sábado, 27 de julho de 2013

17º Domingo do Tempo Comum


PAI-NOSSO, PAI DE TODOS!
Ev. Lc 11,1-13
                A temática principal que aparece no Evangelho de hoje (Lc 11,1-13) é o “pedido e a promessa”.
                Um de seus discípulos, carente pela oração, em nome de todos os demais, pede ao Mestre que lhes ensine a rezar: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos”. O discípulo, acertadamente, bateu à porta de quem tinha as prerrogativas para ensinar a verdadeira oração.
                Cadê João, o seu mestre, não lhe ensinou a rezar? Percebe-se que, na iniciativa do discípulo, surge o desejo de um maior discernimento entre as duas realidades - o velho e novo, nascendo assim, no Evangelho de São Lucas, as verdadeiras diretrizes sobre a oração cristã, a realidade nova.
                O discípulo espera que Jesus conclua sua experiência oracional, para pedir-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos”. Jesus não hesitou, logo ensinou-lhes, dizendo assim:             “Quando orardes, dizei: Pai”
                A partir de então, começa aparecer o novo. Qual é a novidade trazida? O novo está exatamente na forma como devem as pessoas se relacionar com Deus: agora, sim, Deus deixar de ser aquele ser comparado a um juiz implacável, distante e incomunicável, ou um patrão perseguidor e desumano, para ser o Querido, o Amado, o Próximo, o Eterno Amigo e Solidário de todos os seus filhos e filhas.
                “Santificado seja o vosso nome”
                Quando glorificaremos o nome de Deus? Quando a sua ação libertadora e salvadora contagiam os homens e as mulheres. Por exemplo: quando qualquer um e qualquer uma vê-se libertado de qualquer mal, conquistou o seu próximo, depois de tantos anos que passaram intrigados, e tantos outros sinais que respiram motivos de alegria e satisfação, aí sim, manifestamos as razões salvadoras na sua forma plena.
                “Venha o vosso Reino”
                Só a presença do Reino de Deus é capaz de destruir o anti-reino patrocinador do ódio, da vingança, da competição, das falcatruas, oferecendo as possibilidades necessárias para a implantação do Verdadeiro Projeto do Reino do Amor e da Paz.
                Ai sim, a oração atua de fato na manifestação santificadora do nome de Deus e a presença do seu Reino torna-se visível no coração de cada um.
                “Dai-nos hoje o pão que precisamos”
                O pão, aqui, quer significar não só o pão alimento, mas toda e qualquer forma de carência, tais como: terra, moradia, emprego, salário justo, educação, saúde, liberdade, direitos respeitados, vida para todos e todas, cidadania; contando que tudo reflita o “paraíso brotado das mãos do Eterno Pai.
                “Perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós e perdoamos a todos os que nos devem”
                Se nós os filhos e filhas de Deus, irmãos de Jesus na fé, os cristãos seguidores e chamados pelo batismo ao seguimento do Mestre, não formos capazes de compartilhar uns com os outros o dom do perdão, não passaremos de hipócritas, ou seja, negar as relações fraternais entre si é tornar inútil e mentirosa a oração ensinada por Jesus Cristo.
                “E não nos deixeis cair em tentação”
                Todo e qualquer cuidado ainda é pouco, frente a um mundo baseado e condicionado ao ter pelo ter, ao poder pelo poder, e o pior é que para muitos, esta mentalidade está a cima de tudo e de todos, da ambição, do prestígio, do egoísmo e da idolatria.
                Jesus, por sua vez, tem a preocupação em nos conscientizar, de nos alertar para a devida atenção aos valores do Reino: serviço, solidariedade, respeito ao próximo e disponibilidade como condições necessárias para que se construa um mundo de Deus e de irmãos.
                “Certeza de ser ouvido” (vv. 5-10)
                A parábola contada por Jesus no Evangelho de hoje nos garante que, se pedirmos com fé, humildade e esperança, seremos atendidos: “Peçam e receberão; procurem e encontrarão; batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todo o que pede, recebe; o que procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá” (vv. 9-10). Precisamos alimentar tais convicções.
                “Deus é Pai” (vv. 11-13)
                Se Deus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente Pai, que necessidade tem de nossas preces? Não é porque rezamos menos que ele será menos Deus, menos Pai, menos perfeito? Não é que só temos necessidade de rezar, precisamos também mergulhar no Senhor, se não esqueceremos nosso próximo e nos tornamos então tão inumanos.
                Qualquer é o pai, qual é a mãe que não se preocupa em atender aos seus filhos, nas suas necessidades as mais urgentes? Com muito maior razão age o Pai que dá aos seus filhos e filhas o bem supremo.
                O Pai-nosso é uma síntese de toda a mensagem cristã. É preciso entender que nas orações reflete-se o conteúdo da própria fé e a imagem do Deus no qual se acredita. Não basta rezar, saber como rezar é o mais importante. Assim sendo, Jesus teve o cuidado necessário de ensinar uma oração que serve de modelo para quem quer viver como Jesus viveu.
                Dai-nos, Espírito Santo, os dons da inteligência e da sabedoria, dom de entender e saborear os mistérios divinos. Assim seja!
                Para refletir: Quando? Como? A quem? Por quem? E como nos sentimos, quando rezamos? 
Paróquia da Imaculada Conceição
Nova Cruz – RN
Pe. Francisco de Assis Inácio
- Pároco -
Fonte: Pascom Nova Cruz

