CNBB cria Comissão Especial para os Bispos Eméritos | ||||||||||||||
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Por iniciativa da presidência da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, foi criada na última quarta-feira, 19 de
dezembro, a Comissão Especial para os Bispos Eméritos. Esta é a terceira
comissão especial da Conferência, que já conta com uma para acompanhar a
realização da Missão Continental e outra para a Amazônia.
O núcleo voltado para os Bispos Eméritos, cujo presidente será o Arcebispo Emérito de Salvador, Cardeal Dom Geraldo Magela, terá como principais atribuições: “acompanhar os bispos eméritos; apoiar e dar assistência aos mesmos; ser elo de comunicação entre os bispos e bispos eméritos; atender às necessidades dos eméritos que não sejam supridas pelas respectivas dioceses" Veja a íntegra do documento que cria, oficialmente, a Comissão Especial. Brasília/DF, 19 de dezembro de 2012 A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, no exercício de suas atribuições e nos termos do Art. 49,k do Estatuto Canônico da CNBB, nomeia a COMISSÃO ESPECIAL PARA OS BISPOS EMÉRITOS constituída pelos seguintes membros: Bispos: Dom Geraldo Cardeal Magela Agnelo – Presidente Dom Albano Cavalin Dom Lelis Lara, C.S.s.R Dom Angélico Sandalo Bernardino Dom Augusto Alves da Rocha Dom Esmeraldo de Farias Secretário: Padre Valdecir Ferreira Ligada à Presidência da CNBB, a Comissão terá como atribuições: acompanhar os bispos eméritos; apoiar e dar assistência aos mesmos; ser elo de comunicação entre os bispos e bispos e os bispos eméritos; atender às necessidades dos eméritos que não sejam supridas pelas respectivas dioceses. Cardeal Raymundo Damasceno de Assis Arcebispo de Aparecida (SP) Presidente da CNBB José Belisário da Silva Arcebispo de São Luis (MA) Vice-Presidente da CNBB Leonardo Ulrich Steiner Bispo Auxiliar de Brasília (DF) Secretário Geral da CNBB * Fonte: CNBB |
sábado, 22 de dezembro de 2012
Catecismo da Igreja
Maria tem um único Filho, Jesus, mas, n’Ele, a sua
maternidade espiritual estende-se a todos os homens que Ele veio salvar.
Paulo Henrique
(Padre da Arquidiocese de Natal)
"Adoremos a Deus, o seu Filho, Jesus Cristo,
torna-se o que nós somos, para que nós nos tornemos o que Ele é.
4º domingo do advento
A Eucaristia é a celebração de
um acontecimento vivenciado pelas comunidades cristãs, que se reúnem em meio à
graça libertadora: o nascimento, morte e ressurreição de Jesus que, a partir de
gestos concretos, nos santificou e nos salvou, perdoando nossos pecados.
A alternativa salvadora vem com
Jesus que se encarna nos irmãos e irmãs, os que são pobres, simples e abertos
ao seu projeto de vida, esperança e paz (1ª leitura e Evangelho).
Em toda e qualquer época,
especialmente, neste tempo do advento, a nossa reação cristã deve dar a
seguinte resposta: “Estamos aqui para fazer a tua santa vontade” (2ª leitura).
Sirvamo-nos ainda do testemunho
da Senhora Isabel e, a exemplo dela, perguntemos: “Como posso merecer que... o
meu Senhor me venha visitar?”.
I leitura
(Mq 5,1-4a)
A título da
contextualização, é possível oferecer algumas informações, tais como:
No
tempo do profeta Miquéias a situação política, social e econômica de Israel era
catastrófica, por isso, preocupante. Os sinais de violência, corrupção, dominação
patrocinados pelas lideranças que detinham os poderes judiciários, políticos e
até religiosos provocavam estarrecimento.
O
rei Ezequias até que é um homem bom, mas suas qualidades administrativas são
fracas.
E
o que dizer do profeta Miquéias? Nessa situação embaraçosa, surge o profeta.
Miquéias exerce o seu ministério na pequena Vila de Belém de Judá, da
antiquíssima família de Éfrata, de onde está para surgir o “Dominador de
Israel”, oferecendo um convite à esperança.
O
cap. 5 de Miquéias fala do messianismo.
De fato, o trecho trata de um soberano que reina a partir dos pobres e
pequenos, rompendo com a ideologia palaciana.
O
oráculo inicia privilegiando Belém, desprezível aos olhos da corte instalada em
Belém. Portanto, a salvação, não vem da capital, vem de uma vila, da roça,
exatamente como no início da monarquia em Israel, quando Deus escolheu Davi, um
jovem pastor, para organizar e salvar seu povo.
O
vers. 2 fala da restauração do povo.
O profeta mostra, simplesmente, dois sinais: o da mulher que dá a luz e a volta
dos exilados. Esses sinais tratam de vida nova e de sociedade alternativa.
No
vers. 3 é descrito as qualidades do poder popular. É poder a serviço do bem e
da felicidade plena da comunidade: Paz=shalom!
Esta é a lógica de Cristo!
Evangelho
(Lc 1,39-45)
Esta é a seção chamada de “a
visitação de Maria a Isabel”.
Antes
de mais nada, é válido dizer que São Lucas narra o nascimento do Menino de
Jesus, em Belém de Judá, como sendo o cumprimento da profecia de Miquéias (I
leitura). Por aquela que aceita conceber o Filho de Deus, nascerá aquele traz a
paz.
Vejamos
o que Lucas quer nos ensinar no episódio de hoje.
1.
Comecemos pela observação, aparentemente corriqueira, com a qual começa a
narrativa: logo que entrou na casa de Zacarias, Maria “saudou Isabel” (v. 10).
É o costumeiro “bom dia!” “Tendo ouvido a saudação” o Batista estremeceu de
alegria. Trata-se da saudação judaica: “Paz”=shalom! A paz sintetiza o acúmulo de todos os bens que Deus
prometeu ao seu povo.
Nos
lábios de Maria a palavra “paz” é uma solene proclamação de que chegou ao mundo
o esperado Messias e que com ele teve início o reino de paz anunciado pelos
profetas.
Perguntemo-nos:
O encontro com um cristão transmite sempre serenidade, alegria, paz? Anunciamos
a paz só com palavras ou ajudamos a construí-la com a nossa vida?
2.
Palavras que Izabel dirige a Maria: “Bendita és tu entre as mulheres”.
Aplicando a Maria esta mesma frase, Lucas quer afirmar que também ela pertence
à categoria dos instrumentos fracos e simples através dos quais Deus realiza
suas obras de salvação. Através de Maria ele realizou o acontecimento mais
extraordinário da história: deu aos homens o seu próprio Filho.
3.
Isabel continua: “donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?” (v.
43).
Há ainda outros detalhes significativos que
colocam em paralelo a visita de Maria com o episódio da Arca da Aliança: Maria
bem como a Arca permanecem durante três meses numa casa da Judéia. É sabido que
a Arca é recebida com danças, com hinos festivos e é portadora de bênçãos para
a família que a recebe (2 Sm 6,10-11) e Maria ao entrar na casa de Zacarias,
faz estremecer de alegria o pequeno João Batista (que representa todo o povo do
Antigo Testamento que está à espera do Messias). Portanto, Maria é a Nova Arca,
que porta o seu Filho, o Senhor da Vida.
A
nossa missão é também a de portar o Senhor para nós e para os outros. Temos
realizado essa missão?
4.
Maria é considerada “Bem-aventurada” porque “acreditou no cumprimento das
palavras do Senhor” (v. 45). Ela conseguiu depositar sua confiança em Deus,
cultivou a certeza de que, não obstante todas as aparências contrárias, a
palavra de Deus teria se cumprido.
Não
é fácil acreditar, especialmente quando se exige de nós contrariar o nosso “bom
senso”. Será que estou sendo claro? É que as atitudes de alguns, às vezes,
contariam o discernimento da fé. Será que a qualidade, ou melhor, o nosso
estágio de fé, não está precisando se fortalecer melhor, a exemplo do que diz
S. Paulo: “Sei em quem acreditei!?”. Não vale brincar de ter fé!
Maria
nos ensina que vale a pena confiar sempre nas Palavras e no Projeto do Senhor.
Segunda
leitura (Hb 10, 5-10)
A segunda leitura nos
oferece a advertência para que, nas nossas atitudes, sejamos dóceis e dispostos à obediência, a
exemplo de Jesus, permitindo assim, que Deus se manifeste através da
fragilidade humana.
Pe.
Francisco de Assis Inácio
- Pároco -
Paróquia da Imaculada Conceição – Nova Cruz
Fonte: Pascom Nova Cruz
Pe. Anísio José, scj
"Há 3 caminhos para o fracasso: não ensinar o
que sabe, não praticar o que ensina, e não perguntar o que ignora." São
Beda
Pe. Anísio José, scj
"A mente que se abre para uma nova idéia, jamais voltará ao seu tamanho original." Albert Eistein
Reflexões
Papa envia mais três 'twits' sobre a dignidade do homem
Cidade do Vaticano (RV) - “Quando negas Deus, negas a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem”: Pela primeira vez fora do âmbito das audiências semanais, Bento XVI publicou nesta sexta-feira, 21, novas mensagens na rede social Twitter, para os seus dois milhões de seguidores.
O texto foi divulgado após o encontro com os membros da Cúria Romana para a tradicional troca de cumprimentos de Natal. Discursando para seus colaboradores, Bento XVI manifestou preocupação com o que definiu “um verdadeiro atentado” à definição legal de casamento e criticou a ideologia de gênero, que a seu ver promove uma revolução antropológica que se fundamenta numa falsidade.
Poucos minutos depois do primeiro envio sobre o discurso, o Papa voltou a publicar: “Nós não possuímos a verdade, é a Verdade que nos possui a nós. Cristo, que é a Verdade, toma-nos pela mão”.
“No final do ano, peçamos que a Igreja, apesar dos seus limites, cresça sempre mais como casa de Deus” - assinala um terceiro 'tweet' enviado, como sempre em oito línguas: inglês, espanhol, italiano, alemão, polonês, árabe, francês e português.
E nas próximas semanas, a conta @pontifex terá também mensagens em latim e chinês, segundo antecipou o jornal do Vaticano ‘Osservatore Romano’. (CM)
Movimento Fé e Luz em 2013
Já estamos com o roteiro dos encontros do Fé e Luz para 2013. Os temas selecionados oferecem aprofundamentos para crescermos na fé e no encontro com nossos irmãos.
