A Fundação Getúlio Vargas (FGV) lança esta semana, em caráter
experimental, um ambicioso portal gratuito com foco no ensino médio.
Além de cerca de 90 aulas que podem ser usadas por candidatos na
preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a FGV liberou,
no link ensinomediodigital.fgv.br, o acesso para um banco com 4,6 mil
questões que seguem o modelo do Enem.
As aulas estão agrupadas em 15 cursos que abordam as quatro
grandes áreas de conhecimento nas quais o Enem é dividido: Ciências da
Natureza e Humanas, Matemática e Linguagem e suas Tecnologias. Quando
estiver completa, a coleção terá 30 cursos. No caso do banco, a meta da
FGV é chegar a 50 mil questões em quatro a cinco anos, o que pode
contribuir para mudar o modelo do Enem, tanto em termos do grau de
segurança do exame quanto na sua capacidade de melhorar a qualidade do
ensino médio.
Batizado de FGV Ensino Médio Digital, o projeto nasceu de duas
áreas de atuação da fundação, a produção de livros didáticos, iniciada
há 8 anos, e a FGV Online, que oferece aulas virtuais de nível superior
há mais de 15 anos, assistidas por 13 milhões de usuários. “Nossa missão
como fundação é estimular o desenvolvimento socioeconômico do País, o
que passa, entre várias outras coisas, pela educação”, diz o presidente
da FGV, Carlos Ivan Simonsen. “E todos os dados econômicos e acadêmicos
que a gente analisou mostravam claramente a importância de aperfeiçoar o
ensino médio.”
A junção entre experiência com livros didáticos e tecnologia
levou à criação de aulas com um padrão diferente do das grandes
universidades americanas ou da Khan Academy, referências mundiais no
ensino online. Elas não têm áudio nem a participação de professores em
vídeos. Os conteúdos são apresentados por personagens animados, como o
“Machado de Assis” que guia o estudante pela aula inicial de Literatura,
remetendo a um texto do escritor Moacyr Scliar.
“Quando você usa pessoas, é fácil quem está assistindo prestar
atenção ao apresentador e perder o foco no conteúdo”, diz Simonsen. “E o
uso de recursos como áudio e vídeo torna a navegação mais lenta.”
A FGV não pretende produzir vídeos por enquanto, mas já está
desenvolvendo o áudio para as aulas. “O aluno vai ter um botão com a
opção de áudio”, afirma Simonsen. “Pode desabilitá-la se a navegação
ficar lenta.”
Candidata a uma vaga em Economia, Gabriela Moreira, de 19 anos,
está recorrendo ao site da FGV na preparação para o vestibular.
Gabriela, que terminou o ensino médio em 2010, fez a prova de seleção da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e vai prestar o Enem na
disputa por uma vaga na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“Gostei da abordagem, o material é bem interativo e me ajuda na
revisão do que tenho de estudar”, diz Gabriela, moradora de Botafogo,
zona sul do Rio. Ela soube das aulas, que estavam disponíveis para
testes no site antes do lançamento do projeto, pela mãe, que trabalha na
Editora FGV. “Uma coisa especialmente útil do site são os testes de
múltipla escolha que eu posso fazer depois de ver cada conteúdo.”
O banco da FGV tem 6 mil questões prontas - além das 4,6 mil já
disponíveis, outras 1,4 mil serão publicadas até abril. Desse total,
cerca de 1 mil são relacionadas ao conteúdo do ensino médio e podem
servir para avaliar alunos de 1.ª e 2.ª séries. As demais seguem
fielmente o formato das usadas no Enem.
“O estudante pode escolher a área em que pretende fazer a
autoavaliação, como Ciências da Natureza, por exemplo, e o sistema vai
gerar um simulado com 10 a 15 questões”, diz a diretora executiva da
Editora FGV, Marieta de Moraes Ferreira.
Para montar o banco de questões, a fundação articulou uma rede
de mais de cem professores de escolas públicas e privadas, a maioria
delas do Rio. Do grupo fazem parte docentes de Colégios como Pedro II,
Santo Inácio e Santo Agostinho e o Andrews.
Banco de questões públicas
O presidente da FGV, Carlos Ivan Simonsen, propôs ao Ministério
da Educação um novo modelo de banco de questões para o Enem. “Se você
trabalhar em larga escala, com algo da ordem de 50 mil questões, não vai
mais precisar de itens inéditos para garantir a segurança do exame”,
diz. “O sistema sorteia aleatoriamente questões e as agrupa em provas
diferentes para cada candidato. Costumo brincar dizendo que, se existe
alguém capaz de memorizar 50 mil questões, ele merece vaga na
universidade.”
Para Simonsen, outra vantagem do banco aberto é permitir que
alunos da rede pública saibam exatamente qual seu grau de preparação
para prestar o Enem - e a qualidade do ensino que recebem. Para ele, é
“perfeitamente legítimo” que escolas usem o banco para melhorar a
performance dos estudantes. “Isso reforça o papel do Enem como
sinalizador do que se pretende para o ensino médio.”
Quanto à qualidade, Simonsen acredita que as avaliações atuais
são um instrumento desenhado mais para uso de governos do que das
famílias. “Nosso banco será um instrumento para a cobrança de melhorias
no ensino.”
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