Conversa, sexta feira, 16 de novembro 2012 (Marcelo Barros)
Hoje participei pela manhã da assembléia
arquidiocesana de pastoral. Muita gente e de fato muitos leigos e
leigas. É bom ver uma Igreja em busca e aberta à missão, grande tema da
assembléia. O coordenador de pastoral explicou que a opção foi construir
juntos todo o plano de pastoral. Que bom. Deus seja bendito por essa
opção. Ali eu vi padres de movimentos espiritualistas de hoje como
"Arautos do Evangelho", pessoal carismático e outros. Vi um padre casado
que acompanha a pastoral da saúde e quis ver alguém mais ligado às
pastorais populares, como dos lavradores, dos operários, etc...
Encontrei um casal histórico do "Encontro de irmãos", grande movimento
de evangelização do tempo de Dom Hélder. Se eu puder, quero colaborar
para que essas pessoas possam de novo sentir-se em casa nas reuniões da
nossa Igreja.
Em uma breve intervenção, recordei que
hoje é aniversário do dia em que mais de cem bispos, liderados por Dom
Hélder, em Roma, durante o Concílio, em 1965 (há 47 anos), assinaram o
chamado "Pacto das Catacumbas", um documento que se tornou como o
documento do Concílio Vaticano II, embora não tenha sido um documento do
concílio, sobre a Igreja dos pobres.
Para nós do Recife, essa data tem um
significado ainda mais simbólico porque, nesse dia, o nosso irmão padre
João Pubben, profeta de Deus e amigo dos pobres, deixou a Bélgica em um
navio e veio para o Brasil, onde está até hoje, no serviço ao reino de
Deus acontecendo no meio dos pequeninos. Parabéns.
Em homenagem a ele e para nos ajudar a
"retomar o primeiro amor", como diz o Apocalipse, quero reproduzir aqui o
documento assinado nesse dia (em 1965) em uma catacumba romana por Dom
Hélder Câmara e 126 bispos do mundo inteiro:
Pacto das Catacumbas
As treze resoluções de bispos anônimos
“Nós,
bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências de
nossa vida de pobreza segundo o Evangelho, incentivados uns pelos outros, numa
iniciativa em que cada um de nós queria evitar a singularidade e a presunção,
sobretudo com a graça e a força de nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos
fiéis e dos sacerdotes de nossas dioceses, na humildade e na consciência de
nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e com toda a força de que
Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos com o que segue:
1 - Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no
que diz respeito à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo o
que daí se segue. Cf. Mt 5, 3; 6, 33- 34; 8, 20.
2 - Renunciamos para sempre à aparência e à realidade da riqueza,
especialmente no traje, (tecidos ricos, cores berrantes), nas insígnias de
material precioso (devem esses signos ser, de fato, evangélicos). Cf. Mc 6, 9;
Mt 10, 9- 10; At 3, 6. Nem ouro nem prata.
3 - Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem contas em banco, em
nosso próprio nome, e se for preciso possuir, poremos tudo em nome da diocese,
ou das obras sociais e caritativas. Cf. Mt 6, 19- 21; Lc 12, 33- 34.
4 - Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e
material em nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do
seu valor apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e
apóstolos. Cf. Mt 10, 8; At 6, 1- 7.
5 - Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e
títulos que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência,
Monsenhor...). Preferimos ser chamados com o nome evangélico de irmãos. Cf. Mt
20, 25- 28; 23, 6- 11; Jô 13, 12- 15.
6 – No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos
aquilo que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma
preferência qualquer aos ricos e aos poderosos (ex: banquetes oferecidos ou
aceitos, classes nos serviços religiosos). Cf. Lc 15, 9- 13; 2 Cor 12, 4.
7 - Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisongear a vaidade de
quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por
qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem suas dádivas
como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação social. Cf. Mt
6, 2- 4; Lc 15, 9- 13; 2 Cor 12, 4.
8 - Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão,
coração, meios, etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos
laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique
as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos, religiosos,
diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizar os pobres e operários pela
participação e partilha na vida operária e no trabalho. Cf. Lc 4, 18- 19; Mc 6,
4; Mt 11, 4- 5; At 18, 3- 4; 20, 33- 35; 1 Cor 4, 12 e 9, 1- 27.
9 - Cônscios das exigências da justiça e da
caridade, e das suas relações mútuas, procuraremos transformar as obras de
“beneficiência” em obras sociais baseadas
ba caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as exigências, como
um humilde serviço dos organismos públicos competentes. Cf. Mt 25, 31- 46; Lc
13, 12- 14 e 33- 34.
10 - Poremos tudo em obra para que os
responsáveis pelo nosso governo e pelos nossos serviços públicos decidam e
ponham em prática as leis, as estruturas
e as instituições sociais necessárias
à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do ser humano
todo e de toda a humanidade, e, por aí, ao advento de uma outra ordem social,
nova, digna dos filhos e filhas de Deus. Cf. At 2, 44- 45; 4, 32- 35; 5, 4; 2
Cor 8 e 9 inteiros, 1 Tm 5, 16.
11 – Pelo fato de que compreendemos a colegialidade
dos bispos como a realização mais evangélica da missão, sentimos que devemos
assumir o encargo comum das massas humanas em estado de miséria física,
cultural e moral – dois terços da humanidade. Por isso, nos comprometemos:
- a participar, conforme nossos meios, dos
investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres;
- a requerer, junto ao
plano dos organismos internacionais, mas tessemunhando o Evangelho, como fez o
papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não
mais fabriquem nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim
permitam às massas pobres saírem de sua miséria.
12 - Comprometemo-nos a partilhar, na caridade
pastoral, nossa vida com nossos irmãos
em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério se
constitua como um verdadeiro serviço; assim:
- esforçar-nos-emos para
“revisar a nossa vida” com eles;
- suscitaremos colaboradores para serem mais
animadores segundo o espírito, do que chefes segundo o mundo;
procuraremos ser mais
humanamente presentes e acolhedores…
- mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual
for a sua religião. Cf.
13 – Tornados às nossas dioceses respectivas,
daremos a conhecer aos nosso diocesanos a nossa resolução, pedindo-lhes que nos
ajudem por sua compreensão, sua colaboração e suas preces.
Que Deus nos ajude a
sermos fiéis” [1].
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