Na Via Sacra, Papa Francisco fala dos jovens que perderam a fé na Igreja pela incoerêcia de seus filhos e recorda das vítimas do incêndio em Santa Maria



Rio de Janeiro (RV)RealAudioMP3 Na noite desta sexta-feira, o Papa Francisco participou, com os mais de um milhão de jovens reunidos na Praia de Copacabana, da Via Sacra, sempre um dos momentos mais intensos das Jornadas Mundiais da Juventude. 280 artistas e voluntários do Brasil, Porto Rico, México, Argentina, Alemanha e Estados Unidos representaram as treze das estações distribuídas ao longo de 900 metros da Av. Atlântica, sendo que a última foi representada no palco central, onde encontrava-se o Santo Padre.

O Papa Francisco foi de helicóptero até o Forte de Copacabana onde embarcou no Papamóvel, sendo uma vez mais, saudado por milhares de pessoas ao longo de todo o trajeto na Av. Atlântica. O Santo Padre, como de costume, fez algumas paradas ao longo do percurso. Numa delas, desceu do Papamóvel e abençoou uma imagem de Nossa Senhora de Luján, nas mãos de um sacerdote, e uma imagem de São Francisco. Uma senhora tinha uma pomba de gesso nas mãos que também foi abençoada por Francisco. Também beijou diversas crianças, saudou e abençoou populares e doentes.

O Papa Francisco subiu ao palco às 17hs56min, saudando os Cardeais e Bispos presentes e os 35 ‘trabalhadores excluídos’ ou ‘cartoneros’ (catadores de papel) que pediu que fossem buscados na Argentina e colocados no palco principal, próximo a ele. Por volta das 18 horas, Francisco fez a Oração de Abertura da Via Sacra. A cruz percorreu as Estações, passando pela Pedra do Arpoador e a Escadaria Selarón, na Lapa, além de outras ruas da cidade carioca, envolvendo 280 voluntários, durante mais de uma hora, ao som de uma orquestra, um coral, tudo aliado a um espetáculo de luzes e coreografias.

Os textos das meditações das 14 estações foram escritos pelos padres Zezinho e Joãozinho, sacerdotes dehonianos, e evocaram o sofrimento de Jesus, expresso nos problemas dos jovens de hoje. Assim, missionaridade, conversão, comunidade, jovens mães, seminaristas, a religião em defesa da vida, casais, mulheres sofridas, estudantes, redes sociais, jovens detentos e a pastoral carcerária, doenças terminais, morte dos jovens e a juventude de todo o mundo foram temas lembrados nas Estações.


