Vaticano II, redescobrir cada dia a beleza da fé
O Santo Padre se encontrou nesta manhã, na Praça São Pedro, com os
peregrinos de diversas partes do mundo, vindos para a Audiência Geral
das quartas-feiras. Dirigindo-se aos presentes, em sua catequese, Bento
XVI colocou sua atenção sobre o cinquentenário do Concílio Vaticano II.
Eis um resumo da alocução do Papa:
"Estamos na vigília do dia no qual celebraremos os cinquenta anos da
abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II e o início do Ano da Fé. Com
esta Catequese quero começar a refletir – com alguns breves pensamentos –
sobre o grande evento da Igreja que foi o Concílio, evento do qual fui
testemunha pessoal. Isso, por assim dizer, nos parece como um grande
afresco, pintado em sua grande multiplicidade e variedade de elementos,
sob a condução do Espírito Santo. E como diante de um grande quadro,
daquele momento de graça continuamos ainda hoje a perceber a
extraordinária riqueza, a redescobrir passagens especiais, fragmentos,
entalhes.
Para mim foi uma experiência única: depois de todo o fervor e entusiasmo
da preparação, pude ver uma Igreja viva – quase três mil Padres
Conciliares de todas as partes do mundo reunidos sob a condução do
Sucessor do Apóstolo Pedro – que se coloca na escola do Espírito Santo, o
verdadeiro motor do Concílio. Raras vezes na história se pode, como
então, quase “tocar” concretamente a universalidade da Igreja em um
momento de grande realização de sua missão de levar o Evangelho em todo
tempo e até os confins da terra.
O Papa João XXIII desejava que a Igreja refletisse sobre a fé e sobre a
verdade que a guiam. Mas para essa séria e aprofundada reflexão sobre a
fé, deveria ser delineada de um modo novo a relação entre a Igreja e a
era moderna, entre o Cristianismo e certos elementos essenciais do
pensamento moderno, não para se amoldar a eles, mas para apresentar a
este nosso mundo, que tende a se afastar de Deus, o ensinamento do
Evangelho em toda sua grandeza e em toda sua pureza (cfr Discurso à
Cúria Romana por ocasião dos cumprimentos natalinos, 22 de dezembro de
2005).
Penso também que devemos aprender a lição mais simples e mais
fundamental do Concílio: o Cristianismo em sua essência consiste na fé
em Deus, que é Amor trinitário, e no encontro pessoal e comunitário com
Cristo, que orienta e conduz a vida. Tudo o mais é conseqüência.
O Concílio nos recorda que a Igreja, em todos os seus componentes, tem o
mandato de transmitir a palavra de amor do Deus que salva, para que
seja ouvida e acolhida a chamada divina que contêm em si nossa
felicidade eterna.
Olhando nessa perspectiva a riqueza contida nos documentos do Vaticano
II, quero apenas nomear as quatro Constituições, quase os quatro pontos
cardeais da bússola que nos orienta. A Constituição sobre a Sagrada
Liturgia “Sacrosanctum Concilium” que indica como na Igreja desde o
início adora Deus, como é a centralidade do mistério da presença de
Cristo. E a Igreja, corpo de Cristo e povo peregrino no tempo, tem como
realização fundamental glorificar Deus, como exprime a Constituição
Dogmática “Lumen Gentium”. O terceiro documento que desejo citar é a
Constituição sobre a divina Revelação “Dei Verbum”: A Palavra viva de
Deus convoca a Igreja e a vivifica ao longo de todo seu caminho na
história. O modo no qual a Igreja leva ao mundo inteiro a luz que
recebeu de Deus para que seja glorificado, é o tema de fundo da
Constiuição Pastoral “Gaudium et Spes”.
O Concílio Vaticano II é para nós um forte apelo para redescobrir cada
dia a beleza de nossa fé, conhecê-la profundamente para uma relação mais
intensa com o Senhor, a viver até o fundo nossa vocação cristã. A
Virgem Maria, Mãe de Cristo e de toda a Igreja, nos ajude a realizar e a
cumprir o que os Padres Conciliares, animados pelo Espírito Santo,
guardavam no coração: o desejo que todos possam conhecer o Evangelho e
encontrar o Senhor Jesus como caminho, verdade e vida".
Depois de proferir esta catequeese em italiano, Bento XVI fez resumos em
várias línguas, inclusive em português. Eis o que disse:
"Amanhã, estaremos celebrando os 50 anos da abertura do Concílio
Vaticano II e o início do Ano da Fé. Hoje, queria refletir sobre a
importância que este Concílio teve na vida da Igreja, um evento do qual
fui uma testemunha direta. Foi uma oportunidade de ver uma Igreja viva:
quase três mil Padres conciliares vindos de todas as partes do mundo,
reunidos sob a guia do Sucessor do Apóstolo Pedro; era possível quase
tocar de modo concreto a universalidade da Igreja. O Concílio Vaticano
II, ao contrário dos Concílios precedentes, não foi convocado para
definir elementos fundamentais da fé, corrigindo erros doutrinais ou
disciplinares, mas tinha como objetivo delinear de um modo novo a
relação da Igreja com a idade moderna: não para conformar-se a ela, mas
para apresentar a este mundo, que tende a afastar-se de Deus, a beleza
da fé em toda a sua grandeza e pureza, para que todos os homens possam
conhecer o Evangelho e encontrar o Senhor Jesus, como caminho, verdade e
vida.
Saúdo todos os peregrinos de língua portuguesa, especialmente os
diversos grupos de brasileiros, com votos de que esta peregrinação vos
sirva de estímulo para aprender a redescobrir a cada dia a beleza da fé,
para que tenhais uma união sempre mais intensa com Cristo, vivendo
plenamente a vossa vocação cristã. Que Deus vos abençoe! Obrigado".
No final do encontro, o Papa concedeu a todos a sua bênção apostólica.
Fonte: Rádio Vaticano
Nenhum comentário:
Postar um comentário