimento para pensar a ciência a partir de um jeito de ser latino-americano, o qual foi fortemente influenciado pelo marxismo.
Os teólogos latino-americanos, quando chegaram à Europa e estudaram marxismo, compreenderam que a visão de comunidade, de viver sem opressão – o que o marxismo propõe –, estava próximo das propostas do cristianismo. A partir daí começaram a ver uma grande semelhança entre o comunismo e o comunitarismo cristão. A própria ideia de Jesus libertador é a do materialismo histórico, ou seja, a de trabalhar com questões da realidade. Em outras palavras, a Teologia da Libertação torna o Jesus metafísico em um Jesus material, sem perder a dimensão mística. Eles conseguem trazer Jesus para a materialidade e passam a atuar com uma força muito grande, especialmente nas periferias.
Quais foram as principais transformações no campo religioso e político da última década, e como elas influenciaram a prática e o discurso político dos movimentos sociais?
Nadir Lara Junior – Na última década ocorreram três mudanças muito significativas: o número de evangélicos saltou de15% para 22%, gerando um boom demográfico; um ex-sindicalista (Lula), que atuava junto às Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, à Central Única dos Trabalhadores – CUT e ao sindicato, chegou ao poder; e houve um recuo da Igreja Católica em função de uma ação política administrativa do Papa João Paulo II, que determinou o recuo de incentivo às CEBs, deixando também de nomear bispos ligados à Teologia da Libertação – assim, os seminários saíram das mãos de padres da Teologia da Libertação –, e incentivando o movimento pentecostal dentro da Igreja Católica.
Esses três elementos começam a circular na sociedade brasileira e afetam principalmente os movimentos sociais porque, antes de Lula assumir a presidência, eram justamente os membros da Igreja Católica, das igrejas protestantes históricas, partidos políticos e dos sindicatos que ofereciam formação política para os integrantes dos movimentos sociais. Com a chegada de Lula ao poder, há uma mudança radical: um recuo dos sindicatos, partidos e dos movimentos sociais e uma associação deles com o governo. Diante dessa nova conjuntura, um ex-líder sindical vira ministro e passa a negociar a greve com o amigo que deixou no sindicato. Criou-se um problema, porque as principais lideranças dos movimentos sociais começaram a ser chamadas para participar do governo e a representar os movimentos sociais que, até o dia anterior às eleições, eram contra o Estado e, dias após as eleições, se tornaram o próprio Estado. A partir desse momento, surge um problema de identificação, de quem são os movimentos sociais e de quem é o Estado. O Estado, que foi sempre o inimigo (“fora FHC, fora FMI, fora neoliberalismo”), de repente começa a chamar membros dos movimentos para compor secretarias, cargos de confiança etc.
Formação instrumental
Diante da nova configuração, há um recuo na formação política, e o movimento social passa a ter de prover a formação política para seus membros. Este é o tema da minha atual pesquisa, e já pude constatar que a formação dos movimentos sociais da última década estão se tornando instrumental, ou seja, uma formação para ensinar o militante a se movimentar dentro das burocracias das políticas públicas. Não nego a importância das políticas públicas. O que afirmo é que os movimentos sociais, de certa forma, se reduzem a formar seus quadros não na oposição, na crítica, na política, mas sim numa certa subserviência travestida de participação política. A política pública virou a participação política. Com isso acaba-se com toda a história de contestação dos movimentos sociais, reduzindo-os a um quadro técnico. O próprio movimento acaba profissionalizando uma pessoa na política pública, e o Estado contrata a mão de obra qualificada pelo movimento, e assim ele fica fragmentado. Isso gera um problema porque os movimentos vão perdendo a dimensão da crítica.
Essa mudança diz respeito aos movimentos sociais e sindicatos do mundo todo ou está restrita ao Brasil?
Nadir Lara Junior –
Essa é uma característica brasileira. Inclusive a atuação dos movimentos sociais no país é bem característica, e bastante diferente do que existe no exterior. Diante da crise econômica surgem outras formas de manifestações, como o Movimento dos Indignados, da Espanha, ou Occupy Wall Street, dos EUA. Os movimentos de ocupação são uma tentativa de organização popular longe do Estado e dos partidos para demarcar uma fronteira.
Esses novos movimentos sociais não têm representatividade política. Como poderão fazer a diferença?
Nadir Lara Junior –
A atuação dos antigos movimentos deixou de herança uma concepção para os novos movimentos: é preciso mexer na estrutura do Estado. Por isso a ideia de revolução novamente volta à pauta. Fazer revolução ou falar de mudança social hoje em dia é um escárnio. Parece uma ideia de pessoas ultrapassadas, mas nunca se teve tão em voga como hoje a necessidade de se discutir dois elementos: ideologia política, porque ela foi sepultada junto com a aproximação dos movimentos sociais com o Estado; e o que é revolução hoje, ou seja, que tipo de mudança social queremos.
Esses aspectos são importantes porque o Estado brasileiro, desde seu surgimento, nunca foi reconstruído; ele vive de reformas e está sempre reformando a educação, a saúde. Basta ver que até hoje o país está reformando o Estado da ditadura militar. E nós, intelectuais, não paramos para provocar, no cenário político, uma discussão. Já vimos que não há como fazer alianças com este Estado, mesmo estando no poder um ex-sindicalista, porque seremos sempre engolidos.
Mas como fugir dessa negociação, se o Estado é constituído pelas oligarquias?
Nadir Lara Junior –