Após a Via Sacra, o Papa Francisco dirigiu sua mensagem aos jovens, recordando que João Paulo II havia confiado a eles a cruz, dizendo: «Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção»”. E observou que “a Cruz percorreu todos os continentes e atravessou os mais variados mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com as situações de vida de tantos jovens que a viram e carregaram”. E acrescentou:

“Ninguém pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três perguntas nos seus corações: O que vocês terão deixado na Cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que terá deixado a Cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta Cruz ensina para a nossa vida?
Após, o Papa falou sobre uma antiga tradição da Igreja de Roma que relata uma situação vivida por Pedro com Jesus, que o fez entender, que “ele devia seguir o Senhor com coragem até o fim, e que aquele Jesus - que o amara até o ponto de morrer na Cruz - estava sempre com ele”. E acrescentou que “Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos”:

Com a Cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; com a Cruz Jesus se une às famílias que passam por dificuldades pela trágica perda de seus filhos, como no caso dos 242 jovens vítimas do incêndio em Santa Maria no início do ano. Rezemos por eles! Com a Cruz, Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que, por outro lado, se dá ao luxo de todos os dias jogar fora toneladas de comida; pela cruz Jesus se une aos pais que vêem seus filhos presos nos paraísos artificiais da droga; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho. Na Cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida”.

“E assim – diz o Papa - podemos responder à segunda pergunta: o que foi que a Cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de nós?”.

“Ela deixa um bem que ninguém mais pode nos dar: a certeza do amor inabalável de Deus por nós. Um amor tão grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá a força para poder levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos salvar. Na Cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia”. E diz aos jovens:

Queridos jovens, confiemos em Jesus, abandonemo-nos totalmente a Ele! Só em Cristo morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e a vida: transformou a Cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em sinal de amor, de vitória e de vida”.

Francisco observou então, que o primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de ‘Terra de Santa Cruz’. “A Cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro e não só: o Cristo sofredor, sentimo-lo próximo, como um de nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar conosco”. E acrescentou:

Mas a Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a Cruz: Pilatos, o Cireneu, Maria, as mulheres... Também nós diante dos demais podemos ser como Pilatos que não teve a coragem de ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus, lavando-se as mãos”.

“Queridos amigos – disse o Papa – a Cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cireneu, que ajuda Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura. E você como é? Como Pilatos, como o Cireneu, como Maria?”, perguntou.

E conclui, dizendo que devemos levar as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a Cruz de Cristo, pois alí “encontraremos um Coração aberto que nos compreende, perdoa, ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para amar cada irmão e irmã com este mesmo amor.”

Na conclusão do encontro, foi rezado um Pai Nosso e o Santo Padre concedeu a sua bênção a todos, transferindo-se a seguir para a residência em Sumaré.

Eis uma síntese das meditações em cada Estação:

Na 1ª estação, rezou-se pelos jovens inocentes que “todos os dias são condenados à morte pela pobreza, pela violência e por todo tipo de consequências do pecado”.

O “jovem convertido” que quer ser “instrumento” do amor de Deus esteve presente na 2ª estação, e na 3ª foram evocadas as preces do “voluntário de uma comunidade de recuperação” que quer ser o Bom Samaritano que “para além dos discursos, tem coragem de levantar quem está caído à beira do caminho e cuidar de suas feridas”.

A quarta estação – “Jesus encontra a sua mãe aflita” – recordou as dores das mães que sentem o sofrimento dos seus filhos: “É uma comunhão redentora”.

Na 5ª estação, os “seminaristas” chamados ao sacerdócio, também estiveram presentes com as suas orações e preocupações em serem “um bom pastor”.

Na 6ª estação, a consagrada ao “serviço do irmão” pediu forças, pois encontra “nas vias-sacras da vida tantas vítimas de uma «cultura de morte»”.

Os casais de namorados, que pretendem “construir uma família pelos fundamentos e não pelo telhado”, foram recordados na 7ª estação.

O sofrimento das mulheres, cuja “vocação” é “do berço até à cruz” está presente na oitava estação e os “estudantes” são recordados na estação onde “Jesus cai pela terceira vez”: “O conhecimento e a ciência encantam-me, mas muitas vezes seduzem-me e até induzem-me a imaginar que não preciso de ti”.

A Via Sacra não esqueceu das redes sociais e da ‘geração que nasceu conectada por meio da internet”. Na 10ª Estação, é pedido “que a tua graça nos ensine os caminhos para evangelizar o «continente digital» e nos deixe atentos à possível dependência ou confusão entre o real e o virtual”, é o pedido da 10ª estação.

