sábado, 13 de outubro de 2012

Home > Igreja > 2012-10-13 10:48:31



Uma floresta, em Israel, em memória do cardeal Martini


Por iniciativa do Rabino italiano Giuseppe Laras em colaboração com a Fundação Cultural (católica) S. Fedele (de Milão) e com o Fundo Nacional Hebraico, foi aberta uma subscrição pública com o objectivo de plantar em Israel uma floresta em memória do Cardeal Carlo Maria Martini. Já existem em Israel florestas plantadas em honra de alguns papas (João XXII, João Paulo II e Bento XVI). Neste caso será em memória de um grande Cardeal.
É a primeira vez que uma instituição hebraica em colaboração com instituições cristãs promove uma iniciativa deste tipo. O Rabino Laras fez questão de envolver cristãos e hebreus, para organizarem juntos o acontecimento. Oferecendo árvores em memória do Cardeal Martini qualquer pessoa de boa vontade poderá participar na iniciativa. A floresta de alguns milhares de árvores surgirá em Tiberíade na Galileia, localidade muito amada pelo Cardeal e com uma carga simbólica muito forte quer para hebreus quer para cristãos.
Como afirmou o Padre Lino Dian , superior da Comunidade dos Jesuítas de S. Fedele, na apresentação do projeto, é muito significativo a iniciativa tenha sido apresentada por ocasião dos 50 anos do início do Concílio Vaticano II. É muito belo recordar o Cardeal Martini plantando uma floresta que irá simbolizar um dos melhores frutos do Concílio como é o diálogo hebraico - cristão. (fonte: Rádio Vaticano)


  Home > Cultura e sociedade > 12/10/2012 13:45:22



No Compasso do Brasil: Vinícius de Moraes e a Arca de Noé


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Cidade do Vaticano (RV) – Na semana passada abrimos espaço para Vinícius de Moraes e sua trajetória na poesia e na música – se é possível separá-las. Desta vez, nosso convidado Zé Galia conta e canta histórias e músicas da fase infantil de Vinícius de Moraes, cuja marca indelével veio com a gravação do disco “A Arca de Noé”, que contou com as vozes dos maiores nomes da MPB, como Elis Regina.

“Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...”. Por muitas gerações a música “A Casa” embalou sonhos das crianças – e não só. Muitos adultos também foram contagiados pela poesia musicada de Vinícius de Moraes. Mas você sabe como Vinícius acabou escrevendo essa música? De onde veio a inspiração do “Poetinha”?

O tema é o lado infantil de Vinícius de Moraes e, como explica Zé Galia, em uma música em especial ele deixa transparecer exatamente quem é Vinícius. Seja na poesia, na música, no cinema ou nos trabalhos diplomáticos, Vinícius nunca foi tão “ele mesmo” quanto nas letras da Arca de Noé. Mas, além disso, você sabia que o único filme brasileiro vencedor de um Oscar de filme estrangeiro foi inspirado numa peça de Vinícius?

Entre muitas histórias e acordes, os Estúdios da Rádio Vaticano por dez minutos se transformam em um pedacinho de Brasil. Música de qualidade e informação para quem não esquece os tempos em que a música brasileira era muito mais do que tchu tchu tcha tcha...
(RB)
   Home > Sínodo > 13/10/2012 11:00:15



Presidente da Pontifícia Academia das Ciências no Sínodo: ciência e fé se complementam


Cidade do Vaticano (RV) - Conclui-se neste sábado a primeira semana de trabalhos do Sínodo dos Bispos, dedicado à nova evangelização. Na programação de hoje, a continuação da discussão geral na Sala do Sínodo.

Já na tarde desta sexta-feira os Padres sinodais ouviram o pronunciamento do Dr. Werner Arber, presente na Assembléia como convidado especial. Prêmio Nobel para a medicina em 1978, em 2011 Arber foi nomeado por Bento XVI presidente da Pontifícia Academia das Ciências, primeiro protestante a desempenhar tal encargo. As relações entre ciência e fé estiveram no centro de seu pronunciamento.

