domingo, 16 de setembro de 2012

APARÊNCIAS

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Formalidades e aparências



É muito comum haver pessoas cujo comportamento é marcado por formalidades, nas quais a preocupação pelas aparências é visível. Com efeito, muitas vezes, o convívio humano é marcado por formalidades que abafam a espontaneidade das pessoas, maquiam a sua autenticidade e ferem a verdade; embora saibam que “as aparências enganam”, alimentam esse procedimento.
Jesus, especialmente, ao anunciar a Boa Nova ao povo, encontrou fariseus, mestres e doutores da lei, profundamente arraigados na observância formal de preceitos desprovidos de sentido religioso. (cf. Mc 7,1-8) Por essa razão, eles criticavam Jesus e seus apóstolos por não observarem as prescrições legais sobre práticas que faziam parte do dia a dia de qualquer judeu. A reação de Jesus, algumas vezes veementemente dura, era imediata porque enxergava na atitude desses homens, de forma muito evidente, uma falta de autenticidade, via logo a inverdade de seus ensinamentos e sempre cultivadores das aparências. Consideravam-se um centro de referência para as pessoas, por isso, faziam questão de chamar a atenção sobre si, onde estivessem - na rua, no templo, nos banquetes, como mostram os Evangelhos. “Depois Jesus falou às multidões e aos discípulos. Os escribas e os fariseus sentaram-se no lugar de Moisés para ensinar. Portanto, tudo o que eles vos disserem, fazei e observai, mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. Amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo. Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros, usam faixas bem largas com trechos da Lei e põem no manto franjas bem longas. Gostam do lugar de honra nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, de serem cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de ‘rabi’, pois um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos.” (Mt 23, 1-7)). Todavia, a palavra de Jesus não visava apenas a condenação das atitudes formais e das aparências enganosas desss homens da lei. Ele ajudou as pessoas a distinguirem a verdade da palavra, daí a necessidade de observá-la, e a inautenticidade daqueles que a anunciam, por isso, o dever de não segui-los: “tudo o que eles vos disserem, fazei e observai, mas não imiteis suas ações!” 
Os fariseus, mestres e doutores da lei continuam tendo seguidores, no mundo de hoje, no campo da religião, da educação, da política, da administração. De conformidade com o perfil das pessoas e com a natureza das ações que praticam, por exemplo no campo da religião, necessariamente, haverá mal-estar e desgaste na comunidade. Assim, o povo identifica logo a ação do ministro ordenado, da pessoa de vida consagrada ou do simples fiel, quando é considerada incompatível com seu estado de vida. Há atitudes dessas pessoas que escandilizam a comunidade porque, como os fariseus, “falam e não praticam”.
Atitudes semelhantes também se encontram em personagens do universo da política e da administração. Há muito comportamento farisáico nos seus quadros. Mais do que isso, valem-se da posição que ocupam e da função que exercem e, em se tratando do Poder Público, a que acedem, mediante o voto popular, para subjugarem e dominarem pessoas e instituições, embora apresentem-se como servidores.
Nesse período eleitoral, a linguagem de muitos candidatos é tipicamente farisáica porque porque contém o vício do engano. Sabem que, na cata do voto, podem dizer tudo que querem e o eleitorado, ao ouví-los, quase sempre, peca pela falta de discernimento, diante de promessas mirabolantes.

Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

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