Apresentaremos aqui nossos temas:
Janeiro: Mª Madalena, primeira testemunha da ressurreição;
Fevereiro: Pedro, o rochedo fraco e forte;
Março: Estevão, o homem cheio de sabedoria e do Espírito Santo;
Abril: João, o bem amado;
Maio: Córnélio, o primeiro pagão cristão;
Junho: Tabita e Líbia, colaboradoras dos apóstolos;
Julho: Filipe, o diácono cheio do Espírito Santo;
Agosto: Tiago, o filho do trovão;
Setembro: Paulo, o perseguidor que se torna apóstolo;
Outubro: Timóteo, filho de Paulo na fé;
Novembro: Barnabé, o incansável companheiro de Paulo;
Dezembro: Priscila e Áquila, o primeiro casal missionário.
Em cada mês temos um modelo de fé e coragem para nos fortalecer aqui na paróquia com boas reflexões. Segundo, o Padre Hans Putman, antigo conselheiro espiritual no Sudão, "graças a eles e a tantos outros, a Boa nova espalhou-se pelo mundo a fora".
Apresentaremos aqui nossos temas:
Janeiro: Mª Madalena, primeira testemunha da ressurreição;
Fevereiro: Pedro, o rochedo fraco e forte;
Março: Estevão, o homem cheio de sabedoria e do Espírito Santo;
Abril: João, o bem amado;
Maio: Córnélio, o primeiro pagão cristão;
Junho: Tabita e Líbia, colaboradoras dos apóstolos;
Julho: Filipe, o diácono cheio do Espírito Santo;
Agosto: Tiago, o filho do trovão;
Setembro: Paulo, o perseguidor que se torna apóstolo;
Outubro: Timóteo, filho de Paulo na fé;
Novembro: Barnabé, o incansável companheiro de Paulo;
Dezembro: Priscila e Áquila, o primeiro casal missionário.
Em cada mês temos um modelo de fé e coragem para nos fortalecer aqui na paróquia com boas reflexões. Segundo, o Padre Hans Putman, antigo conselheiro espiritual no Sudão, "graças a eles e a tantos outros, a Boa nova espalhou-se pelo mundo a fora".
Bento XVI
No final do ano, peçamos que a Igreja, apesar dos seus limites, cresça sempre mais como casa de Deus.
Beatificação do Papa Paulo VI
20/12/2012 | Agência Ecclesia Bento XVI aprovou hoje a publicação do decreto que reconhece as ‘virtudes heroicas' de Giovanni Battista Montini (1897-1978), Paulo VI, eleito Papa em junho de 1963.Esta é uma etapa do processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, e permite que, após o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão do Papa italiano, tenha lugar a sua beatificação, penúltima etapa para a declaração da santidade.
Entre os nove Papas que a Igreja Católica teve no século XX há, neste momento, um santo (Pio X) e dois beatos (João XXIII e João Paulo II).
A canonização, ato reservado ao Papa desde o século XIII, é a confirmação, por parte da Igreja Católica, que um fiel católico é digno de culto público universal e de ser apresentado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.
Nos primeiros séculos da Igreja, o reconhecimento da santidade acontecia em âmbito local, a partir da fama popular do santo e com a aprovação dos bispos.
Bento XVI autorizou ainda a promulgação, por parte da Congregação para as Causas dos Santos (CCS), dos decretos que reconhecem milagres atribuídos a três futuros santos e cinco novos beatos.
A CCS publicou também os decretos relativos ao martírio de 35 católicos, a maior parte dos assassinados entre 1936 e 1938, durante a Guerra Civil Espanhola.
Outros nove católicos foram declarados "veneráveis", tal como aconteceu com Paulo VI.
Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini nasceu a 26 de setembro de 1897 na Lombardia, Itália, e foi ordenado padre em 1920, tendo entrado ao serviço diplomático da Santa Sé.
Nomeado arcebispo de Milão em 1953, foi criado cardeal em dezembro de 1958, por João XXIII, a quem viria a suceder, cinco anos depois, já com o Concílio Vaticano II (1962-1965) em andamento, tendo-lhe dado continuidade.
Entre 1964 e 1970, Paulo VI fez nove viagens internacionais, as primeiras de um Papa moderno, incluindo a passagem por Fátima a 13 de maio de 1967.
O Papa italiano escreveu sete encíclicas, entre as quais a ‘Humanae vitae' (1968), sobre a regulação da natalidade, e a ‘Populorum progressio' (1967), sobre o desenvolvimento dos povos; assinou ainda a exortação apostólica ‘Evangelii nuntiandi' (1975), sobre a evangelização no mundo contemporâneo, e discursou na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, a 4 de outubro de 1965.
Paulo VI morreu no dia 6 de agosto de 1978.
Fonte: www.agencia.ecclesia.pt
FAMÍLIA
Família e verdade
Cidade do Vaticano (RV) - O editorial do Diretor-Geral da Rádio Vaticano desta semana é referido ao discurso de fim de ano feito pelo Papa nesta sexta-feira aos seus colaboradores da Cúria Romana.
Padre Federico Lombardi inicia dizendo que o encontro para os votos de Natal da Cúria Romana é sempre muito pessoal e cuidadosamente estudado pelo Santo Padre. É uma reflexão sobre o ano que passou, mas também um aprofundamento de temas que Bento XVI considera mais urgentes e atuais.
São coisas sobre as quais ele sente o dever de manifestar o seu pensamento, indo aos fundamentos com a clareza e a coragem que o caracterizam: é o seu dever em relação à Igreja e à humanidade, mesmo que isso possa suscitar resistências ou reações negativas. Dois temas foram escolhidos este ano: família e dualidade do homem e da mulher; e diálogo e anúncio da fé.
Pe. Lombardi afirma que “em relação à família, o Papa não entra nas discussões sobre a legislação e os matrimônios homossexuais, e também não retoma as inesquecíveis palavras de proximidade aos casais em dificuldade, pronunciadas Semana da Família de Milão, mas reafirma que hoje em dia, está em jogo a questão "quem é o homem".
A dualidade do homem e da mulher é essencial para o ser humano. Dela nascem as relações fundamentais entre pai, mãe e filhos. A dualidade está inscrita na natureza da pessoa, nos desígnios de Deus criador. Negá-la é contrário à verdade, e afirmar que é a própria pessoa humana a determinar a sua identidade é um passo destrutivo, que abre caminho à manipulação arbitrária da natureza, com consequências gravíssimas para a dignidade do homem; a começar pela dignidade dos filhos, considerados como objeto de um direito e já não como sujeitos de direitos.
Na "luta pela família", enfim, está em jogo a própria pessoa humana. O Papa faz ampla referência a quanto foi escrito pelo Grão Rabino de França, demonstrando que a posição da Igreja não é estritamente confessional, mas sim da razão, partilhada na grande tradição judaico-cristã.
Também o segundo tema aprofundado pelo Papa provocará discussão. É atualíssimo e não é separado do primeiro: o cristão entra na relação de diálogo como portador da grande experiência da humanidade lida à luz da fé, sentindo-se responsável pelos valores mais preciosos e duradouros para além das soluções puramente pragmáticas. E entra em diálogo com a confiança de que a busca da verdade nunca porá em causa a sua identidade cristã. Porque a verdade não é orgulhosamente possuída por nós, mas nos chama e nos guia, como Cristo que nos acompanha pela mão.
Também este é um voto de Natal. Profundo, exigente, atual.
(CM-JMP)
padrezezinhoscj
Quem é o catequista das suas crianças? O comercio, a
TV ou vocês ? Vai sobrar tempo para falar de um menino pobre que mudou a
História ?
Natal: a atualidade do PUER AETERNUS, da Eterna Criança
22/12/2012
As comunidades subjacentes a cada um dos evangelhos, elaboraram suas interpretações sobre a vida de Jesus, sua prática, seu conflito com os as autoridades, sua experiência de Deus e sobre o significado de sua morte e ressurreição. No entanto, cobrem sua figura com tantas doutrinas que se torna difícil saber quem foi realmente o Jesus histórico que viveu entre nós. Por fim, existem as Igrejas que tentam levar avante o legado de Jesus, uma delas, a católica, com a reivindicação de ser a única verdadeira guardiã de sua mensagem e a exclusiva intérprete de seu significado. Tal pretensão torna praticamente impossível o diálogo ecumênico e a unidade das igrejas a não ser mediante à conversão.
Hoje tendemos a dizer que Jesus não pode ser apropriado por nenhuma Igreja. Ele pertence à humanidade e representa um dom que Deus ofereceu a todos, de todos os quadrantes.
Tomando como referencia a Igreja Católica, notamos que em sua milenar história, duas tendências, entre outras menores, ganharam grande curso. A primeira se funda muito na culpa, no pecado e na penitência. Sobre tais realidades paira o espectro do inferno, do purgatório e do medo.
Efetivamente, podemos dizer, que o medo foi um dos fatores fundamentais na penetração do cristianismo, como o mostrou J. Delumeau em seu clássico “O medo no Ocidente” (1978). O método no tempo de Carlos Magno era: converta-te ou serás passado ao fio da espada. Lendo os primeiros catecismos feitos na América Latina como o primeiro de Frei Pedro de Córdoba “Doctrina Cristiana” (1510 e 1544), vê-se claramente esta tendência com apelo explícito ao medo. Começa-se com a descrição idílica do céu e depois a terrificante do inferno “onde estão todos os vossos antepassados, pais, mães, avós e parentes…e para onde vós todos ireis se não vos converterdes”. Podemos imaginar a confusão que isso criava na cabeça dos aztecas e outros ao ouvir que seus pais, mãe, parentes e todas as pessoas que amavam, estavam sofrendo no inferno.Setores da atual Igreja manejam ainda hoje as categorias do medo e do inferno.
Outra tendência, mais contemporânea, e penso, mais próxima de Jesus, põe a ênfase na compaixão e no amor, na justiça original e no fim bom da criação. Entende que a história da salvação se dá dentro da história humana e não como uma alternativa a ela. Daí surge um perfil de cristianismo mais jovial, em diálogo com as culturas e com os valores modernos pois neles vê também a presença do Espírito Santo que chega sempre antes do missionário.
A festa do Natal se liga a esta última tendência do Cristianismo. O que se celebra é um Deus-menino, que choraminga entre a vaca e burrinho, que não mete medo nem julga ninguém. É bom que os cristãos voltem a esta figura. Arquetipicamente ele representa o “puer aeternus” a eterna criança que, no fundo, nunca deixamos de ser.