Ciência e fé são e devem continuar sendo elementos complementares para o conhecimento humano: esse foi o ponto focal do pronunciamento de Arber. Um discurso técnico, mas também muito humano, baseado na consciência de que a ciência "até agora não conseguiu encontrar respostas pertinentes" a todas as interrogações do homem, sobretudo àquelas que "transcendem a esfera natural". Papel que, ao invés, os credos religiosos podem desempenhar.

Bento XVI encontrava-se presente na Sala do Sínodo e ouviu com atenção o presidente da Pontifícia Academia das Ciências citar o Gênesis para demonstrar que desde então existia uma concordância entre fé e ciência, porque o Antigo Testamento traz uma sequência lógica de eventos possíveis para a criação da vida.

O presidente da Pontifícia Academia das Ciências afirmou que "até então a ciência ainda não tem uma noção precisa dos fundamentos da vida", ou melhor, da chamada "criação do nada", a qual permanece "matéria a ser tratada mediante a filosofia".

E mesmo considerando que possa existir vida em outros planetas, o Nobel chamou a atenção: falta a evidência científica dessa hipótese.

Mas a que serve hoje a ciência? Arber o disse claramente: a ciência abre a novas aplicações tecnológicas que melhoram a vida e o ambiente do homem, plasmando o seu futuro. Nessa ótica, portanto, Igreja, sociedade civil, economia e ciência são chamadas a assumir a co-responsabilidade de estabelecer uma nova concepção do futuro que comporte benefícios a longo prazo para toda a humanidade.

Para alcançar esse resultado é preciso que as sociedades modernas respeitem regras de conduta oportunas, facilmente aceitáveis se radicadas na fé religiosa. No fundo, afirmou Arber, também Jesus seria favorável à aplicação da ciência para o bem da humanidade e no respeito pelas leis da natureza.

As plantas transgênicas são um exemplo prático de tal princípio: métodos adotados para criá-las seguem as leis naturais da evolução biológica, explicou Arber, e não comportam riscos ligados à engenharia genética.

Portanto, nessa ótica poderiam realmente mitigar o problema da fome no mundo, em vista de um futuro em que o desenvolvimento seja seguro, responsável e sustentável. (RL)
Home > Sínodo > 2012-10-13 11:01:19




Muitos e diversificados os temas abordados no Sínodo dos Bispos


Vizinhança e solidariedade para com a Nigéria, com votos de que a religião não seja manipulada pela política mas seja um instrumento de paz. Este o pensamento expresso sexta de manhã pelo Sínodo dos Bispos, que decorre no Vaticano sob o tema da nova evangelização. Na ordem do dia esteve também o escândalo dos abusos sexuais que, no dizer da Assembleia, não se deve ter medo de reconhecer.

Uma oração pela Nigéria, particularmente pelo Norte do País, cenário de numerosos e prolongados conflitos: se abre assim a sétima Congregação geral do Sínodo dos Bispos. Os Prelados exprimem vizinhança e solidariedade para com a Igreja nigeriana que se tem esforçado por promover a paz e a justiça, na esperança que a religião não seja manipulada para fins políticos ou de certos grupos, mas seja realmente um instrumento de reconciliação.

Em seguida, as atenções da Assembleia episcopal fixam-se no escândalo dos abusos sexuais. Não se deve ter medo de reconhecê-los, dizem os Bispos, antes pelo contrário: a nova evangelização não deve esquecer as vítimas de tais abusos, mas sim escutá-las, procurando compreender a sua dor e desconfiança. O que se deve fazer, continuam os prelados, é criar ambientes sãos para as crianças e os mais vulneráveis. Para tal precisamos de uma mudança na mentalidade e nas estruturas da Igreja, juntamente com uma maior participação das mulheres.

Outro tema particularmente sentido pela Assembleia é o do sacerdócio: crise da fé e crise das vocações são interligadas, dizem os Bispos, talvez também por causa da própria Igreja já não se apaixonar como no passado pela pregação de Cristo. A escolha vocacional não deve ser interesseira, mas deve ser uma opção preferencial por Cristo: se a mensagem do evangelho já não é atraente para os fiéis é talvez porque já não o é para os próprios sacerdotes, suspeita o Sínodo.

