Natureza espiritual
Há coisas que passam, devido à sua insignificância, e há fatos que ficam
na memória das pessoas, em razão de sua significação. A mente humana,
sabiamente, deleta do arquivo da memória aquele acervo de informações
que não mais é útil ao indivíduo, jogando-o na lixeira do esquecimento.
Por sua importância, conserva a memória daquilo que diz respeito ao
mundo de suas relações institucionais e pessoais. Nesse universo, sem
dúvida, deixam traços duradouros as relações das pessoas com o mundo de
sua convivência e do exercício de suas atividades; porém, realmente
duradouras são as experiências das relações interpessoais porque aí
falam mais alto a vida familiar e o círculo de amizade.
A memória de cada pessoa guarda, com especial destaque, sentimentos,
palavras e fatos que envolvem as pessoas mais próximas, pelos laços de
consanguinidade e de amizade. De muitas maneiras e nas mais diversas
circunstâncias, a memória se coloca diante de um passado mais ou menos
longínquo, envolvendo pessoas que continuam tocando o seu coração, com a
marca da saudade. Esse fato, mais do que um elemento puramente natural,
pode ser visto numa ótica mais profunda – a relação espiritual. “O
Homem, enquanto animal, ou seja, indivíduo dotado de estrutura biofísica
e capacidade sensitiva então nós temos de admitir que sua morte é uma
consequência natural do seu processo existencial: ser gerado, nascer,
crescer, amadurecer, envelhecer e morrer. Notemos que todos estes
momentos da existência humana são idênticos em qualquer animal, porém, o
Homem não se reduz a uma estrutura biofísica naturalmente direcionada à
morte física: ele é um ser espiritual em um corpo material vivente. De
fato, seu corpo físico só é ‘corpo’ humano por causa da alma espiritual
que nele habita como uma morada corruptível. (...) O homem, por sua
natureza também material, ‘deve’ morrer, mas por sua natureza também
espiritual, ‘não-precisa’ morrer.”
Humanamente, a morte de uma pessoa atinge a família e não é indiferente à
comunidade, em razão da separação definitiva que provoca. A celebração
de finados, no dia 2 de novembro, é um momento de memória coletiva,
marcado por tristeza e saudade. Todavia, os cristãos encontram o sentido
da vida, na memória de seus mortos porque o fazem fundamentados na
promessa da ressurreição que Jesus assegurou àqueles que nele creem.
(cf. Jo 11, 17-27)
Por sua origem e vocação, o ser humano não conhece os limites da morte
natural, como ensina a Sagrada Escritura: “Deus criou o homem para a
imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza”. (Sb 2,23)
Dom Genival Saraiva de França
é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional
de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão
Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz;
Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do
Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da
CNBB NE2.
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