segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Conteúdo da intervenção de D. António Couto, no Sínodo


Eis a intervenção de D. António Couto, sábado de manhã, no Sínodo dos Bispos (texto divulgado):
"A Igreja de ontem, de hoje e de sempre, deverá possuir os traços do rosto de Jesus Cristo. Deve, por isso, ser filial, fraterna, afectuosa, próxima e acolhedora, como bem a representou o beato Papa João Paulo II na Catechesi tradendae [1979], n. 67, e na Christifideles Laici [1988], n. 26. Deverá ter a dinâmica das primeiras comunidades cristãs, como o autor do livro dos Actos dos Apóstolos as apresentou: permanentemente atentas à Palavra de Deus, à comunhão, à fracção do pão e à oração (2, 42-47; 4, 32-35; 5, 12-15), átrio permanente da fraternidade aberta ao mundo, de modo a ser e a espelhar uma Igreja jovem, ágil e bela, tão jovem, ágil e bela que as pessoas lutarão para entrar nela.
Deverá ser, para além disso, uma Igreja anunciadora, completamente vinculada ao seu Senhor, não seduzida pelas novidades da última moda, mas bem consolidada na fidelidade ao seu Senhor, que se traduz no dom total de si, num estilo de vida pobre, humilde, despojado, feliz, apaixonado, audaz, próximo e dedicado. Sim, temos necessidade de anunciadores do Evangelho sem ouro, prata, cobre, alforge, duas túnicas… Sim, é de conversão que falo, e pergunto-me: porque é que os Santos lutaram tanto, e com tanta alegria, para serem pobres e humildes, e nós esforçamo-nos tanto para sermos ricos e importantes?" (Fonte: Rádio Vaticano)

Home > Audi�ncias e Angelus > 2012-10-14 15:47:12




Os ricos usem a riqueza para dar sentido à vida: Bento XVI no Angelus deste domingo, em que recordou a beatificação, em Praga, os primeiros Beatos deste Ano da Fé


Como habitualmente, também neste domingo, Bento XVI apareceu ao meio dia, à Janela do seu apartamento, sobre a Praça de São Pedro, para rezar a oração do Angelus e fazer uma breve reflexão com os fieis ali reunidos e no mundo inteiro, através dos de comunicação social.

Tal como sugere o Evangelho deste domingo em que São Marcos fala do encontro de Jesus com o rico opulento, foi sobre a questão da partilha das riquezas com os mais necessitados que o Papa centrou as suas palavras.

No encontro com esse rico, fiel observante dos mandamentos da lei de Deus, mas que não tinha ainda encontrado a felicidade e pergunta, por isso, a Jesus “como fazer para ter a vida eterna”, Jesus aproveita o desejo profundo desse homem habituado a “comprar” tudo com o dinheiro e apegado aos seus bens materiais, para lhe propor dar tudo aos pobres e a segui-Lo. “Vem, segue-me!”

Mas o homem que pensava que Jesus lhe ai propor algum mandamento especial que pudesse, quem sabe, cumprir também com a ajuda do dinheiro, não compreendeu essa proposta de Jesus. O Filho de Deus colhe, então, a ocasião para explicar aos seus discípulos “quão difícil é para os ricos entrar no reino de Deus”, Aliás, disse, “é mais fácil para um camelo passar pelo fundo duma agulha do que para um rico entrar no reino de Deus”

Perante o espanto dos discípulos, Jesus acrescentou todavia, que isto é impossível para os homens, mas não para Deus, porque a Deus tudo é possível .

E a este respeito o Papa citou São Clemente de Alexandria, segundo o qual a parábola do rico opulento ensina aos ricos que não devem descurar a sua salvação, como se fossem já condenados a não entrar no reino dos céus, nem devem considerar a sua riqueza hostil à vida, mas devem, isso sim, aprender a usá-la para dar sentido à vida

O Papa recordou ainda que a Igreja está cheia de exemplos de pessoas ricas que souberam usar os próprios bens de forma evangélica, chegando mesmo à santidade… E lembrou o caso de São Francisco, Santa Isabel da Hungria ou São Carlos Borromeo…

Bento XVI concluiu as suas reflexões com os fieis invocando Nossa Senhora, sede da sabedoria, para nos ajudar a acolher com alegria o convite de Jesus, para entrar na plenitude da vida.