O pensamento dos Bispos vai, depois, aos mais pobres, incluindo os que o são no espírito, discriminados pela sociedade por razões de raça, género, casta. Hoje em dia, quando o eixo da cristandade se vai deslocando cada vez mais para os países em desenvolvimento, sublinham os prelados, a atenção aos marginalizados deve ser o primeiro ponto da agenda da nova evangelização.

E ainda: o Sínodo enfrenta o tema das relações entre a ciência e a fé, confirmando que elas são distintas mas não contrapostas, já que é único o seu objecto, ou seja, o ser humano. É, por conseguinte, indispensável, um diálogo recíproco livre de arrogância e confusão das respectivas abordagens.

No mesmo contexto, a Assembleia episcopal enfrenta a emergência educativa: hoje, as escolas e as universidades, sobretudo as católicas, são sempre mais submetidas ao controlo do Estado, que impõe a sua visão através dos programas, os livros de texto e a formação dos docentes, definida um verdadeiro “cavalo de Tróia”. Em muitos casos, no Ocidente, isto tem provocado uma espécie de descristianização, e é pois urgente que a Igreja promova o diálogo entre a fé e a cultura, envolvendo na actividade formativa as famílias e os outros centros educativos, como os centros paroquiais.
Ainda no âmbito da secularização, a Aula do Sínodo reconhece o sucesso do Átrio dos Gentios, iniciativa lançada pelo Papa e promovida pelo Pontifício Conselho da Cultura para favorecer o diálogo com os não crentes que não conhecem a Deus mas que, no fundo, O procuram. É igualmente fundamental um outro tipo de diálogo: o diálogo inter-religioso, sobretudo lá onde ele se declina como cristão-islâmico. Neste âmbito, tal diálogo deve ser visto essencialmente como um diálogo de vida, no coração do testemunho evangélico.

Os temas que tinham dominado a discussão geral de quinta à tarde foram, pelo contrário, dois: as paróquias e os mass media. Em relação às primeiras, os Bispos as definem “lugares privilegiados” para a nova evangelização e a transmissão da fé, porque sem um novo impulso missionário das comunidades paroquiais, será difícil viver uma nova evangelização radical.
Quanto aos mass media, o Sínodo pede aos Pastores, professores e catequistas de compreender melhor o desafio de evangelizar num mundo em que a comunicação de massa tem poder sobre a esfera religiosa e moral do homem. Não é suficiente, sublinham os Bispos, que a Igreja tenha os seus próprios mass media ou que promova filmes religiosos: o que se deve fazer é aproximar os fiéis à natureza do mistério da fé como antídoto à espectacularização da realidade. Mais concretamente, para ser evangelizadora a Igreja deve ser mediática. E os jornalistas, chamados a ascender no homem a esperança através da verdade, devem sentir-se como capitães de um navio, para salvar a humanidade do mar do secularismo contemporâneo.

A Assembleia dos Bispos não esquece os doentes e todos os que sofrem, e sublinha a necessidade de incluir, no projecto evangelizador, o cuidado pelos enfermos e o alívio dos sofrimentos, olhando para a Igreja como comunidade regenerada pelo Senhor e por sua vez também regeneradora. Também os jovens não são negligenciados pelo Sínodo: entre os destinatários da nova evangelização, esses ocupam um lugar primário porque, mesmo que distantes da prática religiosa, levam no coração a fome de Deus. A atenção dos Prelados vai, particularmente, aos filhos de casais divorciados e que voltaram a casar, que muitas vezes permanecem alheios aos sacramentos por causa da não participação dos seus pais. E é aqui, então, onde é necessária uma transformação no sentido da caridade pastoral e uma reflexão sobre os modos e os tempos necessários para o reconhecimento da nulidade do vínculo matrimonial.

   Home > Igreja > 13/10/2012 11:07:11




Ano da Fé


Cidade do Vaticano (RV) -* O Papa Bento XVI, sabiamente, instala nas comemorações da abertura do Cinquentenário do Concílio Ecumênico Vaticano II e o vigésimo ano do Catecismo da Igreja Católica o “ANO DA FÉ”. Este evento será celebrado de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013. É mais uma oportunidade para que os católicos voltem um olhar mais apurado aos valores das doutrinas, revendo os Documentos do Concílio e as orientações presentes no Catecismo da Igreja Católica. É um excelente período para o conhecimento dos valores presentes no depósito da fé. A primeira vez que foi proclamado o “Ano da Fé” foi em 1967, instalado pelo Servo de Deus Papa Paulo VI, por ocasião do décimo nono aniversário do martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo.

