sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Comentário ao Credo do Povo de Deus - III


Cremos em um só Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - Criador das coisas visíveis - como este mundo, onde se desenrola nossa vida passageira -, Criador das coisas invisíveis - como são os puros espíritos, que também chamamos anjos -, Criador igualmente, em cada homem, da alma espiritual e imortal.

O Deus Uno e Trino, o único Deus verdadeiro é o criador de todas as coisas que existem. Duas observações: tudo é criado pelo Deus único, mas cada Pessoa divina participa da obra criadora de um modo pessoalmente próprio: o Pai cria porque tudo provém do Pai como fonte última; o Filho cria porque tudo é criado através Dele, de modo que tudo quanto é criado pelo Pai traz impressa a marca da filiação. Em outras palavras: tudo quanto existe tem algo de filial em relação ao Pai, pois que tudo foi criado através do Filho e para o Filho (cf. Cl 1,15ss). Do mesmo modo, o Espírito Santo é o criador de tudo – Spiritus Creator – porque tudo somente Nele pode ter a subsistência, tudo é criado Nele e Nele é sustentado, permanece e progride: Ele é a subsistência e a consistência de tudo quanto existe. Resumindo: tudo é obra do Deus Triuno: tudo vem do Pai através do Filho na potência do Espírito!
Há uma criação visível e uma criação invisível. O mundo visível é tudo quanto pertence a este mundo no qual vivemos, mundo ligado à matéria. É o mundo que pode ser captado pelos sentidos de um modo ou de outro, o mundo que pode ser averiguado pela ciência, pois está submetido ao cuidado do homem. Quanto ao mundo invisível, é o mundo propriamente espiritual, o mundo que ultrapassa nossa percepção e apreensão. Dele sabemos somente por revelação divina. Sobre ele a ciência não tem nada a dizer! É interessante como o Credo do Povo de Deus refere-se ao mundo visível: “Este mundo, onde se desenrola nossa vida passageira”. Quanto ao mundo invisível: “Coisas invisíveis - como são os puros espíritos, que também chamamos anjos”.
Depois, o texto do Credo acena para o homem, este misterioso ser, colocado na fronteira dos dois mundos: feito de matéria (a matéria no homem é sua dimensão somática, seu corpo) e espírito (isto é, imatéria e, no caso, imatéria inteligente, consciente). No homem essa imatéria é chamada alma, e pertence ao mundo invisível! Já o Concílio Lateranense IV, no século XIII, afirmou que Deus “criou conjuntamente, do nada, desde o início do tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; em seguida, a criatura humana, que tem algo de ambas, por compor-se de espírito (imatéria) e corpo (matéria)”.
O texto do Credo do Povo de Deus explica que a alma humana é espiritual e imortal. Alma poderíamos traduzir simplesmente por “vida”. Tudo quanto tem vida tem alma, tem animação. A vida ou alma dos vegetais e animais não transcende a matéria, não sobrevive ao corpo: com a morte, extingue-se. A alma humana é racional e espiritual e, portanto, imortal. Vamos compreender estes três termos: (1) Racional: a alma humana é autoconsciente e inteligente, é o próprio núcleo do “eu” pessoal. (2) Espiritual: a palavra aqui tem dois sentidos: (a) filosoficamente, é espiritual porque é imaterial, estando presente em cada parte do corpo humano e dos seus movimentos interiores; (b) teologicamente, é espiritual porque é aberta para o Infinito, para o Transcendente e, somente Nele encontra sua plenitude e realização. (3) Imortal: não sendo material, não podendo ser decomposta, a alma não se dissolva com a morte, pois que transcende o corpo, sobrevive à matéria. A alma humana foi criada assim porque o Senhor Deus, desde o início nos criou para a comunhão com Ele. Assim, mesmo quando morremos, continuamos conscientes, nosso “eu” não se desintegra, o diálogo com Deus não se interrompe. Por isso que o homem, mesmo que fique longe de Deus eternamente, não pode ser destruído, pois Deus lhe deu uma estrutura de modo a permanecer sempre e poder ser amado por Ele: Deus, uma vez nos amando, nunca deixa de nos amar; e, para Ele, amar é nos manter na existência para por Ele sermos amados! Voltaremos a isso mais adiante.

 


Escrito por Dom Henrique 

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