A
literatura deste 28º domingo do Tempo Comum e 2º domingo do mês missionário nos
proporciona a reflexão sobre os verdadeiros valores que devem nortear a nossa
vida cristã. Temos a nosso favor a Palavra proclamada e a Eucaristia: seu Corpo
compartilhado. Nelas Deus põe à nossa disposição todo o seu ser.
1ª
leitura (Sb 7,7-11)
Segundo a narração bíblica, o rei
Salomão teve um sonho: podia pedir o que desejasse e lhe seria concedido.
Teria ele pedido ouro, saúde, poder,
força, ou mesmo o mal para algum possível inimigo seu? Nada disso, mas, ao
invés e tão somente ele disse a Deus: “eu não passo de um adolescente, não sei
como governar um povo tão numeroso. Dai, pois, ao vosso servo, ó Senhor, a
sabedoria, um coração sábio, capaz de discernir entre o bem e o mal” (I Rs
3,4-15).
É essa, portanto, a reflexão sobre a
escolha feita por Salomão, oferecida pela primeira leitura. É admirável o
discernimento do rei sábio, entre escolher a sabedoria de Deus e qualquer outro
bem. Todos os tesouros e qualquer outro bem, relacionado com a sabedoria são
como lama. Sua primeira e grande preocupação não é outra, mas viver e governar
a partir da justiça. E foi isso que, de maneira humilde e confiante, ele pediu
a Deus e terminou sendo contemplado de maneira generosíssima.
A sabedoria como dom do Espírito
Santo, nos possibilita orientar a nossa vida segundo os intuitos divinos.
Dai-nos,
ó Espírito Santo, os dons da inteligência e sabedoria. Dom de entender e saborear os mistérios
divinos...
E
o mais importante, é que Jesus constatou que a sabedoria divina é revelada de
modo especial entre os de mente e coração abertos, os pequenos e os pobres e é
ocultada aos grandes e “inteligentes” deste mundo (Mt 11, 25-26).
Evangelho (Mc 10,17-30)
Talvez
não fosse demais, fazer aqui e daqui de onde estamos a seguinte interrogação: O
que e como fazer para ser feliz? Contextualizando o trecho bíblico colocado à
reflexão, está o Mestre e seus discípulos a caminho de Jerusalém. A finalidade
que tem essa e outras viagens realizadas por Jesus, o timoneiro da paz, é a de
cunho pedagógica. Como não explicar aos seus seguidores a relação e,
consequentemente, o devido cuidado que eles devem ter com os bens materiais,
mostrando assim a conduta que eles precisam demonstrar na hora de segui-lo.
Hoje
nos deparamos com uma exigência não menos inferior a tantas outras já feitas
por Jesus. Dessa feita, trata-se da coragem de desprender-se dos próprios bens.
Aliás, é condição para o seguimento ser discípulo missionário a Jesus de
Nazaré.
Concretamente,
trata-se de um jovem rico que, num certo dia se apresenta e lhe pergunta: “Bom
Mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna?”
No
mínimo deve ser um israelita piedoso que sabe que tudo se recebe de Deus “como
herança”: a terra (Sl 135,12), a lei (Sl 119, 111), a bênção, as promessas (Hb
6,12), o Reino de Deus (Mt 25,34). Ele só não sabia que nada é concedido como
prêmio pelas boas ações. Tudo é dom.
O
rapaz demonstra que estava ansioso por encontrar-se com Jesus, o “bom Mestre”
para, no mínimo, ser justificado em sua mentalidade e em suas atitudes “ingênuas”.
Jesus, porém, não hesitou em desarmá-lo por perceber uma intenção bajuladora:
“Ninguém é bom a não ser Deus”.