Depois da Oração o Papa saudou os peregrinos em diversas línguas, começando por recordar, em italiano, que, ontem em Praga, foram proclamados os primeiros beatos deste Ano da Fé: Federico Bachstein e treze confrades da ordem dos Frades Menores fraciscanos, martirizados em 1611 por causa da sua fé. Recordam-nos – disse o Papa – que acreditar em Cristo significa estar dispostos também a sofrer com Ele e para Ele.

Em esloveno e polaco, Bento XVI saudou os peregrinos da Eslovénia e da Polónia, recordando os 250 anos da paróquia de Dob Pri Domzalah na Eslovénia, e o “Dia do Papa, com o lema “João Paulo II – Papa da Família”, na Polónia.

“N’ayons pás peur de vivre e de proclamer notre foi en Dieu”

Em língua francesa Bento XVI exortou os cristãos a não terem medo de viver e de proclamar a própria fé em Deus e recordou que hoje como ontem viver para Deus obriga a fazer escolhas por vezes difíceis e convidou, neste mês do Rosário, a virar o olhar para Maria, confiando-lhe as nossas famílias a Assembleia sinodal reunida no Vaticano para reflectir sobre a Nova Evangelização.

Have de Cougare to ask Lord wahta morte can we do….”

Em inglês Bento XVI convidou a ter a coragem de perguntar a Deus “que mais podemos fazer, especialmente para os pobres, as pessoas sós, os doentes, os que sofrem de algum modo, por forma a sermos testemunhos e herdeiros da vida eterna prometida por Deus. 

Fonte: Rádio Vaticano)
 A generosidade do Papa 
                                                      Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá


Apresentou-se certa vez, a Bento XIV, um pobre pai de família e, contando-lhe suas necessidades, pediu-lhe um auxílio.
- Tenho apenas vinte escudos – disse o Papa – se lhe bastam, dou-os com gosto.
 Um jovem prelado, que estava presente, advertiu-o, em voz baixa, que vinte escudos eram demais, bastavam dez.
 – O senhor tem dez escudos consigo? - Perguntou-lhe o Pontífice.
O prelado, metendo a mão no bolso, apresentou-lhe dez escudos. Então o Papa, entregando ao pobre seus vinte escudos com mais aqueles dez, disse:
- Agradeça também ao Monsenhor, que concorre ao benefício, acrescentando à minha oferta a sua de dez escudos.
- O prelado ficou bastante desapontado, mas calou-se...
Uma simples história de caridade, talvez um pouco forçada como a do Monsenhor, acabou sendo mais uma ajuda para quem estava precisando.
O evangelho deste domingo é um conjunto de palavras do Senhor Jesus, que continua ensinando aos seus discípulos. Primeiro ele diz que ninguém pode fazer milagres em seu nome e depois falar mal dele. O importante é que “toda língua confesse que Jesus é o Senhor, para a glória de Deus Pai” diz a carta aos Filipenses (2,11). No nome de Jesus só se deveria fazer o bem a quem precisa - também se simples e, aparentemente, insignificante como um copo de água. O escândalo acontece quando o nome de Jesus é usado para prejudicar alguém ou dar vantagem a uns sobre contra outros. Jesus não pode ser de parte. Por isso, os pequenos e os pobres ficam escandalizados porque acreditam no amor do Pai para com todos. Privilégios e enriquecimentos, usando o nome de Deus, só podem desnortear a fé dos simples. Pensando bem, porém, todos os discípulos verdadeiros deveriam ser os simples e pobres de coração que procuram amar a Deus servindo ao seu próximo, com generosidade e desprendimento, porque somente de Deus aguardam a  recompensa.
Na última parte do evangelho, encontramos aquelas palavras de Jesus que não deixam de nos surpreender e incomodar. Entendemos que elas não devem ser tomadas literalmente cortando mesmo mãos, pés e arrancando olhos. No entanto, a decisão de mudar certas atitudes ou costumes nos custa quase quanto arrancar membros do nosso corpo. Mais uma vez, devemos entender as palavras de Jesus como um convite à liberdade. Liberdade para amar e fazer o bem. Para possuir o grande tesouro que é “entrar no reino de Deus” vale a pena renunciar não somente aos males, mas também a outros “bens” menos valiosos. Não por desprezo ou heroísmo. Como considerar inúteis uma mão, um pé ou um olho? Eles podem ser, porém, obstáculos para a nossa participação no reino. A porta para entrar é sempre estreita, precisa deixar fora muitas coisas. Sabemos que por nosso orgulho, muitas vezes, custa-nos demais renunciar a uma ideia ou uma opinião. Perdemos amizades, até a própria família, mas não admitimos erros, não pedimos socorro para nos libertar de certos vícios que estão grudados em nós, mais do que os membros do nosso corpo.
Achamos tudo isso tão difícil e até inútil porque o reino do qual Jesus fala nos parece tão longe! Por que deveríamos renunciar a algo bom para nós, hoje, pensando num prêmio tão duvidoso no futuro? Na realidade o bem que fazemos já é sinal e presença do reino. A renúncia a algo de menos importância é para começarmos a ser felizes hoje, escolhendo a parte melhor, aprendendo a amar, a servir, a nos doar. Ninguém aprende a fazer isso de uma vez só, precisamos treinar também para amar, talvez com pequenos gestos – o copo de água! – um sorriso, uma mão estendida, uma ajuda a quem sofre.
Talvez precisamos de alguém que nos empurre para doar. O Monsenhor da história não ficou muito feliz por ter dado os dez escudos, mas já os tinha entregado. Aprendeu com a lição do papa Bento XIV (14 mesmo), lá pelos anos de 1700.  

