sábado, 1 de dezembro de 2012

Paz e guerra

Todos os Documentos do Concílio Vaticano II têm um conteúdo absolutamente atual. A Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” (Alegria e Esperança) é um destes, ao situar a Igreja em sua relação com o mundo. Vista sob muitos ângulos, a face do mundo se apresenta com luzes de esperança e com trevas de sofrimento. Uma das chaves de leitura da situação da humanidade diz respeito à paz e à guerra entre as nações. Há cinquenta anos, os Padres Conciliares tiveram grande lucidez e agudo profetismo, ao tratarem desse tema. “É, portanto, claro, que nos devemos esforçar por todos os meios por preparar os tempos em que, por comum acordo das nações, se possa interditar absolutamente qualquer espécie de guerra. Isto exige, certamente, a criação duma autoridade pública mundial, por todos reconhecida e com poder suficiente para que fiquem garantidos a todos a segurança, o cumprimento da justiça e o respeito dos direitos. Porém, antes que esta desejável autoridade possa ser instituída, é necessário que os supremos organismos internacionais se dediquem com toda a energia a buscar os meios mais aptos para conseguir a segurança comum. Já que a paz deve antes nascer da confiança mútua do que ser imposta pelo terror das armas, todos devem trabalhar por que se ponha, finalmente, um termo à corrida aos armamentos e por que se inicie progressivamente e com garantias reais e eficazes, a redução dos mesmos armamentos, não unilateral evidentemente, mas simultânea e segundo o que for estatuído”. A história contemporânea demonstra que a ONU não consegue ser essa “autoridade pública mundial, por todos reconhecida”. 
A Gaudium et Spes mostra que a aspiração da paz é, antes de tudo, uma questão de mentalidade. “No entanto, evitem os homens entregar-se apenas aos esforços de alguns, sem se preocuparem com a própria mentalidade. Pois os governantes, responsáveis pelo bem comum da própria nação e ao mesmo tempo promotores do bem de todo o mundo, dependem muito das opiniões e sentimentos das populações. Nada aproveitarão com dedicar-se à edificação da paz, enquanto os sentimentos de hostilidade, desprezo e desconfiança, os ódios raciais e os preconceitos ideológicos dividirem os homens e os opuserem uns aos outros. Daqui a enorme necessidade duma renovação na educação das mentalidades e na orientação da opinião publica. Aqueles que se consagram à obra de educação, sobretudo da juventude, ou que formam a opinião pública, considerem como gravíssimo dever o procurar formar as mentalidades de todos para novos sentimentos pacíficos. Todos nós temos, com efeito, de reformar o nosso coração, com os olhos postos no mundo inteiro e naquelas tarefas que podemos realizar juntos para o progresso da humanidade.” . Na perspectiva da cultura de paz, a Gaudium et Spes mostra quão importante é o papel dos “que formam a opinião pública” que podem ser considerados “promotores da paz”.
A cultura de paz deve ser permanentemente alimentada no coração das pessoas, na estrutura da sociedade e no bojo das instituições políticas, embora o GPS da guerra identifique permanentes pontos vermelhos no mapa das nações. A cultura de paz há de prevalecer num mundo onde se instala a cultura de guerra na convivência das nações e no relacionamento das pessoas e dos grupos sociais. De sua parte, “a Igreja de Cristo, no meio das angústias do tempo atual, não deixa de esperar firmemente.”
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário