A Aliança SinaíticaQuando, em 582 a.C.cento e cinqüenta anos depois da destruição da Samaria, Nabucodonosor varreu o Reino de Judá, do mapa e deportou os últimos habitantes de Jerusalém, dá-se por encerrada a História da Aliança davídica. Sem pátria, sem templo, sem sacerdócio, um resto – o resto previsto pelo Profeta Isaías, as lideranças de Jerusalém – foi para o exílio. Todas as esperanças haviam-se esvaído, exceto a fé em Javé. Não pensemos que tivesse sobrado uma multidão. A maioria dos judeus foi morta. Outros fugiram. Foi aprisionada apenas a elite, que gira em torno de cinco mil pessoas. Estes refarão a História de Israel.
Tendo desaparecido a teologia da Aliança com Davi e seus descendentes, que punham a salvo de qualquer ataque tanto o templo como a cidade de Jerusalém, bem como a própria dinastia davídica – que já não existiam – foi necessário criar outro início e paradigma, para não desarticular totalmente. Então, no exílio babilônico, se engendrou a descrição de outra Aliança, de mil anos antes. Situa-se num outro Império, junto a outro rio: o Nilo, no Egito, mas com contornos mutuados de uma cultua mesopotâmica. Expõe uma dura escravidão e a conseqüente libertação, operada por Deus, por mão de Moisés, seu enviado.O ponto alto desta libertação é, em primeiro lugar, a Aliança, feita por e com Deus, no Monte Sinai. Tem como Mediador Moisés. Acontece, depois de quarenta anos de peregrinação pelo deserto, uma triunfal conquista da Terra Prometida sob as armas de Josué.
Criada durante o Exílio da Babilônia, esta narrativa está desligada dos eventos históricos da época. Colheu tradições esparsas. Criou uma nova teologia da Aliança, que marcará, daqui para frente, a História do Povo Eleito. Esta Aliança consta de novas e mais sólidas clausulas. Não se fixa nalgum lugar – refere-se a um povo nômade e sem pátria -. Garante proteção por parte de Deus, sob condição da observância de seus mandamentos.
A Aliança é selada com sangue de animais, sacrificados a Javé. Sinaliza a consanguinidade ou parentesco entre o Povo e seu Deus. Conhecemos uma síntese dos mandamentos no decálogo. Na verdade, porém, a Lei, em hebraico “Torah”, foi exarada em cinco livros básicos da fé, que, por isso, em grego, receberam o nome de Pentateuco. O povo do exílio irá inspirar-se nesta Lei e elaborar, a partir dela, sua relação com Deus. Trata-se de um compromisso, selado por uma Aliança. Javé é o Deus deste Povo e este Povo o Povo de Javé, independente de lugar e de templo. O que distingue, daqui em diante, o Povo Judeu será esta Aliança. Moisés é guindado a Fundador da religião judaica. Atribui-se a Ele a “assinatura” da Aliança com Deus e, conseqüentemente, a elaboração do Pentateuco.
A aliança sinaítica, porém, alberga, em seu bojo, certa ambiguidade. Junto com Moisés,que poderíamos chamar de místico, coloca Josué, apresentado como guerreiro. No primeiro temos a religião, por assim dizer, em sua pureza, ao passo que, no segundo, entra a conquista armada de uma terra e o extermínio de povos inteiros. Pergunta-se: quem realiza a Aliança com Deus? Moisés, com sua Lei, ou Josué, com suas guerras de conquista? Para mostrar a conexão entre ambos, começou-se a transformar o Pentateuco em Hexateuco,incluindo nele, como base da religião mosaica, o livro de Josué. A Lei do Sinai e conquista a Palestina, declarada Terra Santa.
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