sábado, 10 de novembro de 2012

A morte anunciada dos Guarani-Kaiowá
Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais
Adital
A Justiça revogou a ordem de retirada de 170 índios Guarani-Kaiowá das terras em que habitam no Mato Grosso do Sul. Em carta à opinião pública, eles apelaram: "Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos, mesmo, em pouco tempo”.
A morte precoce, induzida –o que nós, caras-pálidas, chamamos de suicídio– é recurso frequente adotado pelos Guarani-Kaiowá para resistirem frente às ameaças que sofrem. Preferem morrer que se degradar. Nos últimos vinte anos, quase mil indígenas, a maioria jovens, puseram fim às suas vidas, em protesto às pressões de empresas e fazendeiros que cobiçam suas terras.
A carta dos Guarani-Kaiowá foi divulgada após a Justiça Federal determinar a retirada de 30 famílias indígenas da aldeia Passo Piraju, em Mato Grosso do Sul. A área é disputada por índios e fazendeiros. Em 2002, acordo mediado pelo Ministério Público Federal, em Dourados, destinou aos índios 40 hectares ocupados por uma fazenda. O suposto proprietário recorreu à Justiça.
Segundo o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), vinculado à CNBB, há que saber interpretar a palavra dos índios: "Eles falam em morte coletiva (o que é diferente de suicídio coletivo) no contexto da luta pela terra, ou seja, se a Justiça e os pistoleiros contratados pelos fazendeiros insistirem em tirá-los de suas terras tradicionais, estão dispostos a morrerem todos nela, sem jamais abandoná-las”, diz a nota.
Dados do CIMI indicam que, entre 2003 e 2011, foram assassinados, no Brasil, 503 índios. Mais da metade –279– pertence à etnia Guarani-Kaiowá. Em protesto, a 19 de outubro, em Brasília, 5 mil cruzes foram fincadas no gramado da Esplanada dos Ministérios, simbolizando os índios mortos e ameaçados.
São comprovados os assassinatos de membros dessa etnia por pistoleiros a serviço de fazendeiros da região. Junto ao rio Hovy, dois índios foram mortos recentemente por espancamentos e torturas.
A Constituição abriga o princípio da diversidade e da alteridade, e consagra o direito congênito dos índios às terras habitadas tradicionalmente por eles. Essas terras deveriam ter sido demarcadas até 1993. Mas, infelizmente, a Justiça brasileira é extremamente morosa quando se trata dos direitos dos pobres e excluídos.
Um quarto de século após a aprovação da carta constitucional, em 1988, as terras dos Guarani-Kaiowá ainda não foram demarcadas, o que favorece a invasão de grileiros, posseiros e agentes do agronegócio.
Participei, no governo Lula, de toda a polêmica em torno da demarcação da Raposa Serra do Sol. Graças à decisão presidencial e à sentença do Supremo Tribunal Federal, os fazendeiros invasores foram retirados daquela reserva indígena.
No caso dos Guarani-Kaiowá não se vê, por enquanto, a mesma firmeza do poder público. Até a Advocacia Geral da União, responsável pela salvaguarda dos povos indígenas –pois eles são tutelados pela União– chegou a editar portaria que, na prática, reduz a efetivação de vários direitos.
O argumento dos inimigos de nossos povos originários é que suas terras poderiam ser economicamente produtivas. Atrás desse argumento perdura a ideia de que índios são pessoas inúteis, descartáveis, e que o interesse do lucro do agronegócio deve estar acima da sobrevivência e da cultura desses nossos ancestrais.
Os índios não são estrangeiros nas terras do Brasil. Ao chegarem aqui os colonizadores portugueses –equivocamente qualificados nos livros de história de "descobridores”– se depararam com mais de 5 milhões de indígenas, que dominavam centenas de idiomas distintos. A maioria foi vítima de um genocídio implacável, restando hoje, apenas, 817 mil indígenas, dos quais 480 mil aldeados, divididos entre 227 povos que dominam 180 idiomas diferentes e ocupam 13% do território brasileiro.
Não adianta o governo brasileiro assinar documentos em prol dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável se isso não se traduzir em gestos concretos para a preservação dos direitos dos povos indígenas e de nosso meio ambiente.
Bem fez a presidente Dilma ao efetuar cortes no projeto do novo Código Florestal aprovado pelo Congresso. Entre o agrado a políticos e os interesses da nação e a preservação ambiental, a presidente não relutou em descartar privilégios e abraçar direitos coletivos.
Resta agora demonstrar a mesma firmeza na defesa dos direitos desses povos que constituem a nossa raiz e que marcam predominantemente o DNA do brasileiro, conforme comprovou o Projeto Genoma Humano.
[Frei Betto é escritor, autor da novela indigenista "Uala, o amor” (FTD), entre outros livros.
Segundo Houaiss, mito é a "construção mental de algo idealizado, sem comprovação prática; ideia, estereótipo". Mito: O afeto e o carinho dos professores são elementos imprescindíveis para que o aluno aprenda.
Desfazendo o mito: Afeto e carinho são sempre positivos, mas não determinam, por si sós, a aprendizagem. Além disso, a afirmativa induz à falsa ideia de que professor sério, introspectivo, que não externaliza sentimentos por característica pessoal, não pode ser bom professor, o que é seguramente uma inverdade.
Comentário
A escola está cheia de mitos que precisam ser desconstruídos com leituras e atitudes . Com uma hierarquização defectível não há escola que avance. A hierarquia separa, eleva a distância e adota o status. Esse é um ponto. O outro: devemos ter o cuidado para não caírmos na tentação de que basta abrir um largo sorriso para determina a aprendizagem significativa do aluno. É preciso pensar diferente e ser diferente. Avaliar é a coisa mais difícil que encontramos em nosso caminho. Mas é necessário.