Saber disso já é alguma coisa. Foucault fala do saber e do poder. Saber que precisamos colocar na pauta a mudança do Estado já é uma transformação imensa. Mas hoje ninguém quer saber disso. Está todo mundo fascinado com o Estado, porque a economia brasileira está estável, todos querem aumento salarial, e todo mundo está satisfeito com essa “coisa” que o Brasil vive – e eu digo “coisa”, porque não sabemos descrever isso. Estamos fascinados e não paramos para avaliar o Estado.
Entra campanha, sai campanha, todos os políticos falam de reformar a saúde, a educação, a moradia e a segurança. Se os políticos resolvessem esses quatro problemas, não teriam o que dizer nas campanhas políticas, porque só falam disso. Não se fala em aperfeiçoamento de saúde, educação, mas do primário. Quer dizer, fala-se de as pessoas terem um teto para morar, de as crianças terem banheiros nas escolas, e do mais elementar: do fato de que essas oligarquias continuam com as mesmas políticas há séculos. O nosso grande desafio é saber disso, diante de uma sociedade que insiste em não querer saber.
O que distingue o discurso dos movimentos sociais brasileiros hoje de uma década atrás?
Nadir Lara Junior –
A partir da minha pesquisa, posso dizer que diante da interpelação do Estado, os movimentos sociais estão abandonando o discurso religioso, utópico, marxista-cristão e assumindo o discurso pragmático-capitalista neoliberal. Então, o discurso da maioria dos militantes é praticar uma política pragmática, embora muitas vezes eles nem se deem conta disso. Alguns intelectuais dizem que o pragmatismo é necessário. Concordo, desde que se saiba o que se está reproduzindo com ele. Quando se assume, nesse contexto específico, um discurso neoliberal, está-se depondo contra esse processo histórico de formação dos movimentos e favorecendo as oligarquias, o Estado capitalista e o mundo desigual.
Essa é uma tendência crescente no mundo do trabalho.
Nadir Lara Junior –
Sim, porque retiramos do mundo do trabalho as discussões ideológicas que nos unem e nos afastam: quem é esse Estado? Quem é nosso patrão? Quem é esse governo? A geração atual está pegando o mundo que a geração anterior deixou: muitos que eram de esquerda hoje estão abraçados com os de direita. Como os jovens irão acreditar nesse modelo? Diante de tal conjuntura novas manifestações estão surgindo. As pessoas estão falando e criticando o sistema de outro jeito, usando as redes sociais, por exemplo. Existem novas formas de pensar e que ainda são embrionárias.
Como ocorre a relação entre política e religião no cenário político atual? Nesse sentido, como vê a atuação da bancada “religiosa” no cenário político brasileiro?
Nadir Lara Junior –
O boom do movimento neopentecostal chegou aos movimentos sociais e nas políticas públicas. Como eles chegam a estes lugares? Com um arcabouço político, ideológico, religioso de sua matriz neopentecostal, que é extremamente pragmática. O neopentecostalismo nasce com uma experiência da periferia dos EUA, e o governo estadunidense se apropria disso, fazendo um canal para divulgar as ideologias neoliberais com seus elementos: individualismo e pragmatismo. Essa combinação ideológica de neoliberalismo e neopentecostalismo entra no movimento social e torna tudo muito pragmático. Em geral, o evangélico participa do movimento social, porém não quer discutir questões mais amplas relacionadas à política, mas sim o acesso a casa, a universidade etc.
Há poucos dias li a tese de doutorado de Bruna Dantas sobre a bancada evangélica no Congresso. Ela analisa a ideologia da bancada evangélica, hoje, e mostra como os evangélicos se estruturam para pautar algumas políticas dentro do cenário nacional baseados em ideias religiosas. Por isso que uma série de temas com implicações morais não são aprovadas, como a questão do aborto e a da homossexualidade.
Muitos votos começam a ser direcionados aos pastores das igrejas. Começamos a remontar um novo tipo de voto de cabresto, como tinha antigamente no interior do Brasil. Mas como disse, não podemos culpá-los nem praguejá-los, porque estão exercendo tudo aquilo que o Estado lhes permite fazer. Da mesma forma que os evangélicos defendem questões morais, os ruralistas defendem pautas de seus interesses. Só os trabalhadores não se organizam para se fazer representar.
São os membros evangélicos, e não as igrejas, que se relacionam com os movimentos sociais? A atuação é diferente daquela do catolicismo?
Nadir Lara Junior –
É diferente. O pastor vai aos encontros do movimento para rezar, dar um apoio, mas ele não representa o apoio da igreja ao movimento. A igreja apoia o seu fiel para que ele consiga algo pontualmente.
Como vê a representatividade das igrejas tradicionais junto dos movimentos sociais?
Nadir Lara Junior –
A Igreja enquanto instituição se retira dessa discussão, mas isso não quer dizer que padres, freiras e religiosos façam o mesmo. Ainda há um grupo importante de padres e religiosos que dão suporte a esses movimentos. Tenho um colega antropólogo que estuda a relação das freiras nas favelas do Rio de Janeiro e a liderança que elas ainda exercem nesses locais. Isso demonstra que têm muitos religiosos resistindo, especialmente no interior e nas áreas de fronteiras. A Igreja Católica e as protestantes históricas ainda são referência nessas questões enquanto congregações.
Quais os limites da interferência religiosa no cenário político? Como fica a discussão acerca do Estado laico no Brasil?
Nadir Lara Junior –
Nós temos de entender o Brasil. Somos um Estado laico com 92% de pessoas que se declaram religiosas, cujo lema nas cédulas de dinheiro é “Deus seja louvado”. Então, temos uma realidade própria e só sabemos fazer política se tivermos os atravessamentos religiosos. Não quero ser reducionista e dizer que a política é de um jeito ou de outro, mas temos de considerar as questões que estão postas. O Brasil é um país complexo, porque na Europa, se observarmos os teóricos políticos, há uma ideia de que as coisas são mais divididas, disciplinadas, organizadas. Foucault mostra como o disciplinamento na Europa aconteceu muito cedo, só que nós vivemos em um país em que o ordenamento social é outro: as pessoas pensam e se relacionam de outro jeito, e a política ainda é muito embrionária, porque o país saiu de uma ditadura há pouco tempo. Tudo no Brasil é muito próprio e característico. Não sou um defensor da religião, mas temos de olhar para ela, porque exerce influência.