É importante refletir sobre a necessidade de construir a fé nos ambientes onde o absolutismo toma conta, lá onde as pessoas perderam as esperanças, contaminadas por uma cultura laxista e indiferente. Ver-se-á, então, que a fé vem reforçar os laços humanos e com Deus para reconstruir a humanidade muitas vezes desorientada pelo abandono dos valores ensinados por Jesus Cristo.

O Papa Bento XVI chama a atenção dos cristãos: têm “maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária”. (Porta Fidei, 2). Ele lembra também que onde a fé é viva, a cultura cristã não se torna passado.

Trata-se de se recuperar um olhar para a “fé de sempre” e transmiti-la para as gerações futuras. Por isso, acontece neste mês em Roma o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã. Na História da Igreja, os Papas sempre exortaram o rebanho de Cristo com Decretos, Bulas, Cartas Apostólicas, Encíclicas e Mensagens para que os católicos alimentem cada vez mais a fé e a transmitam aos outros pelo ensinamento e pelo testemunho. É por isto que o Papa Bento XVI instala com um Decreto – Porta Fidei – este “Ano da Fé”.
As orientações da Congregação para a Doutrina da Fé colocam que ente as atividades mundiais para se viver neste “ano da fé” é a Jornada Mundial da Juventude, que teremos a alegria de acolher em nosso país e em nossa cidade.

Na ocasião da celebração do “Ano da Fé”, o Papa convida para que os católicos recebam a Indulgência Plenária, conforme orientações do seu Decreto. Veja abaixo alguns elementos dessa orientação papal:
Ao longo de todo o Ano da Fé, proclamado de 11 de outubro de 2012 até o fim do dia 24 de novembro de 2013, poderão alcançar a Indulgência Plenária da pena temporal para os próprios pecados, concedida pela misericórdia de Deus, aplicável em sufrágio pelas almas dos fiéis defuntos, a todos os fiéis deveras arrependidos, que se confessem de modo devido, comunguem sacramentalmente e orem segundo as intenções do Sumo Pontífice:

A) Cada vez que participarem em pelo menos três momentos de pregações durante as Missões Sagradas, ou então em pelo menos três lições sobre as Atas do Concílio Vaticano II e sobre os Artigos do Catecismo da Igreja Católica, em qualquer igreja ou lugar idóneo;
B) Cada vez que visitarem em forma de peregrinação uma Basílica Papal, uma catacumba cristã, uma Igreja Catedral, um lugar sagrado, designado pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. entre as Basílicas Menores e os Santuários dedicados à Bem-Aventurada Virgem Maria, aos Santos Apóstolos e aos Santos Padroeiros) e ali participarem nalguma função sagrada ou pelo menos passarem um tempo côngruo de recolhimento com meditações piedosas, concluindo com a recitação do Pai-Nosso, a Profissão de Fé de qualquer forma legítima, as invocações à Bem-Aventurada Virgem Maria e, segundo o caso, aos Santos Apóstolos ou Padroeiros;

C) Cada vez que, nos dias determinados pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. nas solenidades do Senhor, da Bem-Aventurada Virgem Maria, nas festas dos Santos Apóstolos e Padroeiros, na Cátedra de São Pedro), em qualquer lugar sagrado, participarem numa solene celebração eucarística ou na liturgia das horas, acrescentando a Profissão de Fé de qualquer forma legítima;
D) Um dia livremente escolhido, durante o Ano da fé, para a visita piedosa do batistério ou outro lugar, onde receberam o sacramento do Batismo, se renovarem as promessas batismais com qualquer fórmula legítima.

Os Bispos diocesanos ou eparquiais, e aqueles que pelo direito lhes são equiparados, no dia mais oportuno deste tempo, por ocasião da celebração principal (por ex. a 24 de novembro de 2013, na solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, com a qual será encerrado o Ano da fé) poderão conceder a Bênção Papal com a Indulgência Plenária, lucrável por parte de todos os fiéis que receberem tal Bênção de modo devoto.