domingo, 14 de outubro de 2012

  Home > Igreja > 13/10/2012 17:24:37



Ano da Fé para jovens da Papua Nova Guiné: Evangelho para dizer "não" aos vícios


Port Moresby (RV) - O Ano da Fé é, para os jovens da Papua Nova Guiné, "uma grande oportunidade e um convite a redescobrir o Evangelho para dizer 'Não' à droga, ao consumo de álcool, à libertinagem e à desordem em campo sexual".

É o que afirma, numa mensagem enviada à agência missionária Fides, o coordenador nacional da Pastoral de Juventude no país situado na parte leste da segunda maior ilha do mundo – Nova Guiné –, Pe. Shanti Puthussery, membro do Pontifício Instituto Missões Exteriores.

Pe. Shanti detém-se sobre a chamada a situação da "geração perdida", ou seja, a faixa dos jovens entre os 15 e 20 anos que, no contexto do país, vive relevantes problemas sociais.

"Muitos desses jovens já se encontram prejudicados e quase destruídos pela droga, pela pornografia, por relações sexuais desordenadas e pelo desmedido consumo de álcool – conta o sacerdote –, e não estou certo de que as autoridades civis tenham plena consciência da gravidade desses problemas, mas, como Igreja Católica, creio que temos a responsabilidade de promover atividades de formação integral para os jovens. O Ano da Fé deve ser acompanhado com a ação social e a transformação da sociedade."

"Caso contrário – prossegue Pe. Shanti –, as práticas de fé permanecem vazias e não preenchem o vazio na sociedade e nas relações interpessoais. Devemos ajudar os jovens a levarem a sério os nossos ensinamentos, a fim de mudar as suas vidas, o que hoje é muito difícil para eles." (RL) (Fonte: Rádio Vaticano)
    Home > Cultura e sociedade > 13/10/2012 17:35:30 /Rádio Vaticano




Trabalhos sinodais: Nova Evangelização é sinal de que o Espírito Santo continua operando ativamente na Igreja


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Cidade do Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, voltamos ao nosso encontro semanal dedicado à nova evangelização. Depois de um caminho de preparação para a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, chegamos ao grande evento para o qual a Igreja no mundo inteiro olha e acompanha com grande atenção esperando dele, com a assistência do Espírito Santo, abundantes frutos para a Igreja nos anos vindouros, ou seja, a Assembléia sinodal que tem como tema "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã", evento este que se enriquece e se entrelaça com o "Ano da Fé", iniciado nesta quinta-feira, 11 de outubro, no 50º aniversário de abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II.