Como o senhor vê o uso do espaço público, como a televisão, pelas religiões?
Nadir Lara Junior –
Vivemos num Estado democrático capitalista. O que isso significa? Significa que quem paga tem, e quem não paga não tem; quem tem dinheiro faz o que quer, e quem não tem dinheiro não faz nada. Os evangélicos neopentecostais entenderam muito bem essa linguagem. Eles pagam para ter acesso a determinados horários na televisão, no rádio. E dentro de uma sociedade capitalista, quem vai regular isso?
Em um país em que há liberdade religiosa, como dizer que eles estão errados e que não podem utilizar esse espaço? Tem de cuidar para que não se crie uma guerra religiosa. Por isso não podemos ficar restritos a essa questão, temos de ampliar o debate, discutir se esse Estado está funcionando para todos. O capitalismo e o neoliberalismo que estamos implantando a cada dia na universidade, na escola, estão formando que tipo de sujeito?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, a doença do século XXI são as doenças mentais. Temos visto pelas notícias da imprensa que quanto mais capitalistas são os Estados, mais psicopatas eles formam. E aí eu pergunto: Como vamos formar uma geração sem valores, sem escrúpulo? Nesse sentido, Marx ajuda a compreender algumas coisas a partir da realidade histórica, material. O capitalismo cria ideologias para que se considere um psicopata como algo normal, natural, parte do cenário, um fraco e único culpado parte da história, da mesma forma que ser oprimido pelo patrão é natural, e o importante é consumir. Vivemos a base de ideologias desse tipo, que nos fazem viver num engodo praticamente irreversível.
A religião determina o voto? Como explicar ascensão de candidatos evangélicos, como Celso Russomanno em São Paulo?
Nadir Lara Junior –
O ministro José Eduardo Cardozo já disse que é preciso fazer uma reforma política, mas não se pode tocar em questões religiosas. Isso diz alguma coisa. Como pode um ministro de um Estado laico fazer esse tipo de afirmação? O candidato à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, é abertamente um candidato da Igreja Universal do Reino de Deus. Uma igreja que está fazendo aquilo que sempre quis fazer e se propôs a fazer: formar lideranças políticas e chegar ao mais alto dos cargos possíveis. Eles estão fazendo isso com muita competência, com muito dinheiro, e estão chegando lá.
Gostaria de destacar que não sou contra ou a favor dos evangélicos; apenas estudo o fenômeno político. A sociedade democrática é feita por disputas, e elas são vencidas por quem está melhor organizado. Por que os movimentos sociais estão pagando seu preço? Porque eles se retiraram das periferias mais pobres, se retiraram dos debates mais prementes, e assim acabam negando as origens  políticas que os colocaram no poder.
Os que se opõem aos evangélicos não devem percebê-los como um inimigo a ser destruído, mas como um adversário. É legítimo se opor a eles no cenário político, debater, porque eles sempre disseram de onde vêm, o que fazem e o que vão fazer. O Edir Macedo nunca negou que queria chegar à presidência da República. Eles nunca deixaram de cobrar dízimo; foram sempre explícitos. O que quero relativizar nesse sentido é que esses fatos são públicos, e todo mundo sabe. O que não é público é o nome do político que rouba a merenda escolar. Quero colocar o debate na instância política. Então, não adianta os candidatos laicos criticarem os candidatos religiosos, ainda mais num momento em que o Estado laico está mostrando uma dimensão de desonestidade política muito assustadora. Quando você debate com um candidato assim, não sabe se ele é de esquerda, de direita, de centro, se ele está agradando você porque ele quer seu voto ou porque quer lhe ludibriar. Então, essa diluição da fronteira política no Estado laico faz com que os candidatos religiosos cresçam, porque eles não omitem a sua ideologia – isso não quer dizer que eu concorde com ela.
Diante da atuação política dos evangélicos, o que podemos esperar para as próximas eleições municipais? Uma ascensão de políticos religiosos?
Nadir Lara Junior –
Sim, e o Russomanno, em São Paulo, é a prova cabal disso. Este candidato está derrotando – a princípio, as pesquisas mostram isso – candidatos tradicionalíssimos, como José Serra, e está desbancando inclusive o candidato do PT, mesmo com o apoio de Lula e de toda a máquina governamental. Isso quer dizer alguma coisa. O que isso quer dizer? Que o Russomanno, em nenhum momento, nega sua filiação à Igreja Universal, e isso mostra uma honestidade política – não quer dizer que eu concorde com isso. Ele nunca disse que deixará de defender os valores da bancada evangélica. Então o povo começa a perceber que entre ele e os outros, há ainda um princípio de honestidade que falta nos demais políticos.
Quais as relações entre religião e política no cotidiano? Como essa relação, de um lado, emancipa os cidadãos e, de outro, aliena?
Nadir Lara Junior –
O nosso cotidiano está recheado de questões religiosas. Há algum problema nisso? Não, depende do uso que se faz disso. A nossa religiosidade está sendo leiloada pelo marketing, pelo governo, ou por pessoas que já entenderam que essa pré-disposição religiosa rende lucro ou voto. Esse é o grande problema. Com esse recuo da formação política nas bases, a propensão da religião alienar aumenta muito, e há um cenário muito fértil para que religião seja tomada como ópio do povo. Estamos diante de um problema gravíssimo que precisa ser pensado.

