A renovação permanente
A conversão pessoal e comunitária é o melhor
caminho da unidade e é o único modo das Igrejas se renovarem e exercerem
sua missão de diálogo com a humanidade
29/10/2012
Marcelo Barros
“A
Igreja reformada deve se reformar permanentemente”. Esta palavra de
Lutero é recordada em todo o mundo nesses dias em que a reforma
protestante completa mais um aniversário (31 de outubro) e prepara a
celebração dos seus 500 anos (2017). Neste ano do cinquentenário da
abertura do Concílio Vaticano II, podemos também comemorar os 50 anos da
primeira reunião oficial de bispos católicos em que cristãos de outras
Igrejas foram convidados como observadores e participantes. De fato,
naqueles anos, o Concílio mudou o clima de distância entre as confissões
diferentes e transformou irmãos separados em Igrejas irmãs. Isso teve
consequências importantes não só para as próprias Igrejas, mas para todo
o mundo. Os cristãos se uniram no apoio e participação em movimentos
como a luta contra o apartheid na África do Sul e pela paz e justiça no
mundo. Na América Latina, a teologia da libertação nasceu ecumênica e
foi aprofundada no diálogo entre teólogos/as católicos e evangélicos/as.
Em 1983, ao celebrar os 500 anos do nascimento do reformador Martinho
Lutero, o papa João Paulo II afirmou que Lutero é um mestre da fé para
todos os cristãos.
Se 31 de outubro foi a data
simbólica da divisão das Igrejas do Ocidente, essa mesma data marcou um
gesto importante de reconciliação e unidade. Neste dia, em 1999, a
Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial assinaram um acordo sobre
a justificação pela fé, ponto maior da divisão no século XVI e que,
hoje, não é mais motivo de divisão entre as Igrejas. Há menos de dois
anos, o papa Bento XVI visitou na Alemanha o mosteiro onde Lutero viveu
como monge agostiniano. Naquele lugar, junto com o presidente da
Federação Luterana Mundial, o papa afirmou que Lutero era um modelo da
pessoa crente que busca permanentemente a Deus, como nós todos somos
chamados a fazer. Atualmente, em vários lugares do mundo, exegetas
católicos e evangélicos trabalham e ensinam juntos as Sagradas
Escrituras. Teólogos católicos são professores em universidades de
teologia luterana e metodista. Ao mesmo tempo, professores evangélicos
são mestres em universidades católicas.
O modelo
de unidade que se deseja para as Igrejas não é o da uniformidade que, de
todas, faria uma super-Igreja única e poderosa. Já no século III,
Cipriano, bispo de Cartago, ensinava: “A unidade abole a divisão, mas
respeita as diferenças”. O Conselho Mundial de Igrejas que reúne 349
Igrejas em uma fraternidade congregacional propõe como modelo de unidade
“uma diversidade reconciliada”. No século XVI, ao pregar que a
renovação da Igreja deve ser permanente, Lutero recordava que Jesus nos
chama a uma contínua conversão de nossas vidas. A conversão pessoal e
comunitária é o melhor caminho da unidade e é o único modo das Igrejas
se renovarem e exercerem sua missão de diálogo com a humanidade. Jesus
pediu ao Pai que seus discípulos sejam unidos, para que o mundo possa
crer (Jo 17, 19- 21). Esse assunto interessa a toda a humanidade porque é
verdade o que afirmou o teólogo suíço Hans Kung: “O mundo não terá paz,
enquanto as religiões não aprenderem a dialogar e a conviver como irmãs
e, por várias razões culturais e sociais, isso não ocorrerá se as
Igrejas cristãs não derem logo o exemplo e não retomarem o caminho do
diálogo e da unidade”.
Marcelo Barros é monge beneditino.
Fonte: Brasil de Fato
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