Uma das melhores discípulas de C. G. Jung, Marie-Louise von Franz, analisou em detalhe este arquétipo em seu livro “Puer Aeternus” (Paulinas 1992). Essa figura possui certa ambiguidade. Se colocamos a criança atrás de nós, ela deslancha energias regressivas de nostalgia de um mundo que passou e que não foi totalmente superado e integrado. Continuamos, de certa forma, infantis.
Mas se colocamos a criança eterna à nossa frente então ela suscita em nós renovação de vida, inocência, novas possibilidades de ação que correm em direção do futuro.
Pois estes são os sentimentos que queremos alimentar neste Natal no meio de uma situação sombria da Terra e da Humanidade. Sentimentos de que ainda teremos futuro e que podemos nos salvar porque a Estrela é magnânima e o “puer” é eterno e porque ele se encarnou neste mundo e não permitirá que afunde totalmente. Nele se manifestou a humanidade e a jovialidade do Deus de todos os povos. Tudo o mais é vaidade.
Leonardo Boff escreveu O Sol da Esperança: Natal, Histórias, Poesias e Símbolos (Mar e Idéias, Rio 2007)
ADVENTO
Reflexão do 4º Domingo do Advento
Cidade do Vaticano (RV) - A primeira leitura, extraída de Miquéias, nos fala que o poder será popular e não mais aristocrático Deus manterá sua fidelidade à Casa de Davi quando escolheu o caçula de Jessé para ser um grande rei de Israel. Davi, não só venceu o opressor ao derrotar Golias apenas com uma pedrada, mas utilizou sua capacidade de pastor para reorganizar e salvar o povo.
Miquéias, tendo em mente o advento do rei Davi, fala que Belém, a cidade davídica, no momento uma aldeia desprezível para os habitantes da capital, será o berço daquele que governará Israel, de um modo mais grandioso que o realizado pelo filho de Jessé..
Isso irá acontecer quando uma mulher der à luz e os compatriotas voltarem do exílio. Será a formação da nova sociedade de que falamos no domingo passado. Novo rei, segundo o coração de Deus e, consequentemente, nova sociedade.
O versículo 3, do capítulo diz que o novo rei será a paz. Ele se refere ao triunfo da paz em todo o orbe e o domínio da justiça em todos os setores. Não será apenas Israel o beneficiário desta paz, mas o mundo todo.
No Evangelho, Lucas ao falar da visita de Maria a Isabel e, naturalmente, de Jesus a João Batista, revela Deus visitando os pobres e marginalizados. Jesus, o Salvador, é levado por Maria, a escolhida a visitar aqueles que outrora eram desprezados por não terem filhos. É uma visita que celebra a misericórdia do Senhor. Isabel a saúda bendizendo-O pois tem consciência de que a visita que recebe é a de Deus que salva.
Tanto a 1ª leitura quanto o Evangelho nos mostram que o lugar social onde Deus assume posição é no meio dos pobres. O Senhor se identificou com eles e se fez um deles. Para eles veio a plenitude da vida, a Salvação. Quem desejar ser salvo deverá observar que desde o início da História da Salvação, o Senhor escolheu os pobres e eles souberam receber os mandamentos do Senhor como dom de Deus.
Ser pobre é mais que fazer parte de uma categoria social. Ser pobre é também uma opção de vida que coloca no Senhor a sua confiança e não nos bens e nos poderes deste mundo.. Ser pobre é abrir mão de desejos particulares, egocêntricos em favor dos companheiros de caminhada. Ser pobre é abrir mão de ser sábio aos olhos do mundo e acatar a Palavra de Deus como verdade que salva. Ser pobre é abrir mão dos bens deste mundo, de seus privilégios se tais riquezas se contrapõem à vontade de Deus; ser pobre, enfim é buscar a simplicidade de vida porque ela não só foi vivida pela família de Nazaré, mas foi a escolha livre de Jesus. Ser pobre é ser filho e ser irmão!(CAS)
É NATAL
Tempo de Natal
Cidade do Vaticano (RV) - Mais uma vez É Natal!
Dentro de um ambiente de austeridade como vive no momento a rica Europa, a ponto de bispos espanhóis pedirem aos católicos que ofereçam o 13º salário às famílias carentes; dentro do Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, o que nos faz encarar a efeméride com olhos que transcendam o comum e passemos a valorizar o essencial e a relativizar o acidental, os cristãos e aqueles que assumiram a cultura ocidental vivem e celebram o nascimento do Filho de Maria.
De qualquer modo mensagens serão trocadas, presentes serão dados, a ceia da noite do dia 24 será servida, árvores e presépios serão armados, guirlandas serão colocadas nas portas, o chamado “espírito de Natal” estará instalado. Apesar disso tudo ser muito importante e até aquecer os corações por algum tempo, tudo isso passará e já está fadado ao esquecimento, à espera do próximo ano.
Contudo, um hábito não passará, apesar de não ser muito presente na vida da maioria das pessoas: a celebração da santa missa e a distribuição de comida e presentes para os pobres. Será exatamente aí que o permanente será tocado, será exatamente aí que atingiremos o essencial, o transcendente, Deus. De que adianta gastar tempo, energias, com aquilo que perece? Sejamos sábios e saibamos colocar nosso coração e mente naquilo que é eterno.
Ao mesmo tempo amemos nossas crianças e saibamos educá-las dando bons exemplos, não investindo nosso trabalho naquilo que fenece, mas naquilo que sacia plenamente o coração, e por muito tempo!
Natal, chegada do eterno, da Vida! Tenhamos atitudes inteligentes e privilegiemos Deus e o outro. Nossas mensagens sejam ricas em conteúdo e não formais e vazias, nossos presentes simbolizem que o carinho por aquele ou aquela que o recebe existe, está presente em nosso coração, que a ceia seja ocasião de partilha e de congraçamento, os enfeites sejam sinais de alegria e não de ostentação, e a árvore e o presépio deem a tônica cristã de nossa festa. Então a missa será o ponto alto de tudo isso e a visita ao pobre, ao marginalizado, será a continuação da visita que os pastores e os magos fizeram ao Menino envolvido em faixas na manjedoura de Belém. Aí sim teremos um Feliz Natal! (CAS)
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
O Setor I está caminhando
O gesto concreto aconteceu, os participantes levaram alimentos não perecíveis para serem distribuídos com famílias carentes. A celebração encerrou com um lanche para todos.
Comunidade unida
A comunidade marcou presença demonstrando seu compromisso com o projeto de evangelização pelos setores. Logo após a celebração sorteamos 4 bíblias que foram doadas pelo nosso Pároco, o Padre Matias Soares. Enfatizamos a importância que tem os setores no papel de evangelização da cidade. A comunhão com a Igreja e com todos os membros da comunidade fortalece a paróquia. Essa linguagem está sendo assimilada pela comunidade.
SETOR I : MISSÃO PERMANENTE
O Setor I, centro, encerrou as novenas do Natal em Família com celebração da palavra reunindo moradores de várias ruas do setor missionário. Compareceram mais de 60 pessoas para juntos celebrarmos a Palavra de Deus. A Irmã Loudes do Sagrado Coração de Jesus fez a pregação muito bonita.
FRATERNIDADE E JUVENTUDE
A campanha é da Igreja que tem como objetivo "propiciar aos jovens um encontro pessoal com Jesus Cristo a fim de contribuir para sua vocação de discípulo missionário e para a elaboração de seu projeto pessoal de vida".
Fraternidade e Juventude
O último encontro do clero do ano foi sobre a campanha da fraternidade 2013. O tema para o próximo ano: Fraternidade e Juventude. O encontro foi assessorado pelo Padre José Adalberto Vanzella assessor do Regional Nordeste 5, no Maranhão.
Discurso do Papa à Cúria Romana - 21/12/2012
Boletim da Santa Sé
Discurso
Audiência com a Cúria Romana
Vaticano
Sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Audiência com a Cúria Romana
Vaticano
Sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado,
Queridos irmãos e irmãs!
Com grande alegria, me encontro hoje convosco, amados membros do Colégio Cardinalício, representantes da Cúria Romana e do Governatorado, para este momento tradicional antes do Natal. A cada um de vós dirijo uma cordial saudação, começando pelo Cardeal Angelo Sodano, a quem agradeço as amáveis palavras e os ardentes votos que me exprimiu em nome dele e vosso. O Cardeal Decano recordou-nos uma frase que se repete muitas vezes na liturgia latina destes dias: «Prope este iam Dominus, venite, adoremus! – O Senhor está perto; vinde, adoremos!». Também nós, como uma única família, nos preparamos para adorar, na gruta de Belém, aquele Menino que é Deus em pessoa e tão próximo que Se fez homem como nós. De bom grado retribuo os votos formulados e agradeço de coração a todos, incluindo os Representantes Pontifícios espalhados pelo mundo, pela generosa e qualificada colaboração que cada um presta ao meu ministério.
Encontramo-nos no fim de mais um ano, também este caracterizado – na Igreja e no mundo – por muitas situações atribuladas, por grandes problemas e desafios, mas também por sinais de esperança. Limito-me a mencionar alguns momentos salientes no âmbito da vida da Igreja e do meu ministério petrino. Começo pelas viagens realizadas ao México e a Cuba: encontros inesquecíveis com a força da fé, profundamente enraizada nos corações dos homens, e com a alegria pela vida que brota da fé. Recordo que, depois da chegada ao México, na borda do longo troço de estrada que tivemos de percorrer, havia fileiras infindáveis de pessoas que saudavam, acenando com lenços e bandeiras. Recordo que, durante o trajecto para Guanajuato – pitoresca capital do Estado do mesmo nome –, havia jovens devotamente ajoelhados na margem da estrada para receber a bênção do Sucessor de Pedro; recordo como a grande liturgia, nas proximidades da estátua de Cristo-Rei, constituiu um acto que tornou presente a realeza de Cristo: a sua paz, a sua justiça, a sua verdade. E tudo isto, tendo como pano de fundo os problemas dum país que sofre devido a múltiplas formas de violência e a dificuldades resultantes de dependências económicas. Sem dúvida, são problemas que não se podem resolver simplesmente com a religiosidade, mas sê-lo-ão ainda menos sem aquela purificação interior dos corações que provém da força da fé, do encontro com Jesus Cristo. Seguiu-se a experiência de Cuba; também lá nas grandes liturgias, com seus cânticos, orações e silêncios, se tornou perceptível a presença d’Aquele a quem, por muito tempo, se quisera recusar um lugar no país. A busca, naquele país, de uma justa configuração da relação entre vínculos e liberdade, seguramente, não poderá ter êxito sem uma referência àqueles critérios fundamentais que se manifestaram à humanidade no encontro com o Deus de Jesus Cristo.
