terça-feira, 18 de junho de 2013

Para reflexão

"Que princípios éticos nos poderão orientar para convivermos com um mínimo de paz e de cooperação entre todos os povos"?
(Leonardo Boff)

domingo, 16 de junho de 2013

Reflexão dominical

16 de junho: 11º domingo do tempo comum
AMOR QUE VEM DO PERDÃO
O Evangelho de Lucas é o evangelho da misericórdia de Deus. Servindo-se das diferenças entre a mulher pecadora e o fariseu Simão, o evangelista apresenta Jesus como o Deus que perdoa e ama sem condições.
A mulher, conhecida na cidade como pecadora, aproxima-se de Jesus. Em silêncio, sem nada exigir, demonstra-lhe todo o seu amor. As suas lágrimas são um misto de dor e alegria, pois carregam o sofrimento de quem é vítima da hipocrisia e do preconceito, mas também a felicidade de sentir-se amada e, por isso, perdoada pelo Mestre. Reconhecendo-se pecadora, a mulher reconhece o amor de Jesus, aproxima-se dele e com perfume demonstra-lhe seu amor. Um verdadeiro caminho de fé e libertação, modelo para todos nós, seguidores de Jesus.
Já o fariseu, em vez de se considerar devedor a Deus, necessitado do seu perdão, faz julgamentos sobre Jesus. Toma distância da pecadora e espera que o Mestre siga sua lógica, que divide as pessoas em boas e ruins, em pecadoras e santas, em merecedoras da bênção ou do castigo de Deus. Mas, com a história dos dois devedores perdoados, Jesus faz o fariseu tomar consciência do rigorismo com que vivia as relações, bem diferente do amor da mulher que sente necessidade de agradecer, com gestos concretos, a quem lhe havia perdoado.
A atitude do fariseu mostra que o amor de gente que se diz religiosa pode por vezes se confundir com uma relação superficial e legalista para com Deus. O Mestre ensina a acolher quem está afastado, quem é vítima da hipocrisia e do preconceito, quem está necessitado de amor. Nossa atitude é a de seguidores de Jesus à medida que nos sentimos necessitados do perdão de Deus e à medida que nos sentimos perdoados por um Deus que vai além de toda mesquinhez desumana.
O amor de nosso Deus é sempre maior, é infinito. Dele só pode vir o perdão, que gera amor e alegria. Mas o que carregam hoje nossas lágrimas, e como estamos demonstrando ao Mestre nosso agradecimento?
Pe. Paulo Bazaglia, ssp

Reunião do Centro Operário



CENTRO ARTÍSTICO OPERÁRIO
DE
SÃO JOSÉ DE MIPIBU
Hoje, dia 16 de junho de 2013, realizamos a reunião mensal do Centro Artístico Operário. Compareceram dez sócios para a discussão da pauta. Na reunião lembramos dos serviços prestados à sociedade mipibuense por esta entidade. Ainda fazem parte do Centro Artístico Operário uma ex-professora, Maria dos Prazeres da Silva e Dona Vilma, ex-aluna. É uma alegria imensa rever o memorial, as lembranças do Centro Operário que sobrevive com a interação e solidariedade dos sócios.(Carlos)

O ser humano como nó de relações totais

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Leonardo Boff
 

O ser humano como nó de relações totais

16/06/2013
Em 1845 Karl Marx escreveu suas famosas 11 teses sobre Feurbach, publicadas somente em 1888 por Engels. Na sexta tese Marx afirma algo verdadeiro mas reducionista:”A essência humana é o conjunto das relações sociais”. Efetivamente não se pode pensar a essência  humana fora das relações sociais. Mas ela é muito mais que isso pois resulta do conjunto de suas relações totais.
Descritivamente, sem querer definer a essência humana, ela emerge como um nó de relações voltadas para todas as direções: para baixo, para cima, para dentro e para fora. É como um rizoma, aquele bulbo com raízes em todas as direções. O ser humano se constrói na medida em que ativa este complexo de relações, não somente as sociais.
Em outros termos, o ser humano se caracteriza por surgir como  uma abertura ilimitada: para si mesmo, para o mundo, para o outro e para a totalidade. Sente em si uma pulsão infinita, embora encontre somente objetos finitos. Daí a sua permanente implenitude e insatisfação. Não se trata de um problema psicológico que um psicanalista ou um psiquiatra possa curar. É sua marca distintiva, ontologógica, e não um defeito.
Mas aceitando a indicação de Marx, boa parte da construção  do humano se realiza, efetivamente, na sociedade. Daí a importância de considerarmos qual seja a formação social que melhor cria as condições para ele poder desabrochar mais plenamente nas mais variadas relações.
Sem oferecer as devidas mediações, diria que a melhor formação social é a democracia: comunitária, social, representativa, participativa, debaixo para cima e que inclua a todos sem exceção. Na formulação de Boaventura de Souza Santos, a democracia deve ser ser sem fim. Temos a ver com um projeto aberto, sempre em construção que começa nas relações dentro da família, da escola, da comunidade, das associações, dos movimentos, das igrejas e culmina na organização do estado.
Como numa mesa, vejo quatro pernas que sustentam uma democracia mínima e verdadeira, como tanto acentuava em sua vida Herbert de Souza (o Betinho) e que juntos em conferências e debates, procurávamos difundir entre prefeitos e lideranças populares.
A primeiro perna reside na participação: o ser humano, inteligente e livre, não quer ser apenas beneficiário  de um processo mas ator e participante. Só assim se faz sujeito e cidadão. Esta participação deve vir de baixo para não excluir ninguém.
A segunda perna consiste na igualdade. Vivemos num mundo de desigualdades de toda ordem. Cada um é singular e diferente. Mas a participação crescente em tudo impede que a diferença se transforme em desigualdade e permite a igualdade crescer. É a igualdade no reconhecimento da dignidade de cada pessoa e no respeito a seus direitos que sustenta a justiça social. Junto com a igualdade vem a equidade: a proporção adequada que cada um recebe por sua colaboração na construção do todo social.
A terceira perna é a diferença. Ela é dada pela natureza. Cada ser, especialmente, o ser humano, homem e mulher, é diferente. Esta deve ser acolhida e respeitada como manifestação das potencialidades próprias das pessoas, dos grupos e das culturas. São as diferenças que nos revelam que podemos ser humanos de muitas formas, todas elas humanas e por isso merecedoras de respeito e de acolhida.
A quarta perna se dá na comunhão: o ser humano possui subjetividade, capacidade de comunicação com sua interioridade e com a subjetividade dos outros; é um  portador de valores como  solidariedade, compaixão, defesa dos mais vulneráveis e de diálogo com a natureza e com a divindade. Aqui aparece a espiritualidade como aquela dimensão da consciência que nos faz sentir parte de um Todo e como aquele conjunto de valores intangíveis que dão sentido à nossa vida pessoal e social e também a todo o universo.
Estas quatro pernas  vem sempre juntas e equilibram a mesa, vale dizer, sustentam uma democracia real. Ela nos educa a sermos co-autores da construção do bem comum; em nome dele aprendemos a limitar nossos desejos por amor à satisfação dos desejos coletivos.
Esta mesa de quatro pernas não existiria se não estivesse apoiada no chão e na terra. Assim a democracia não seria completa se não  incluisse a natureza que tudo possibilita. Ela fornece a base físico-química-ecológica que sustenta a vida e a cada um de nós.  Pelo fato de terem valor em si mesmos, independente do uso que fizermos deles, todos os seres são portadores de direitos. Merecem continuar a existir e a nós cabe respeitá-los eentendê-los como concidadãos. Serão incluidos numa democracia sem fim sócio-cósmica. Esparramdo em todas estas dimensões realiza-se o ser humano na história, num processo ilimitado e sem fim. (Fonte: L.Boff)

As consoladoras mensagens cotidianas

14/06/2013
              Por mais que estudemos e pesquisemos, buscando decifrar os mistérios da vida e vislumbrar os desígnios do Criador, na verdade, somos guiados por poucas mensagens que costumamos colocar sob o vidro de nossa escrivaninha ou dependuramos à frente de nossa mesa de trabalho. Elas são sempre lidas e relidas e possuem uma força secreta de nos tirar da opacidade natural do dia-a-dia. Outras vezes, são fotografias de entes queridos, de pais, de filhos e filhas que amamos e que nos aliviam no trabalho geralmente fastidiante e até penoso.

