Formalidades e aparências
É muito comum haver pessoas cujo comportamento é marcado por
formalidades, nas quais a preocupação pelas aparências é visível. Com
efeito, muitas vezes, o convívio humano é marcado por formalidades que
abafam a espontaneidade das pessoas, maquiam a sua autenticidade e ferem
a verdade; embora saibam que “as aparências enganam”, alimentam esse
procedimento.
Jesus, especialmente, ao anunciar a Boa Nova ao povo, encontrou
fariseus, mestres e doutores da lei, profundamente arraigados na
observância formal de preceitos desprovidos de sentido religioso. (cf.
Mc 7,1-8) Por essa razão, eles criticavam Jesus e seus apóstolos por não
observarem as prescrições legais sobre práticas que faziam parte do dia
a dia de qualquer judeu. A reação de Jesus, algumas vezes veementemente
dura, era imediata porque enxergava na atitude desses homens, de forma
muito evidente, uma falta de autenticidade, via logo a inverdade de seus
ensinamentos e sempre cultivadores das aparências. Consideravam-se um
centro de referência para as pessoas, por isso, faziam questão de chamar
a atenção sobre si, onde estivessem - na rua, no templo, nos banquetes,
como mostram os Evangelhos. “Depois Jesus falou às multidões e aos
discípulos. Os escribas e os fariseus sentaram-se no lugar de Moisés
para ensinar. Portanto, tudo o que eles vos disserem, fazei e observai,
mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. Amarram
fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles
mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo. Fazem todas as suas
ações só para serem vistos pelos outros, usam faixas bem largas com
trechos da Lei e põem no manto franjas bem longas. Gostam do lugar de
honra nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, de serem
cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de ‘rabi’, pois
um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos.” (Mt 23, 1-7)). Todavia, a
palavra de Jesus não visava apenas a condenação das atitudes formais e
das aparências enganosas desss homens da lei. Ele ajudou as pessoas a
distinguirem a verdade da palavra, daí a necessidade de observá-la, e a
inautenticidade daqueles que a anunciam, por isso, o dever de não
segui-los: “tudo o que eles vos disserem, fazei e observai, mas não
imiteis suas ações!”
Os fariseus, mestres e doutores da lei continuam tendo seguidores, no
mundo de hoje, no campo da religião, da educação, da política, da
administração. De conformidade com o perfil das pessoas e com a natureza
das ações que praticam, por exemplo no campo da religião,
necessariamente, haverá mal-estar e desgaste na comunidade. Assim, o
povo identifica logo a ação do ministro ordenado, da pessoa de vida
consagrada ou do simples fiel, quando é considerada incompatível com seu
estado de vida. Há atitudes dessas pessoas que escandilizam a
comunidade porque, como os fariseus, “falam e não praticam”.
Atitudes semelhantes também se encontram em personagens do universo da
política e da administração. Há muito comportamento farisáico nos seus
quadros. Mais do que isso, valem-se da posição que ocupam e da função
que exercem e, em se tratando do Poder Público, a que acedem, mediante o
voto popular, para subjugarem e dominarem pessoas e instituições,
embora apresentem-se como servidores.
Nesse período eleitoral, a linguagem de muitos candidatos é tipicamente
farisáica porque porque contém o vício do engano. Sabem que, na cata do
voto, podem dizer tudo que querem e o eleitorado, ao ouví-los, quase
sempre, peca pela falta de discernimento, diante de promessas
mirabolantes.
Dom Genival Saraiva de França
é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional
de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão
Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz;
Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do
Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da
CNBB NE2.
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