Como sucessivas etapas deste ano que se encaminha para o fim, gostava de mencionar a grande Festa da Família em Milão, bem como a visita ao Líbano com a entrega da Exortação apostólica pós-sinodal que deverá agora constituir, na vida das Igrejas e da sociedade no Médio Oriente, uma orientação nos difíceis caminhos da unidade e da paz. O último acontecimento importante deste ano, a chegar ao ocaso, foi o Sínodo sobre a Nova Evangelização, que constituiu ao mesmo tempo um início comunitário do Ano da Fé, com que comemorámos a abertura do Concílio Vaticano II, cinquenta anos atrás, para o compreender e assimilar novamente na actual situação em mudança.
Todas estas ocasiões permitiram tocar temas fundamentais do momento presente da nossa história: a família (Milão), o serviço em prol da paz no mundo e o diálogo inter-religioso (Líbano), bem como o anúncio da mensagem de Jesus Cristo, no nosso tempo, àqueles que ainda não O encontraram e a muitos que só O conhecem por fora e, por isso mesmo, não O reconhecem. De todas estas grandes temáticas, quero reflectir um pouco mais detalhadamente sobre o tema da família e sobre a natureza do diálogo, acrescentando ainda uma breve consideração sobre o tema da Nova Evangelização.
A grande alegria, com que se encontraram em Milão famílias vindas de todo o mundo, mostrou que a família, não obstante as múltiplas impressões em contrário, está forte e viva também hoje; mas é incontestável – especialmente no mundo ocidental – a crise que a ameaça até nas suas próprias bases. Impressionou-me que se tenha repetidamente sublinhado, no Sínodo, a importância da família como lugar autêntico onde se transmitem as formas fundamentais de ser pessoa humana. É vivendo-as e sofrendo-as, juntos, que as mesmas se aprendem. Assim se tornou evidente que, na questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem. Os desafios, neste contexto, são complexos. Há, antes de mais nada, a questão da capacidade que o homem tem de se vincular ou então da sua falta de vínculos. Pode o homem vincular-se para toda a vida? Isto está de acordo com a sua natureza? Ou não estará porventura em contraste com a sua liberdade e com a auto-realização em toda a sua amplitude? Será que o ser humano se torna-se ele próprio, permanecendo autónomo e entrando em contacto com o outro apenas através de relações que pode interromper a qualquer momento? Um vínculo por toda a vida está em contraste com a liberdade? Vale a pena também sofrer por um vínculo? A recusa do vínculo humano, que se vai generalizando cada vez mais por causa duma noção errada de liberdade e de auto-realização e ainda devido à fuga da perspectiva duma paciente suportação do sofrimento, significa que o homem permanece fechado em si mesmo e, em última análise, conserva o próprio «eu» para si mesmo, não o supera verdadeiramente. Mas, só no dom de si é que o homem se alcança a si mesmo, e só abrindo-se ao outro, aos outros, aos filhos, à família, só deixando-se plasmar pelo sofrimento é que ele descobre a grandeza de ser pessoa humana. Com a recusa de tal vínculo, desaparecem também as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho; caem dimensões essenciais da experiência de ser pessoa humana.
Num tratado cuidadosamente documentado e profundamente comovente, o rabino-chefe de França, Gilles Bernheim, mostrou que o ataque à forma autêntica da família (constituída por pai, mãe e filho), ao qual nos encontramos hoje expostos – um verdadeiro atentado –, atinge uma dimensão ainda mais profunda. Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. Ele cita o célebre aforismo de Simone de Beauvoir: «Não se nasce mulher; fazem-na mulher - t pas femme, on le devient». Nestas palavras, manifesta-se o fundamento daquilo que hoje, sob o vocábulo «gender - género», é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. O homem contesta o facto de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um facto pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstracto, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria; Bernheim mostra como o filho, de sujeito jurídico que era com direito próprio, passe agora necessariamente a objecto, ao qual se tem direito e que, como objecto de um direito, se pode adquirir. Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo, chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem.
Dito isto, gostava de chegar ao segundo grande tema que, desde Assis até ao Sínodo sobre a Nova Evangelização, permeou todo o ano que chega ao fim: a questão do diálogo e do anúncio. Comecemos pelo diálogo. No nosso tempo, para a Igreja, vejo principalmente três campos de diálogo, onde ela deve estar presente lutando pelo homem e pelo que significa ser pessoa humana: o diálogo com os Estados, o diálogo com a sociedade – aqui está incluído o diálogo com as culturas e com a ciência – e, finalmente, o diálogo com as religiões. Em todos estes diálogos, a Igreja fala a partir da luz que a fé lhe dá. Ao mesmo tempo, porém, ela encarna a memória da humanidade que, desde os primórdios e através dos tempos, é memória das experiências e dos sofrimentos da humanidade, onde a Igreja aprendeu o que significa ser homem, experimentando o seu limite e grandeza, as suas possibilidades e limitações. A cultura do humano, de que ela se faz garante, nasceu e desenvolveu-se a partir do encontro entre a revelação de Deus e a existência humana. A Igreja representa a memória do que é ser homem defronte a uma civilização do esquecimento que já só se conhece a si mesma e só reconhece o próprio critério de medição. Mas, assim como uma pessoa sem memória perdeu a sua identidade, assim também uma humanidade sem memória perderia a própria identidade. Aquilo que foi dado ver à Igreja, no encontro entre revelação e experiência humana, ultrapassa sem dúvida o mero âmbito da razão, mas não constitui um mundo particular que seria desprovido de interesse para o não-crente. Se o homem, com o próprio pensamento entra na reflexão e na compreensão daqueles conhecimentos, estes alargam o horizonte da razão e isto diz respeito também àqueles que não conseguem partilhar a fé da Igreja. No diálogo com o Estado e a sociedade, naturalmente a Igreja não tem soluções prontas para as diversas questões. Mas, unida às outras forças sociais, lutará pelas respostas que melhor correspondam à justa medida do ser humano. Aquilo que ela identificou como valores fundamentais, constitutivos e não negociáveis da existência humana, deve defendê-lo com a máxima clareza. Deve fazer todo o possível por criar uma convicção que possa depois traduzir-se em acção política.
Na situação actual da humanidade, o diálogo das religiões é uma condição necessária para a paz no mundo, constituindo por isso mesmo um dever para os cristãos bem como para as outras crenças religiosas. Este diálogo das religiões possui diversas dimensões. Há-de ser, antes de tudo, simplesmente um diálogo da vida, um diálogo da acção compartilhada. Nele, não se falará dos grandes temas da fé – se Deus é trinitário, ou como se deve entender a inspiração das Escrituras Sagradas, etc. –, mas trata-se dos problemas concretos da convivência e da responsabilidade comum pela sociedade, pelo Estado, pela humanidade. Aqui é preciso aprender a aceitar o outro na sua forma de ser e pensar de modo diverso. Para isso, é necessário fazer da responsabilidade comum pela justiça e a paz o critério basilar do diálogo. Um diálogo, onde se trate de paz e de justiça indo mais além do que é simplesmente pragmático, torna-se por si mesmo uma luta ética sobre os valores que são pressupostos em tudo. Assim o diálogo, ao princípio meramente prático, torna-se também uma luta pelo justo modo de ser pessoa humana. Embora as escolhas básicas não estejam enquanto tais em discussão, os esforços à volta duma questão concreta tornam-se um percurso no qual ambas as partes podem encontrar purificação e enriquecimento através da escuta do outro. Assim estes esforços podem ter o significado também de passos comuns rumo à única verdade, sem que as escolhas básicas sejam alteradas. Se ambas as partes se movem a partir duma hermenêutica de justiça e de paz, a diferença básica não desaparecerá, mas crescerá uma proximidade mais profunda entre eles.
Hoje em geral, para a essência do diálogo inter-religioso, consideram fundamentais duas regras: 1ª) O diálogo não tem como alvo a conversão, mas a compreensão. Nisto se distingue da evangelização, da missão. 2ª) De acordo com isso, neste diálogo, ambas as partes permanecem deliberadamente na sua identidade própria, que, no diálogo, não põem em questão nem para si mesmo nem para os outros.
Estas regras são justas; mas penso que assim estejam formuladas demasiado superficialmente. Sim, o diálogo não visa a conversão, mas uma melhor compreensão recíproca: isto é correcto. Contudo a busca de conhecimento e compreensão sempre pretende ser também uma aproximação da verdade. Assim, ambas as partes, aproximando-se passo a passo da verdade, avançam e caminham para uma maior partilha, que se funda sobre a unidade da verdade. Quanto a permanecer fiéis à própria identidade, seria demasiado pouco se o cristão, com a sua decisão a favor da própria identidade, interrompesse por assim dizer por vontade própria o caminho para a verdade. Então o seu ser cristão tornar-se-ia algo de arbitrário, uma escolha simplesmente factual. Nesse caso, evidentemente, ele não teria em conta que a religião tem a ver com a verdade. A propósito disto, eu diria que o cristão possui a grande confiança, mais ainda, a certeza basilar de poder tranquilamente fazer-se ao largo no vasto mar da verdade, sem dever temer pela sua identidade de cristão. Sem dúvida, não somos nós que possuímos a verdade, mas é ela que nos possui a nós: Cristo, que é a Verdade, tomou-nos pela mão e, no caminho da nossa busca apaixonada de conhecimento, sabemos que a sua mão nos sustenta firmemente. O facto de sermos interiormente sustentados pela mão de Cristo torna-nos simultaneamente livres e seguros. Livres: se somos sustentados por Ele, podemos, abertamente e sem medo, entrar em qualquer diálogo. Seguros, porque Ele não nos deixa, a não ser que sejamos nós mesmos a desligar-nos d’Ele. Unidos a Ele, estamos na luz da verdade.