Os fiéis verdadeiramente arrependidos, que não puderem participar nas celebrações solenes por motivos graves (como, em primeiro lugar, todas as monjas que vivem nos mosteiros de clausura perpétua, os anacoretas e os eremitas, os encarcerados, os idosos, os enfermos, assim como quantos, no hospital ou noutros lugares de cura, prestam serviço continuado aos doentes), obterão a Indulgência Plenária nas mesmas condições se, unidos com o espírito e o pensamento aos fiéis presentes, particularmente nos momentos em que as palavras do Sumo Pontífice ou dos Bispos diocesanos forem transmitidas pela televisão e rádio, recitarem em casa ou onde o impedimento os detiver (por ex. na capela do mosteiro, do hospital, da casa de cura, da prisão...) o Pai-Nosso, a Profissão de Fé de qualquer forma legítima e outras preces segundo as finalidades do Ano da fé, oferecendo os seus sofrimentos ou as dificuldades da sua vida.

Em nossa arquidiocese, os Santuários e Basílicas já foram escolhidos e divulgados, assim como as solenidades e eventos desse Ano da Fé. Além disso, a cada mês iremos aprofundar alguns aspectos que notamos necessitarem de esclarecimentos e estudos entre o nosso povo. Tanto conferências como reflexões, textos, homilias terão oportunidade de esclarecer as pessoas sobre a nossa fé e suas razões. Eis que se abre um tempo favorável para viver e aprofundar a fé. Aproveitemos, portanto, desse tempo propício.

Assim, caríssimos, temos ali presente esta oportunidade de rever como vivemos os valores aprendidos desde nossa infância, e como são reproduzidos e testemunhados nos dias de hoje. Chegou o momento de reforçar em nós a fé e anunciar a boa notícia aos irmãos. Coragem e fé! Deus os abençoe!

† Orani João Tempesta, O. Cist.*
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