São 262 Padres sinodais, constituindo o maior número de participantes na história dos Sínodos: 103 da Europa, 63 da América, 50 da África, 39 da Ásia e 7 da Oceania. Presentes também 45 especialistas e 49 auditores. Registra-se, ainda, a presença dos delegados fraternos representantes de 15 Igreja e comunidades eclesiais não ainda em plena comunhão com a Igreja Católica.

A Igreja no Brasil encontra-se representada pelos seguintes Padres sinodais: o bispo de Lorena, SP, Dom Bendito Beni dos Santos, escolhido por Bento XVI; e os bispos escolhidos pela CNBB e aprovados pelo Papa, o arcebispo de Brasília, Dom Sérgio da Rocha; o arcebispo de Mariana (MG), Dom Geraldo Lyrio Rocha, o arcebispo de São Paulo, Cardeal Pedro Odilo Scherer; e o bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner, sendo que os suplentes eleitos são o arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da CNBB, Cardeal Raymundo Damasceno Assis; e o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta.

Já na apresentação do grande evento eclesial, o secretário-geral do Sínodo, Dom Nikola Eterović, recordou o que aqui temos reiteradamente enfatizado: que "a Igreja existe para evangelizar". E já nos trabalhos sinodais propriamente ditos, o arcebispo destacou que "a nova evangelização é também um sinal de que o Espírito Santo continua trabalhando ativamente na Igreja".

E é justamente sobre a ação do "Espírito Santo protagonista da missão" que temos dedicado as últimas edições deste espaço, no âmbito de nossa revisitação à Redemptoris missio, encíclica de João Paulo II, de 1990, sobre a validade permanente do mandato missionário. Ao tempo em acompanhamos com particular interesse os trabalhos dos Padres sinodais, em sua primeira semana de atividades, na edição de hoje trazemos o nº 25 da Carta encíclica, que prossegue o texto intitulado "O Espírito guia a missão":

25. "Os missionários, seguindo esta linha de ação, tiveram presente os anseios e as esperanças, as aflições e os sofrimentos, a cultura do povo, para lhe anunciar a salvação em Cristo. Os discursos de Listra e de Atenas (cf. At 14, 15-17; 17, 22-31) são considerados modelo para a evangelização dos pagãos: neles, Paulo « dialoga » com os valores culturais e religiosos dos diferentes povos. Aos habitantes da Licaônia, que praticavam uma religião cósmica, Paulo lembra experiências religiosas que se referiam ao cosmos; com os Gregos, discute sobre filosofia e cita os seus poetas (cf. At 17, 18.26-28). O Deus que vem revelar, já está presente nas suas vidas: de fato, foi Ele Quem os criou, e é Ele que misteriosamente conduz os povos e a história; no entanto, para reconhecerem o verdadeiro Deus, é necessário que abandonem os falsos deuses que eles próprios fabricaram, e se abram Àquele que Deus enviou para iluminar a sua ignorância e satisfazer os anseios dos seus corações (cf. At 17, 27-30). São discursos que oferecem exemplos de inculturação do Evangelho.
Sob o impulso do Espírito, a fé cristã abre-se decididamente às nações pagãs, e o testemunho de Cristo expande-se em direção aos centros mais importantes do Mediterrâneo oriental, para chegar depois a Roma e ao extremo ocidente. É o Espírito que impele a ir sempre mais além, não só em sentido geográfico, mas também ultrapassando barreiras étnicas e religiosas, até se chegar a uma missão verdadeiramente universal."