         Assim vi há dias na mesa do director de um banco uma frase que tirou da Imitação de Cristo, um livro que há mais de 800 anos ilumina tantas pessoas:”Ó Luz eterna, superior a toda luz criada, lançai do alto um raio que penetre o íntimo de meu coração. Purificai, alegrai, iluminai e vivificai o meu espírito com todas as suas potências para que a Vós se una em transportes de pura alegria”. Disse-me que, durante o dia, reza com frequência esta oração, entre negociações,  cálculos de taxas e de porcentagens de juros nos empréstimos.

         Eu, de minha parte, possuo dependuradas à frente de minha escrivaninha, onde passo muitas horas pesquisando e escrevendo, vários cartões com mensagens que nunca deixam de me consolar e inspirar.

Em primeiro lugar, uma imagem, tirada da famosa Sagrada Face de Jesus, mas retrabalhada com traços fortes.  O rosto é desfigurado, com sangue escorrendo pela testa e os cabelos desgrenhados pela tortura. Os olhos são profundos, cheios de enternecimento e com uma força tal que nos obriga a desviar o olhar. Parece que nos penetra na alma e nos faz sentir todos os padecimentos da humandiade sofredora na qual Ele está encarnado e sofrendo conosco, como diria Pascal, até o fim do mundo.

         Ao lado, uma foto de uma irmã querida, segurando ao colo, num gesto da Magna Mater, o filhinho pequeno, irmã arrancada da vida, aos trinta e tres anos, por um enfarte fulminante. Ai há tanta ternura e serenidade que custa conter as lágrimas. Por que uma flor foi quebrada quando ainda não acabara de desabrochar? Por que? A resposta não vem de nenhum lugar. Apenas uma fé que crê para além de todas as razoabilidades, sustenta o tormento desta pergunta.

         Logo acima, presa ao braço da lâmpada, uma mensagem em alemão que encontrei quando ainda fazia meus estudos no estrangeiro e que me inspira durante toda essa fatigante existência:”Eu passarei uma única vez por esta vida. Se eu puder mostrar alguma gentileza ou proporcionar alguma coisa boa a quem está ao meu lado, então quero fazê-lo já, não quero nem protelá-lo nem negligenciá-lo, pois eu nunca mais passarei novamente por este caminho”. Aqui se diz uma verdade pura, simples e sábia.

         Viajo muito por muitos meios e por muitos caminhos. Nunca se está livre de riscos. Quantos não são aqueles que partem e nunca chegam. E ai leio num cartão à minha frente a frase tirada do Salmo 91,11:”Deus ordenou a seus anjos que te protejam, pelos caminhos que tomares”. Não é consolodar poder ler esta mensagem como se tivesse sido escrita diretamente para você, um pouco antes de partir para uma viagem qualquer, sem poder saber se voltará são e salvo ?

         Mais consolador é ainda este outro cartão, colocado num vaso cheio de canetas, no qual Deus pelo profeta Isaias me sussurra ao ouvido: ”Não temas; eu te chamei pelo nome; tu és meu”(43,1). Como temer? Já não me pertenço. Pertenço a Alguém maior que conhece meu nome e me chama e me diz: “tu és meu”. A alma serena, as angústias da humana existência se acalmam, apenas ressoa a palavra bem-aventurada: ”tu és meu”.

Aqui há algo que antecipa a eternidade quando Deus nos revela nosso verdadeiro nome. Segundo o Apocalipse, somente Deus e a pessoa  conhecem esse nome e ninguém mais. Ai seguramente Deus repetirá: ”tu és meu”; e a pessoa retrucará: “eu sou teu”. Essa comunhão do eu e do tu se prolongará pela eternidade afora, numa fusão sem distância nem limites pelos séculos dos séculos, sem fim.

