III Domingo do Tempo Comum - Comentário litúrgico
Introdução
É possível encontrar nos dois
textos (I leitura e o evangelho), as condições necessárias para se fazer uma
adequada celebração da Palavra. Por que dizer assim dessas leituras? Porque
elas conduzem a comunidade à reflexão e à revisão das celebrações que são
realizadas.
“Hoje”, “Palavra”, “realização”. São
três palavras que ressaltam o resumo feito pelo Mestre Jesus na sinagoga de
Nazaré, já começando sua vida pública. A Palavra de Deus é assim, ela fala hoje,
porque realizou maravilhas ontem, hoje e sempre.
A II leitura está sintonizada com o
tema enfatizado pelas leituras anteriores, porque no seu objetivo, é preciso
reforçar a fé e a prática dos discípulos missionários de Jesus Cristo, e, não
apenas satisfazer a curiosidade dos historiadores, nem tão pouco ficar esposada
nos museus, sendo maltratada pela poeira e pela traça, e sim para formar segundo a justiça (2 Tm 3,16).
Ø
I leitura (Neemias 8,2-6.8-10)
É impossível alcançar a narração
da I leitura de hoje, sem a devida compreensão do contexto histórico situado lá
pelos anos 444 a.C. Já se passaram mais de cem anos do retorno do povo
israelita do exílio da Babilônia. Mesmo
assim, esse povo ainda continua desorganizado e sofrendo muito. Liderados pelo
governador Neemias e pelo sacerdote Esdras, os repatriados tentam reconstruir o
país e conservar a própria identidade. Mas, para tanto, é preciso ter
instrumentos como: intermediários entre Deus e o povo e a Palavra, elementos
capazes de unir a comunidade em torno de objetivos comuns.
Os versículos aqui indicados
descrevem em detalhes a celebração da Palavra e suas consequências para chamar
a devida atenção dos ouvintes. Vejamos alguns subsídios importantes:
1.
Esdras
organiza a festa da Lei. Inicialmente convoca
em assembleia sagrada todas as pessoas capazes de entender e, desde o raiar
do sol até o meio-dia”, faz a leitura do livro da Lei (VV 2-3). É interessante,
ninguém falta a convocação, ninguém reclama porque está demorando. Enquanto
isso, não são poucos os que vão para as nossas missas, reclamando porque passou
uma hora e meia de celebração. Talvez não saibam que o compromisso fundamental
de um verdadeiro cristão é o de alimentar a própria fé, junto com os irmãos da
sua comunidade, através da escuta da Palavra, acompanhada de uma boa catequese.
2.
A Palavra de Deus suscita
comunidade. Trata-se do núcleo central do Deuteronômio, a
lei do Estado para Israel. Tudo se torna novo. Por isso, exige renovação da
aliança. É, portanto, uma leitura solene da lei do Senhor.
3.
A Palavra de Deus torna-se o
núcleo de atenção da comunidade.
Os ouvintes prestam atenção ao que está sendo lido. A Palavra é ouvida. Hoje,
será que a Palavra de Deus tem tanta importância assim para os que se dizem
católicos praticantes?
4.
A Palavra de Deus provoca reações
nos membros da comunidade. Todos
ficam de pé (v.5), todos erguem as mãos e proclamam “amém, amém”! Todos se
ajoelham e se inclinam até o chão diante do Senhor (v. 6). A palavra é aclamada
e Deus é adorado. Nos dias atuais, é uma luta para muitos dos nossos se
ajoelharem. É preciso que se peça. Aliás, alguns chegam a ficar chateados. Que
coisa!
5.
A Palavra de Deus provoca atitude
de partilha. Que
estranho, o povo começa a chorar! É que a Palavra ajuda o povo a fazer a devida
retrospectiva. Ela ajuda a reconstruir a história, sendo força, luz e esperança.
E isso gera “a alegria do Senhor”, que é segurança para a comunidade!
Conclusão: Os levitas dizem ao
povo: “Comam..., tomem bebidas..., porque este é um dia consagrado ao Senhor”
(v. 10). A partilha dos bens, sugerida pela interpretação da Palavra de Deus,
leva a comunidade à criação de uma sociedade alternativa, isto é, como o
Projeto de Deus: “Vida em abundância para todos”.
