Paz e guerra
Todos os Documentos do Concílio Vaticano II têm um conteúdo
absolutamente atual. A Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” (Alegria e
Esperança) é um destes, ao situar a Igreja em sua relação com o mundo.
Vista sob muitos ângulos, a face do mundo se apresenta com luzes de
esperança e com trevas de sofrimento. Uma das chaves de leitura da
situação da humanidade diz respeito à paz e à guerra entre as nações. Há
cinquenta anos, os Padres Conciliares tiveram grande lucidez e agudo
profetismo, ao tratarem desse tema. “É, portanto, claro, que nos devemos
esforçar por todos os meios por preparar os tempos em que, por comum
acordo das nações, se possa interditar absolutamente qualquer espécie de
guerra. Isto exige, certamente, a criação duma autoridade pública
mundial, por todos reconhecida e com poder suficiente para que fiquem
garantidos a todos a segurança, o cumprimento da justiça e o respeito
dos direitos. Porém, antes que esta desejável autoridade possa ser
instituída, é necessário que os supremos organismos internacionais se
dediquem com toda a energia a buscar os meios mais aptos para conseguir a
segurança comum. Já que a paz deve antes nascer da confiança mútua do
que ser imposta pelo terror das armas, todos devem trabalhar por que se
ponha, finalmente, um termo à corrida aos armamentos e por que se inicie
progressivamente e com garantias reais e eficazes, a redução dos mesmos
armamentos, não unilateral evidentemente, mas simultânea e segundo o
que for estatuído”. A história contemporânea demonstra que a ONU não
consegue ser essa “autoridade pública mundial, por todos reconhecida”.
A Gaudium et Spes mostra que a aspiração da paz é, antes de tudo, uma
questão de mentalidade. “No entanto, evitem os homens entregar-se apenas
aos esforços de alguns, sem se preocuparem com a própria mentalidade.
Pois os governantes, responsáveis pelo bem comum da própria nação e ao
mesmo tempo promotores do bem de todo o mundo, dependem muito das
opiniões e sentimentos das populações. Nada aproveitarão com dedicar-se à
edificação da paz, enquanto os sentimentos de hostilidade, desprezo e
desconfiança, os ódios raciais e os preconceitos ideológicos dividirem
os homens e os opuserem uns aos outros. Daqui a enorme necessidade duma
renovação na educação das mentalidades e na orientação da opinião
publica. Aqueles que se consagram à obra de educação, sobretudo da
juventude, ou que formam a opinião pública, considerem como gravíssimo
dever o procurar formar as mentalidades de todos para novos sentimentos
pacíficos. Todos nós temos, com efeito, de reformar o nosso coração, com
os olhos postos no mundo inteiro e naquelas tarefas que podemos
realizar juntos para o progresso da humanidade.” .
Na perspectiva da cultura de paz, a Gaudium et Spes mostra quão
importante é o papel dos “que formam a opinião pública” que podem ser
considerados “promotores da paz”.
A cultura de paz deve ser permanentemente alimentada no coração das
pessoas, na estrutura da sociedade e no bojo das instituições políticas,
embora o GPS da guerra identifique permanentes pontos vermelhos no mapa
das nações. A cultura de paz há de prevalecer num mundo onde se instala
a cultura de guerra na convivência das nações e no relacionamento das
pessoas e dos grupos sociais. De sua parte, “a Igreja de Cristo, no meio
das angústias do tempo atual, não deixa de esperar firmemente.”

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