Por último, impõe-se ainda uma breve consideração sobre o anúncio, sobre a evangelização, de que, na sequência das propostas dos Padres Sinodais, falará efectiva e amplamente o documento pós-sinodal. Acho que os elementos essenciais do processo de evangelização são visíveis, de forma muito eloquente, na narração de São João sobre a vocação de dois discípulos do Baptista, que se tornam discípulos de Cristo (cf. Jo 1, 35-39). Antes de tudo, há o simples acto do anúncio. João Baptista indica Jesus e diz: «Eis o Cordeiro de Deus!» Pouco depois o evangelista vai narrar um facto parecido; agora é André que diz a Simão, seu irmão: «Encontrámos o Messias!» (1, 41). O primeiro elemento fundamental é o anúncio puro e simples, o kerigma, cuja força deriva da convicção interior do arauto. Na narração dos dois discípulos, temos depois a escuta, o seguir os passos de Jesus; um seguir que não é ainda verdadeiro seguimento, mas antes uma santa curiosidade, um movimento de busca. Na realidade, ambos os discípulos são pessoas à procura; pessoas que, para além do quotidiano, vivem na expectativa de Deus: na expectativa, porque Ele está presente e, portanto, manifestar-Se-á. E a busca, tocada pelo anúncio, torna-se concreta: querem conhecer melhor Aquele que o Baptista designou como o Cordeiro de Deus. Depois vem o terceiro acto que tem início com o facto de Jesus Se voltar para trás, Se voltar para eles e lhes perguntar: «Que pretendeis?» A resposta dos dois é uma nova pergunta que indica a abertura da sua expectativa, a disponibilidade para cumprir novos passos. Perguntam: «Rabi, onde moras?» A resposta de Jesus – «vinde e vereis» – é um convite para O acompanharem e, caminhando com Ele, tornarem-se videntes.
A palavra do anúncio torna-se eficaz quando existe no homem uma dócil disponibilidade para se aproximar de Deus, quando o homem anda interiormente à procura e, deste modo, está a caminho rumo ao Senhor. Então, vendo a solicitude de Jesus sente-se atingido no coração; depois o impacto com o anúncio suscita uma santa curiosidade de conhecer Jesus mais de perto. Este ir com Ele leva ao lugar onde Jesus habita: à comunidade da Igreja, que é o seu Corpo. Significa entrar na comunhão itinerante dos catecúmenos, que é uma comunhão feita de aprofundamento e, ao mesmo tempo, de vida, onde o caminhar com Jesus nos faz tornar videntes.
«Vinde e vereis». Esta palavra dirigida aos dois discípulos à procura, Jesus dirige-a também às pessoas de hoje que estão em busca. No final do ano, queremos pedir ao Senhor para que a Igreja, não obstante as próprias pobrezas, se torne cada vez mais reconhecível como sua morada. Pedimos-Lhe para que, no caminho rumo à sua casa, nos torne, também a nós, sempre mais videntes a fim de podermos afirmar sempre melhor e de modo cada mais convincente: encontrámos Aquele que todo o mundo espera, ou seja, Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus e verdadeiro homem. Neste espírito, desejo de coração a todos vós um santo Natal e um feliz Ano Novo.
Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado,
Queridos irmãos e irmãs!
Com grande alegria, me encontro hoje convosco, amados membros do Colégio Cardinalício, representantes da Cúria Romana e do Governatorado, para este momento tradicional antes do Natal. A cada um de vós dirijo uma cordial saudação, começando pelo Cardeal Angelo Sodano, a quem agradeço as amáveis palavras e os ardentes votos que me exprimiu em nome dele e vosso. O Cardeal Decano recordou-nos uma frase que se repete muitas vezes na liturgia latina destes dias: «Prope este iam Dominus, venite, adoremus! – O Senhor está perto; vinde, adoremos!». Também nós, como uma única família, nos preparamos para adorar, na gruta de Belém, aquele Menino que é Deus em pessoa e tão próximo que Se fez homem como nós. De bom grado retribuo os votos formulados e agradeço de coração a todos, incluindo os Representantes Pontifícios espalhados pelo mundo, pela generosa e qualificada colaboração que cada um presta ao meu ministério.
Encontramo-nos no fim de mais um ano, também este caracterizado – na Igreja e no mundo – por muitas situações atribuladas, por grandes problemas e desafios, mas também por sinais de esperança. Limito-me a mencionar alguns momentos salientes no âmbito da vida da Igreja e do meu ministério petrino. Começo pelas viagens realizadas ao México e a Cuba: encontros inesquecíveis com a força da fé, profundamente enraizada nos corações dos homens, e com a alegria pela vida que brota da fé. Recordo que, depois da chegada ao México, na borda do longo troço de estrada que tivemos de percorrer, havia fileiras infindáveis de pessoas que saudavam, acenando com lenços e bandeiras. Recordo que, durante o trajecto para Guanajuato – pitoresca capital do Estado do mesmo nome –, havia jovens devotamente ajoelhados na margem da estrada para receber a bênção do Sucessor de Pedro; recordo como a grande liturgia, nas proximidades da estátua de Cristo-Rei, constituiu um acto que tornou presente a realeza de Cristo: a sua paz, a sua justiça, a sua verdade. E tudo isto, tendo como pano de fundo os problemas dum país que sofre devido a múltiplas formas de violência e a dificuldades resultantes de dependências económicas. Sem dúvida, são problemas que não se podem resolver simplesmente com a religiosidade, mas sê-lo-ão ainda menos sem aquela purificação interior dos corações que provém da força da fé, do encontro com Jesus Cristo. Seguiu-se a experiência de Cuba; também lá nas grandes liturgias, com seus cânticos, orações e silêncios, se tornou perceptível a presença d’Aquele a quem, por muito tempo, se quisera recusar um lugar no país. A busca, naquele país, de uma justa configuração da relação entre vínculos e liberdade, seguramente, não poderá ter êxito sem uma referência àqueles critérios fundamentais que se manifestaram à humanidade no encontro com o Deus de Jesus Cristo.
Como sucessivas etapas deste ano que se encaminha para o fim, gostava de mencionar a grande Festa da Família em Milão, bem como a visita ao Líbano com a entrega da Exortação apostólica pós-sinodal que deverá agora constituir, na vida das Igrejas e da sociedade no Médio Oriente, uma orientação nos difíceis caminhos da unidade e da paz. O último acontecimento importante deste ano, a chegar ao ocaso, foi o Sínodo sobre a Nova Evangelização, que constituiu ao mesmo tempo um início comunitário do Ano da Fé, com que comemorámos a abertura do Concílio Vaticano II, cinquenta anos atrás, para o compreender e assimilar novamente na actual situação em mudança.
Todas estas ocasiões permitiram tocar temas fundamentais do momento presente da nossa história: a família (Milão), o serviço em prol da paz no mundo e o diálogo inter-religioso (Líbano), bem como o anúncio da mensagem de Jesus Cristo, no nosso tempo, àqueles que ainda não O encontraram e a muitos que só O conhecem por fora e, por isso mesmo, não O reconhecem. De todas estas grandes temáticas, quero reflectir um pouco mais detalhadamente sobre o tema da família e sobre a natureza do diálogo, acrescentando ainda uma breve consideração sobre o tema da Nova Evangelização.
A grande alegria, com que se encontraram em Milão famílias vindas de todo o mundo, mostrou que a família, não obstante as múltiplas impressões em contrário, está forte e viva também hoje; mas é incontestável – especialmente no mundo ocidental – a crise que a ameaça até nas suas próprias bases. Impressionou-me que se tenha repetidamente sublinhado, no Sínodo, a importância da família como lugar autêntico onde se transmitem as formas fundamentais de ser pessoa humana. É vivendo-as e sofrendo-as, juntos, que as mesmas se aprendem. Assim se tornou evidente que, na questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem. Os desafios, neste contexto, são complexos. Há, antes de mais nada, a questão da capacidade que o homem tem de se vincular ou então da sua falta de vínculos. Pode o homem vincular-se para toda a vida? Isto está de acordo com a sua natureza? Ou não estará porventura em contraste com a sua liberdade e com a auto-realização em toda a sua amplitude? Será que o ser humano se torna-se ele próprio, permanecendo autónomo e entrando em contacto com o outro apenas através de relações que pode interromper a qualquer momento? Um vínculo por toda a vida está em contraste com a liberdade? Vale a pena também sofrer por um vínculo? A recusa do vínculo humano, que se vai generalizando cada vez mais por causa duma noção errada de liberdade e de auto-realização e ainda devido à fuga da perspectiva duma paciente suportação do sofrimento, significa que o homem permanece fechado em si mesmo e, em última análise, conserva o próprio «eu» para si mesmo, não o supera verdadeiramente. Mas, só no dom de si é que o homem se alcança a si mesmo, e só abrindo-se ao outro, aos outros, aos filhos, à família, só deixando-se plasmar pelo sofrimento é que ele descobre a grandeza de ser pessoa humana. Com a recusa de tal vínculo, desaparecem também as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho; caem dimensões essenciais da experiência de ser pessoa humana.
Num tratado cuidadosamente documentado e profundamente comovente, o rabino-chefe de França, Gilles Bernheim, mostrou que o ataque à forma autêntica da família (constituída por pai, mãe e filho), ao qual nos encontramos hoje expostos – um verdadeiro atentado –, atinge uma dimensão ainda mais profunda. Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. Ele cita o célebre aforismo de Simone de Beauvoir: «Não se nasce mulher; fazem-na mulher - t pas femme, on le devient». Nestas palavras, manifesta-se o fundamento daquilo que hoje, sob o vocábulo «gender - género», é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. O homem contesta o facto de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um facto pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstracto, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria; Bernheim mostra como o filho, de sujeito jurídico que era com direito próprio, passe agora necessariamente a objecto, ao qual se tem direito e que, como objecto de um direito, se pode adquirir. Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo, chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem.
Dito isto, gostava de chegar ao segundo grande tema que, desde Assis até ao Sínodo sobre a Nova Evangelização, permeou todo o ano que chega ao fim: a questão do diálogo e do anúncio. Comecemos pelo diálogo. No nosso tempo, para a Igreja, vejo principalmente três campos de diálogo, onde ela deve estar presente lutando pelo homem e pelo que significa ser pessoa humana: o diálogo com os Estados, o diálogo com a sociedade – aqui está incluído o diálogo com as culturas e com a ciência – e, finalmente, o diálogo com as religiões. Em todos estes diálogos, a Igreja fala a partir da luz que a fé lhe dá. Ao mesmo tempo, porém, ela encarna a memória da humanidade que, desde os primórdios e através dos tempos, é memória das experiências e dos sofrimentos da humanidade, onde a Igreja aprendeu o que significa ser homem, experimentando o seu limite e grandeza, as suas possibilidades e limitações. A cultura do humano, de que ela se faz garante, nasceu e desenvolveu-se a partir do encontro entre a revelação de Deus e a existência humana. A Igreja representa a memória do que é ser homem defronte a uma civilização do esquecimento que já só se conhece a si mesma e só reconhece o próprio critério de medição. Mas, assim como uma pessoa sem memória perdeu a sua identidade, assim também uma humanidade sem memória perderia a própria identidade. Aquilo que foi dado ver à Igreja, no encontro entre revelação e experiência humana, ultrapassa sem dúvida o mero âmbito da razão, mas não constitui um mundo particular que seria desprovido de interesse para o não-crente. Se o homem, com o próprio pensamento entra na reflexão e na compreensão daqueles conhecimentos, estes alargam o horizonte da razão e isto diz respeito também àqueles que não conseguem partilhar a fé da Igreja. No diálogo com o Estado e a sociedade, naturalmente a Igreja não tem soluções prontas para as diversas questões. Mas, unida às outras forças sociais, lutará pelas respostas que melhor correspondam à justa medida do ser humano. Aquilo que ela identificou como valores fundamentais, constitutivos e não negociáveis da existência humana, deve defendê-lo com a máxima clareza. Deve fazer todo o possível por criar uma convicção que possa depois traduzir-se em acção política.