IHU On-Line

De Marcelo Barros

Meditação bíblica, sábado, 22 de setembro 2012

Hoje à tarde, missa em uma paróquia de periferia de Veneza com um grupo que atua na Pax Christi, organização dedicada à paz, principalmente em Israel entre judeus e palestinos e no Oriente Médio (Síria e Iraque). A celebração é em uma sala transformada em capela. Como as primeiras comunidades cristãs, celebramos em redor de uma mesa e todos juntos, jovens, leigos/as e padres, todos como ministros de Deus. 
O evangelho é Marcos 9, 30 em diante. Jesus caminha para a Galiléia sem querer que todos saibam porque queria formar o grupo de seus discípulos. E fala de como sente que acontecerá ao chegar em Jerusalém. Os discípulos não compreendem, mas não querem perguntar. Não querem reconhecer que estão tomados pela ideologia da sociedade dominante e pelo que o evangelho chama de "fermento dos fariseus". O fermento era o símbolo de algo que se preocupa com a aparência e sem realidade por baixo. Como o pão que incha com o fermento, mas a massa não corresponde ao tamanho e à aparência. Jesus revela sua opção de ser um servidor e de assumir o sofrimento e a cruz. Não porque goste, mas porque é a consequência de sua missão. Ao contrário, no mesmo caminho de Jesus, os discípulos estão discutindo não como ser solidários a ele e sim quem deles teria mais poder e prestígio. Não basta seguir Jesus para assumir sua causa. Os discípulos seguiam Jesus mas pensavam e queriam coisas que eram contrárias a ele. Hoje ainda muitos cristãos e mesmo pastores da Igreja pensam seguir Jesus mas estão sim presos ao poder e ao desejo de dominar os outros. A contribuição de Jesus para a paz do mundo foi propor um caminho de serviço simples, despojado e baseado no não poder ou no anti-poder. Não há possibilidade de paz na competição e na ambição. 
Jesus propôs acolher os pequeninos e solidarizar-nos com eles/elas. Esse é o caminho para a paz e para um mundo mais justo e humano. 


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Pontifício Conselho da Justiça e da Paz enfatiza necessidade de uma nova evangelização do social



"Neste momento de crise, os católicos são chamados a uma atuação em prol de uma nova evangelização do social." Foi o que disse o secretário do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Dom Mario Toso, na conclusão dos trabalhos do II Festival da Doutrina Social da Igreja.
Com o tema "A necessidade de um pensamento diferente", a edição, realizada em Verona – nordeste da Itália – de 14 a 16 do corrente, teve a participação de cerca de seis mil pessoas oriundas de todas as partes da Itália e a contribuição de duzentos voluntários.
Viver a fé. "Nesta obra de evangelização a doutrina social é elemento essencial", prosseguiu Dom Toso, evocando uma passagem da Carta encíclica "Caritas in veritate" (nº 15), em que Bento XVI recorda que "a doutrina social é anúncio e testemunho de fé".
Portanto, a doutrina social "permite à fé não ser apenas pronunciada, mas experimentada na sociedade", em outras palavras, "torna a fé adulta, leva-a a completude", mas para fazer esse caminho "são necessários sujeitos ativos que atuem na sociedade e nos territórios, ajudados por uma nova geração de sacerdotes e formadores".
Nisso, também as escolas católicas, enquanto lugares educativos, "devem ser um dos protagonistas da nova evangelização do social" e, junto a elas, é necessário que cada fiel e cada comunidade, mediante um movimento uníssono de conversão, decida novamente ou reconfirme, com toda a sua alma, sua pertença Jesus", acrescentou o secretário do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz.
Fonte: Rádio Vaticano 

A IGREJA NO MUNDO

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Bispo mexicano convida a trabalhar “pela verdadeira dignidade” do país



O Bispo de Saltillo, Dom Raúl Vera López, manifestou sua preocupação com a descoberta de 16 cadáveres na região norte do município de Coyuca de Catalán. Todos foram executados com tiros na cabeça e alguns revelam sinais de tortura. Um inquérito preliminar da polícia indica que as vítimas são da área de Michoacan. 
O bispo ressaltou que atualmente a região de Guerrero (à qual pertence o município) tem o mais alto nível de violência do país. “Soube do que aconteceu e, sem dúvidas, a causa desta situação é a corrupção tão difundida em nosso país” – disse o bispo aos jornalistas que o entrevistaram em Chilpancingo. 
A nota enviada à Agência Fides afirma que o bispo participou de um encontro da Assembleia Popular dos Povos de Guerrero (APPG), que terça-feira, 11 de setembro, lhe entregou a medalha “Sentimentos do Povo”. Este prêmio é atribuído por mais de 30 organizações da sociedade civil a uma instituição ou pessoa por sua atuação em favor da sociedade e da paz. 
Dom Vera López, ao receber o prêmio, recordou ter aprendido a ser Pastor justamente na área de Tierra Caliente, em Guerrero: “É um dos estados mais pobres e castigados, onde existe muita impunidade e injustiça. Na realidade, neste momento, vocês são os que mais sofrem com a situação de violência existente no país” – disse o bispo às organizações de camponeses, mineiros, professores e estudantes reunidos na praça central da capital de Guerrero. O Bispo de Saltillo exortou a trabalhar pela liberdade, a paz e a verdadeira dignidade do país, que apresenta vários problemas nos âmbitos social, político e econômico. 
Dom Vera López foi saudado por mulheres e crianças que, formando um cordão, o acompanharam à Catedral de Santa Maria Assunta, onde foi recebido pelo Bispo de Chilpancingo-Chilapa, Dom Alejo Zavala Castro. 
Fonte: Rádio Vaticano