Na 11ª estação são lembrados os “milhões” de jovens presidiários, na 12ª os jovens com doenças terminais e na 13ª os jovens “deficientes auditivos”: “Existem momentos em que o silêncio e a contemplação falam muito mais”.

Na 14ª e última estação, foram recordados os jovens de todas as regiões do globo. (JE)
Fonte: Rádio Vaticano

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Papa Francisco: "Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades..."

Papa em visita à comunidade de Varginha: promover solidariedade, justiça social e dimensão espiritual



Rio de Janeiro (RV) - O Santo Padre acabou de realizar um de seus compromissos mais aguardados desta sua primeira viagem apostólica internacional: a visita, no complexo de Manguinhos, à comunidade de Varginha, uma favela hoje pacificada. A seguir, propomos, na íntegra, o discurso que dirigiu na ocasião:
"Queridos irmãos e irmãs,
Que bom poder estar com vocês aqui! Desde o início, quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um "cafezinho", falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós... Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater em todas as portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês que hoje representa todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem acolhido, com amor, generosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram as ruas da Comunidade; isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do coração dos brasileiros, que está em festa! Muito obrigado a cada um de vocês pela linda acolhida! Agradeço a Dom Orani Tempesta e ao casal Rangler e Joana pelas suas belas palavras.
1. Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo - não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!
E povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim a cultura da solidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão.
Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de “pacificação” será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!
2. Queria dizer-lhes também que a Igreja, «advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu» (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaboração em todas as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo e de todo o homem. Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar. Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano.
3. Queria dizer uma última coisa. Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio «para que todos tenham vida, e vida em abundância» (Jo 10,10).
Hoje a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer: Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês. Levo a cada um no meu coração e faço minhas as intenções que vocês carregam no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda nas dificuldades, o desejo de consolação nos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de todos os pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bênção."

Fonte: Rádio Vaticano

terça-feira, 23 de julho de 2013

Papa Francisco chega ao Rio de Janeiro para a JMJ

Por Jaime C. Patias   
23 / Jul / 2013 11:44
Nesta segunda-feira, dia 22, todas as atenções se voltaram para o Papa Francisco que desembarcou no aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro por volta das 15h45 para presidir a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que se estende até domingo, 28. Após os cumprimentos, Francisco entrou em um carro sem blindagem em direção à Catedral Metropolitana de São Sebastião, no Centro do Rio, um passeio de mais de um quilômetro. Exposto, com visível desespero dos homens de segurança, o Papa saudou milhares de pessoas que estiveram nas imediações da Catedral e do Teatro Municipal.
A avenida Rio Branco, uma dos cenários das maiores manifestações recentes do povo no Rio de Janeiro, foi percorrida, em parte, pelo papamóvel. A Polícia Militar estimou que mais de 10 mil pessoas estavam presentes nas ruas por onde o Papa passou.
Acenando para as pessoas dos dois lados da rua e até no alto dos prédios, o Papa permaneceu sempre simpático e sorridente. Um mar de celulares apontado para o papamóvel o aguardava ao lado do prédio do Teatro Municipal de onde ele desceu para tomar o mesmo carro que o trouxe até a Catedral.Foi levado para uma base para tomar o helicóptero que o levou ao Palácio Guanabara para seu primeiro pronunciamento no Brasil.
O Papa Francisco iniciou o seu discurso, em português, ressaltando que a Providência o quis conduzir na sua primeira viagem internacional, à sua amada América Latina, precisamente ao Brasil “nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro”.
Após, pediu “licença para entrar no coração dos brasileiros, revelando o que veio trazer ao Rio”:
Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: “A paz de Cristo esteja com vocês!”
Após o Papa saudou com deferência a Presidente Dilma Roussef e as autoridades presentes, agradecendo a acolhida e as palavras que externaram a alegria dos brasileiros pela sua presença no Brasil. O Santo Padre dirigiu então uma palavra de afeto aos seus irmãos no Episcopado, “sobre quem pousa a tarefa de guiar o Rebanho de Deus neste imenso País, e às suas amadas Igrejas Particulares. Esta minha visita outra coisa não quer senão continuar a missão pastoral própria do Bispo de Roma de confirmar os seus irmãos na Fé em Cristo, de animá-los a testemunhar as razões da Esperança que d’Ele vem e de incentivá-los a oferecer a todos as inesgotáveis riquezas do seu Amor”.
O Papa observou que a sua presença no Brasil, transcende as fronteiras do país, pois veio para a Jornada Mundial da Juventude: “Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles querem aconchegar-se no seu abraço para, junto de seu Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: ‘Ide e fazei discípulos entre todas as nações’”.
E acrescentou, “Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens quando conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo “bota fé” nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: “Ide, fazei discípulos”. Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os jovens “botam fé” em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos”.
O Papa disse ter a consciência de que, ao falar aos jovens, fala também “às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações”. E complementou:
Os pais costumam dizer por aqui: “os filhos são a menina dos nossos olhos”. Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente? O meu auspício é que, nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por esta desafiadora pergunta”.
O Papa ressaltou que a juventude “é a janela pela qual o futuro entra no mundo” e, por isso, impõe grandes desafios. “A nossa geração – disse Francisco - se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e co-responsável do destino de todos”.
Ao concluir, o Santo Padre pediu a todos a “delicadeza da atenção e, se possível, a necessária empatia para estabelecer um diálogo de amigos. Nesta hora, os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa. Depois de amanhã, se Deus quiser, tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida, invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias. Desde já a todos abençoo. Obrigado pelo acolhimento!”.
Nesta terça-feira (23), Francisco passa o dia descansando, sem compromissos oficiais. Na quarta (24), a agenda do Papa começa com uma visita a Aparecida, no interior de São Paulo. Na cidade, ele celebra uma missa no Santuário Nacional e almoça no Seminário Bom Jesus. São esperados 200 mil fiéis.
Fonte: Pontifícias Obras Missionárias