Desvendamos Mistérios

     





POR QUE O MAR MORTO TEM ESSE NOME?
Um fenômeno único na Terra
O Mar Morto é um caso muito singular, um fenômeno único na Terra. Suas características sempre desafiaram a ciência nos últimos séculos, inclusive através de citações bíblicas: segunda o livro, abaixo de suas águas estão sepultadas as cidades de Sodoma e Gomorra.


Ele recebe este nome porque impossibilita a sobrevivência de peixes e plantas por conta da altíssima salinidade. Como é um dos lençóis de água mais baixos e mais salgados que existem, os animais não conseguem sobreviver.

  Mas existe outra curiosidade interessante sobre ele: Por que se flutua mais facilmente no Mar Morto? A explicação está na densidade de sua água, muito maior que a da água "doce". Devido ao clima, a água da superfície se evapora e o sal dissolvido permanece, tornando a água ainda mais salgada.

Normalmente, a quantidade de sal nos mares varia entre 2% a 3%, mas no Mar Morto ela chega a incríveis 27%, aumentando de acordo com a profundidade.

Assim, 1/4 deste mar é composto por sal dissolvido em água. Por isso as pessoas bóiam com muito mais facilidade! Outro aspecto curioso sobre o Mar Morto vem de suas supostas propriedades terapêuticas. Como possui altas taxas de minerais em suas águas, como magnésio, potássio e cálcio, suas diversas nascentes atraem pessoas em busca de cura.



Esta pergunta foi respondida pela equipe de professores do serviço Professor Web
A Relação Família e Escola – Uma Parceria Imprescindível
Kátia Bellotti
Menina pequena de mãos dadas a menino maior, estando os dois de mochilas e roupas coloridas

Desde o surgimento da escola, estudos vêm mostrando que a participação dos pais é de fundamental importância ao desempenho escolar e social das crianças.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no seu artigo 4º:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990).

A legislação define que a família tem o dever educacional da criança e não delegar apenas à escola a função de educar.

O artigo 205 da Constituição Federal afirma:

A educação direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).

A família não é um simples fenômeno natural, mas sim uma instituição social que vem se moldando através dos tempos.

Ela tem como papel fundamental a formação cultural e social de um indivíduo.

A frase “A família é a base da sociedade” é quase piegas, mas nos leva a pensar nas responsabilidades econômicas, culturais e políticas dessa instituição.

Porém, com as constantes transformações que a estrutura familiar vem sofrendo, há influências diretas e indiretas na dinâmica sociocultural do indivíduo.