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Jovens levam o Evangelho a comunidades ribeirinhas do Pará



Uma hora. É o tempo que separa a cidade de Belém do distrito de Icoaraci, no Pará. Mas pegar a estrada de asfalto é só uma parte do caminho, que começou às 5h, quando os primeiros saíram de casa com destino ao Porto do Distrito. Apesar da hora ingrata para a maioria dos jovens, sorrisos e cumprimentos marcam a saída em uma pequena embarcação com destino a Ilha de Urubuoca. É hora da “estrada” de água.
Rio abaixo e aí foram eles, para seguir a tarefa que cumprem rigorosamente: a evangelização nas ilhas no entorno da cidade de Belém. O projeto é desenvolvido pela Pastoral das Ilhas, da Arquidiocese de Belém, que é formada pelas Comunidades Católicas Casa da Juventude (Caju) e Mar Adentro.
“É algo que a gente não mensura. A vocação missionária está dentro do ‘ser Caju’, é um serviço que fazemos com muito amor. É uma das melhores formas que encontro para levar ao mundo a Alegria da Ressurreição de Cristo”, explica Aline Sotão, uma das coordenadoras do grupo de Assistência Missionária da Comunidade Caju.  A Caju desenvolve o trabalho de evangelização realizando celebrações eucarísticas, formações sobre a Palavra e a vida na Igreja, além de trabalhos lúdicos com as crianças da região.
E para quem tem o ardor missionário no nome não seria diferente. A Comunidade “Mar Adentro” desenvolve, há sete anos, o trabalho junto às comunidades ribeirinhas, como são chamados os moradores do entorno dos rios. “A primeira necessidade que identifico nos moradores das ilhas é a sede de Deus. Como em qualquer outra região, o homem tem necessidade do encontro pessoal com Cristo. A partir daí percebo que eles têm necessidades de serem valorizados, amados como filhos de Deus e isto se dá através do reconhecimento da cultura própria deles  e também da conscientização da região metropolitana sobre  necessidades básicas que eles não têm acesso, por exemplo, saúde”, enfatiza a Supervisora da Missão em Belém, Léa Bizeto.
A missão abraçada pelos leigos tem transformado muitas realidades. Mudança que se percebe no jeito de dona Altamira Pimentel, aos 64 anos de idade, contar como a construção de uma pequena capela em uma palafita mudou o seu cotidiano. Dona Altamira, vizinha da capela, é a responsável pelos cuidados com a ermida.  “Antes as missas eram feitas na minha casa, agora recebemos as visitas. Eles nos ensinam a rezar, a viver melhor pra Deus”, a senhora só interrompe a conversa com a chegada de Erick, de 7 anos,  um de seus oito netos: “Bença vó!”. “Deus te acompanhe meu filho”, responde ela com um sorriso no rosto. E assim a evangelização segue de geração em geração.
Para o bispo auxiliar da arquidiocese de Belém, dom Teodoro Mendes, a presença da Igreja nas regiões mais distantes é caminho para a dignidade. “Todo este trabalho inclui a promoção humana. A Igreja também assume como parte de sua missão a defesa da justiça, da integridade, da criação. Onde o povo estiver a Igreja tem que se fazer presente”, afirma.  Dom Teodoro conta ainda que não se trata de um trabalho de assistência. “O que seria destas comunidades sem esses momentos? Isso os ajuda a crescer e a assumir o seu protagonismo local para que caminhem com seus próprios pés”, destaca.
Fonte: CNBB

OPRESSÃO E MEDO

OS OPRIMIDOS, CONTUDO, ACOMODADOS E ADAPTADOS, "IMERSOS" NA PRÓPRIA ESTRUTURA DA ENGRENAGEM DOMINADORA, TEMEM A LIBERDADE, ENQUANTO NÃO SE SENTEM CAPAZES DE CORRER O RISCO DE ASSUMI-LA. E A TEMEM, TAMBÉM, NA MEDIDA EM QUE, LUTAR POR ELA, SIGNIFICA UMA AMEAÇA, NÃO SÓ AOS QUE A USAM PARA OPRIMIR, COMO SEUS "PROPRIETÁRIOS" EXCLUSIVOS, MAS AOS COMPANHEIROS OPRIMIDOS, QUE SE ASSUSTAM COM MAIORES REPRESSÕES.

PAULO FREIRE - A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO.

Reflexão dominical - 25º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 
Pe. Francisco de Assis



