sábado, 10 de novembro de 2012

Um Deus, um povo, uma história cheia de histórias


O ser humano traz em si a percepção quase que instintiva da existência de um Deus bom, reto, justo e santo. A própria natureza clama por um Criador e Ordenador de todas as coisas. Sim, pode ter certeza: existe Alguém, um Deus do qual tudo provém. Mas, não basta afirmar isto. Tem mais: esse Deus misterioso que o coração humano procura de tantos modos e que cada religião vislumbra como que às apalpadelas, Ele mesmo saiu do Seu silêncio; Ele falou, veio ao encontro da Sua criatura, estendeu as mãos e abriu o coração à humanidade toda. Esta é a fé dos judeus e, de modo mais específico, a certeza dos cristãos: Deus dirigiu-Se ao homem para partilhar Sua vida conosco e nos chamar a uma vida plena na amizade com Ele. Fomos criados para Ele e Nele somente seremos plenos. Por isso, Ele veio ao nosso encontro! Se pensarmos bem... Que mistério tão grande: o Infinito sair do Seu silêncio e nos dirigir a Sua palavra, ocupar-Se conosco! Mas, como foi isso?
As Sagradas Escrituras são testemunhas desse misterioso diálogo entre Deus e a humanidade. Mas, compreendamos logo algumas coisas. (1) Deus não Se revelou primeiramente num livro. Revelou-Se na história de um povo, por Ele misteriosa e gratuitamente escolhido: o povo de Israel. Pouco a pouco, com admirável pedagogia, foi plasmando esse povo, foi a ele Se revelando, retirando-o do paganismo, educando-o; foi-lhe purificando a consciência, refinando a percepção que eles tinham o divino. Aos poucos, Israel foi se formando, foi compreendendo que havia sido escolhido e, dessa escolha, dependia também a bênção para toda a humanidade. E Israel foi experimentando, foi tomando consciência de que esse seu Deus não era um deus entre outros, mas Deus, simplesmente o Deus, o Eterno, o Invisível, o Santo, o Único! Nos percalços da história, o Senhor foi educando Israel para acolher a Sua revelação. (2) Atenção, que “revelação” aqui não quer dizer revelação de segredos e ideias abstratas, de teorias, mas se trata da revelação de Alguém, revelação do próprio Deus: como um amigo se revela a outro amigo, como o amado se revela à sua amada em palavras, em gestos, em atitudes, em convivência, assim Deus, o Altíssimo, foi Se revelando ao Seu povo. (3) Somente num segundo momento é que os sábios e profetas, os escribas e sacerdotes foram colocando por escrito a história de Israel: suas histórias, suas tradições, séculos e séculos de vida com o seu Deus, vida que muito antes havia experimentado na existência sofrida de cada dia. Então, uma conclusão importante: os textos da Escritura não são simples documentos históricos crus, impessoais, simplesmente objetivos, crônicas de jornal ou informação de livro de história! Nada disso: são textos vivos, textos vividos, cheios de emoção, de paixão: são o testemunho de como um povo vivenciou no seu coração e na sua vida o seu relacionamento com o Deus vivo que lhe veio ao encontro nos acontecimentos da sua história. Imagine alguém colocando por escrito sua vida com a pessoa amada, sua história de amor com tantos altos e baixos... Assim Israel colocou por escrito essa relação do Deus Amante com o Seu povo amado... É isto o conjunto de textos a que chamamos Antigo Testamento. (4) E Israel foi crescendo na convicção de que esses textos tão humanos, com linguagem de homens, não eram simplesmente obra de homens: por trás dos autores humanos, era Deus mesmo quem estava inspirando, comunicando-Se, rasgando Seu coração para que o homem nele pudesse entrar!
Pois, meu Leitor, são esses textos benditos que compõem o nosso Antigo Testamento; textos que contêm a Palavra de Deus tanto para os judeus como para os cristãos. Mas, qual o enredo desses textos, desses livros que são as Escrituras Santas de Israel? O que dizem? O que prometem? O que ensinam a esperar? Para onde nos orientam?
Procuram mostrar que Deus tem um plano de amor e salvação para toda a humanidade. Desse modo, a Escritura garante que desde o princípio Deus foi Se manifestando aos homens e os homens foram dizendo-Lhe “não”! Como assim? Na sua vida, na sua consciência, nas suas escolhas, o homem foi sempre tentado a pensar: “A vida é minha: eu sei o que é melhor para mim, eu faço como eu quero!” E Deus teimando em nos dirigir Seu apelo no íntimo da nossa consciência, persistindo no Seu amor. Podemos encontrar isto em histórias que o povo contava, como as parábolas de Jesus, cheias de vida e de sabedoria: Adão e Eva, criados à imagem de Deus, o pecado de querer ser seu próprio deus, o mal se espalhando na humanidade, o dilúvio com o qual Deus mostra que não se contenta com o mal, mas dá sempre uma nova chance à humanidade... Assim, as Escrituras desejam mostrar que Deus ama a todos os seres humanos e deseja a salvação de todos... E mostra também como o homem foi e vai fabricando deuses, ídolos aos quais se apegar, nos quais colocar a segurança, fugindo do Deus vivo e verdadeiro que lhe fala na voz da consciência e o visita na saudade do seu coração desejoso de vida, verdade e paz... Quer aprofundar isso? Veja no Catecismo da Igreja Católica, nos números 50-58...



Escrito por Dom Henrique 

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