Amigo ouvinte, por hoje nosso tempo já acabou. Acompanhemos o Sínodo dos Bispos não somente com grande interesse, mas – como nos pediu o Santo Padre na vigília do importante evento eclesial – também com nossas orações, certos de que o Espírito Santo que nos vivifica e anima a Igreja haverá de nos indicar o caminho a seguir, as oportunidades de proclamar de novo a mensagem perene do Evangelho e a verdade de Jesus Cristo, que é o mesmo ontem, hoje e sempre. (RL)

sábado, 13 de outubro de 2012

A ótica da evolução cósmica nos devolve esperança
Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
 
Esqueçamos por um momento nossa visão normal das coisas e tentemos fazer uma leitura de nossa crise atual nos marcos do tempo cósmico. Talvez assim a entendamos melhor, a relativizemos e ganhemos altura em função da esperança.

O tempo do Cosmos

Imaginemos que os mais ou menos 13 bilhões de anos de história do universo, sejam condensados em um único século. Cada “ano cósmico” seria equivalente a 113 milhões de anos terrestres. Deste ponto de vista, a Terra nasceu no ano 70 do século cósmico e a vida apareceu nos oceanos, para nossa surpresa, logo depois no ano 73. Durante quase duas décadas cósmicas ela ficou praticamente limitada a bactérias unicelulares. No ano 93, uma nova fase criativa se iniciou com o aparecimento da reprodução sexual dos organismos vivos. Estes, junto com outras forças, foram responsáveis por mudar a face do planeta, já que eles transformaram radicalmente a atmosfera, os oceanos, a geologia da Terra. Isso permitiu ao nosso planeta sustentar formas de vida mais complexas. Grande parte da biosfera é criação desses micro-organismos.
Nessa nova fase, o processo evolutivo se acelerou rapidamente. Dois anos mais tarde, no ano 95, os primeiros organismos multicelulares apareceram. Um ano mais tarde, em 96, assistimos ao o aparecimento de sistemas nervosos e em 97 aos primeiros organismos vertebrados. Os mamíferos aparecerão nos meados de 98, ou seja, dois meses depois dos dinossauros e uma imensa variedade de plantas. Há cinco meses cósmicos os asteróides começam a cair sobre a Terra destruindo muitas espécies, incluindo os dinossauros. Entretanto, um pouco depois a Terra, como que se vingando, produziu uma diversidade de vida, como nunca antes. É nesta era, quando apareceram as flores, que nossos ancestrais entraram no cenário da evolução. Logo se tornaram bípedes (há 12 dias cósmicos), e com o homo habilis começou a usar ferramentas (há 6 dias cósmicos), enquanto o homo erectus conquistou o fogo (há apenas um dia cósmico). Há doze horas cósmicas, os humanos modernos (homo sapiens) surgiram.
Pela tarde e durante a noite deste primeiro dia cósmico, nós vivíamos em harmonia com a natureza e atentos a seus ritmos e perigos. Até quarenta minutos atrás, nossa presença teve pouco impacto sobre a comunidade biótica, momento no qual começamos a domesticar plantas e animais e a desenvolver a agricultura. A partir de então, as intervenções na natureza foram se tornando cada vez mais intensas até quando, há 20 minutos, começamos a construir e habitar cidades. Somente há apenas dois minutos, o impacto se tornou realmente ameaçador. A Europa se transformou numa sociedade tecnológica e expandiu seu poder através da exploração colonialista. Nesta fase se formou o projeto-mundo, criando um centro com várias periferias e o fosso entre ricos e pobres.
Nos últimos doze segundos (a partir de 1950) o ritmo de exploração e destruição ecológica se acelerou dramaticamente. Neste breve período de tempo, derrubamos quase metade das grandes florestas. Nos próximos 20 segundos cósmicos as temperaturas da Terra subiram 0,5°C e podem, dentro de pouco, chegar até 5°C colocando em risco grande parte da biosfera e milhões de pessoas. Nos últimos cinco segundos cósmicos, a Terra perdeu uma quantidade de solo equivalente a toda terra cultivável da França e da China e foi inundada por dezenas de milhares de novos produtos químicos, muitos dos quais altamente tóxicos que ameaçam as bases da vida. Já agora estamos dizimando entre 27 a 100 mil espécies de seres vivos por ano. Nos próximos 7 segundos cósmicos, cientistas estimam que entre 20 a 50% de todas as espécies irão desaparecer. Quando isso vai parar? Por que tanta devastação?
Respondemos: para que uma pequena porção da Humanidade tivesse o desfrute privado ou corporativo dos "benefícios” deste projeto de civilização. Os 20% mais ricos ganham atualmente duzentas vezes mais que os 20% mais pobres. No começo de 2008, antes da crise econômico-financeira atual, havia cerca de 1.195 bilionários, que, juntos, detinham 4,4 trilhões de dólares, ou seja, mais ou menos o dobro da renda anual dos 50% mais pobres. Em termos de renda, os 1% mais ricos da Humanidade recebiam o equivalente que os 57% mais pobres.