 EVANGELHO (Mc 9,30-37)
- Primeira parte (vv. 30-32)
O Filho de Deus encontra-se a caminho para Jerusalém. Por três vezes Jesus avisa que vai a Jerusalém. Fazer o que por lá? Sofrer e morrer. O texto de Marcos deste domingo refere-se ao segundo anúncio.
Um detalhe a ser observado, é que Jesus, enquanto está a caminho com os seus discípulos, retoma a temática do evangelho do domingo próximo passado: “A entrega de sua própria vida”. A sua preocupação se baseia em passar a limpo a lição, isto é, corrigir totalmente a ideia equivocada que determinadas pessoas formaram a respeito dele. Como vemos, Jesus é o próprio formador.
Porém, é impressionante perceber como os alunos são lentos e tímidos em compreender a lição esplanada pelo Mestre Jesus. Tanto o é, que o texto é seguido por uma observação: “Não entendiam estas palavras e tinham medo de pedir-lhe explicações” (vv. 30-32).
- Segunda parte (vv. 33-37)
Quem sabe, talvez ainda estejam bastante marcados pela fortíssima repreensão que o Mestre deu a Pedro, chamando-o de “Satanás”, por não aceitá-lo em negar a possibilidade de viver um messianismo glorioso e vencedor, mas a opção de dar a sua própria vida. Por essas e outras, eles têm medo de Jesus. Jesus “não brinca em serviço”, é intransigente, não aceita ser contrariado, nem ser aconselhado, sobretudo, quando o conselho é incoerente.
            Quando ele, o Mestre, revela o seu perfil de “servo”, não é possível não sentir medo. É necessário coragem para olhá-lo de frente, para fazer-lhe indagações, para ouvi-lo, para entender e aceitar de uma vez por todas, a opção serena e decidida pelo seu segmento de vida.
A reação dos discípulos é sempre negativa e desastrosa, e o é por pavor em relação às consequências. Contudo, é preciso compreender que o referido comportamento é decorrente do ensinamento patrocinado pelos rabinos da época, que, conforme seus ensinamentos, diziam que Deus não morrerá jamais, que triunfará sobre todos os seus inimigos.
- Terceira parte (vv. 36-37)
            Na terceira e última parte do texto, vê-se um gesto recheado de muito significado. Jesus chama um dos meninos, coloca-o nos braços e diz assim: “Quem acolhe um destes pequenos em meu nome, a mim acolhe”. Quanta bondade e ternura comprovadas pelo Mestre! E diz mais: “Quem não aceita o reino do céu como uma criança, não poderá entrar nele”.
            Observar é preciso! Torna-se claro o sentido que tem o gesto do Mestre. Ele espera que os seus discípulos estabeleçam como centro dos próprios interesses, preocupações e dos próprios projetos, os pequenos e marginalizados, os que não contam na sociedade.
 I LEITURA (Sab 2,12.17-20)
            A proposta do Mestre é uma autêntica loucura para quem alcança e, portanto, vive em meio a “sabedoria” do mundo.
Por lhe faltar a sabedoria de Deus, o impiedoso, desumano e cruel (ímpio) são disponibilizados a praticar maldade contra os justos, porque a presença desses os incomoda. “É a eterna história dos maus que querem arrastar os outros para o mal, tornando-os iguais a eles”. Assim sendo, tem razão o dito popular; “quem é mal não quer ser só”.
            Diante de tudo isso, como Deus reage? De acordo com o vers. 18, assim diz o autor: “Se, de fato, o justo é ´filho de Deus´, Deus o defenderá e o livrará das mãos dos seus inimigos”. Ou seja, Deus é solidariedade comprovada.
II LEITURA (Tg 3,16-4,3)
                Tiago nos ajuda a compreender e, por isso nos alerta, para que orientemos nossas vidas conforme a “sabedoria que vem do alto”.
 CONCLUSÕES DAS CONCLUSÕES:
                - Como os discípulos, nós também ainda temos muita dificuldade de entender o que Ele quer de nós. Quem realmente é e o que Jesus significa na nossa compreensão da fé?
            - Que tal procurarmos interagir melhor a fé que professamos, de modo especial, todos os domingos na Missa, com a nossa vida, vivendo o serviço aos irmãos pobres, os preferidos de Deus?
            - São Tiago nos orienta para segamos o caminho da “sabedoria que vem do alto”, isto é, o próprio Espírito de Deus que nos é comunicado. Assim sendo, é bom tomarmos cuidado com a tirania dos ímpios que, muitas vezes nos atingem também.
É tempo de aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus
06/09/2012
Dom Orani João Tempesta - Arcebispo Metropolitano A+ a- Imprimir Adicione aos Favoritos RSS Envie para um amigo

Desde 1971, o mês de setembro na Igreja do Brasil é quando se enfatiza e se busca aprofundar ainda mais nossa relação com a Palavra de Deus, a Bíblia. Porém, não significa dizer que a Bíblia deva ser lida ou aprofundada apenas nesse período. Ela é um livro de cabeceira, deve estar presente em todos os momentos de nosso dia, orientando-nos, formando-nos, transformando-nos. Ela é luz para o nosso caminhar. Este mês, portanto, é um esforço comum de nossas paróquias e dioceses de aprofundarem juntos algum tema ou livro da Palavra de Deus, útil para nosso crescimento comunitário e pessoal, em vista da comunidade cristã que queremos ser.

A palavra Bíblia é que dá origem à palavra biblioteca, e expressa a realidade de ser o texto sagrado um "conjunto de livros". Ler a Palavra de Deus é uma expressão coerente de nosso caminho, que busca encontrar e fincar raízes na fé e na construção ativa do Reino de Deus. Somos convocados a uma experiência maior e mais profunda com Cristo, Palavra eterna do Pai, na comunidade, na família, na sociedade.

Por que o mês de setembro foi o mês escolhido para o aprofundamento da Palavra de Deus? Devido à celebração do dia de São Jerônimo, no dia 30. Ele viveu por volta do ano de 340 e foi a ele confiada, pelo Papa Damaso, a tradução latina da Sagrada Escritura. Essa tradução da Palavra para o latim ficou conhecida como a bíblia "Vulgata", que significa "popular". Essa tradução foi tão rica e significativa que é usada até hoje em muitas traduções da Bíblia.

Uma das frases mais célebres de São Jerônimo foi: "Desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo". Uma frase fundamental para nós cristãos que buscamos conhecer, contemplar e seguir a Palavra de Deus contida nas linhas sagradas dos textos bíblicos. Ninguém ama aquilo que não conhece. Portanto, seria impensável imaginar alguém que se diga cristão, mas não busque conhecer e aprofundar a Palavra de Deus. Como chegar ao conhecimento da Revelação e de sua plenitude em Jesus Cristo se desconhecemos sua Palavra e ensinamentos, ordens e ações?