Entre essas transformações, podemos citar, por exemplo, o antigo padrão familiar patriarcal que dá lugar a uma nova composição familiar, o aumento da expectativa de vida, a diminuição do índice de natalidade e o aumento de mulheres dominando o Mercado de Trabalho.

As mudanças são sempre bem-vindas, desde que sejam para acrescentar algo ou fortalecer uma sociedade.

A família passa por diversas transformações, mas sempre mantém um vínculo afetivo, o qual é essencial à vida escolar positiva da criança.

Dessa forma, a participação da família na vida escolar daquele que está na função de filho torna-se indispensável.

As crianças percebem se os seus responsáveis estão acompanhando o que acontece na sua escola e se estão verificando seu rendimento escolar.

Infelizmente, existem alguns responsáveis que não demonstram interesse em conhecer o meio escolar que a criança vive ou, até mesmo, deixam de acompanhar a rotina escolar.

Crianças com pais ou responsáveis relapsos possuem rendimento inferior ao das crianças com pais ou responsáveis interessados por sua rotina escolar.

Estas se sentem mais seguras e apresentam uma melhor execução em suas atividades.

A vida familiar e a vida escolar percorrem caminhos sincrônicos e fica cada vez mais indispensável o fortalecimento dessa relação à formação social e funcional da criança.

No mundo conturbado em que vivemos, é desafiador criar os filhos, educá-los e prepará-los para agir com compromisso.

Não se pode negligenciar o fato de que a família e a escola são pontos de apoio e de formação na vida de um cidadão.

O trabalho em conjunto produz resultados significativamente positivos, isso é fato.

Em momento algum a escola deve se apropriar da função da família na vida do aluno.

É fundamental que pais, professores e alunos compreendam e trabalhem de forma conjunta as questões do cotidiano escolar.

Isso, certamente, não é uma tarefa fácil, mas é compensadora para qualquer instituição que pensa contribuir para uma sociedade mais humana.

Kátia Bellotti  Cursa o 4º Semestre de Pedagogia (Uniararas|Fundação Hermínio Ometto) em Caçapava, São Paulo, e é Instrutora Técnica do Programa Informática Educacional.

Fonte da Imagem: Corbis.