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A TRADIÇÃO DA FESTA DOS PADROEIROS SE FORTALECEU PELA BASE

Parecia que a crise mundial tinha afetado a tradicional festa dos padroeiros. Ledo engano a tradição se fortaleceu nesses últimos três anos através de um trabalho pastoral de base conhecido com a setorização. Quando se diz que a tradição desapareceu está se mostrando na verdade uma forma de difamação da tradição. Ela não desaparece mas revive de forma profunda e eficaz. O clima da festa dos padroeiros, hoje, comprova o resgate da dignidade do povo de Deus. "A importância da tradição é que ela possibilita a identidade de uma pessoa ou grupo ao longo da história como base de seu sentimento de dignidade" (C. BOFF). Sentimos uma imensa alegria porque esta festa nos confirma como povo de Deus que mantém as raízes da fé. Duas colunas, duas gerações diferentes e uma só tradição: Monsenhor Barros e o Padre Matias Soares. A tradição está fortalecida aos olhos da fé dos homens de boa vontade. Viva nossos padroeiros! (CARLOS)

Francisco aos jovens: "Coração cheio de alegria para celebrar com vocês a JMJ"



Cidade do Vaticano (RV) – Como programado, o Papa Francisco deixou o aeroporto de Fiumicino esta manhã, pouco depois das 8h45, a bordo de um avião da companhia Alitalia, dando início à sua primeira viagem internacional, por ocasião da 28ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro.

Antes de embarcar carregando pessoalmente sua bagagem de mão, o Pontífice cumprimentou as autoridades locais, entre as quais o Primeiro-Ministro italiano, Gianni Letta. Integram a comitiva papal o Secretário de Estado, Card. Tarcisio Bertone, o Cardeal brasileiro João Braz de Aviz, o Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, Card. Marc Ouellet, e o Substituto para os Assuntos Gerais da Secretaria de estado, Dom Angelo Becciu.

Viajam no mesmo avião do Santo Padre cerca de 70 jornalistas, de 15 nacionalidades. Entre os brasileiros, há oito repórteres e dois cinegrafistas. Da Argentina, apenas dois jornalistas.

