A Palavra e a Esperança
O universo tudo espera, expectativa abrasadora. Venha, pois, a força que
libera a algema opressora. Clamor do fundo do peito, sentimentos
incontidos, coração bate imperfeito o ritmo dos dias idos, em que a
bondade era a lei e a fraternidade a guia. O Senhor único rei, seu plano
a nossa via. Por que em nós tanta frustração, desamor, rancor,
desunião? Vendo o irmão dar a morte ao irmão, em uns e outros a
confusão.
Sem saber, sem vontade, sem endereço nem destino, talvez o preço da
liberdade, provação e desatino. A esperança não abandona os que se
resignam e lutam. O ódio não mais aprisiona os que se amando se
indultam. Sim, o amor já fecundou sua esposa, a esperança. O óvulo do
bem se abrigou no útero virgem da confiança. Engendrou-se a vida nova, a
mortalidade se esvai. A luz irradia a aurora, o irmão ao irmão atrai.
Afinal, até agora o que de fato conhecemos? A dor do cosmos de outrora
continua e nós gememos. Se nós sofremos em toda parte, partilhamos o ser
na dor. Ninguém de todo se descarte, solidários na dor, por amor. Na
unidade do único Amor o Espírito manifesta-se. Quais dores de parto
doador d’uma nova vida em festa. Então, saborear os frutos da ebriedade
do Espírito, sentindo em tudo, em todos, surtos do amor que nos torna
invictos.
Vivo hoje o amor. Preconceitos eu deixei, assumi meu próprio eu.
Sentimentos eu libertei, integrando-me em Teu ser. Jesus, teu ser fez
minha vida renascer. O vejo como anjo aparecer. Na angústia da paixão
que não tem fim, no incerto do amanhã e do depois. Constrói-se na
esperança de encontrar a paz, a liberdade de se doar. Gratuito, bem
simples esse meu dom a Te ofertar, só quero sempre mais amar o Amor.
Dom Aldo Di Cillo Pagotto é Arcebispo da Arquidiocese da Paraíba.
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