Não serão, por acaso, coisas singelas como essas que orientam nossa vida e nos trazem alguma luz no meio de tanta penumbra e de questões sem  resposta?
 Fonte: Leonardo Boff

Meditação bíblica, sábado, 15 de junho 2013

Neste dia, encerrei o retiro com o grupo de padres anglicanos de São Paulo e comecei o retiro (vai até amanhã)  com leigos/as da mesma diocese. Um grupo de 35 pessoas. Estamos meditando sobre o que seria uma espiritualidade laica e para leigos na Igreja e no mundo, hoje. Sempre aprendo muito com esses grupos, tanto pelo testemunho de fé (às vezes, me surpreendo ao ver a maturidade das pessoas das comunidades eclesiais, mesmo em meio a certas imaturidades do clero e dos pastores. O povo permanece fiel e resiste na fé. Acho isso uma graça divina muito grande. 
Hoje, reparto com vocês a reflexão quem no livro "Boas notícias para todo mundo", (Conversa com o evangelho de Lucas), faço sobre o texto do evangelho lido nesses domingos na Igreja 

– Jesus e a pecadora pública (Lc 7, 36 – 50)
Conforme Lucas, a relação de Jesus com os fariseus era boa e tranquila. Ele aceitava até convites para comer na casa dos fariseus, o que é sinal de certa intimidade. A tradição anterior a Lucas (Mc 14, 3- 9 e Mt 26, 6- 13). conhecia uma cena parecida com essa: a unção em Betânia na casa de Simão, que estes relatos chamavam de “o leproso”. O relato era ligado à paixão de Jesus como uma profecia (“essa mulher prepara o meu corpo para a sepultura”). A tradição posterior (principalmente Santo Agostinho e São Gregório Magno) identifica essa mulher “pecadora” com a “mulher adúltera” de João 8, como se todo pecado fosse sexual e fosse adultério. Identificou ainda com a figura de Maria Madalena, que, por sua vez, muitos confundem  ainda com Maria de Betânia, irmã de Lázaro (Jo 12). Quanto preconceito machista e moralista se esconde por trás dessas confusões. Por que fazer de personagens como Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos e como a contemplativa Maria de Betânia, imagens de mulheres depravadas que Jesus “teria convertido”? Por trás disso, tem uma concepção terrível do corpo da mulher e uma concepção de sexualidade diferente da atual. Entretanto, a comunidade de Lucas dialoga com outras culturas. Talvez por isso, tira essa história do contexto da paixão de Jesus e o coloca agora neste contexto que mostra Jesus abrindo fronteiras para o anúncio do Reino. Ao colocar este relato nesse lugar da narrativa do conjunto do evangelho, Lucas o torna um “resumo” dos diversos contatos de Jesus com pecadores e pessoas antes consideradas excluídas da salvação. A mulher é uma dessas categorias e, no conjunto do evangelho, ela tem muita importância. Este relato se liga ao anterior, sobre o fato de Jesus comer com pecadores e gente de má vida. Agora, o Evangelho mostra isso concentrado em uma pessoa duplamente marginalizada: ela é, ao mesmo tempo, mulher e pecadora pública.  
Jesus aceitar “comer” com o fariseu significa que estabelece uma relação de aliança com o tal homem. Conforme o texto, o fariseu tem convidados, companheiros do seu grupo. Jesus, não. Está sozinho. E aí, há uma surpresa: uma mulher pecadora pública entra naquele ambiente. Duas vezes, o texto diz: “Eis uma mulher e pecadora” (v. 37). Há uma nota de surpresa, embora sem qualquer comentário. Já vimos que, na sociedade de Jesus, a mulher vivia marginalizada. Não podia participar da sinagoga, nem ser testemunha em um julgamento. A mulher não era plenamente cidadã. É claro que, na sociedade de hoje, pode não se compreender bem o que o texto quer dizer ao chamá-la de “pecadora”. Poderia ser uma adúltera, como é o caso de João 8, ou poderia ser uma prostituta, sim. Mas, essa tal mulher de que fala o texto do evangelho pode também ser uma parteira que lida diariamente com sangue humano; ou ser simplesmente uma mulher casada com um estrangeiro de outra religião, ou ainda uma mulher doente com algum tipo de hemorragia. Todas essas podem ser chamadas pelo texto de “pecadoras”. A noção de pecado era uma noção mais legal e ritual do que moral. No mundo de Jesus, a realidade da mulher era essa. Em alguns círculos, havia um começo de resistência e nessa cena transparece uma realidade de inconformismo e de subversão das normas e costumes vigentes. A mulher, “ao saber que Jesus estava lá”, entra naquela casa e toma a iniciativa de alguns gestos que o Evangelho descreve em três verbos: “regar/ enxugar, beijar e ungir”. 
Naquela época, o fato de uma mulher soltar os cabelos em público já era um gesto de independência. Para a cultura antiga, o gesto de tocar nos pés de Jesus é  pouco comum e muito corajoso. E o texto deixa claro que Jesus não se retrai nem se afasta, nem rejeita. Acolhe a moça.  Interpreta o seu gesto como um sinal de carinho e amor. Jesus interpreta o seu gesto como uma prova da gratidão que ela sente por ter sido perdoada. “Ela muito amou porque muito lhe foi perdoado”. Mas, é importante notar que ela manifesta essa gratidão com seu corpo, não como objeto de “pecado” e sim como instrumento de comunhão e salvação. O próprio corpo feminino se torna meio de graça e salvação e não como alguns comentadores acentuariam “instrumento de pecado”.
O texto se concentra mais sobre a relação de Jesus com o fariseu e não sobre a relação com a mulher. O fariseu se revela escandalizado não pelo fato de que a mulher tenha entrado em sua casa, mas em ver que Jesus se deixa tocar por aquela mulher. Quem toca uma pessoa impura fica também impuro. O fariseu e seus companheiros fazem a Jesus duas censuras: primeiramente, põem em dúvida que Jesus seja profeta. Depois, se perguntam como ele pode até “perdoar pecados”? (7, 49).  É uma crítica secreta que ninguém expressa. Jesus toma a iniciativa de conversar sobre o assunto através de uma parábola. Essa tem elementos em comum com a história que, antigamente, o profeta Natã tinha contado ao rei Davi (Cf. 2 Sm 12, 1- 10). “Era uma vez dois homens...” No primeiro tessamento, era Davi que deveria julgar. Agora, o próprio Simão deve decidir e julgar... Ambos, tanto Davi, como o fariseu Simão se condenam por suas próprias palavras. A parábola dos dois devedores perdoados mostra como Jesus interpreta o fato: Jesus não diz que a mulher não é pecadora, ou que o que ela vive não é pecado. Nem diz que os justos não são realmente justos. Mas, frisa por que ele veio para os pecadores: “ela manifesta mais amor porque mais lhe foi perdoado”.
– Quem segue Jesus (Lc 8, 1- 3)
A narrativa de Lucas é teológica. O “depois disso” não é necessariamente no tempo. É mais conseqüência. O modo de dizer que Jesus abriu o reinado divino para todo tipo de gente foi contar que ele “atravessa” cidades e aldeias, assim como, no início da Bíblia, o patriarca Abraão, tendo escutado a promessa de Deus, atravessa a terra prometida (Cf. Gn 13, 17). Antes, vocês tinham dito que “ele andava anunciando...” (4, 43- 44).  
Um sociólogo especializado na idade antiga escreveu:
“No mundo de Jesus e no Evangelho de Lucas, a aldeia aparece como uma unidade homogênea. A aldeia não é apenas uma povoação pequena que ainda não é cidade. A cidade representa a população heterogênea e em geral é apresentada no plural. A aldeia tem uma população quase como clã: um povo como “uma grande multidão” (ochlos) coesa e com auto-suficiência em atender a todas as necessidades. Na maioria das vezes, os líderes das aldeias estão ligados à sinagoga. Por conta dessa homogeneidade, a aldeia deixava muita gente excluída do seu círculo. As pessoas que vinham de outras aldeias eram consideradas “forasteiros”. As relações entre as aldeias eram de conflito e competição. Vimos que os habitantes de Cafarnaum queriam reter Jesus em sua aldeia e Jesus não aceitou a restrição: “Devo anunciar a Boa Nova também a outras cidades” (Cf. Lc 4, 43). Os pobres, doentes, pecadores são considerados pessoas “de fora”. É muito mais duro ser excluído em uma comunidade pequena do que em uma sociedade maior e mais heterogênea. Na sua narrativa, Lucas demonstra interesse especial pelos que estão em posição periférica com relação à comunidade da aldeia”[1].    