Muitas são as possibilidades oferecidas pela Igreja para aprofundarmos nosso conhecimento da Palavra de Deus. Eles vão desde os estudos filosófico-teológicos, que buscam investigar o máximo possível toda a riqueza e significados que o texto nos pode proporcionar, seja pela Exegese, pela Hermenêutica, ou ainda pelas outras disciplinas bíblicas oferecidas nos institutos filosófico-teológicos, até os círculos populares bíblicos, grupo de estudo da Palavra, catequese e a leitura orante da Bíblia (lectio divina).

A Bíblia está dividida em duas partes como todos sabem: Antigo e Novo testamento. Ela é composta de 73 livros, sendo 46 livros do Primeiro Testamento e 27 do Segundo Testamento. A leitura constante e assídua da Palavra de Deus vai ajudando aos poucos as pessoas a descobrirem toda a riqueza que ela contém, bem como o bem que ela pode realizar na vida de cada fiel.

A Bíblia trata da nossa salvação. Por isso, dentro dela encontramos muitos assuntos pertinentes e desejados pelo homem na busca constante da verdade, a relação terna e direta com Deus, o rompimento dessa amizade com Deus pelo pecado, a Aliança de Deus com seu povo, a história dos patriarcas e profetas, a encarnação do Verbo Divino, Jesus Cristo, plenitude da história da salvação, a vinda do Espírito Santo em Pentecostes, e se estende até a parusia, no final dos tempos, quando, enfim, todo poder lhe será submetido e então, assentado em trono, Rei Vitorioso, virá uma segunda vez e instaurará definitivamente seu Reino de paz e amor, bondade e justiça, mansidão e misericórdia.

O centro de toda a Escritura se dá em Jesus Cristo, a máxima expressão da revelação e da bondade de Deus, que a todos quer que cheguem ao conhecimento da Verdade, que é Cristo.

Em Jesus se cumprem todas as promessas feitas pelo Pai no Antigo ou Primeiro Testamento aos profetas e a todo o Israel de Deus. Jesus é a plena revelação da vontade do Pai para a salvação dos homens e a construção do Reino. Tudo que Ele faz diz de quem Ele é. Tudo que Ele é, é manifestado nas obras que realiza. Lendo as escrituras encontramos um caminho sólido e seguro no conhecimento da vontade de Deus. Cristo é a Palavra viva de Deus, e todas as palavras do texto sagrado, portanto, têm sentido pleno e definitivo Nele.

Neste ano, o mês da Bíblia quer aprofundar ainda mais o texto do Evangelho de Marcos. O tema sugerido é Discípulos Missionários a partir do Evangelho de Marcos, e o Lema: "Coragem, Levanta-te, Ele te chama!" (Mc 10,49). Nos próximos anos serão estudados os outros três evangelistas. O enfoque será no seguimento de Jesus, proposto nos quatro evangelhos. Este tema reunirá tanto a proposta de Aparecida, que enfatiza o discípulo missionário e a missão continental, como a proposta do Santo Padre, o Papa Bento XVI, sobre a nova evangelização que é o tema do Sínodo dos Bispos no próximo mês.

Que seja esta uma oportunidade para conhecermos melhor a Palavra de Deus, a pessoa de Jesus e a proposta de seu Reino, para construirmos juntos, a partir Dele, novos céus e nova terra, onde todos possamos viver como irmãos na Unidade da Trindade e na diversidade de carismas e ministérios, em torno de um único e verdadeiro Senhor: Jesus Cristo.

Que a Palavra de Cristo continue a iluminar todas as nossas realidades humanas e nos encaminhe para a eternidade feliz, e que Maria, mãe do Verbo encarnado, nos ajude a conceber todos os dias a Palavra de seu Filho que é criadora, nos leva à salvação e à plena realização humana, que é a felicidade, o bem e a verdade contidos na pessoa de Cristo.
Constituições e incoerências
25/02/2011
Cardeal Dom Eugenio de Araújo Salles - Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro A+ a- Imprimir Adicione aos Favoritos RSS Envie para um amigo
A coerência entre a Fé cristã e a vida privada e pública dos que a professam é fundamental para o indivíduo e a sociedade.

Entre os fatores que enfraquecem a credibilidade nos ensinamentos da Igreja se enfileira, em primeira linha, o exemplo do católico que pratica atos em desacordo com as normas emanadas pelo Salvador e transmitidas pelo Magistério eclesiástico.

Quando, através do jornal, do rádio e televisão, se toma conhecimento de episódios escabrosos de toda espécie, vem à memória a discrepância dessas ocorrências com a moral cristã. A quase totalidade dos que cometem esses desvios receberam o batismo. São pessoas incorporadas ao rebanho de Cristo que assim agem contra as lições do Mestre. Ao contrário, a coerência entre a atuação de um membro da comunidade eclesial e a doutrina de Jesus constitui a melhor e mais eficaz pregação do Evangelho.

Desejo, aqui, ao fazer essas considerações, divulgar um trecho de um escrito que se intitula “Carta a Diogneto”. Descreve o modo de agir dos seguidores de Jesus, na sociedade e no lar. O autor é desconhecido. Alguns historiadores querem identificar o ilustre apolologeta com Kodratos que, pelo ano 125 de nossa era, dirigiu uma apologia ao Imperador romano Adriano, cujo texto está desaparecido. Kodratos era de Atenas, discípulo dos Apóstolos, como Inácio de Antioquia e Policarpo. Não se sabe que tenha tido uma sede episcopal como estes outros. Contudo, ele reúne os cristãos em Atenas, após uma perseguição. Essa epístola surgiu, o mais tardar, antes do fim do século III.

A Igreja não só transmite a doutrina dos Apóstolos, mas confronta-a com um ambiente adverso, como o mundo de então. Essa ingente aventura evangelizadora perdura até nossos dias e só terminará no final dos tempos.