Horrores da violência


Reflexões de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte

BELO HORIZONTE, sexta-feira, 09 de novembro de 2012(ZENIT.org) - A sociedade está convocada a refletir sobre um grave problema: o aumento dos índices de violência. Não basta apenas proteger-se, com medo dos riscos e prejuízos que a criminalidade provoca. Reforçar sistemas de segurança e evitar situações perigosas são medidas importantes. Porém, é fundamental perceber como a solidariedade pode ajudar na diminuição da violência. Também é indispensável reconhecer como é ilusório e perigoso o enfrentamento dos crimes armando-se. É preciso seguir o caminho da solidariedade, uma defesa que precisa ser exercitada e está longe dessa busca pelas armas.
Fala-se de um grupo civil armado crescente em nossa sociedade. Dados do Sistema Nacional de Armas, da Polícia Federal, mostram que houve aumento de 406% nas expedições de portes em território mineiro, entre 2008 e 2011. É um equívoco convencer-se que a vitória sobre a violência será conquistada com a compra de uma arma de fogo para defesa pessoal. Justificar esta escolha com o argumento de que a polícia não está preparada e não tem contingente suficiente para proteger o cidadão é um risco. Se todos os cidadãos ou grande parte da população se armarem, não significa garantia de paz. Ao contrário, estaremos, na verdade, em tempo de guerra.
O impacto emocional na vida de quem já foi assaltado, ou com  parentes, amigos, alguém próximo que tenha sido vítima de violência, não pode se converter em desenfreada busca pelo armamento. Ao contrário, é preciso apoiar o controle rígido do porte de armas. Isso inclui, obviamente, um trabalho árduo e sistemático para o desarmamento urgente de bandidos. Nesse caminho, é preciso incluir, prioritariamente, na agenda da sociedade e na preocupação primeira de cada cidadão, a solidariedade como força educativa, de combate e de mudança dessa triste realidade. Ao indicar a solidariedade como remédio para a violência, não se está falando de concessões, de conivências ou de uma postura passiva. É preciso reagir diante da realidade que se estabelece. A violência está se tornando uma cultura e isso é gravíssimo. Ela começa a ser exercida não apenas pelos criminosos, mas também pelos honestos que optam pelo combate à violência com a violência.
A indignação inevitável que emerge no coração de vítimas, de parentes e dos cidadãos de boa vontade não pode obscurecer nossa coragem de apostar numa cultura marcada pela dinâmica da solidariedade, que tem força para mudanças profundas. Um exemplo concreto e palpável dessa força está nas muitas comunidades de fé, que desenham na vida de muitas pessoas um horizonte de espiritualidade à luz da Palavra de Deus.  Assim, ajudam a superar quadros de violência e fazem brotar um sentido novo de cidadania. Contribuem para fazer crescer o gosto de conviver respeitando o outro. Por esse caminho é urgente andar e investir. Alguém dirá ser um percurso demorado. Contudo, é o único com dinâmicas de  importância, para combater e impedir que a violência se torne uma cultura.
Nas realidades em que a violência se institucionalizou, presencia-se a dificuldade na organização social e o crescimento da delinquência que dizima, em todas as camadas sociais, o sentido de valor, a compreensão justa da vida e o gosto pelo respeito ao outro. No lugar da revolta, embora a indignação seja justificável, é preciso aderir às práticas solidárias, que têm força revolucionária. Este entendimento deve ser alcançado, para se evitar prejuízos irreversíveis.
O mapa da violência estampa o retrato de uma grave epidemia que atinge todos. A sociedade brasileira está numa posição sofrível e lamentável no ranking internacional sobre taxas de homicídio. Esses números elevados, mais do que mostrar uma triste realidade, indicam que os governantes, instituições e cidadãos têm responsabilidades graves neste período da história. É o momento de todos participarem, para mudar esta calamidade social que é a violência, contramão de uma cultura da solidariedade. Dinâmica que encontra força na fé. É indispensável conhecer e buscar  mais o remédio da solidariedade. Assim, será possível mudar esses quadros produzidos pelos horrores da violência.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (Fonte:ZENIT)
Um Deus, um povo, uma história cheia de histórias