28º Domingo do Tempo Comum - Reflexão dominical



A literatura deste 28º domingo do Tempo Comum e 2º domingo do mês missionário nos proporciona a reflexão sobre os verdadeiros valores que devem nortear a nossa vida cristã. Temos a nosso favor a Palavra proclamada e a Eucaristia: seu Corpo compartilhado. Nelas Deus põe à nossa disposição todo o seu ser.
1ª leitura (Sb 7,7-11)
          Segundo a narração bíblica, o rei Salomão teve um sonho: podia pedir o que desejasse e lhe seria concedido.
          Teria ele pedido ouro, saúde, poder, força, ou mesmo o mal para algum possível inimigo seu? Nada disso, mas, ao invés e tão somente ele disse a Deus: “eu não passo de um adolescente, não sei como governar um povo tão numeroso. Dai, pois, ao vosso servo, ó Senhor, a sabedoria, um coração sábio, capaz de discernir entre o bem e o mal” (I Rs 3,4-15).
          É essa, portanto, a reflexão sobre a escolha feita por Salomão, oferecida pela primeira leitura. É admirável o discernimento do rei sábio, entre escolher a sabedoria de Deus e qualquer outro bem. Todos os tesouros e qualquer outro bem, relacionado com a sabedoria são como lama. Sua primeira e grande preocupação não é outra, mas viver e governar a partir da justiça. E foi isso que, de maneira humilde e confiante, ele pediu a Deus e terminou sendo contemplado de maneira generosíssima.
          A sabedoria como dom do Espírito Santo, nos possibilita orientar a nossa vida segundo os intuitos divinos.
Dai-nos, ó Espírito Santo, os dons da inteligência e sabedoria.  Dom de entender e saborear os mistérios divinos...
E o mais importante, é que Jesus constatou que a sabedoria divina é revelada de modo especial entre os de mente e coração abertos, os pequenos e os pobres e é ocultada aos grandes e “inteligentes” deste mundo (Mt 11, 25-26).
Evangelho (Mc 10,17-30)
Talvez não fosse demais, fazer aqui e daqui de onde estamos a seguinte interrogação: O que e como fazer para ser feliz? Contextualizando o trecho bíblico colocado à reflexão, está o Mestre e seus discípulos a caminho de Jerusalém. A finalidade que tem essa e outras viagens realizadas por Jesus, o timoneiro da paz, é a de cunho pedagógica. Como não explicar aos seus seguidores a relação e, consequentemente, o devido cuidado que eles devem ter com os bens materiais, mostrando assim a conduta que eles precisam demonstrar na hora de segui-lo.
Hoje nos deparamos com uma exigência não menos inferior a tantas outras já feitas por Jesus. Dessa feita, trata-se da coragem de desprender-se dos próprios bens. Aliás, é condição para o seguimento ser discípulo missionário a Jesus de Nazaré.
Concretamente, trata-se de um jovem rico que, num certo dia se apresenta e lhe pergunta: “Bom Mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna?”
No mínimo deve ser um israelita piedoso que sabe que tudo se recebe de Deus “como herança”: a terra (Sl 135,12), a lei (Sl 119, 111), a bênção, as promessas (Hb 6,12), o Reino de Deus (Mt 25,34). Ele só não sabia que nada é concedido como prêmio pelas boas ações. Tudo é dom.
O rapaz demonstra que estava ansioso por encontrar-se com Jesus, o “bom Mestre” para, no mínimo, ser justificado em sua mentalidade e em suas atitudes “ingênuas”. Jesus, porém, não hesitou em desarmá-lo por perceber uma intenção bajuladora: “Ninguém é bom a não ser Deus”.
Um detalhe entre tantos é que no encontro com Jesus é determinante para estar com ele, a superação das prescrições legalistas. O jovem é interpelado a fazer uma retrospectiva dos mandamentos; aliás, ele diz que conhece a todos: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude” (v. 20). O interesse do interpelante é quanto à justiça social: respeito à vida. Deus, portanto, nada pede para si; fazendo para os próximos, fazemos a Ele.
Mais um pormenor: parece tratar-se de um rico. E, esse, tem consciência de não haver cometido injustiças ao acumular riquezas; no final das contas, tudo é consequência das bênçãos divinas. Ora, Jesus comprova que não basta ter feito nada de mal, não basta ter observado, pedagogicamente, os mandamentos, mas exige uma doação total: “Só uma coisa lhe falta: vá, venda tudo o que tem e dê aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me!” (v. 21). A reação do rico evidencia claramente como as riquezas são obstáculos no caminho do Reino (cf. vv. 22-25).
“Será que o rico se salvará?” Jesus ao ouvir a resposta do jovem rico, “fixou nele o olhar e o amou”. Que olhar misericordioso! Não obstante o estado emocional do jovem, Jesus percebe nele possibilidades para avançar, por isso lança a proposta: “Vai, vende tudo o que tens e distribui aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me” (v. 21).
Não é possível tornar-se discípulo seu se o coração não estiver desprendido de tudo o que se possui: sucesso, objetos, honras, e tantas outras mazelas.
Na segunda parte (vv. 23-27) nos relata as considerações de Jesus sobre os perigos das riquezas. Estas constituem o obstáculo mais grave que impede alguém ser promovido a cristão: “É mais fácil – ensina Jesus – passar o camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar o rico no Reino de Deus.”
“Então, quem pode ser salvo?” Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”. Pedro então começou a dizer-lhe: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. Aos discípulos que deixam tudo para segui-lo, Jesus lhes garante que usufruirão dos benefícios do Reino de Deus.
Um convite a todos nós: Todos estamos convidados por Jesus a desvencilharmo-nos da escravidão do ter para tornarmo-nos instrumentos de um novo mundo. Esse, sem sombra de dúvida, é o jeito sábio de viver.
Segunda leitura (Hb 4,12-13)
          Dizem ser possível, às vezes, alguns responsáveis pelo comentário sobre as leituras, mas, também outros comunicadores da Palavra, o próprio padre, por exemplo, por não está bem preparado, começa a divagar.
          A leitura de hoje nos ensina que a Palavra de Deus é muito diferente dessas divagações. Ela tem cinco características: a) Ela é “viva e eficaz”; b) A Palavra de Deus, além disso, é “cortante e penetrante” mais do que uma espada afiada, rija, inflexível: penetra até o âmago de quem a escuta; c) Por fim, é também “juiz” de todas as nossas ações.
          Se alguém disser que ao ouvir a Palavra, ele ficou sossegado, tranquilo e calmo, esta certamente não foi Palavra de Deus, foi sim, pluma que acaricia orelhas, ou dosagem de anestésico (algo que suprime a sensibilidade da consciência).
Concluindo:
          - Se queremos ser discípulos missionários do Senhor, procuremos viver sabiamente o que vem de Deus. Sábio é aquele (a) que se esforça a fazer o bem a qualquer um (a).
          - Como se adquire a sabedoria? A sabedoria se adquire e se cultiva pela oração e pela meditação da Palavra de Deus.
          - Peregrino, o serei sempre. Serei, seremos sempre peregrinos neste mundo (casa de Deus), em caminhada para a terra prometida. Mas com a Palavra de Deus nos orientando, nos iluminando; sem ela, nos desorientamos levados por tantas outras “palavras” que pessoas e mundo nos oferecem.
Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco de Nova Cruz - RN
“Tropicália”: O passado no presente
12/10/2012
Miguel Pereira*





