sábado, 5 de janeiro de 2013

Domingo da Epifania do Senhor - comentário litúrgico


O Messias além de qualquer fronteira
1.    Introdução
O Evangelho quer mostrar antes de tudo que, enquanto os poderes político e religioso judaicos ficaram desapontados com a chegada de Jesus, os de fora, os de longe, os descrentes vêm fazer-lhe a mais sincera homenagem. Ainda bem que Ele não é propriedade de um povo, não. Ele veio para qualquer um; Ele veio para todos (cf. Vida Pastoral, janeiro-fevereiro de 2013, p. 39).
Dizem, e é verdade que, de quando em vês, algumas atitudes de determinadas pessoas que se dizem católicas, inclusive de comunhões diárias, falam pouco, ou quase nada do que vem a ser cristão, em relação a outros que não professam a nossa fé. Aliás, diga-se de passagem, é lamentável, o demonstrável testemunho hipócrita.
Se for assim, como é difícil a mentalidade mesmo de quem é bom e sinceramente católico. Tem razão a afirmação do profeta: “Os que não creem tem em comum com os que creem que o Senhor acredita neles” (Dom Helder).
§  I leitura (Is 60,1-6)
Pelo menos duas proposições são necessárias para que se compreenda o texto da primeira leitura: uma histórica e outra geográfica. Vamos à primeira.
Na primeira leitura do dia de Natal, leu-se a respeito dos dramáticos acontecimentos que, no ano de 587 a.C., levaram Jerusalém a uma terrível destruição.
Aos olhos do profeta, essa cidade humilhada, parece uma viúva arruinada, uma mãe desolada pelos filhos, após terem sidos deportados para uma terra estranha. Que situação humilhante para aquela que fora considerada a “Senhora das nações” (Lm 1,1), “o orgulho de todo o universo” (Is 62,7), agora vê-se transformada numa escrava idosa, decadente e abatida.
E agora a proposição geográfica: Para quem já foi a Jerusalém deve ter constatado que, sua localização está entre dois vales: o Geena e o Cedron. “De manhã, quando desponta o sol, a cidade logo fica envolvida por uma maravilhosa luminosidade, ao passo que os vales ao redor continuam envolto nas trevas da noite”.
É nesse contexto histórico e geográfico, transformado em símbolo pelo espetáculo natural, que o profeta Isaías lança a sua visão: Eis a despontar fulgurantes e esplendorosos os raios solares iluminadores da cidade.
E, agora, os que tinham sido levados como cativos e posteriormente se espalharam pelo mundo estão chegando de Jerusalém, vindos das mais distantes nações, celebrando a festa do retorno para casa.
Vale, aqui, salientar, a frase do escritor notável e político paraibano José Américo de Almeida, de que “voltar é uma forma de renascer e ninguém se perde no caminho da volta”.
Assim, sim, está aberto o caminho para entender o significado mais profundo da festa de hoje.
§  Evangelho (Mt 2,1-12)
                O episódio que vamos ouvir e refletir no evangelho é o motivo da festa da Epifania.
- Os magos, quem são eles?
Comecemos pelos magos. De partida, está comprovado de que eles desfrutam de muita popularidade: Tem-se a prova, quanto à afirmação feita que, já desde 150 anos depois do nascimento do Filho de Deus, nos cemitérios cristãos começa a ser reproduzida a sua efígie (cf. Fernando Armellini, celebrando a Palavra, ano c, p. 74).
                Contudo, o que nos parece, é que os cristãos reclamam da escassez de detalhes a respeito dos magos: De onde vinham: Da [África?], Da [Ásia?], Da [Europa?].  Quantos eram? A que cultura pertenciam: (um era branco?), (outro era amarelo?), (o outro era negro?). Como se chamavam: Gaspar? Melquior? Baltazar? Que meio de transporte usaram? O que fizeram depois de terem voltado para sua terra? Onde estão sepultados? Eram santos? Eram reis?
                Como responder a cada questão? Evidentemente, trata-se de histórias. É preciso ir ao ponto essencial tratado por Mateus. Porém, é preciso esclarecer algumas questões: Primeiro, os magos não eram reis. Certamente pertenciam a um grupo de pessoas que interpretavam sonhos, observavam o curso dos astros e, que sabiam ler a vontade de Deus através dos acontecimentos da vida.
                E sobre a estrela? Quanto à estrela, acreditava-se, na antiguidade, que quando nascia uma pessoa destinada a uma determinada missão, ao mesmo tempo surgia uma estrela no céu. Na verdade, essas ideias eram bastante familiares tanto para Mateus, quanto para os seus leitores.
                O interessante é que, somando Magos do Oriente com a estrela, o evangelista quer nos dizer que finalmente chegou o esperado salvador da estirpe de Jacó. É Jesus, o adorado pelos magos. É Ele, Jesus, a estrela. Basta!
                Guiados pela estrela, chegam a Belém; (com um detalhe, ela só reaparece depois que se afastaram de Herodes e de Jerusalém), chegam a Belém e encontram o menino. Nesse menino reconhecem o Rei que faz justiça, e se prostram diante dele. Realmente, os magos veem “o menino e a mãe”, prostram-se e oferecem tributos.
                O gesto de reconhecimento é seguido da oferta do que há de melhor em seus países: ouro, incenso e mirra. Porque servir a esse rei e pagar-lhe tributo? Porque ele é o rei que faz justiça.
                O texto termina mostrando um detalhe: Os magos voltam por outro caminho, que o discernimento lhes indicou. Romperam com Herodes e com Jerusalém. O texto diz que foram “avisados em sonhos”. Como entender isso? O sonho dos magos é a inspiração de que do poder opressor nada nasce de bom para a sociedade.
                A atitude dos magos nos ajuda a discernir a nossa opção, se será por Herodes, o defensor das esperanças perdidas e patrocinadas pelo anti-reino, por isso defensoras do mal; ou se será pela esperança verdadeira, capaz de indicar a certeza da salvação, patrocinada pela justiça em pessoa, Jesus, a alternativa tão aguardada por todos.
§  II leitura (Ef 3,2-3a.5-6)
               Nessa leitura, encontramos também o principal significado da festa de hoje.
                Mediante o Evangelho todos são chamados à vida e à liberdade trazidas por Jesus. É disso que Paulo se torna anunciador missionário, dedicando sua vida à evangelização dos pagãos. Daí, então, não só os israelitas, não só os judeus, mas também os pagãos são, a partir da prática de Jesus e de Paulo, co-herdeiros. A salvação é acessível, como oferta graciosa de Jesus, a todos, sem discriminação. Como precisamos corrigir nossa consciência cristã ainda bastante tacanha e pêca!
Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco da Paróquia Imaculada Conceição
Nova Cruz - RN (Fonte: Pascom Nova Cruz)

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