A “Carta a Diogneto” é um testemunho singular de uma Fé profunda, clima espiritual e admirável autoconsciência cristã. A influência de São João e de São Paulo é evidente. O escritor é dotado de notável erudição, possui apurado estilo literário, a elegância e a arte retórica dos gregos.

O ilustre destinatário a que se dirige procura saber quem é o Deus dos cristãos, o que é o amor ao próximo e o porquê do surgimento tão tardio do Cristianismo na História no mundo (cap. I). E o autor responde (cap. II a IV), demonstrando como o culto pagão e o do Antigo Testamento são inadequados e incomparavelmente inferiores ao do Novo Testamento. Nos capítulos V e VI, segue-se a descrição da vida sobrenatural dos cristãos, que são “a alma do mundo”. Os capítulos VII e VIII oferecem profundas reflexões sobre o “Logos” como revelação da essência divina. O fato de ter vindo somente agora o Redentor insere-se dentro da pedagogia do Senhor, segundo a qual o homem deve tomar consciência de sua incapacidade de se salvar sozinho. Os capítulos XI e XII são provavelmente posteriores e de outro autor.

O que nos interessa hoje é o comportamento das pessoas que seguem os ensinamentos do Mestre, como viviam os primeiros cristãos, a nítida coerência entre a Fé e os atos praticados pelos fiéis. A liturgia das Horas (Breviário), na quarta-feira da quinta semana pascal, inclui um trecho dessa obra e aqui transcrevo alguns períodos elucidativos do assunto que me proponho a abordar hoje. Ei-los, extraídos do capítulo V e VI: “Vivem em cidades gregas ou bárbaras (...) e seguem os costumes da terra, (...) mas a sua maneira de viver é sempre admirável (...). Casam-se como toda gente e criam seus filhos, mas não se desfazem dos recém-gerados. Participam da mesma mesa, mas não do mesmo leito. São de carne, mas não vivem segundo a carne (...). Obedecem as leis estabelecidas mas, pelo seu modo de vida, superam as leis. Amam toda gente e toda gente os persegue (...). Conduzem-nos à morte, mas o número dos cristãos cresce continuamente. São pobres e enriquecem os outros; tudo lhes falta e tudo lhes sobra. São desprezados mas no desprezo encontram sua glória (...). Numa palavra: os cristãos são, no mundo, o que a alma é no corpo (...)”.

Essa amostra da descrição, pela profundidade de conceitos e beleza de estilo, revela a existência, em meio ao Império Romano, de uma força espiritual extraordinária. Ainda vivos, os Apóstolos já haviam penetrado no coração do Império: “Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa do imperador” (Fl 4,22).

Fiéis cidadãos sobreviveram à derrocada do paganismo. Ainda hoje, entre luzes e sombras, a luta pela coerência continua. E o Concílio Ecumênico Vaticano II exatamente ensina o retorno a estas fontes como um meio de revigorar a difusão do Cristianismo no mundo contemporâneo.

Tendo diante de nós esse trecho da epístola a Diogneto, que mostra, com fidelidade, a vida dos cristãos, consideremos o que presenciamos em nosso meio.

No Brasil, hoje, existe uma chaga que nos envergonha como, há mais de um século, a escravidão. Refiro-me ao abismo entre alguns que recebem ricos salários e a grande maioria, que sofre na pobreza ou na miséria.

E que dizer da violência, dos crimes, da corrupção na vida pública? Das drogas, do jogo, da luta entre facções de marginais?

Cada um continue esse triste elenco de males que nos afligem. Ele é excessivamente longo. São batizados que negam, por atos, seu batismo.

A “Carta a Diognetto” nos aponta algo que está verdadeiramente na raiz das nossas enfermidades morais, espirituais e sociais: a contradição da vida privada e social com a Doutrina de Cristo. E nos incita a superar a ambiguidade. No momento em que houver coerência de nossa atitude com a Fé que professamos, teremos uma Pátria próspera e tranquila.



Rádio Catedral


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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Firmado acordo para publicação do 3º volume de "Jesus de Nazaré"

Boletim da Santa Sé
(Tradução: Jéssica Marçal-equipe CN Notícias)


Arquivo
O Papa Bento XVI concluiu o 3º volume da obra Jesus de Nazaré no mês passado e já há acordo firmado para sua publicação
Nesta sexta-feira, 21, no Vaticano, a Livraria e Editora Vaticana e a Casa Editora Rizzoli firmaram o acordo para a publicação do livro do Papa Bento XVI sobre a infância de Jesus nos Evangelhos, obra concluída em agosto deste ano. O título definitivo do livro ainda está reservado, mas este é o terceiro volume da trilogia "Jesus de Nazaré", escrita pelo Pontífice.

A Rizzoli tem a responsabilidade de vender em todo o mundo os direitos da obra. Na Itália, o volume, cuja publicação em todas as livrarias é prevista para o Natal, apresenta-se como uma co-edição entre a Livraria e Editora Vaticano e a Rizzoli.

Junto à edição italiana, já está prevista uma em alemão, publicada pela Herder, editora do histórico de Joseph Ratzinger, enquanto se está trabalhando ativamente para a publicação simultânea nas línguas de maiores difusões.

Joseph Ratzinger – Bento XVI – centrou sua investigação científica e seu trabalho para fazer conhecer "a pessoa e a mensagem de Jesus". Este novo e aguardado livro sobre a figura de Jesus nos relatos evangélicos da infância, que constitui o complemento das duas obras precedentes, revela-se como de grande importância do ponto de vista teológico e científico.

Os volumes precedentes da trilogia de Bento XVI são “Jesus de Nazaré" (Rizzoli, 2007), “Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém à Ressurreição” (LEV 2011).