O ser humano traz em si a percepção quase que instintiva da existência de um Deus bom, reto, justo e santo. A própria natureza clama por um Criador e Ordenador de todas as coisas. Sim, pode ter certeza: existe Alguém, um Deus do qual tudo provém. Mas, não basta afirmar isto. Tem mais: esse Deus misterioso que o coração humano procura de tantos modos e que cada religião vislumbra como que às apalpadelas, Ele mesmo saiu do Seu silêncio; Ele falou, veio ao encontro da Sua criatura, estendeu as mãos e abriu o coração à humanidade toda. Esta é a fé dos judeus e, de modo mais específico, a certeza dos cristãos: Deus dirigiu-Se ao homem para partilhar Sua vida conosco e nos chamar a uma vida plena na amizade com Ele. Fomos criados para Ele e Nele somente seremos plenos. Por isso, Ele veio ao nosso encontro! Se pensarmos bem... Que mistério tão grande: o Infinito sair do Seu silêncio e nos dirigir a Sua palavra, ocupar-Se conosco! Mas, como foi isso?
As Sagradas Escrituras são testemunhas desse misterioso diálogo entre Deus e a humanidade. Mas, compreendamos logo algumas coisas. (1) Deus não Se revelou primeiramente num livro. Revelou-Se na história de um povo, por Ele misteriosa e gratuitamente escolhido: o povo de Israel. Pouco a pouco, com admirável pedagogia, foi plasmando esse povo, foi a ele Se revelando, retirando-o do paganismo, educando-o; foi-lhe purificando a consciência, refinando a percepção que eles tinham o divino. Aos poucos, Israel foi se formando, foi compreendendo que havia sido escolhido e, dessa escolha, dependia também a bênção para toda a humanidade. E Israel foi experimentando, foi tomando consciência de que esse seu Deus não era um deus entre outros, mas Deus, simplesmente o Deus, o Eterno, o Invisível, o Santo, o Único! Nos percalços da história, o Senhor foi educando Israel para acolher a Sua revelação. (2) Atenção, que “revelação” aqui não quer dizer revelação de segredos e ideias abstratas, de teorias, mas se trata da revelação de Alguém, revelação do próprio Deus: como um amigo se revela a outro amigo, como o amado se revela à sua amada em palavras, em gestos, em atitudes, em convivência, assim Deus, o Altíssimo, foi Se revelando ao Seu povo. (3) Somente num segundo momento é que os sábios e profetas, os escribas e sacerdotes foram colocando por escrito a história de Israel: suas histórias, suas tradições, séculos e séculos de vida com o seu Deus, vida que muito antes havia experimentado na existência sofrida de cada dia. Então, uma conclusão importante: os textos da Escritura não são simples documentos históricos crus, impessoais, simplesmente objetivos, crônicas de jornal ou informação de livro de história! Nada disso: são textos vivos, textos vividos, cheios de emoção, de paixão: são o testemunho de como um povo vivenciou no seu coração e na sua vida o seu relacionamento com o Deus vivo que lhe veio ao encontro nos acontecimentos da sua história. Imagine alguém colocando por escrito sua vida com a pessoa amada, sua história de amor com tantos altos e baixos... Assim Israel colocou por escrito essa relação do Deus Amante com o Seu povo amado... É isto o conjunto de textos a que chamamos Antigo Testamento. (4) E Israel foi crescendo na convicção de que esses textos tão humanos, com linguagem de homens, não eram simplesmente obra de homens: por trás dos autores humanos, era Deus mesmo quem estava inspirando, comunicando-Se, rasgando Seu coração para que o homem nele pudesse entrar!
Pois, meu Leitor, são esses textos benditos que compõem o nosso Antigo Testamento; textos que contêm a Palavra de Deus tanto para os judeus como para os cristãos. Mas, qual o enredo desses textos, desses livros que são as Escrituras Santas de Israel? O que dizem? O que prometem? O que ensinam a esperar? Para onde nos orientam?
Procuram mostrar que Deus tem um plano de amor e salvação para toda a humanidade. Desse modo, a Escritura garante que desde o princípio Deus foi Se manifestando aos homens e os homens foram dizendo-Lhe “não”! Como assim? Na sua vida, na sua consciência, nas suas escolhas, o homem foi sempre tentado a pensar: “A vida é minha: eu sei o que é melhor para mim, eu faço como eu quero!” E Deus teimando em nos dirigir Seu apelo no íntimo da nossa consciência, persistindo no Seu amor. Podemos encontrar isto em histórias que o povo contava, como as parábolas de Jesus, cheias de vida e de sabedoria: Adão e Eva, criados à imagem de Deus, o pecado de querer ser seu próprio deus, o mal se espalhando na humanidade, o dilúvio com o qual Deus mostra que não se contenta com o mal, mas dá sempre uma nova chance à humanidade... Assim, as Escrituras desejam mostrar que Deus ama a todos os seres humanos e deseja a salvação de todos... E mostra também como o homem foi e vai fabricando deuses, ídolos aos quais se apegar, nos quais colocar a segurança, fugindo do Deus vivo e verdadeiro que lhe fala na voz da consciência e o visita na saudade do seu coração desejoso de vida, verdade e paz... Quer aprofundar isso? Veja no Catecismo da Igreja Católica, nos números 50-58...



Escrito por Dom Henrique 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Brasil, país dos contrastes

Com população de 192 milhões de habitantes, apenas 6,6 milhões de brasileiros se encontram na universidade
09/11/2012
Frei Betto

Stefan Zweig intitulou Brasil, país do futuro seu livro de ensaios lançado em 1941, quando veio conhecer o país que o acolheria e no qual morreria no ano seguinte. Ora, pode ser aplicado ao futuro o que diz Eduardo Galeano a respeito da utopia: como o horizonte,  está sempre ali na frente, mas não se pode alcançá-la, por mais que se caminhe em sua direção.

Prefiro afirmar que o Brasil é um país de contrastes. Com população de 192 milhões de habitantes (dos quais 30 milhões na zona rural, onde predomina o latifúndio com grandes extensões de terras improdutivas), apenas 6,6 milhões de brasileiros se encontram na universidade. E dos 92 milhões de trabalhadores, quase a metade não tem carteira assinada.