O tempo da Terra

Nosso Planeta, fruto de mais de quatro bilhões de anos de evolução, está sendo devorado por uma relativa minoria humana. Pela primeira vez na história da evolução da Humanidade, os problemas referidos acima são principalmente causados por essa minoria e também, em menor proporção, por todos nós. Os perigos criados colocam em xeque o futuro de nosso modo de viver. Entretanto, se por um lado enfatizamos a gravidade da crise, por outro, não queremos projetar visões apocalípticas que só nos causariam paralisia e desespero. Se estes problemas foram criados por nós, poderão também ser desfeitos por nós, embora alguns sejam já irreversíveis. Isso significa que há esperança de solucioná-los satisfatoriamente.
Efetivamente, quem acompanhou a Cúpula dos Povos em Julho último no Rio de Janeiro ou participou dos Fóruns Sociais Mundiais se dá conta de que há milhares e milhares de pessoas conscientes e criativas, vindas do mundo inteiro, trabalhando na formulação de alternativas práticas que podem permitir à Humanidade viver com dignidade e sem afetar a saúde dos ecossistemas e da Mãe Terra.
Temos informações e conhecimentos necessários para solucionar a atual crise. O que nos falta é a ativação da inteligência emocional e cordial que nos suscitam sonhos salvadores, solidariedade, compaixão, sentimentos de interdependência e de responsabilidade universal. Importa reconhecer que todas as ameaças que enfrentamos, comparecem como sintomas de uma doença crônica cultural e espiritual. Ela afeta a todos; mas, principalmente, os 20% que consomem a maior parte da riqueza do mundo. Esta crise nos obriga a pensar num outro paradigma de civilização, porque o atual é demasiadamente destrutivo. É o que viemos escrevendo com frequência em nossos artigos.
Tempos de crise podem ser também tempos de criatividade, tempos no quais novas visões e novas oportunidades aparecem. O kanji chinês para crise, wei-ji, é o resultado da combinação dos kanjis para perigo e para oportunidade (representados por uma poderosa lança e por um escudo impenetrável). Isto não é uma simples contradição ou um paradoxo; os perigos reais nos forçam buscar as causas profundas e a procurar alternativas para não desperdiçar as oportunidades.
Para a nossa cultura, a crise se deriva da palavra sânscrita kri que significa purificar e acrisolar. Portanto, se trata de um processo, certamente doloroso, mas altamente positivo de purificação de nossas visões e que funciona como um crisol de nossas atitudes ético-espirituais. Ambos os sentidos, o chinês e sânscrito, são iluminadores.

O nosso tempo

Temos que revisitar as fontes de sabedoria das muitas culturas da Humanidade. Algumas são ancestrais e chegam a nós através das mais diversas tradições culturais e espirituais. Fundamental é a categoria do "bem viver” das culturas andinas. Outras são mais modernas como a ecologia profunda, o feminismo e ecofeminismo, a psicologia transpessoal e a nova cosmologia, derivada das ciências da complexidade, da astrofísica e dos novos saberes da vida e da Terra.
Termino com o testemunho de duas notáveis ecologistas e educadoras norte-americanas, Macy e Brown, que asseveram: "A característica mais extraordinária do atual momento histórico da Terra não é que estejamos a caminho da devastação de nosso Planeta, pois já o estamos fazendo há muito tempo; é que estamos começando a acordar, de um sono milenar, para um novo tipo de relação para com a natureza, a vida, a Terra, os outros e para conosco mesmo. Esta nova compreensão tornará possível a tão ansiada Grande Transformação” (Macy e Brown, Nossa vida como Gaia, 2004, 37). E ela virá por graça da evolução e de Deus.

