quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Para conhecer outro Israel: o que luta pela paz

06/12/2012 | Sérgio Storch Crescem em Israel e na Diáspora Judaica movimentos que defendem direitos e independência palestinos.

O Brasil teve o privilégio de abrigar, na semana passada, o FSMPL (Fórum Social Mundial pela Palestina Livre), na cidade-berço dessa invenção (Porto Alegre) que está na raiz do pensamento de uma nova cultura política. Lá se vão quase 13 anos desde que criamos este campo de novas possibilidades: "um outro mundo é possível", conforme o dístico criado em sua fundação. Para alcançar o sentido da importância deste Fórum pela Palestina é importante lembrar a origem do FSM, nascido em 2001 por iniciativa de um grupo de brasileiros, bem conhecidos na nossa sociedade civil, desde a resistência à ditadura militar.
A este Fórum pela Palestina reagiram, apreensivos com possíveis impactos de protestos e manifestações, setores hegemônicos da comunidade judaica brasileira, manifestando, pela mídia, críticas aos governos federal, estadual e municipal de Porto Alegre, por apoiarem esse evento que, numa visão cartesiana, aparenta desafinação em relação ao discurso de equidistância dos polos do conflito: Israel e Palestina.
É, pois, oportuno registrar a existência de uma outra visão judaica. É bem antiga, remontando aos valores já expressos no Pentateuco, que trouxe em sua legislação o reconhecimento do outro, dos seus direitos, e da responsabilidade de cada indivíduo com todos os demais, de seu povo ou estrangeiros. "V'ahavta l'reacha kamocha" (amai ao próximo como a ti mesmo) está nos ensinamentos da Torá, conforme o Rabi Akiva, ícone da ética judaica. Não há nada a temer. Rancor contra Israel haverá, podendo, por vezes, resvalar para chamamentos à destruição do país e para o antissemitismo rasteiro, como derivação de ignorância, que existe de forma recíproca, também da parte dos que apoiam incondicionalmente Israel.
Conhecemos pouco de matrizes e histórias, tanto das nossas como de outros povos. Aos que criticam o FSMPL e os governos que o acolhem, é bom estudarem um pouco. E aqui vão algumas informações úteis seja para os participantes no FSMPL, como para os que o acompanharam com simpatia, e também para os que a ele se opõem precipitadamente.
As comunidades judaicas em todo o mundo enfrentam fissuras na pretensa unidade que as lideranças institucionais procuram aparentar, tentando cobrir o sol com a peneira. Em Israel, o debate pela imprensa livre é a maior evidência.
Há um grande abismo entre os que apoiam a solução de Dois Estados (segundo as pesquisas constituídas por metade das israelenses) e os seguidores da coalizão de direita que está no governo há três anos. É bom lembrar que, em mandato anterior (1996-1999), o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já havia atentado contra os acordos celebrados em Oslo (1993), com o palestino Yasser Arafat, por seus adversários israelenses, Itzhak Rabin e Shimon Peres (atual presidente do país, de oposição). As seguidas procrastinações de Netanyahu, e as provocações feitas por ele, ao ampliar os assentamentos de colonos judeus em territórios palestinos ocupados, ultrapassaram o prazo de cinco anos fixado em Oslo para um acordo de paz permanente. Surgiu, em consequência, uma insatisfação crescente entre as massas palestinas, que explodiu, já de forma incontrolável, na segunda Intifada, no ano 2000. O primeiro-ministro é um personagem de convicções inabaláveis e irremovíveis. Ele não hesita em buscar referências na memória de tragédias históricas sofridas pelos judeus para justificar uma estratégia míope, baseada tão somente na força militar.
A extensão do abismo que existe em Israel e a Palestina não é nova e pode ser apreciada por este trecho de uma carta de Leah Rabin (viúva de Itzhak Rabin, assassinado por um extremista judeu em 1995), na época do primeiro mandato do atual chefe de governo: "Netanyahu é um mentiroso corrupto que está destruindo tudo o que a nossa sociedade tem de bom". (...) Netanyahu e seu governo não representam uma unidade dos judeus israelenses, nem tão pouco dos judeus na maior comunidade da Diáspora, a norte-americana".
Os Caminhos da Paz
Há um olhar judaico em Israel que busca e encontra o parceiro palestino. Ao contrário da propaganda desse governo manipulador do medo e da insegurança, que martela a ideia de que não existem parceiros para a paz, há inúmeros exemplos de parcerias. O escritor e jornalista israelense Amos Oz colabora com o filósofo palestino Sari Nusseibeh, reitor da universidade Al Quds. O músico Daniel Baremboim teve como parceiro o maior intelectual palestino, Edward Said, para a formação da sua orquestra de jovens israelenses e árabes, hoje mantida pelo governo da Andaluzia, na Espanha. A cantora israelense Noa canta com sua amiga palestina Mira Awad. Há ex-soldados israelenses e ex-militantes palestinos da luta armada que se encontram no Combatants for Peace. O líder de direitos humanos Edward Kaufman leciona com um parceiro palestino sobre direitos humanos e resolução de conflitos (seu amigo Manuel Hassassian é embaixador da Autoridade Palestina na Inglaterra).
Nada mais falso do que a mistificação de que não há parceiros para a paz. Há 130 ONGs em que atuam ombro a ombro israelenses e palestinos na defesa dos direitos violentados pelas políticas dos governos israelenses, desde a detenção de prisioneiros sem culpa formada por tempo indeterminado, até a desobediência civil de mulheres israelenses que regularmente contrabandeiam mulheres palestinas para tomarem banho de mar em Tel Aviv ou Haifa. (Sem falar dos bingos palestinos instalados em Jericó, tolerados pelo governo israelense, mas controlados pelos capitalistas judeus onde se lava muito dinheiro).
Fonte: www.outraspalavras.net

Nenhum comentário:

Postar um comentário