Na situação actual da humanidade, o diálogo das religiões é uma condição necessária para a paz no mundo, constituindo por isso mesmo um dever para os cristãos bem como para as outras crenças religiosas. Este diálogo das religiões possui diversas dimensões. Há-de ser, antes de tudo, simplesmente um diálogo da vida, um diálogo da acção compartilhada. Nele, não se falará dos grandes temas da fé – se Deus é trinitário, ou como se deve entender a inspiração das Escrituras Sagradas, etc. –, mas trata-se dos problemas concretos da convivência e da responsabilidade comum pela sociedade, pelo Estado, pela humanidade. Aqui é preciso aprender a aceitar o outro na sua forma de ser e pensar de modo diverso. Para isso, é necessário fazer da responsabilidade comum pela justiça e a paz o critério basilar do diálogo. Um diálogo, onde se trate de paz e de justiça indo mais além do que é simplesmente pragmático, torna-se por si mesmo uma luta ética sobre os valores que são pressupostos em tudo. Assim o diálogo, ao princípio meramente prático, torna-se também uma luta pelo justo modo de ser pessoa humana. Embora as escolhas básicas não estejam enquanto tais em discussão, os esforços à volta duma questão concreta tornam-se um percurso no qual ambas as partes podem encontrar purificação e enriquecimento através da escuta do outro. Assim estes esforços podem ter o significado também de passos comuns rumo à única verdade, sem que as escolhas básicas sejam alteradas. Se ambas as partes se movem a partir duma hermenêutica de justiça e de paz, a diferença básica não desaparecerá, mas crescerá uma proximidade mais profunda entre eles.
Hoje em geral, para a essência do diálogo inter-religioso, consideram fundamentais duas regras: 1ª) O diálogo não tem como alvo a conversão, mas a compreensão. Nisto se distingue da evangelização, da missão. 2ª) De acordo com isso, neste diálogo, ambas as partes permanecem deliberadamente na sua identidade própria, que, no diálogo, não põem em questão nem para si mesmo nem para os outros.
Estas regras são justas; mas penso que assim estejam formuladas demasiado superficialmente. Sim, o diálogo não visa a conversão, mas uma melhor compreensão recíproca: isto é correcto. Contudo a busca de conhecimento e compreensão sempre pretende ser também uma aproximação da verdade. Assim, ambas as partes, aproximando-se passo a passo da verdade, avançam e caminham para uma maior partilha, que se funda sobre a unidade da verdade. Quanto a permanecer fiéis à própria identidade, seria demasiado pouco se o cristão, com a sua decisão a favor da própria identidade, interrompesse por assim dizer por vontade própria o caminho para a verdade. Então o seu ser cristão tornar-se-ia algo de arbitrário, uma escolha simplesmente factual. Nesse caso, evidentemente, ele não teria em conta que a religião tem a ver com a verdade. A propósito disto, eu diria que o cristão possui a grande confiança, mais ainda, a certeza basilar de poder tranquilamente fazer-se ao largo no vasto mar da verdade, sem dever temer pela sua identidade de cristão. Sem dúvida, não somos nós que possuímos a verdade, mas é ela que nos possui a nós: Cristo, que é a Verdade, tomou-nos pela mão e, no caminho da nossa busca apaixonada de conhecimento, sabemos que a sua mão nos sustenta firmemente. O facto de sermos interiormente sustentados pela mão de Cristo torna-nos simultaneamente livres e seguros. Livres: se somos sustentados por Ele, podemos, abertamente e sem medo, entrar em qualquer diálogo. Seguros, porque Ele não nos deixa, a não ser que sejamos nós mesmos a desligar-nos d’Ele. Unidos a Ele, estamos na luz da verdade.
Por último, impõe-se ainda uma breve consideração sobre o anúncio, sobre a evangelização, de que, na sequência das propostas dos Padres Sinodais, falará efectiva e amplamente o documento pós-sinodal. Acho que os elementos essenciais do processo de evangelização são visíveis, de forma muito eloquente, na narração de São João sobre a vocação de dois discípulos do Baptista, que se tornam discípulos de Cristo (cf. Jo 1, 35-39). Antes de tudo, há o simples acto do anúncio. João Baptista indica Jesus e diz: «Eis o Cordeiro de Deus!» Pouco depois o evangelista vai narrar um facto parecido; agora é André que diz a Simão, seu irmão: «Encontrámos o Messias!» (1, 41). O primeiro elemento fundamental é o anúncio puro e simples, o kerigma, cuja força deriva da convicção interior do arauto. Na narração dos dois discípulos, temos depois a escuta, o seguir os passos de Jesus; um seguir que não é ainda verdadeiro seguimento, mas antes uma santa curiosidade, um movimento de busca. Na realidade, ambos os discípulos são pessoas à procura; pessoas que, para além do quotidiano, vivem na expectativa de Deus: na expectativa, porque Ele está presente e, portanto, manifestar-Se-á. E a busca, tocada pelo anúncio, torna-se concreta: querem conhecer melhor Aquele que o Baptista designou como o Cordeiro de Deus. Depois vem o terceiro acto que tem início com o facto de Jesus Se voltar para trás, Se voltar para eles e lhes perguntar: «Que pretendeis?» A resposta dos dois é uma nova pergunta que indica a abertura da sua expectativa, a disponibilidade para cumprir novos passos. Perguntam: «Rabi, onde moras?» A resposta de Jesus – «vinde e vereis» – é um convite para O acompanharem e, caminhando com Ele, tornarem-se videntes.
A palavra do anúncio torna-se eficaz quando existe no homem uma dócil disponibilidade para se aproximar de Deus, quando o homem anda interiormente à procura e, deste modo, está a caminho rumo ao Senhor. Então, vendo a solicitude de Jesus sente-se atingido no coração; depois o impacto com o anúncio suscita uma santa curiosidade de conhecer Jesus mais de perto. Este ir com Ele leva ao lugar onde Jesus habita: à comunidade da Igreja, que é o seu Corpo. Significa entrar na comunhão itinerante dos catecúmenos, que é uma comunhão feita de aprofundamento e, ao mesmo tempo, de vida, onde o caminhar com Jesus nos faz tornar videntes.
«Vinde e vereis». Esta palavra dirigida aos dois discípulos à procura, Jesus dirige-a também às pessoas de hoje que estão em busca. No final do ano, queremos pedir ao Senhor para que a Igreja, não obstante as próprias pobrezas, se torne cada vez mais reconhecível como sua morada. Pedimos-Lhe para que, no caminho rumo à sua casa, nos torne, também a nós, sempre mais videntes a fim de podermos afirmar sempre melhor e de modo cada mais convincente: encontrámos Aquele que todo o mundo espera, ou seja, Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus e verdadeiro homem. Neste espírito, desejo de coração a todos vós um santo Natal e um feliz Ano Novo.
SETORIZAÇÃO
A
setorização:
O
lugar essencial para evangelizar e testemunhar Cristo
Todo tempo é tempo de
evangelização. Esse é um axioma cristão que marca a comunidade daqueles que se
definiram por Jesus Cristo. Aceitar o seguimento de Cristo significa conversão total
ao seu projeto de amor. Nesse sentido, é importante compreendermos que a missão
é Jesus que nos dá desde o nosso batismo. A vida cristã tem sentido quando a
partir de Cristo lutamos contra toda forma de opressão, quando assumimos a
militância cristã em defesa principalmente dos mais pobres.
A setorização de nossa
paróquia autentica a evangelização, pois saímos da tranquilidade para
enfrentarmos desafios da pos modernidade. A abertura para a setorização, em
outras palavras, significa que a Igreja samaritana é uma Igreja que se faz
servidora como foi Jesus Cristo. A alienação farisaica não afeta aqueles que
bebem da fonte do Documento de Aparecida. O Documento de Aparecida apela para a
missão, convoca todos a se apresentarem como discípulos missionários.
Para quem está embasado pela
pastoral de eventos, sinta-se convidado a abrir os olhos para a proposta da
Igreja na América Latina e no Caribe. Atualize-se pelo Documento de Aparecida,
participe dos setores missionários e colabore porque você também é Igreja. Quem
se assusta e rejeita a área periférica de nossa paróquia, certamente responde
com um não ao chamado de Cristo que diz: “Quem quiser me seguir, renuncie a si
mesmo, pegue a sua cruz e siga-me”. É preciso lembrar que somos todos Igreja.
O conteúdo da setorização é
a Palavra de Deus. Esta exige desapego, compromisso, responsabilidade e amor
preferencial pelos mais pobres. “Lembre-se, porém, de que a leitura da Sagrada
Escritura deve ser acompanhada da oração, para que seja possível o colóquio
entre Deus e o homem, pois “com ele falamos quando rezamos e a ele ouvimos
quando lemos os divinos oráculos”( DV 25 ). Podemos fazer uma reflexão sobre a
questão em pauta. Não há um outro lugar tão sensível à presença de Deus quanto
o coração dos mais necessitados, dos mais carentes, dos excluídos. A construção
pela paz, justiça e a unidade continua. Contamos com a participação de todas as
lideranças católicas. (Carlos: Movimento Fé e Luz)
Educação
Aprendendo a ser e a conviver Ser professor nos tempos atuais envolve coragem e amor. Coragem porque os tempos são difíceis; amor, porque só com amor se consegue acolher os seres inacabados, porque ensinar, conforme Paulo Freire, "exige querer bem aos educandos". Hoje, o desafio primeiro é saber quem é este ser que estamos recebendo. Quais são suas condições emocionais, além das cognitivas. Quais são suas construções relacionais, como se vê, como vê o outro, como o acolhe ou o rejeita.Geni Maria Onzi Isoppo pedagoga com especialização em Metodologia para o Ensino Religioso, Caxias do Sul, RS.
