Conversa, domingo 02 de setembro 2012
Através do meu irmão e amigo, o padre João Pubben, acabo de saber da passagem definitiva do Cardeal Carlo Maria Martini, que conheci como arcebispo de Milão no começo dos anos 90. Um homem excepcional. Uma vez, escreveram um livro coletivo sobre as pessoas que marcaram o século XX. Havia um capítulo dedicado ao papa João XXIII. Não me lembro o nome do autor, mas o título chamava a atenção: "João XXIII: finalmente, um cristão no Vaticano". Lembro-me desse título ao me recordar do cardeal Martini. Não que ele fosse um homem do Vaticano. Nunca foi. Jesuíta, era exegeta e dirigiu o Instituto Bíblico em Roma. De lá foi nomeado arcebispo de Milão e se tornou cardeal. Distinguiu-se por ser um humanista aberto e homem de diálogo. Em Milão, fundou uma cátedra sobre o diálogo da fé com os não crentes. E de fato manteve diálogo com vários filósofos e intelectuais importantes. Em
Roma, não era muito estimado, nem pelo atual papa nem pelo anterior. Mas, sempre o respeitaram, por causa de sua profunda integridade e pela profundidade do seu pensamento. No ano 2000, propôs abertamente que o papa convocasse um novo concílio ecumênico para renovar a Igreja e inseri-la no século XXI. Depois, como percebeu que, em Roma, a cúria nunca aceitaria a sua proposta e se a acolhesse, a transformaria tanto que ela perderia seu objetivo, ele propôs não mais um concílio (que seria só de bispos e teria de ser convocado pelo papa), mas um fórum ecumênico mundial e que integrasse todos os que crêem. O tema seria o já proposto por um teólogo dos anos 40 (Bonhoeffer): "Paz, justiça e defesa da natureza". Creio que um dia, ao estudar nossa época, os historiadores do futuro mostrarão a importância que teve para a nossa Igreja a presença e a atuação de um homem como o Cardeal Martini. Que descanse em paz. E a sua herança profética permaneça viva e atuante.
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