Palavra revelada
Na Dei Verbum, um dos documentos
dogmáticos do Concílio Vaticano II, aparece a palavra “revelação” como
sendo a realidade do diálogo que acontece entre Deus e o seu povo. Na
visão conciliar, a iniciativa é sempre daquele que fala, a iniciativa é
de Deus, vindo ao encontro da criatura, que tinha se distanciado do
Criador.
Mas é um diálogo que supõe e espera
receptividade. Não basta somente Deus falar. Suas palavras devem ser
acolhidas pelas pessoas, tendo relevância na vida comunitária. Com isto,
o diálogo não se restringe apenas entre Deus e o povo, mas também entre
as pessoas em sua convivência localizada.
A compreensão da Palavra de Deus não é
fruto apenas de uma intuição da pessoa. Ela existe para ser formalizada
no encontro com Deus em Jesus Cristo, porque Ele é a Palavra eterna que
se fez carne e veio habitar entre as pessoas, no contexto do mundo
criado.
O distanciamento que temos de Deus é
fruto do pecado. Mas Deus não se distancia de sua criatura. Seu gesto
revelador se baseia no amor, dirigindo-se às pessoas como a amigos para
reatar a comunhão perdida. Sendo assim, podemos dizer que Deus se dá a
conhecer no diálogo.
Antes da Palavra escrita já havia a
iniciativa divina, certamente difícil de ser percebida. Com a Palavra já
formalizada na Sagrada Escritura, o caminho de encontro e diálogo
tornou-se muito mais evidente e possível. Há sempre um anseio, até
natural, de ambas as partes, de serem amados.
Na verdade, a Palavra tem força
transformadora e consegue conduzir as pessoas para o caminho da
salvação. Mas tem que ser escutada de coração acolhedor e aberto ao Deus
que fala. Ela é Palavra e ação divina, que diz e faz e consegue
apresentar-se como viva e eficaz.
A Palavra de Deus é eterna, que nos leva
à comunhão com o Pai, possibilitando nossa participação em sua vida. É a
íntima ligação com a vida trinitária, ocasionando vida fraterna. A
realização plena de tudo isto acontece quando pertencemos a uma
comunidade de vida na Igreja.
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo da Diocese de Uberaba.