Evangelho
(Lc 1,1-4; 4,14-21)
Para cada ano litúrgico é
indicado um Evangelista; neste ano, seremos acompanhados por São Lucas. Por
tratar-se do Tempo Comum, é, portanto, compreensível que nos seja proposto o
prólogo (introdução) a este Evangelho.
Lucas dedicou o seu Evangelho ao
“excelentíssimo Teófilo” (nome que significa “amigo de Deus”). O trecho nos
situa aproximadamente lá pelos anos 80 d.C. , e trás como preocupação a solidez
e a credibilidade do que está para apresentar: fez um estudo cuidadoso de tudo
o que aconteceu desde o princípio, a fim
de escrever uma narração bem ordenada (v. 3).
a) O objetivo da sua obra é dar
bases sólidas à fé dos cristãos das suas comunidades (v.4). O que quer
dizer tal afirmação? Vejamos bem: ninguém pode ser obrigado, por meio de
argumentos, acreditar que Jesus é o Senhor. Todavia, a fé não pode ser trocada
por crendices (cavilações, superstições) e desprovidas de provas científicas. É
preciso aprofundar a própria adesão a Jesus Cristo. Como? Com a palavra o próprio
Lucas – é preciso ler atentamente, página por página, o seu Evangelho.
É este o convite que nos é proposto
para este ano. É preciso, portanto, participar com seriedade das celebrações,
sobretudo no domingo, para que se chegue verdadeiramente à fé cristã. Cuidado:
Assim, sim, começaremos a ser “Teófilo”, ou seja, “amigos de Deus”.
b) A
segunda parte da passagem deste dia (Lc 4, 14-21) apresenta-nos o começo da
vida pública de Jesus. Participando da vida de seu povo, num dia de sábado,
durante a celebração da Palavra na Sinagoga de Nazaré, ele anuncia o programa
do seu ministério: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me
consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres...”.
O programa de Jesus beneficia sem
reserva alguma os pobres. Quem são eles? Os anawim,
isto é, os que vivem à margem da sociedade, as “massas sobrantes”. Jesus é
parceiro, é aliado dos pobres, é seu libertador. Nisto consiste a Boa Nova por
ele anunciada: presos soltos, cegos enxergando, oprimidos libertados. O programa
de Jesus consiste não só a libertação dos marginalizados, mas sua plena
reintegração na sociedade, com a recuperação plena de tudo aquilo do qual foram
defraudados. Essa é a evangelização de Jesus: Não consiste nas palavras,
doutrinação, conceitos, dogmas, documentos, mas numa prática que leve as
pessoas marginalizadas à posse da vida plena. Essa deve ser a nossa
evangelização (Boa Nova). Então, por que ainda há tantos marginalizados no
Brasil, no nosso Estado, nas nossas cidades, nas nossas portas? Não teremos
nós, como cristãos que somos, alguma culpa por não utilizarmos os verdadeiros
sentimentos de Cristo Jesus?
II
Leitura (I Cor 12,12-30)
A comunidade é convida a
continuar a ler o capítulo 12 da I Carta aos Coríntios. No domingo passado,
Paulo havia insistido em que as diferenças de dons, ministérios e atividades
são significam desigualdade, porque tudo deve colaborar para o bem comum.
Neste domingo, Paulo mostra quem
é quem nas comunidades, usando a metáfora do corpo. O apóstolo usa a temática
sobre o corpo, tendo um olhar na imagem do corpo físico e outro na imagem do
corpo social. Por isso Paulo afirma: “Deus distribuiu os membros do corpo dando
maior honra ao que é menos digno, para não haver divisão no corpo, e para todas
as partes se preocuparem igualmente umas com as outras”).
Está definido, portanto, quem é
importante na comunidade: todos, cada qual com seu dom. Cuidado, o outro, assim
como é, é o grande dom de Deus para a comunidade. Se alguém tem o costume feio,
por isso pecaminoso, de querer fazer tudo sozinho, sem considerar os outros
como capazes e importantes, por isso também necessários, converta-se!
Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco da Paróquia da Imaculada
Conceição de Nova Cruz - RN
Fonte: Pascom Nova Cruz
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