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Leonardo Boff é membro Comissão Central da Carta da Terra e, junto com M. Hathway, autor de O Tao da Libertação (Vozes) 2012

casamento infantil em todo o mundo

11 de outubro de 2012 · Destaque

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No Dia Internacional das Meninas, lembrado hoje (11) pelo primeiro ano, ONU alerta que 400 milhões de mulheres com idade entre 20 e 49 já foram casadas ou tiveram uma união informal quando eram meninas.

Globalmente, cerca de 400 milhões de mulheres com idade entre 20 e 49 – ou 41% do total de mulheres nesta faixa etária – já foram casadas ou tiveram uma união informal quando eram meninas.
O tema é foco de uma data especial marcada hoje (11) pelas Nações Unidas, o Dia Internacional das Meninas, adotada pela Assembleia Geral da ONU em dezembro de 2011 e lembrada em 2012 pelo primeiro ano.
Embora a proporção de “crianças noivas” tenha diminuído ao longo dos últimos 30 anos, em algumas regiões o casamento infantil continua a ser comum mesmo entre as gerações mais jovens, especialmente em áreas rurais e naquelas onde há extrema pobreza.
Entre as jovens de 20 a 24 anos em todo o mundo, cerca de 1 em cada 3 – cerca de 70 milhões – foram casadas quando ainda eram crianças, e cerca de 11% – quase 23 milhões – realizaram um casamento ou união informal antes de atingirem 15 anos de idade.
Por definição, o casamento infantil é qualquer casamento formal ou união informal realizada antes dos 18 anos e é, ressalta a ONU, uma realidade tanto para meninas quanto para meninos – embora as meninas são desproporcionalmente as mais afetadas.
Os Escritórios Regionais para a América Latina e o Caribe do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), da ONU Mulheres, da Campanha do Secretário-Geral das Nações Unidas ‘Una-se pelo Fim da Violência contra as Mulheres’ e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) expressam sua preocupação com a situação de milhões de meninas e adolescentes na região, especialmente aquelas que vivem em situação de extrema pobreza ou estão sujeitas à discriminação de gênero e a outros tipos de violência. (Saiba em detalhes clicando aqui)
Em sua mensagem, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, destacou que investir nas crianças do gênero feminino é um “imperativo moral”, bem como uma obrigação no âmbito da Convenção sobre os Direitos da Criança e da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. “Também é fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, fazendo avançar o crescimento econômico e a construção de sociedades pacíficas, coesas”, observou.
Ban lembrou que o casamento de crianças tira das meninas oportunidades de vida, além de pôr em risco a saúde, aumentar a exposição à violência e ao abuso, e resultar em gravidez precoce e indesejada, muitas vezes com um risco fatal. “Se uma mãe tem menos de 18 anos de idade, o risco do seu bebê morrer no primeiro ano de vida é 60% maior do que a de uma criança nascida de uma mãe maior de 19 anos”, afirmou.

