domingo, 11 de novembro de 2012

Comentário ao Credo do Povo de Deus - II


Cremos em um só Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - Criador das coisas visíveis - como este mundo, onde se desenrola nossa vida passageira -, Criador das coisas invisíveis - como são os puros espíritos, que também chamamos anjos -, Criador igualmente, em cada homem, da alma espiritual e imortal.

Tantas vezes escutamos a afirmação que o Deus dos cristãos é o mesmo Deus dos judeus e dos muçulmanos. É verdade até certo ponto. Os cristãos receberam dos judeus a fé no Deus único: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é UM!” (Dt 6,4). Esse é o Deus que tudo criou, que se manifestou aos patriarcas, que deu a Lei e guiou Israel. É o mesmo Deus a quem os muçulmanos chamam Alá (= Deus, em árabe). Deus eterno, infinito, onipotente, santo, mais além e mais aquém de tudo, que tudo penetra e tudo sustenta e dá consistência. Deus é um: não pode ser dividido nem multiplicado; Dele nada se pode subtrair, a Ele nada se pode acrescentar, Nele nada há de mutável! Esta percepção de Deus é totalmente partilhada por judeus, cristãos e muçulmanos.
No entanto, nesta unidade perfeita, santa e absoluta, habita um mistério surpreendente: este Deus absolutamente único, perfeitamente único, simplesmente único, é ao mesmo tempo eternamente Pai que eternamente gera de Si, de Sua própria substância divina, o eternamente Filho, numa eterna geração de amor, que não é algo, mas Alguém, chamado Espírito Santo. Só para que se entenda um pouco mais: o Pai não é primeiro Deus para depois ser Pai... Ele só existe como Pai e ser Pai é o que faz o Seu existir; desse modo o Pai existe porque gera o Filho eterna e continuamente, como uma fonte, que só existe porque mana água. Do mesmo modo o Filho, somente existe sendo total e continuamente gerado pelo Pai, como a água brota ininterruptamente da fonte. Ainda da mesma maneira o Santo Espírito, que é a própria Geração, na qual o Pai gera e o Filho é gerado. Poderíamos dizer assim: o é o Gerante, outro o Gerado, outro a Geração; um é o Amante, outro é o Amado, outro ainda é o Amor. Os três são eternamente eternos, cada um dos três é totalmente a divindade toda. Um exemplo: eu não sou a humanidade toda: há bilhões de seres humanos além de mim, de modo que minha pessoa encarna apenas um mínimo modo de ser humano. Em Deus não: o Pai é todo Deus e toda Divindade está Nele completa e perfeitamente. O Filho é todo Deus e toda Divindade está totalmente Nele, completa e perfeitamente. Do mesmo modo o Santo Espírito: Nele está toda a Divindade, completa e perfeitamente. Pense no Pai: Ele não somente é todo Deus, mas também possui toda a Divindade; do mesmo modo o Filho: somente Ele é todo Deus e somente Ele tem toda a Divindade! E o mesmo se pode dizer do Espírito Santo: Ele é total e perfeitamente Deus e toda a Divindade está totalmente Nele! Assim, os Três são total e absolutamente uma só Divindade, mas um é o Gerante, outro é o Gerado e outro, a própria Geração. Os Três são um só e os Três são totalmente diversos um em relação aos outros dois: na Trindade só um pode gerar, só um pode ser gerado, só um é a própria Geração, toda presente no Gerante e no Gerado, como o Amor que está todo no Amante e todo no Amado!
Cremos, portanto em um só Deus – Pai, Filho e Espírito Santo! Um só é o Nome divino, acima de todo nome. Isto aparece no próprio modo como os cristãos invocam o seu Deus: nunca se diz “Em Nome do Pai, em Nome do Filho e em Nome do Espírito Santo”. Isto seria triteísmo, como se houvesse três pessoas divinas que são na verdade três deuses unidos infinitamente no amor e na comunhão. Esta não é e nunca foi e nunca será a fé da Igreja! Um só é o nome divino, que não pode ser repetido nem multiplicado! No Nome se exprime a Unidade infinita e nas Pessoas, a Trindade verdadeira, santa e consubstancial. Por isso mesmo, desde os primórdios, no momento do Batismo mergulhava-se o catecúmeno três vezes dizendo: “Eu te batizo em Nome do Pai ( e se mergulhava a primeira vez), e do Filho (segundo mergulho) e do Espírito Santo (terceira imersão). Mas, note-se: não se repeta nunca o vocábulo “nome”! Uma advertência prática: existe um “Em nome do Pai, em nome do Filho, em nome do Espírito Santo estamos aqui... para louvar, agradecer...” Esta fórmula, além de totalmente antilitúrgica é herética! Rompe com a norma da linguagem do cânon trinitário e exprime uma concepção triteísta da santa e indivisa Trindade. Essa multiplicação de “nomes” rompe totalmente o equilíbrio da fé no Deus Triuno e deve ser totalmente rejeitada!

 


Escrito por Dom Henrique 

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