Os bispos que compõem o Conselho Episcopal
Pastoral (Consep), reunidos em Brasília, desde a manhã da última
terça-feira, 25 de setembro, voltaram a discutir o quadro geral das
religiões no Brasil apresentado pelos resultados do Censo feito pelo
IBGE em 2010 e publicados em junho deste ano. Desta vez, a reflexão foi
dirigida às iniciativas pastorais que devem ser tomadas ou reforçadas
para responder ao fato de que caiu o número de brasileiros que se
declaram membros da Igreja Católica.
Segundo o IBGE, “os resultados do Censo Demográfico 2010 mostram o
crescimento da diversidade dos grupos religiosos no Brasil. A proporção
de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas
anteriores, embora tenha permanecido majoritária. Em paralelo,
consolidou-se o crescimento da população evangélica, que passou de 15,4%
em 2000 para 22,2% em 2010. Dos que se declararam evangélicos, 60,0%
eram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %,
evangélicos não determinados”. A pesquisa revela também “que os
católicos romanos e o grupo dos sem religião são os que apresentaram
percentagens mais elevadas de pessoas do sexo masculino. Os espíritas
apresentaram os mais elevados indicadores de educação e de rendimentos”.
Padre Thierry Linard de Guertechin, Presidente do Instituto Brasileiro
de Desenvolvimento (IBRADES), organismo anexo da CNBB, resumiu a questão
apresentada no chamado “mapa das religiões”. Ele lembra que não se deve
se prender ao que se têm destacado muito às duas categorias de
“católicos” e “evangélicos”. Há novas comunidades cristãs que cresceram.
É preciso ainda considerar que cresceu também o número dos que se
declaram sem religião. Padre Thierry ressaltou que o casamento tem sido
um fator importante na análise da situação atual. Há um número
considerável de casais com uniões consideradas não regulares que estão
fora das contas oficiais sobre os membros da Igreja. Lembrou também que
há que se considerar a situação das comunidades que não têm assistência
dos ministros ordenados. E não se pode esquecer que há declaração
daqueles que não são praticantes.
Os bispos abriam uma conversa ampla.
— É preciso considerar os resultados das pesquisas na elaboração dos
planos de pastoral de nossas dioceses. É preciso pensar em estruturas
mais simples para nossas comunidades, disse o Bispo Auxiliar de Belo
Horizonte (MG) e Presidente da Comissão de Educação e Cultura da CNBB,
Dom Joaquim Mol, afirmando que em Belo Horizonte está sendo feita uma
pesquisa, tecnicamente profissional, para se aprofundar o significado
dos números.
Dom João Carlos Petrini, Bispo de Camaçari (BA) e Presidente da Comissão
Episcopal para a Vida e Família, falou que o percentual dos não
praticantes dos brasileiros que se declaram católicos torna-se,
facilmente, disponível para a oferta de outras Igrejas que têm, por
exemplo, o trabalho de visitar as pessoas de casa em casa com a
disposição de ler a Bíblia.
Dom Jacinto Bergmann, Bispo de Pelotas (RS) e Presidente da Comissão
Episcopal Pastoral para a animação bíblico-catequético, considera que a
formação de grupos bíblicos pode ser um sinal de esperança na
evangelização.
— Os números mostram que a nossa catequese não é ainda suficiente, destacou Dom Jacinto.
O Cardeal Dom Claudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo e
Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, considera que é
importante avaliar o modo como se acolhe para os sacramentos e que é
preciso partir da fé do povo e não colocar em dúvida a fé que as pessoas
manifestam ainda que não se tenha uma exposição teologicamente
elaborada. O cardeal também mencionou a importância da participação dos
leigos. Sobre esse tema, o professor Geraldo Aguiar, Assessor da
Comissão Episcopal Pastoral, declarou:
— Acreditem nos leigos e haverá um processo de transformação da nossa Igreja.
Dom Guilherme Werlang, Bispo de Ipameri (GO) e Presidente da Comissão
Episcopal Pastoral para a Caridade, Justiça e a Paz, destacou a
importância da formação dos ministros ordenados considerando que a
Eucaristia é a fonte e o horizonte da Igreja. Reforçou ainda a
importância da participação e valorização dos leigos dando ênfase no “ir
ao povo”. Nesta linha, professor Sergio Coutinho, da Comissão do
Laicato, chamou atenção para a correlação dos resultados do Censo do
IBGE com os dados da pesquisa do CERIS. Houve um crescimento no número
das paróquias, aumento dos números dos párocos, ampliação do quadro dos
diáconos. Insistiu na importância das comunidades eclesiais de base com
uma séria “desideologização” dessas expressões legítimas da vida da
Igreja.
— Nós corremos o risco de fazer boas análises sem que isso reflita na
pastoral considerando também o aprofundamento da realidade local. Formar
cristãos de verdade, é esse o grande objetivo da evangelização e isso,
certamente, refletirá nos números, lembrou Dom Sergio da Rocha,
Arcebispo de Brasília (DF) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral
para a Doutrina da Fé.
Dom Pedro Brito, Arcebispo de Palmas (TO) e Presidente da Comissão
Episcopal Pastoral para os ministérios ordenados, considera importante a
formação de missionários leigos nas comunidades. Dom Sergio Braschi,
Bispo de Ponta Grossa (PR) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral
para a Ação Missionária realçou a valorização dos diáconos.
Dom Dimas Lara Barbosa, Arcebispo de Campo Grande (MS) e Presidente da
Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação destacou a iniciativa da
setorização das paróquias, comunidade de comunidades, porque considera
que essa urgência “puxa” todas as outras apresentadas pelas Diretrizes
Gerais da Ação Evangelizadora. Dom Eduardo Pinheiro, Bispo Auxiliar de
Campo Grande e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral reforçou a
eficácia das iniciativas da setorização das paróquias e também lembrou
que a peregrinação da cruz e do ícone de Nossa Senhora está dando um
recado claro por parte dos jovens: “nós estamos aqui!”. No âmbito de
todas essas considerações, segundo Padre Sidnei Marcos Dornelas,
Assessor da Missão Continental, há uma integração entre os apelos da
Nova Evangelização, os apelos do CELAM e as Diretrizes Gerais da CNBB.
* Foto: CNBB
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