As primeiras imagens de Tropicália, documentário de Marcelo Machado, mostram Caetano Veloso, em 1969, num programa da televisão portuguesa, afirmando que o movimento do tropicalismo tinha acabado. Ele e Gilberto Gil estavam a caminho do exílio, em Londres, depois de passarem pela prisão e pelo confinamento impostos pela ditadura militar. Diante de tal violência e cerceamento à criação artística, tomaram, a contragosto, o caminho possível da sobrevivência. Não fazia mais sentido algum continuar fora do país um movimento surgido num caldo cultural brasileiro. Significa dizer que o Tropicalismo foi também vítima da ditadura militar. O filme faz uma espécie de recomposição histórica, tentando estabelecer conexões entre a quebra de padrões musicais, promovida pelos baianos, em São Paulo, de 1967 ao final de 1968, e o contexto político e cultural daqueles anos. O sentido das imagens de arquivo e os depoimentos são uma evidente evocação à Semana de Arte Moderna de 1922. Marcelo Machado constrói seu discurso cinematográfico através de parâmetros alusivos a outros momentos da história cultural brasileira onde a ruptura foi o procedimento inovador. O foco é certamente São Paulo, e, de algum modo, fica implícito que o tropicalismo está associado à capital industrial brasileira.

Já as últimas cenas do filme são imagens de arquivo que registraram o retorno do exílio dos baianos à terra natal e a festa em sua homenagem. O mais interessante desse momento da narrativa é a forma com que Caetano e Gil olham essas imagens do passado e cantarolam as próprias melodias. O sentimento não é de nostalgia. Expressam uma jubilosa e verdadeira alegria. A conjugação entre passado e presente não carrega qualquer tipo de ônus ou ressentimento, culpas ou denúncias políticas. Apenas celebram o momento vivido. É o prazer e o gosto de ser no mundo. Se algo justifica o filme de Marcelo Machado é essa capacidade de tornar o passado presente, sem culpas ou determinações históricas. O vivido vale em si. O que se vai viver bebe no vivido, sem antolhos. Essa liberdade é o leitmotiv do documentário. O que talvez destoe um pouco é a forma ¨moderninha¨ de sua narrativa. Intervenções nas imagens de época, alguns efeitos digitais e sonoros, enfim, o uso das tecnologias contemporâneas nem sempre se somam à expressividade da linguagem. Viram adornos que distraem do essencial. Não se trata de cobrir eventuais deficiências das imagens originais. É mesmo uma tentativa de estilo, válida em si, mas pouco eficiente na forma de narrar. O contraponto das imagens de Caetano e Gil que vêem o que não vemos, mas ouvem o que ouvimos, diz tudo daquele sentimento impresso na imagem. A natureza do cinema é mesmo a sua verdade de que a imagem imanta de forma encantatória. Quando isso ocorre, todo o resto é dispensável. Apesar desse apelo estilístico um tanto errático, o filme consegue uma eficiente comunicação com o seu público.

Tropicália é assim um documentário musical, moda que parece estar em voga, que nos remete ao tempo presente, embora falando do passado.

* Professor da PUC-Rio e crítico de cinema (fonte: Arq. do RJ)