Texto do Tema Central da 51ª Assembleia Geral já começou a ser produzido
O
texto do tema central da 51ª Assembleia Geral dos Bispos da CNBB já
está em processo de elaboração. Desde a manhã de ontem, 19 de dezembro, a
Comissão para o Tema Central está reunida na sede da Conferência dos
Bispos, em Brasília (DF), trabalhando a temática que será o assunto
central da próxima Assembleia Geral dos Bispos: “Comunidade de
Comunidades: Uma Nova Paróquia”.
“Este tema está na linha, em primeiro lugar, das Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE), que tem como uma das
cinco urgências “Igreja: comunidade de comunidades”, e está também na
linha do Documento de Aparecida que reafirma a importância da paróquia
como lugar de evangelização, solidariedade e de pertença à Igreja, pois
pessoas pertencem a uma paróquia, todos nós moramos em uma paróquia. A
renovação, ou até a reestruturação da paróquia é fundamental para a
Igreja enfrentar os desafios pastorais, a missão, enfim, evangelizar”,
destacou o presidente da Comissão para o Tema Central, dom Sérgio
Castriani, arcebispo recém-nomeado para Manaus (AM).
A metodologia de trabalho, segundo dom Sérgio, está na linha dos grandes
documentos da Igreja, como o Concílio Vaticano II e os Documentos de
Puebla e Aparecida. “Estamos seguindo a eclesiologia do Concílio
Vaticano II, a sua visão de Igreja, também o que disseram as
Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano (Puebla – Comunhão e
Participação), o Documento de Aparecida e as Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil”, explicou.
Ainda de acordo com o presidente da Comissão, já se pode destacar
algumas convicções: “A primeira é a experiência de vida cristã como
característica maior no convívio comunitário. A segunda, é que a
paróquia se renovará, passará por mudanças, se reestruturará na medida
em que ela criar condições ou possibilitar que as pessoas façam essa
experiência de comunidade. Então, o nosso trabalho é apresentar à
Assembleia um texto que traga as convicções fundamentais da Igreja a
respeito de comunidades e paróquias. E aquilo que vemos como pistas de
ação para a renovação da paróquia para termos uma nova paróquia”, frisou
dom Sérgio.
Dando prosseguimento à elaboração do material, a Comissão para o Tema
Central definiu os integrantes de uma subcomissão que trabalhará o texto
até o início de março de 2013. Depois, a Comissão encaminhará o texto
ao episcopado brasileiro, e, em seguida, a Comissão para o Tema Central
se reúne novamente, já em Aparecida (SP), antes da Assembleia, para os
últimos ajustes e apreciação do material em plenário.
Fonte: CNBB
Argentina terá Congresso Missionário em agosto de 2013
A
Conferência Episcopal da Argentina (CEA) anunciou através de um
comunicado que realizará em 2013 o 4º Congresso Nacional Missionário
(COMINA). O evento será entre os dias 17 e 19 de agosto de 2013 e terá
por tema "Argentina missionária, compartilhe tua fé".
"Este Congresso será uma oportunidade para fortalecer e animar as
equipes diocesanas de missões, incentivando-as para que possam oferecer
seu serviço nas dioceses e em toda a pastoral da Igreja de acordo com as
prioridades estabelecidas no Documento de Aparecida", ressaltam os
prelados argentinos, que também assinalam que o Congresso irá em
sintonia com o Ano da Fé, assim como com a Nova Evangelização: "no marco
do Ano da Fé e sob impulso dado pelo Santo Padre no Sínodo dos Bispos à
Nova Evangelização cremos ser necessário refletir sobre o desafio que
implica anunciar a Boa Nova de Jesus em um ambiente crescentemente
caracterizado pelo secularismo e a pluriculturalidade".
O evento será coordenado pela Comissão Episcopal de Missões, pelas Obras
Missionárias Pontifícias e demais âmbitos da Igreja na Argentina que
servem na pastoral missionária. "Animamos todas as dioceses a constituir
ou fortalecer os âmbitos diocesanos de organização missionária para
participar com suas experiências e contribuições concretas desta
instância nacional", convidam os prelados argentinos.
A realização do evento faz parte dos temas abordados pelos bispos
argentinos na última Assembleia Plenária do Episcopado desse país,
celebrada em novembro.
O 4º Congresso Nacional Missionário servirá também de preparação para o
4º Congresso Missionário Americano que terá lugar em Maracaibo,
Venezuela, em novembro de 2013.
Fonte: Rádio Vaticano
Reflexão
Bento XVI
Nós não possuímos a verdade, é a Verdade que nos possui a nós. Cristo, que é a Verdade, toma-nos pela mão.
Família e natureza do diálogo inter-religioso: temas abordados pelo Papa no encontro de fim do ano com a Cúria Romana
Fonte: Rádio Vaticano
De entre os “temas fundamentais do momento presente da nossa história”, no encontro com a Cúria Romana para a apresentação de votos de boas-festas de Natal, nesta sexta-feira, 21, Bento XVI cuidou de clarificar brevemente duas questões: família e diálogo inter-religioso, acrescendo no final duas palavras sobre a evangelização.
Eis a tradução completa do seu discurso, pronunciado em italiano:
Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado,
Queridos irmãos e irmãs!
Com grande alegria, me encontro hoje convosco, amados membros do Colégio Cardinalício, representantes da Cúria Romana e do Governatorado, para este momento tradicional antes do Natal. A cada um de vós dirijo uma cordial saudação, começando pelo Cardeal Angelo Sodano, a quem agradeço as amáveis palavras e os ardentes votos que me exprimiu em nome dele e vosso. O Cardeal Decano recordou-nos uma frase que se repete muitas vezes na liturgia latina destes dias: «Prope este iam Dominus, venite, adoremus! – O Senhor está perto; vinde, adoremos!». Também nós, como uma única família, nos preparamos para adorar, na gruta de Belém, aquele Menino que é Deus em pessoa e tão próximo que Se fez homem como nós. De bom grado retribuo os votos formulados e agradeço de coração a todos, incluindo os Representantes Pontifícios espalhados pelo mundo, pela generosa e qualificada colaboração que cada um presta ao meu ministério.
Encontramo-nos no fim de mais um ano, também este caracterizado – na Igreja e no mundo – por muitas situações atribuladas, por grandes problemas e desafios, mas também por sinais de esperança. Limito-me a mencionar alguns momentos salientes no âmbito da vida da Igreja e do meu ministério petrino. Começo pelas viagens realizadas ao México e a Cuba: encontros inesquecíveis com a força da fé, profundamente enraizada nos corações dos homens, e com a alegria pela vida que brota da fé. Recordo que, depois da chegada ao México, na borda do longo troço de estrada que tivemos de percorrer, havia fileiras infindáveis de pessoas que saudavam, acenando com lenços e bandeiras. Recordo que, durante o trajecto para Guanajuato – pitoresca capital do Estado do mesmo nome –, havia jovens devotamente ajoelhados na margem da estrada para receber a bênção do Sucessor de Pedro; recordo como a grande liturgia, nas proximidades da estátua de Cristo-Rei, constituiu um acto que tornou presente a realeza de Cristo: a sua paz, a sua justiça, a sua verdade. E tudo isto, tendo como pano de fundo os problemas dum país que sofre devido a múltiplas formas de violência e a dificuldades resultantes de dependências económicas. Sem dúvida, são problemas que não se podem resolver simplesmente com a religiosidade, mas sê-lo-ão ainda menos sem aquela purificação interior dos corações que provém da força da fé, do encontro com Jesus Cristo. Seguiu-se a experiência de Cuba; também lá nas grandes liturgias, com seus cânticos, orações e silêncios, se tornou perceptível a presença d’Aquele a quem, por muito tempo, se quisera recusar um lugar no país. A busca, naquele país, de uma justa configuração da relação entre vínculos e liberdade, seguramente, não poderá ter êxito sem uma referência àqueles critérios fundamentais que se manifestaram à humanidade no encontro com o Deus de Jesus Cristo.
Como sucessivas etapas deste ano que se encaminha para o fim, gostava de mencionar a grande Festa da Família em Milão, bem como a visita ao Líbano com a entrega da Exortação apostólica pós-sinodal que deverá agora constituir, na vida das Igrejas e da sociedade no Médio Oriente, uma orientação nos difíceis caminhos da unidade e da paz. O último acontecimento importante deste ano, a chegar ao ocaso, foi o Sínodo sobre a Nova Evangelização, que constituiu ao mesmo tempo um início comunitário do Ano da Fé, com que comemorámos a abertura do Concílio Vaticano II, cinquenta anos atrás, para o compreender e assimilar novamente na actual situação em mudança.
Todas estas ocasiões permitiram tocar temas fundamentais do momento presente da nossa história: a família (Milão), o serviço em prol da paz no mundo e o diálogo inter-religioso (Líbano), bem como o anúncio da mensagem de Jesus Cristo, no nosso tempo, àqueles que ainda não O encontraram e a muitos que só O conhecem por fora e, por isso mesmo, não O reconhecem. De todas estas grandes temáticas, quero reflectir um pouco mais detalhadamente sobre o tema da família e sobre a natureza do diálogo, acrescentando ainda uma breve consideração sobre o tema da Nova Evangelização.
A grande alegria, com que se encontraram em Milão famílias vindas de todo o mundo, mostrou que a família, não obstante as múltiplas impressões em contrário, está forte e viva também hoje; mas é incontestável – especialmente no mundo ocidental – a crise que a ameaça até nas suas próprias bases. Impressionou-me que se tenha repetidamente sublinhado, no Sínodo, a importância da família como lugar autêntico onde se transmitem as formas fundamentais de ser pessoa humana. É vivendo-as e sofrendo-as, juntos, que as mesmas se aprendem. Assim se tornou evidente que, na questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem. Os desafios, neste contexto, são complexos. Há, antes de mais nada, a questão da capacidade que o homem tem de se vincular ou então da sua falta de vínculos. Pode o homem vincular-se para toda a vida? Isto está de acordo com a sua natureza? Ou não estará porventura em contraste com a sua liberdade e com a auto-realização em toda a sua amplitude? Será que o ser humano se torna-se ele próprio, permanecendo autónomo e entrando em contacto com o outro apenas através de relações que pode interromper a qualquer momento? Um vínculo por toda a vida está em contraste com a liberdade? Vale a pena também sofrer por um vínculo? A recusa do vínculo humano, que se vai generalizando cada vez mais por causa duma noção errada de liberdade e de auto-realização e ainda devido à fuga da perspectiva duma paciente suportação do sofrimento, significa que o homem permanece fechado em si mesmo e, em última análise, conserva o próprio «eu» para si mesmo, não o supera verdadeiramente. Mas, só no dom de si é que o homem se alcança a si mesmo, e só abrindo-se ao outro, aos outros, aos filhos, à família, só deixando-se plasmar pelo sofrimento é que ele descobre a grandeza de ser pessoa humana. Com a recusa de tal vínculo, desaparecem também as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho; caem dimensões essenciais da experiência de ser pessoa humana.
