domingo, 23 de setembro de 2012

O Enem e outras avaliações

O que esperar como “boa avaliação” das escolas e dos alunos? Será que a resposta está no “rankeamento” de notas do Enem?
O Ministério da Educação divulgou nesta semana o desempenho de todas as escolas do país no Enem – Exame Nacional do Ensino Médio de 2010. De posse desses dados, a imprensa não demorou a elaborar “rankings” e a tecer comparações entre o desempenho das instituições, das cidades e regiões brasileiras.
Antes de qualquer discussão, parabenizo os estudantes – principalmente eles, que tanto se dedicaram ao exame – e as escolas que os incentivaram. Em segundo lugar, ressalto o tema central deste artigo: a percepção de que o Enem não é sozinho um medidor da qualidade do trabalho realizado nas escolas do país. É necessário, aposto eu, termos muita clareza disto.
Como era de se esperar, as escolas cujos alunos obtiveram maior pontuação aproveitam para utilizar os resultados em ações de marketing, o que costuma ter efeito significativo para muitos pais orgulhosos por terem os filhos matriculados nestas instituições, ou ainda para aqueles que decidem mudá-los de escola para que possam, quem sabe, também fazer parte dessas listas.
Nem julgo as escolas por suas ações de marketing, pois desconfio que ajam dessa forma por pura consequência do próprio sistema de avaliação vigente. Afinal, não vejo a sociedade buscar nos resultados do Enem outra finalidade que não seja a de agradar a esses pais satisfeitos com o “rankeamento” ou a evolução das notas do boletim dos seus filhos.
Cada vez mais a sociedade distorce o sentido da avaliação, que não deveria ser o de meramente comparar ou classificar, mas sim de contribuir para a melhoria das formas de ensinar e aprender, tanto dos professores, gestores, secretarias de educação e mantenedores, quanto dos próprios alunos. Em que momento olhamos os processos evolutivos de cada escola e de cada aluno?
Com o Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica ocorrem avaliações semelhantes às do Enem. Geralmente busca-se olhar suas médias, enquanto nunca é avaliado o quanto uma escola avançou comparativamente à sua própria trajetória. Ou, o que seria melhor ainda: o quanto cada aluno avançou de forma comparada aos seus desempenhos anteriores, e não à média da turma. Como a USP já abordou em algumas pesquisas, estas avaliações externas não têm sido utilizadas nem mesmo nas próprias escolas como um meio de reflexão sobre os processos internos, sobre o que pode ser melhorado e sobre a construção de novas metas.
O importante parecem ser a nota e a classificação em si, sem levar-se em consideração que existem várias formas de burlar o sistema, assim como os próprios alunos sempre arrumam meios de conseguirem notas não pelo prazer de aprender, mas para “passarem de ano”, tal como lhes é exigido de seus pais.
Ora, se o objetivo for exclusivamente galgar boa classificação porque isto traz bom retorno para a escola, há maneiras muito mais simples de alcançá-lo, como indicar os melhores alunos para o exame ou selecionar cada vez mais aqueles que ingressam na escola – métodos inclusive já populares entre algumas instituições privadas.
E é triste notar que as escolas públicas não escapam totalmente à estratégia: grande parte das que obtiveram melhor classificação também selecionam os seus alunos por meio de “vestibulinhos”. Isto quando a seleção não é feita pela própria localidade: sabemos bem que realmente existem diferenças educacionais entre instituições localizadas em bairros com oportunidades socioeconômicas discrepantes.
Em cenários complexos como esses, como avaliar os alunos e as turmas? A resposta nunca será uníssona, tampouco simples: um mesmo professor pode obter resultados diferentes atuando em diferentes escolas, por isso não é possível afirmarmos categoricamente que uma instituição seja melhor do que a outra observando-as a partir de um único viés.
Aliás, a grande questão, sobre a qual precisamos realmente refletir, é: o que é uma boa escola? O que é uma escola de qualidade? Uma certeza, devemos ter: uma escola não pode ser de qualidade para alguns, mas precisa realmente ser para todos. Caso contrário, não será de qualidade, pois trabalhará baseada no mérito dos alunos, não no desafio de transformar as realidades de todos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário