Por Rebecca Hanser, da IPS/Envolverde
Para os especialistas em questões climáticas, a destruição e a devastação causadas pelo furacão Sandy na costa nordeste dos Estados Unidos são outra razão para colocar o aquecimento global na agenda política. O furacão acendeu o fraco debate em torno da mudança climática, ao qual ambientalistas atribuem episódios como o do Sandy. A recuperação imediata após o desastre causado pelo furacão se tornou a principal preocupação, embora os ambientalistas insistam em dizer que não se deve esquecer dos possíveis focos de contaminação causados pelo impacto sofrido no sistema de saneamento.
“Sandy é o que ocorre quando as temperaturas aumentam um grau”, disse Bill McKibben, presidente e cofundador do movimento 350.org, em um comunicado de imprensa. “Os cientistas que previram esta mega-tempestade também divulgaram outro duro alerta: se continuarmos pelo mesmo caminho, nossos filhos viverão em um planeta superquente, que terá temperatura quatro ou cinco vezes maior do que agora”.

Um informe da organização Rainforest Action Network demonstra que os bancos que financiam e investem em companhias intensivas em carbono também são responsáveis pela deterioração do clima. Tampouco medem de forma apropriada sua própria pegada de carbono, embora haja pautas suficientes disponíveis para ajudá-los, segundo o estudo Financiando o Desbaratamento do Clima: Impactos das Emissões Financiadas pelo Setor Bancário.
Nem todos os especialistas concordam quanto às causas que produziram o furacão Sandy. “É uma questão de probabilidades”, disse à IPS Steven Hamburg, diretor científico do Fundo de Defesa Ambiental. “Não se pode dizer que o Sandy aconteceu por causa da mudança climática. Pode-se dizer que é muito mais provável que este tipo de tempestade obedeça a fatores coadjuvantes, que incluem elementos diretamente relacionados com o aquecimento global. Sandy poderia ter ocorrido sem mudança climática? Naturalmente. É provável? Não”, acrescentou.
O jornalista David Biello, especializado em questões ambientais concorda: “O aquecimento global não criou o Sandy, mas certamente para seu impacto contribuíram alguns elementos que definitivamente o deixaram pior”. Biello, editor-adjunto da Scientific American, explicou que “normalmente os furacões chegam à costa e retornam para o mar, mas, devido ao derretimento do gelo no Ártico, neste verão boreal houve um padrão climático que impediu o furacão Sandy de seguir essa trajetória e o levou de volta à terra”.
Os especialistas concordam que a frequência e a intensidade dos furacões aumentarão com o tempo. “O aquecimento global provavelmente foi um pequeno fator, mas significativo para o Sandy. Porém, este fator aumentará com o tempo”, disse à IPS o especialista em clima Michael Oppenheimer, professor na Universidade de Princeton. “Este tipo de grandes tempestades só ocorre uma vez a cada cem anos, e agora se torna mais frequente, o que é um grande desafio para a adaptação humana e a resiliência de nossa infraestrutura”, alertou Oppenheimer. “Não vemos mais furacões, mas há mais variedades de tempestades e com uma intensidade maior”, concordou Hamburg.
Sandy quebrou o chamado “silêncio climático” da campanha para as eleições presidenciais de amanhã nos Estados Unidos. As atividades do dia 29 foram suspensas e no dia seguinte foi impossível ignorar o tema. “Os candidatos decidiram não falar sobre mudança climática, mas esta decidiu falar a eles”, afirmou Mike Tidwell, diretor da Chesapeake Climate Action Network, em um comunicado de imprensa. Porém, Biello discorda. “Gostaria de pensar dessa forma, mas temos muitos chamados de alerta, dos quais o maior foi o Katrina, que apagou a cidade de New Orleans do mapa. Infelizmente, até agora não se progrediu muito”, ressaltou.
A organização Riverkeeper, com sede em Nova York, expressou sua preocupação pela crescente contaminação da água por dejetos flutuantes, vazamento de petróleo e de outros produtos químicos dos tanques de combustível de veículos e barcos semi-afundados, tudo o que contamina as águas do rio Hudson e o porto de Nova York. A organização também destaca o perigo para a saúde pública de vazamentos na rede de esgoto, que já é considerado um “problema crônico”.
Também explicou que, embora o vazamento de esgoto seja comum quando há tempestades moderadas e fortes, a contaminação deixada pelo Sandy é diferente porque invadiu estradas e casas, não foi para o rio nem para o porto. “Esta tempestade não acabou”, disse o presidente Barack Obama em discurso feito no dia 30 de outubro, na sede da Cruz Vermelha. “Não há tempo para falta de ação. A recuperação vai demorar um tempo significativo”, enfatizou. (Fonte: Revista Forum)
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