A chegada ao Rio de Janeiro está prevista para as 16h locais (21h de Roma), onde será acolhido no aeroporto Tom Jobim pela Presidente do Brasil, Dilma Rousseff. A cerimônia de boas-vindas será feita uma hora depois no Palácio Guanabara – ocasião em que o Pontífice fará o primeiro dos 15 discursos em solo brasileiro. A seguir, haverá a visita de cortesia à Presidente, a troca de presentes, e dois breves encontros com o Governador do Rio, Sérgio Cabral, e o Prefeito da cidade, Eduardo Paes.

Estes dois eventos, seja a cerimônia de boas-vindas, seja a visita de cortesia, serão transmitidos ao vivo pela Rádio Vaticano, com comentários em português, a partir das 16h50 – hora local. (21h50 – horário de Roma).

O Papa deixa o Palácio Guanabara às 18h15 e segue para a Residência do Sumaré, onde ficará hospedado até o final de sua visita ao Rio, no dia 28 de julho. Terça-feira, não estão previstos eventos públicos com o Pontífice.

Aos jovens que já estão no Rio de Janeiro, Francisco tuitou: “Dentro de algumas horas chego ao Brasil, e já sinto o coração cheio de alegria por em breve estar celebrando com vocês a 28ª JMJ”.
Fonte: Rádio Vaticano

domingo, 21 de julho de 2013

Papa no Angelus: "Servir os pobres nos conduz a Jesus". Francisco pede as preces de todos por sua viagem ao Rio



Cidade do Vaticano (RV) – Na oração do Angelus da manhã deste domingo, 20, Papa Francisco pediu aos fiéis, turistas e romanos que o aclamaram na Praça São Pedro que o acompanhem com as orações na viagem que fará a partir de segunda-feira, 22, ao Rio de Janeiro.

Francisco desembarcará na cidade às 16h (hora local) e participará a partir de quinta, 25, da Jornada Mundial da Juventude. Seu primeiro evento público no Rio de Janeiro será a celebração da missa de acolhida, na Praia de Copacabana, às 18h.

Dezenas de milhares de pessoas ouviram suas palavras neste domingo, e em meio a elas, o Papa entreviu uma faixa com os dizeres ‘Boa Viagem’, o que lhe deu a ocasião para pedir aos fiéis que o acompanhem ‘espiritualmente’ nesta Jornada.

Francisco disse ainda que no Rio e em todo o mundo esta será a ‘Semana da Juventude’ e convidou os jovens a questionar-se sobre o caminho que devem seguir em suas vidas.

Todos os que estarão no Rio querem ouvir a voz de Jesus: Senhor, o que devo fazer de minha vida? Vocês, jovens presentes aqui na Praça, façam a mesma pergunta ao Senhor”.

Antes da oração mariana, Francisco falou aos fiéis a respeito do Capítulo 10 do Evangelho de São Lucas, que narra a hospitalidade oferecida pelas irmãs Marta e Maria a Jesus em Betânia.

As duas foram acolhedoras com o Senhor, mas tiveram atitudes diferentes: enquanto Maria, aos pés do Senhor, escutava a sua palavra, Marta estava ocupada com seus afazeres, agitada por muitas coisas, e foi repreendida por Jesus. Com doçura, ele lhe explicou que se alguém quer verdadeiramente segui-lo, é necessário que se torne seu discípulo, escutando-o. Do contrário, não poderá agir em conformidade com a sua palavra.

As obras de serviço e caridade do cristão não devem jamais se separar da oração, da escuta da Palavra do Senhor, assim como o fez Maria, aos pés de Jesus, comportando-se como uma discípula. E por isso, Marta foi repreendida”.

O Papa explicou que servir e orar são dois comportamentos importantes, mas não contrapostos; devem ser vividos em unidade e harmonia.

A oração que não gera uma ação concreta em ajuda de nossos irmãos pobres, doentes, carentes, que precisam de nós, é uma oração estéril e incompleta. Por outro lado, quando no serviço eclesial se presta mais atenção no ‘fazer’, dando mais importância às funções e estruturas, corre-se o risco de servir apenas a sim mesmo e não a Deus, presente no irmão necessitado”.

Concluindo, o Papa citou São Bento, com o seu lema “ora et labora”, e lembrou que “é da contemplação, da relação da amizade que temos com o Senhor, que nasce em nós a capacidade de viver e de ter conosco o amor de Deus, sua misericórdia e ternura para com o próximo. E a consciência de que nossa atenção com o irmão carente e nosso trabalho de caridade nas obras de misericórdia nos aproximam do Senhor”.