Um
detalhe entre tantos é que no encontro com Jesus é determinante para estar com
ele, a superação das prescrições legalistas. O jovem é interpelado a fazer uma
retrospectiva dos mandamentos; aliás, ele diz que conhece a todos: “Mestre,
tudo isso tenho observado desde a minha juventude” (v. 20). O interesse do
interpelante é quanto à justiça social: respeito à vida. Deus, portanto, nada
pede para si; fazendo para os próximos, fazemos a Ele.
Mais
um pormenor: parece tratar-se de um rico. E, esse, tem consciência de não haver
cometido injustiças ao acumular riquezas; no final das contas, tudo é
consequência das bênçãos divinas. Ora, Jesus comprova que não basta ter feito
nada de mal, não basta ter observado, pedagogicamente, os mandamentos, mas
exige uma doação total: “Só uma coisa lhe falta: vá, venda tudo o que tem e dê
aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me!” (v. 21). A
reação do rico evidencia claramente como as riquezas são obstáculos no caminho
do Reino (cf. vv. 22-25).
“Será
que o rico se salvará?” Jesus ao ouvir a resposta do jovem rico, “fixou nele o
olhar e o amou”. Que olhar misericordioso! Não obstante o estado emocional do
jovem, Jesus percebe nele possibilidades para avançar, por isso lança a
proposta: “Vai, vende tudo o que tens e distribui aos pobres e terás um tesouro
no céu; depois vem e segue-me” (v. 21).
Não
é possível tornar-se discípulo seu se o coração não estiver desprendido de tudo
o que se possui: sucesso, objetos, honras, e tantas outras mazelas.
Na
segunda parte (vv. 23-27) nos relata as considerações de Jesus sobre os perigos
das riquezas. Estas constituem o obstáculo mais grave que impede alguém ser
promovido a cristão: “É mais fácil – ensina Jesus – passar o camelo pelo fundo
de uma agulha, do que entrar o rico no Reino de Deus.”
“Então,
quem pode ser salvo?” Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso é
impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”. Pedro então começou
a dizer-lhe: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. Aos discípulos que
deixam tudo para segui-lo, Jesus lhes garante que usufruirão dos benefícios do
Reino de Deus.
Um
convite a todos nós: Todos estamos convidados por Jesus a desvencilharmo-nos da
escravidão do ter para tornarmo-nos instrumentos de um novo mundo. Esse, sem
sombra de dúvida, é o jeito sábio de viver.
Segunda leitura (Hb 4,12-13)
Dizem ser possível, às vezes,
alguns responsáveis pelo comentário sobre as leituras, mas, também outros
comunicadores da Palavra, o próprio padre, por exemplo, por não está bem
preparado, começa a divagar.
A leitura de hoje nos ensina que a
Palavra de Deus é muito diferente dessas divagações. Ela tem cinco
características: a) Ela é “viva e eficaz”; b) A Palavra de Deus, além disso, é
“cortante e penetrante” mais do que uma espada afiada, rija, inflexível:
penetra até o âmago de quem a escuta; c) Por fim, é também “juiz” de todas as
nossas ações.
Se alguém disser que ao ouvir a
Palavra, ele ficou sossegado, tranquilo e calmo, esta certamente não foi
Palavra de Deus, foi sim, pluma que acaricia orelhas, ou dosagem de anestésico
(algo que suprime a sensibilidade da consciência).
Concluindo:
- Se queremos ser discípulos
missionários do Senhor, procuremos viver sabiamente o que vem de Deus. Sábio é
aquele (a) que se esforça a fazer o bem a qualquer um (a).
- Como se adquire a sabedoria? A
sabedoria se adquire e se cultiva pela oração e pela meditação da Palavra de
Deus.
- Peregrino, o serei sempre. Serei,
seremos sempre peregrinos neste mundo (casa de Deus), em caminhada para a terra
prometida. Mas com a Palavra de Deus nos orientando, nos iluminando; sem ela,
nos desorientamos levados por tantas outras “palavras” que pessoas e mundo nos
oferecem.
Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco
de Nova Cruz - RN