Num tratado cuidadosamente documentado e profundamente comovente, o rabino-chefe de França, Gilles Bernheim, mostrou que o ataque à forma autêntica da família (constituída por pai, mãe e filho), ao qual nos encontramos hoje expostos – um verdadeiro atentado –, atinge uma dimensão ainda mais profunda. Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. Ele cita o célebre aforismo de Simone de Beauvoir: «Não se nasce mulher; fazem-na mulher – On ne nat pas femme, on le devient». Nestas palavras, manifesta-se o fundamento daquilo que hoje, sob o vocábulo «gender - género», é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. O homem contesta o facto de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um facto pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstracto, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria; Bernheim mostra como o filho, de sujeito jurídico que era com direito próprio, passe agora necessariamente a objecto, ao qual se tem direito e que, como objecto de um direito, se pode adquirir. Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo, chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem.
Dito isto, gostava de chegar ao segundo grande tema que, desde Assis até ao Sínodo sobre a Nova Evangelização, permeou todo o ano que chega ao fim: a questão do diálogo e do anúncio. Comecemos pelo diálogo. No nosso tempo, para a Igreja, vejo principalmente três campos de diálogo, onde ela deve estar presente lutando pelo homem e pelo que significa ser pessoa humana: o diálogo com os Estados, o diálogo com a sociedade – aqui está incluído o diálogo com as culturas e com a ciência – e, finalmente, o diálogo com as religiões. Em todos estes diálogos, a Igreja fala a partir da luz que a fé lhe dá. Ao mesmo tempo, porém, ela encarna a memória da humanidade que, desde os primórdios e através dos tempos, é memória das experiências e dos sofrimentos da humanidade, onde a Igreja aprendeu o que significa ser homem, experimentando o seu limite e grandeza, as suas possibilidades e limitações. A cultura do humano, de que ela se faz garante, nasceu e desenvolveu-se a partir do encontro entre a revelação de Deus e a existência humana. A Igreja representa a memória do que é ser homem defronte a uma civilização do esquecimento que já só se conhece a si mesma e só reconhece o próprio critério de medição. Mas, assim como uma pessoa sem memória perdeu a sua identidade, assim também uma humanidade sem memória perderia a própria identidade. Aquilo que foi dado ver à Igreja, no encontro entre revelação e experiência humana, ultrapassa sem dúvida o mero âmbito da razão, mas não constitui um mundo particular que seria desprovido de interesse para o não-crente. Se o homem, com o próprio pensamento entra na reflexão e na compreensão daqueles conhecimentos, estes alargam o horizonte da razão e isto diz respeito também àqueles que não conseguem partilhar a fé da Igreja. No diálogo com o Estado e a sociedade, naturalmente a Igreja não tem soluções prontas para as diversas questões. Mas, unida às outras forças sociais, lutará pelas respostas que melhor correspondam à justa medida do ser humano. Aquilo que ela identificou como valores fundamentais, constitutivos e não negociáveis da existência humana, deve defendê-lo com a máxima clareza. Deve fazer todo o possível por criar uma convicção que possa depois traduzir-se em acção política.
Na situação actual da humanidade, o diálogo das religiões é uma condição necessária para a paz no mundo, constituindo por isso mesmo um dever para os cristãos bem como para as outras crenças religiosas. Este diálogo das religiões possui diversas dimensões. Há-de ser, antes de tudo, simplesmente um diálogo da vida, um diálogo da acção compartilhada. Nele, não se falará dos grandes temas da fé – se Deus é trinitário, ou como se deve entender a inspiração das Escrituras Sagradas, etc. –, mas trata-se dos problemas concretos da convivência e da responsabilidade comum pela sociedade, pelo Estado, pela humanidade. Aqui é preciso aprender a aceitar o outro na sua forma de ser e pensar de modo diverso. Para isso, é necessário fazer da responsabilidade comum pela justiça e a paz o critério basilar do diálogo. Um diálogo, onde se trate de paz e de justiça indo mais além do que é simplesmente pragmático, torna-se por si mesmo uma luta ética sobre os valores que são pressupostos em tudo. Assim o diálogo, ao princípio meramente prático, torna-se também uma luta pelo justo modo de ser pessoa humana. Embora as escolhas básicas não estejam enquanto tais em discussão, os esforços à volta duma questão concreta tornam-se um percurso no qual ambas as partes podem encontrar purificação e enriquecimento através da escuta do outro. Assim estes esforços podem ter o significado também de passos comuns rumo à única verdade, sem que as escolhas básicas sejam alteradas. Se ambas as partes se movem a partir duma hermenêutica de justiça e de paz, a diferença básica não desaparecerá, mas crescerá uma proximidade mais profunda entre eles.
Hoje em geral, para a essência do diálogo inter-religioso, consideram fundamentais duas regras: 1ª) O diálogo não tem como alvo a conversão, mas a compreensão. Nisto se distingue da evangelização, da missão. 2ª) De acordo com isso, neste diálogo, ambas as partes permanecem deliberadamente na sua identidade própria, que, no diálogo, não põem em questão nem para si mesmo nem para os outros.
Estas regras são justas; mas penso que assim estejam formuladas demasiado superficialmente. Sim, o diálogo não visa a conversão, mas uma melhor compreensão recíproca: isto é correcto. Contudo a busca de conhecimento e compreensão sempre pretende ser também uma aproximação da verdade. Assim, ambas as partes, aproximando-se passo a passo da verdade, avançam e caminham para uma maior partilha, que se funda sobre a unidade da verdade. Quanto a permanecer fiéis à própria identidade, seria demasiado pouco se o cristão, com a sua decisão a favor da própria identidade, interrompesse por assim dizer por vontade própria o caminho para a verdade. Então o seu ser cristão tornar-se-ia algo de arbitrário, uma escolha simplesmente factual. Nesse caso, evidentemente, ele não teria em conta que a religião tem a ver com a verdade. A propósito disto, eu diria que o cristão possui a grande confiança, mais ainda, a certeza basilar de poder tranquilamente fazer-se ao largo no vasto mar da verdade, sem dever temer pela sua identidade de cristão. Sem dúvida, não somos nós que possuímos a verdade, mas é ela que nos possui a nós: Cristo, que é a Verdade, tomou-nos pela mão e, no caminho da nossa busca apaixonada de conhecimento, sabemos que a sua mão nos sustenta firmemente. O facto de sermos interiormente sustentados pela mão de Cristo torna-nos simultaneamente livres e seguros. Livres: se somos sustentados por Ele, podemos, abertamente e sem medo, entrar em qualquer diálogo. Seguros, porque Ele não nos deixa, a não ser que sejamos nós mesmos a desligar-nos d’Ele. Unidos a Ele, estamos na luz da verdade.
Por último, impõe-se ainda uma breve consideração sobre o anúncio, sobre a evangelização, de que, na sequência das propostas dos Padres Sinodais, falará efectiva e amplamente o documento pós-sinodal. Acho que os elementos essenciais do processo de evangelização são visíveis, de forma muito eloquente, na narração de São João sobre a vocação de dois discípulos do Baptista, que se tornam discípulos de Cristo (cf. Jo 1, 35-39). Antes de tudo, há o simples acto do anúncio. João Baptista indica Jesus e diz: «Eis o Cordeiro de Deus!» Pouco depois o evangelista vai narrar um facto parecido; agora é André que diz a Simão, seu irmão: «Encontrámos o Messias!» (1, 41). O primeiro elemento fundamental é o anúncio puro e simples, o kerigma, cuja força deriva da convicção interior do arauto. Na narração dos dois discípulos, temos depois a escuta, o seguir os passos de Jesus; um seguir que não é ainda verdadeiro seguimento, mas antes uma santa curiosidade, um movimento de busca. Na realidade, ambos os discípulos são pessoas à procura; pessoas que, para além do quotidiano, vivem na expectativa de Deus: na expectativa, porque Ele está presente e, portanto, manifestar-Se-á. E a busca, tocada pelo anúncio, torna-se concreta: querem conhecer melhor Aquele que o Baptista designou como o Cordeiro de Deus. Depois vem o terceiro acto que tem início com o facto de Jesus Se voltar para trás, Se voltar para eles e lhes perguntar: «Que pretendeis?» A resposta dos dois é uma nova pergunta que indica a abertura da sua expectativa, a disponibilidade para cumprir novos passos. Perguntam: «Rabi, onde moras?» A resposta de Jesus – «vinde e vereis» – é um convite para O acompanharem e, caminhando com Ele, tornarem-se videntes.
A palavra do anúncio torna-se eficaz quando existe no homem uma dócil disponibilidade para se aproximar de Deus, quando o homem anda interiormente à procura e, deste modo, está a caminho rumo ao Senhor. Então, vendo a solicitude de Jesus sente-se atingido no coração; depois o impacto com o anúncio suscita uma santa curiosidade de conhecer Jesus mais de perto. Este ir com Ele leva ao lugar onde Jesus habita: à comunidade da Igreja, que é o seu Corpo. Significa entrar na comunhão itinerante dos catecúmenos, que é uma comunhão feita de aprofundamento e, ao mesmo tempo, de vida, onde o caminhar com Jesus nos faz tornar videntes.
«Vinde e vereis». Esta palavra dirigida aos dois discípulos à procura, Jesus dirige-a também às pessoas de hoje que estão em busca. No final do ano, queremos pedir ao Senhor para que a Igreja, não obstante as próprias pobrezas, se torne cada vez mais reconhecível como sua morada. Pedimos-Lhe para que, no caminho rumo à sua casa, nos torne, também a nós, sempre mais videntes a fim de podermos afirmar sempre melhor e de modo cada mais convincente: encontrámos Aquele que todo o mundo espera, ou seja, Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus e verdadeiro homem. Neste espírito, desejo de coração a todos vós um santo Natal e um feliz Ano Novo.”
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