segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Paróquias humanizadas


Paróquias humanizadas
As paróquias, desde os primeiros tempos da Igreja, foram instrumentos de veiculação da ação evangelizadora. Eram as células que formavam a estrutura visível da Diocese. Elas vieram a ser a forma visível das experiências comunitárias dos fieis convertidos e vinculados pela mesma fé e com os mesmos pastores. Elas, as paróquias, seriam, desde o princípio, as veias da irradiação da ação pastoral e evangelizadora da igreja, temporalmente instituída e reconhecida como realidade necessária para a organização visível da maior e mais bem estruturada instituição do Ocidente.
O Concílio Vaticano II, cujo cinquentenário estamos a celebrar, nos ofereceu a eclesiologia pastoral para pensarmos a paróquia como uma realidade mais humanizada e lugar de encontro e formação da comunidade (Ad. Gentes, 15). O Código de Direito Canônico a conceitua como “uma determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja Particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco como seu pastor próprio, sob a autoridade do Bispo diocesano (Can. 515). A menção da figura do pároco é sumamente importante para que seja acentuado o nosso propósito. As constituições canônicas enfatizam quais são as principais responsabilidades desta figura, como pastor próprio da paróquia, ao tipificar nos números 528-530 o que deve ser realizado para o bem espiritual dos fiéis que compõem a paróquia e a sua promoção humana sob a responsabilidade do pároco. Estes cânones deveriam ser lidos e meditados por todos os presbíteros e fiéis católicos que estão na circunscrição duma paróquia.
Não podemos deixar de lado as nossas preocupações com as ações e os novos métodos da ação evangelizadora. Mas, devido a outros ideais e mentalidades, fruto das revoluções, que influenciaram fortemente as práticas “pastoralistas” da igreja na modernidade, foi deixado de lado, na maioria das paróquias, o aspecto humanizante e místico das originais finalidades da existência das células. O que mais nos impressiona é que as pessoas estão a buscar em muitas outras formas de viver a fé, o que não poderíamos ter deixado de oferecer nas paróquias. As pessoas continuam a esperar que nas paróquias sejam oferecidos os meios para sua santificação e alimento da sua fé, para o dinamismo da caminhada. Nas paróquias, sem desmerecer, nem deixar de realizar as várias práticas pastorais, necessitamos retomar a importância da mística e de práticas fraternas e acolhedoras da comunidade. Precisamos ser o diferencial das nossas comunidades. Quando cada paróquia valoriza os membros que a compõem, como centro de tudo o que é celebrado e realizado por ela, conseguirá realizar o fim para o qual existe, já que neste momento crítico da nossa história, elas devem ser “células vivas da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial” (DAp, 170). Devemos tomar muito cuidado para não deixarmos, principalmente como responsáveis primeiros pelas ações missionárias e pastorais, nas e das paróquias, de ficar em segundo plano o que precisamos fazer para que tenhamos um processo autêntico de Nova Evangelização, que, sem dúvida, só acontecerá se a pessoa humana for o centro do nosso dinamismo missionário. Não entremos nos pormenores, mas a V Conferência de Aparecida nos trouxe orientações fantásticas para a renovação das estruturas paroquiais. Precisamos ir e beber na fonte das suas conclusões. Muitos e grandiosos desafios nos são postos nas atuais circunstâncias; contudo, podemos estar cientes duma questão: ou nos preocupamos com um “Cristianismo de qualidade”, que una fé e testemunho de todos nós, batizados, ou veremos, com mais clarividência, o abandono da fé de muitos batizados, que se tornam cada vez mais indiferentes aos valores da Palavra de Deus. As paróquias continuam a ser instrumentos valiosíssimos para nossa missão.
Por fim, tenhamos atitudes mais humanas e de acolhimento em todas as realidades paroquiais, pelo anúncio da Palavra, celebração dos sacramentos, especialmente os da Eucaristia e da Penitência, e o fortalecimento da comunhão e da missão permanente. Assim o seja!
Pe. Matias Soares
Pároco de São José de Mipibu-RN e Vig. Episcopal Sul.        


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