Estratégias da ONU

Para enfrentar o problema, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) tem adotado algumas ações que mostram resultados em muitas partes do mundo.
Entre elas, está aprovar e fazer cumprir a legislação adequada para aumentar a idade mínima de casamento para as meninas para 18 anos, bem como sensibilizar o público sobre o casamento infantil como uma violação dos direitos humanos das meninas. Outra medida é melhorar o acesso ao ensino primário e secundário de boa qualidade, assegurando que as desigualdades de gênero no ensino sejam eliminadas.
O UNICEF também mobiliza meninas, meninos, pais, líderes e personalidades para transformar as normas sociais de gênero, incluindo a discriminação, as justificativas religiosas e culturais, além de promover os direitos das meninas e suas oportunidades de vida. O Fundo também dá apoio às meninas já casadas, proporcionando-lhes opções para o ensino, serviços de saúde sexual e reprodutiva, capacitação sobre os meios de subsistência e informação contra a violência em casa.
Outra ação é aumentar as oportunidades econômicas, incluindo transferências de recursos financeiros ligadas a serviços sociais como saúde, nutrição, educação e proteção, de modo a combater os incentivos econômicos que promovem o casamento infantil. (Acesse outras ações em detalhes em http://bit.ly/STHz8T)
Ainda hoje (11), o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) lançará um relatório sobre o casamento de crianças em todo o mundo e o que deve ser feito para erradicá-lo. O documento “Casar muito jovem: Acabar o Casamento Infantil” abordará a prevalência do casamento infantil e as tendências nos países em desenvolvimento, fornecendo perspectivas sobre o tema e descrevendo o que os países podem fazer para enfrentar o problema, caso as tendências atuais sobre casamento infantil continuem.
A data também será marcada pela abertura da exposição de arte “Muito Novas para Casar” (Too Young to Wed), organizada pelo UNFPA e pela VII Photo Agency na sede das Nações Unidas. Com fotografia de Stephanie Sinclair e vídeo de Jessica Dimmock, a iniciativa destaca as narrativas pessoais de meninas do Afeganistão, Etiópia, Índia, Nepal e Iêmen. O objetivo é renovar a atenção mundial para esta questão crítica, além de promover a responsabilidade dos tomadores de decisão em todo o mundo.
A Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres) lembrou a data por meio de uma mensagem de sua Diretora Executiva, a chilena Michelle Bachelet. Ela enfatizou o compromisso da ONU Mulheres de ficar ao lado das meninas em apoio aos seus direitos.
Bachelet enfatizou que a entidade trabalhará com governos e outros parceiros para promover a educação, saúde e bem-estar das meninas, como forma de alcançar um mundo onde elas possam viver livres da violência, do medo e da discriminação.

OIT: 88 milhões de todas as crianças trabalhadoras do mundo são meninas

Em mensagem sobre o tema, o Diretor Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, lançou um apelo em favor de um conjunto de medidas dirigidas a garantir o acesso das meninas ao progresso e à justiça social em todo o mundo. Em um discurso pronunciado por ocasião do Dia, Ryder disse que as estruturas, políticas e valores atuais que mantêm as meninas em desvantagem devem mudar.
“As desigualdades de gênero que prevalecem desde tenra idade, tendem a gerar uma desigualdade de gênero a longo prazo que se perpetua no mundo do trabalho. Apesar dos valores, princípios e direitos amplamente reconhecidos pela comunidade internacional, com demasiada frequência a realidade é que as meninas são sistematicamente marginalizadas por causa de seu sexo. Isto deve terminar”.
A OIT lembrou que cerca de 88 milhões de todas as crianças trabalhadoras do mundo são meninas. Muitas realizam os trabalhos pior remunerados, mais inseguros ou são vítimas da desigualdade de gênero em casa e no local de trabalho. Outras, que trabalham em casa, permanecem invisíveis e não são levadas em conta.

Especialistas independentes cobram medidas práticas

Reunidos em Genebra, um grupo de especialistas em direitos humanos das Nações Unidas pediram hoje (11), por meio de um comunicado, que os Estados aumentem a idade do casamento para 18 anos “para meninos e meninas sem exceção”, bem como adotem “medidas urgentes para impedir o casamento de crianças”.
“Tal como acontece com todas as formas de escravidão, os casamentos forçados precoces devem ser criminalizados. Eles não podem ser justificados por motivos tradicionais, religiosos, culturais ou econômicos”, disseram.
Os especialistas ressaltaram, no entanto, que uma abordagem que só incida sobre a criminalização não pode ter êxito em combater eficazmente os casamentos forçados precoces. “Isto deve ir de mãos dadas com campanhas de sensibilização do público para enfatizar a natureza e os danos causados por casamentos forçados e programas comunitários para ajudar a detectar, aconselhar, reabilitar e abrigar, quando necessário. Além disso, o registro de nascimento deve ser universalizado de modo a apoiar a prova de idade e impedir o casamento forçado precoce”. (Fonte: ONU BRASIL)