No final do encontro, o Papa concedeu a sua bênção e desejou aos presentes "Bom domingo" e "Bom almoço".
(CM)
Fonte: Rádio Vaticano

Pessoas que falam pela boca de anjos sabem o que diz!


"Graças a Deus, temos pessoas que se preocupam com a verdadeira liberdade, e ajudam o nosso povo a se libertar de seus grilhões. Um exemplo é o nosso pároco que sempre está alerta a tudo que impede o nosso povo de ser livre. E verdadeiramente feliz."

Pescaria na festa dos padroeiros

O Movimento Fé e Luz contribuindo com a festa dos padroeiros, na festa mais bem articulada dos padroeiros. A fé e vida caminham juntas: é o povo de Deus participando e dando uma demonstração de que é possível uma sociedade feliz. Grupos responsáveis pela pescaria: Movimento Fé e Luz, Franciscanos e Catequese.

A liberdade que nasce do encontro com Jesus

A liberdade que nasce do encontro com Jesus
Evangelizar significa anunciar a boa nova de Jesus Cristo. O mundo de hoje necessita desse anúncio que nos dá a verdadeira liberdade. A liberdade que nasce do encontro pessoal com Jesus nos conduz à vida em plenitude. A liberdade que tratamos aqui não depende dos poderes político e econômico. Estes, os poderosos, não determinam a ação de Deus na vida do povo humilde e empobrecido. Os mais simples e esquecidos das rodas sociais são os preferidos de Deus. Jesus Cristo quis estar com os mais pobres para com eles promover o Reino de Deus. O Evangelho suscita novas realidades, alimenta a esperança dos mais pobres e esquecidos do mundo. Por exemplo, a eleição do Papa Francisco foi uma boa notícia para os mais pobres, para aqueles anulados pelo sistema mundial de economia e política. Tudo isso porque o Papa Francisco devolve, pela graça de Deus, ao homem a esperança que parecia perdida. Isto é uma boa notícia! “Portanto, a notícia dá a conhecer a ação de Deus no meio dos homens” (Comblin).
O que é boa notícia para os pobres não será para os ricos. Vamos colocar os pés no chão. Vivemos num capitalismo selvagem que destrói até mesmo os valores sagrados. A vida é um dom de Deus. Mas tem gente morrendo de fome por falta de comida numa sociedade de abundância. Uma sociedade que deixa seus filhos morrerem de fome está muito longe de alcançar o cristianismo. Por isso, o que é boa notícia para os filhos de Deus não será para os poderosos mesmo que sejam batizados. Batizados mas não foram evangelizados.
A prática dos Césares não combina com o Reino de Deus. Césares: aqui faço a relação com os políticos corruptos, lacaios e patifes. Aquele que perdeu a aparência de homem justo e pratica a maldade é um seguidor dos césares. E está pronto para destruir a liberdade. “A liberdade é a capacidade de construir uma vida baseada no amor, e não num sistema” (Comblin). Será que o nosso povo é livre? (Carlos: Movimento Fé e Luz)

A refundação do Brasil?

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A refundação do Brasil? O sentido oculto das manifestações de rua

21/07/2013
        

         O que o povo que estava na rua no mes de junho queria, em último término, de forma consciente ou inconsciente? Para responder me apoio em três citações inspiradoras.

A primeira é de Darcy Ribeiro no prefácio ao meu livro O caminhar da Igreja com os oprimidos((1998):”Nós brasileiros surgimos de um empreendimento colonial que não tinha nenhum propósito de fundar um povo. Queria tão-somente gerar lucros empresariais exportáveis com pródigo desgaste de gentes”.

A segunda é de Luiz Gonzaga de Souza Lima na mais recente e criativa interpretação do Brasil:”A refundação do Brasil: rumo à sociedade biocentrada (São Carlos 2011):”Quando se chega ao fim, lá onde acabam os caminhos, é porque chegou a hora de inventar outros rumos; é hora de outra procura; é hora de o Brasil se Refundar; a Refundação é o caminho novo e, de todos os possíveis, é aquele que mais vale a pena, já que é próprio do ser humano não economizar sonhos e esperanças; o Brasil foi fundado como empresa. É hora de se refundar como sociedade”(contra-capa).

