domingo, 20 de janeiro de 2013







A mão estendida dos jovens em marcha, pintada no rosto, ou sobre o peito, quer chamar a atenção da sociedade para uma dura realidade vivida no Brasil. Esse símbolo grita: “Basta! Chega de violência e extermínio de jovens!”.
A Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens nasceu entre os anos 2008 e 2009. É uma ação coletiva das quatro pastorais da juventude atuantes no País – Pastoral da Juventude (PJ), Pastoral da Juventude Estudantil (PJE), Pastoral da Juventude Rural (PJR) e Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP).  Tem como objetivo articular ações para combater o avanço da violência sofrida pelos jovens.
Jovens que morrem – A Campanha vem chamar a atenção para o fato de que não se pode abordar o tema da violência apenas de maneira generalizada. “Muitas instâncias da sociedade não compreendem que a violência contra a juventude e pela juventude talvez seja um dos pontos centrais para discutir a violência de maneira geral na sociedade”, ressalta o jovem Francisco Antonio Crisóstomo de Oliveira (Thiesco), secretário nacional da PJ. Ele destaca que as recentes pesquisas sobre violência mostram que as taxas de criminalidade no Brasil, em boa parte, ou são os jovens os causadores, ou são eles os mais afetados.
De acordo com o Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil, publicado pelo Ministério da Justiça em parceria com o Instituto Sangari, o homicídio é a principal causa de morte de jovens entre 15 e 24 anos no País. No período entre os anos 1998 e 2008, enquanto 1,8% das mortes entre adultos foi causada por homicídios, no grupo jovem a taxa chegou a 39,7%. O estudo traz um diagnóstico sobre como a violência tem levado à morte os jovens nos grandes centros urbanos e também no interior do País. Em alguns estados a situação é mais grave. Alagoas, Espírito Santo e Pernambuco apresentam os piores índices, com mais de 100 vítimas a cada 100 mil jovens.
Já o Mapa da Violência 2012 – Crianças e Adolescentes do Brasil, estudo feito pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil), acrescentou às estatísticas a informação de que as mortes por assassinato entre os jovens negros no País são, proporcionalmente, duas vezes e meia maior do que entre os jovens brancos.
Políticas públicas – Esses números mostram que a violência que atinge os jovens não pode ser enfrentada apenas no âmbito da segurança pública, mas também por outras políticas, como educação, emprego, moradia, entre outras. A Campanha protagonizada pelos jovens também influenciou ações concretas do poder público. O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), que reúne diversas organizações da sociedade, como a PJ, possui um grupo de trabalho de enfrentamento e monitoramento das questões que dizem respeito à violência contra jovens com um foco especial  para a juventude negra. Esse grupo de trabalho motivou a Secretaria Nacional de Juventude e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial a criarem um plano do Governo Federal chamado Juventude Viva.
O Plano reúne ações de prevenção para reduzir a vulnerabilidade dos jovens a situações de violência, a partir da criação de oportunidades de inclusão social, serviços públicos e espaços de convivência em territórios que concentram altos índices de homicídio e do aprimoramento da atuação do Estado por meio do enfrentamento ao racismo institucional. Também o próprio Estatuto da Juventude, em tramitação no Senado, apresenta uma série de políticas que contribuem no combate à violência contra os jovens.
Extermínio – Alguns setores da sociedade não aderem completamente à Campanha, pelo fato de ela também denunciar que jovens estão sendo exterminados. “Quando trabalhamos a questão do extermínio, nós falamos da existência dos grupos de extermínio. Na nossa realidade, isso está muito ligado a grupos institucionais, como milícias, tráfico, em que até policiais participam. Esse foi um ponto que, de certa forma, atrapalhou na articulação da Campanha com alguns setores da sociedade”, explica Thiesco.
Um caso de extermínio recente em que a Pastoral da Juventude se engajou e tem articulado algumas ações em busca de Justiça foi a chacina ocorrida na região de Nova Iguaçu (RJ). No dia 8 de setembro, seis jovens, com idades entre 16 e 19 anos, foram sequestrados na Baixada Fluminense. Os corpos das vítimas foram encontrados dois dias depois, às margens da Rodovia Presidente Dutra, em Nova Iguaçu. Eles foram executados porque teriam sido identificados como moradores de um morro dominado por uma facção rival à dos 14 acusados pela chacina, ligada ao tráfico de drogas.
Dentro e fora da Igreja – Embora a Campanha tenha nascido nas pastorais eclesiais, vários movimentos sociais de dentro e de fora da Igreja aderiram à iniciativa. Nos últimos anos, a Campanha se expandiu pelo País de diversas formas, especialmente em marchas contra a violência, audiências públicas com os governos federal, estaduais e municipais, mas principalmente nas bases onde as PJs estão organizadas.
Em 2013, a Igreja dará mais destaque para a Juventude não apenas com a realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro (RJ), mas também com a Campanha da Fraternidade (CF), que terá como tema a Juventude. “Temos grandes possibilidades de promover debates nas comunidades, para apresentar a realidade juvenil brasileira e estimular um olhar para suas realidades locais”, ressalta Thiesco.
O jovem Thiesco também chama a atenção de todos para que essa não seja apenas uma preocupação da Juventude. “Quando falamos em violência e extermínio de jovens, deixamos de olhar para a dimensão da família, por exemplo, primeira célula da sociedade e da comunidade eclesial. Quantas famílias estão sendo esfaceladas pela violência! Que as famílias também possam se engajar nessa luta pela vida da juventude.” 
Fonte: Revista Família cristã

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