Temos a maior área fundiária da América Latina e nunca se fez aqui uma reforma agrária. Somos o principal exportador de carne e temos a segunda maior frota de helicópteros das Américas, e convivemos com a miséria de 16 milhões de habitantes (dos quais 40% têm até 14 anos de idade e 71% são negros e pardos).

As marcas de 350 anos de escravidão no Brasil ainda são visíveis no fato de a maioria da população negra ser pobre e, com frequência, discriminada. O Brasil, considerado hoje a 6ª economia do mundo, ocupa a vergonhosa posição de 84º lugar no IDH da ONU (2012).
Embora 65% da renda nacional se concentrem em mãos de apenas 10% da população, o país experimenta sensíveis melhoras nesses primeiros anos do século XXI. Graças aos programas sociais dos governos Lula e Dilma, 30 milhões de pessoas deixaram a miséria. O controle da inflação, o crédito facilitado e a redução dos juros ampliam o segmento da classe média. A desoneração da indústria automobilística e dos produtos de linha branca (geladeiras, máquinas de lavar etc.) dão acesso a bens de consumo.

No entanto, 4 milhões de menores de 14 anos de idade ainda se encontram fora da escola e submetidos a trabalhos indignos. Cinco milhões de agricultores sem-terra se abrigam em precários acampamentos à beira de estradas ou habitam assentamentos com baixo índice de produtividade. Dos domicílios, 47,5% carecem de saneamento básico. Isso abrange um universo de 27 milhões de moradias nas quais vivem 105 milhões de pessoas.

Há cerca de 25 mil pessoas submetidas ao trabalho escravo, sobretudo nos estados da Amazônia, cujo desmatamento, provocado pelo agronegócio e a exploração predatória feita por empresas mineradoras, não cessa de despir a floresta de sua exuberância natural.

Na ponta mais estreita da pirâmide social, os brasileiros gastam, em viagens no exterior, US$ 1,8 bilhão por mês! O rombo nas contas externas atingirá, este ano, a cifra recorde de US$ 53 bilhões. Nos últimos anos, a baixa cotação do dólar em relação ao real afetou a indústria nacional e favoreceu a entrada de produtos estrangeiros.

Como a economia brasileira está ancorada principalmente na exportação de commodities, a crise financeira mundial reduz progressivamente as encomendas, tornando pífio o crescimento do PIB, previsto este ano para 1,2%.

Considerado o segundo maior consumidor de drogas no mundo (atrás apenas dos EUA), o Brasil convive com expressiva violência urbana. Os homicídios são a principal causa de mortes de jovens entre 12 e 25 anos.

Embora a situação social do Brasil tenha melhorado substancialmente na última década (a ponto de europeus afetados pela crise financeira migrarem para o nosso país em busca de emprego), falta ao governo implementar reformas estruturais, como a agrária, a tributária e a política.

O sistema de saúde pública é precário e somente neste ano os deputados federais propuseram dobrar para 10% do PIB o investimento federal em educação. Convivemos com 13,6% de adultos analfabetos literais e 29% de adultos analfabetos funcionais (sabem ler e assinar o nome, mas são incapazes de escrever uma carta sem erros ou interpretar um texto).

Segundo o Instituto Pró-Livro, o brasileiro lê apenas 4 livros por ano. E apenas 5% da população é capaz de se expressar em inglês, dos quais a maioria sem domínio do idioma.

O poder público brasileiro, com raras exceções, é avesso à cultura. O orçamento 2012 do Ministério da Cultura é de apenas R$ 5 bilhões (o PIB atual do Brasil é de R$ 4,7 trilhões). O que explica o país dispor de apenas 3 mil livrarias, a maioria concentrada nas grandes cidades do Sul e do Sudeste do país.

Apesar das dificuldades que o Brasil atravessa, somos um povo viciado em otimismo. Temos, por hábito, guardar o pessimismo para dias melhores...

Agora o nosso horizonte de felicidade se coloca na Copa das Confederações em 2013; na Copa do Mundo em 2014; e nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.

Como o nosso país estará no centro das atenções mundiais, o governo apressa obras, reforma estádios, aprimora a infraestrutura e promete festas que nos farão esquecer que ainda somos, socialmente, uma das nações mais desiguais do mundo.


Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.