A terceira é do escritor francês  François-René de Chateaubriand (1768-1848):”Nada é mais forte do que uma ideia quando chegou o momento de sua realização”.

Minha impressão é que as multitudinárias manifestações de rua que se fizeram sem  siglas,sem cartazes dos movimentos e dos partidos conhecidos e sem carro de som, mas irrompendo espontaneamente, queriam dizer: estamos cansados do tipo de Brasil que temos e herdamos: corrupto, com democracia de baixa intensidade, que faz políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres, no qual as grandes maiorias não contam e pequenos grupos extremamente opulentos controlam o poder social e político; queremos outro Brasil que esteja         à altura da consciência que desenvolvemos como cidadãos e sobre a nossa importância para o mundo, com a biodiversidade de nossa natureza, com a criatividade de nossa cultura e como maior patrimônio que temos que é o nosso povo, misturado, alegre, sincrético, tolerante e místico.

Efetivamente, até hoje o Brasil foi e continua sendo um apêndice do grande jogo econômico e político do mundo. Mesmo politicamente libertados, continuamos sendo reconolizados, pois as potências centrais antes colonizadoras, nos querem manter ao que sempre nos condenaram: a ser uma grande empresa neocolonial que exporta commodities, grãos, carnes, minérios como o mostra em detalhe Luiz Gonzaga de Souza Lima e o reafirmou Darcy Ribeiro citado acima. Desta forma nos impedem de realizarmos nosso projeto de nação independente e aberta ao mundo.

Diz com fina sensibilidade social Souza Lima:”Ainda que nunca tenha existido na realidade, há um Brasil no imaginário e no sonho do povo brasileiro. O Brasil vivido dentro de cada um é uma produção cultural. A sociedade construíu um Brasil diferente do real histórico, o tal país do futuro, soberano, livre, justo, forte mas sobretudo alegre e feliz”(p.235). Nos movimentos de rua irrompeu este sonho exuberante de Brasil.

Caio Prado Júnior em sua A revolução brasileira (Brasiliense 1966) profeticamente escreveu: ”O Brasil se encontra num daqueles momentos em que se impõem de pronto reformas e transformações capazes de reestruturarem a vida do país de maneira consentânea com suas neessidades mais gerais e profundas e as espirações da grande massa de sua população que, no estado atual, não são devidamente atendidas”(p. 2). Chateaubriand confirma que esta idéia acima exposta madurou e chegou ao momento de sua realização. Não seria sentido básico dos reclamos dos que estavam, aos milhares, na rua? Querem um outro Brasil.

Sobre que bases se fará a Refundação do Brasil? Souza Lima diz que é sobre aquilo que de mais fecundo e original temos: a cultura brasileira.”É através de nossa cultura que o povo brasileiro passará a ver suas infinitas possibilidades históricas. É como se a cultura, impulsionada por um poderoso fluxo criativo, tivesse se constituído o suficente para escapar dos constrangimentos estruturais da dependência, da subordinação e dos limites acanhados da estrutura socioeconômica e política da empresa Brasil e do Estado que ela criou só para si.   A cultura brasileira então escapa da mediocridade da condição periférica e se propõe a si mesma com pari dignidade em relação a todas as culturas, apresentando ao mundo seus conteúdos e suas valências universais”(p.127).

Não há espaço aqui para detalhar esta tese original. Remeto o leitor/a a este livro que está na linha dos grandes intérpretes do Brasil a exemplo de  Gilberto Freyre, de Sérgio Buarque de Hollanda, de Caio Prado Jr, de Celso Furtado e de outros. A maioria destes clássicos intérpretes, olharam para trás e tentaram mostrar como se construíu o Brasil que temos. Souza Lima olha para frente e tenta mostrar como podemos  refundar um Brasil na nova fase planetária, ecozóica, rumo ao que ele chama “uma sociedade biocentrada”.

Não serão estes milhares de manifestantes, os protagonistas antecipadores do ancestral e popular sonho brasileiro? Assim o queira Deus e o permita a história.
Fonte: Leonardo Boff