Bem comum
A expressão bem comum que, por sinal, é por demais conhecida e
frequentemente utilizada, pode ser lida com a lente jurídica, política e
religiosa. Embora seja clara a expressão, é necessário que as pessoas e
as instituições tenham uma exata compreensão da sua natureza, para que
possam nortear as suas atitudes e ações, na busca da sua concretização. O
conceito de bem comum sobrepõe, claramente, a comunidade ao indivíduo, a
coletividade ao grupo. Todavia, em nenhum aspecto, a prática do bem
comum colide com o direito individual porque jamais pode atingir a
pessoa que, em qualquer contexto, tem precedência sobre qualquer coisa.
Em que consiste o bem comum? O Papa João XXIII o explica, com clareza,
na Encíclica Pacem in terris, em 1963: “O Bem comum consiste no conjunto
de todas as condições da vida social que consintam e favoreçam o
desenvolvimento integral da personalidade humana.” Portanto, “Por outras
palavras, o bem comum é o fim das pessoas singulares que existem na
comunidade, como o fim do todo é o fim de qualquer de suas partes. Ou
seja, o bem da comunidade é o bem do próprio indivíduo que a compõe.”
No seu olhar eclesial, em sua Carta aos Coríntios, São Paulo se refere à
diversidade de ministérios, serviços e carismas, muito visíveis na vida
das pessoas, que têm como razão de ser o bem comum: “A cada um é dada a
manifestação do Espírito, em vista do bem de todos.” (1Cor 12,6)
Realizam-se, no dia 7 de outubro, no Brasil, as Eleições Municipais e,
assim, nem os candidatos nem os eleitores podem esquecer que estão
exercitando o direito e o dever da cidadania, em vista do bem comum.
“Essa realização do bem comum constitui a própria razão de ser dos
poderes públicos, os quais devem promovê-lo de tal modo que, ao mesmo
tempo, respeitem os seus elementos essenciais e adaptem as suas
exigências às atuais condições históricas.”
Durante a campanha eleitoral, seguramente, os candidatos usaram muito a
expressão bem comum e, em alguns casos, até dela abusaram, por uma
utilização demagógica. Por natureza, os cargos públicos, que estão sendo
objeto desta disputa eleitoral, têm como finalidade a consecução do bem
comum que deve ser alcançado pela via do voto, para o exercício da
função executiva, na gestão dos futuros Prefeitos, e para a ação
legislativa, por parte dos futuros Vereadores. A sociedade conhece
reiterados casos de desvio de função, quando pessoas, ao invés de
realizarem a política do bem comum, praticam o nepotismo e o compadrio
que são sempre nocivos à cidadania.
As eleições de 2012, considerando-se a responsabilidade do seu voto
democrático, interpelam a consciência de candidatos e eleitores, com
forte apelo ético.
Dom Genival Saraiva de França
é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional
de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão
Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz;
Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do
Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da
CNBB NE2.
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