Parece que Jesus escolhe seus seguidores mais próximos no meio de pessoas inseridas na aldeia e que mantinham contato com suas famílias quando estavam nas próprias aldeias. Entretanto, Jesus os chama a uma vida de itinerância que, pouco a pouco, cria dificuldades com as aldeias. Ele tem seguidores e também algumas mulheres que o “seguem”. No evangelho, o verbo seguir só é usado para os discípulos mais próximos e mais imediatos: os doze. “Seguir” significa a condição do discípulo ou discípula que acompanha o Mestre vinte e quatro horas por dia e incondicionalmente. “Seguir” denota ir até a cruz. Jesus chamou seguidores para ser testemunhas de sua morte e ressurreição.
Em um tipo de sociedade, na qual as mulheres não eram consideradas dignas ou aptas a ser testemunhas em qualquer processo, Jesus escolheu mulheres para serem suas testemunhas privilegiadas. É difícil imaginar como naquele tipo de sociedade, uma mulher “normal” teria a liberdade de “seguir” e “servir” a um rabino itinerante como Jesus e a seu grupo masculino. Mateus já tinha dito que as mulheres que acompanharam a paixão, haviam seguido Jesus desde os tempos da Galiléia, servindo-o” (Mt 27, 55). Tinham de ser mulheres “especiais”.
Lucas diz que eram várias e cita algumas: Maria Madalena a quem o Senhor tinha libertado de “sete demônios”. Libertada, era mais livre do que outras. Maria era uma pessoa de aldeia. Chama-se “Madalena” como podem me chamar de “pernambucano”. Ela é de Magdala, uma aldeia da beira do lago da Galiléia. Elizabeth e Jürgen Moltmann dizem que “ela sofria de uma grave doença mental, provavelmente epilepsia e começou a seguir Jesus porque ele a curou”[2].
Conforme a tradição, Maria Madalena ocupou uma função de liderança feminina nas primeiras comunidades cristãs. Sempre que os evangelistas trazem nome de mulheres discípulas, o nome dela vem em primeiro lugar. E nos Evangelhos apócrifos, aparecem cenas, nas quais Pedro disputa com ela a coordenação do grupo. O nome das outras mulheres vem junto de uma alusão a certo poder social: Joana, mulher do procurador ou intendente de Herodes na Galiléia e Susana que, com outras, garantiam o sustento do grupo. Então, eram mulheres com mais poder aquisitivo do que os homens que seguiam Jesus. Este dado parece histórico. Vem mesmo da vida de Jesus. Isso fica claro porque é justamente este evangelho que mais realça a pobreza como valor evangélico, o que fala da posição social elevada que elas têm. Então, só podemos ficar contentes com o fato de que mesmo essa escolha radical da pobreza como comunhão com os mais pequeninos não exclui ninguém, nem mesmo as pessoas de classe média ou mais ricas que se integram na caminhada do grupo, como seria o caso dessas duas, Joana e Suzana. Alonso Shokel na Bíblia do Peregrino comenta: “Ao grupo de seguidores, junta-se um grupo de mulheres, contra os costumes dos rabinos”[3]
Fonte: Marcelo Barros

Como ser cristão na atualidade? E em culturas diferentes?


“Vocês representam a multiplicidade das pessoas de que falam os Atos dos Apóstolos no dia de Pentecostes... Trago-lhes a todos a saudação e a bênção do Papa Francisco, que me garantiu sua solidariedade a todos vocês com afeto e estima especiais”, disse o Cardeal Fernando Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, na homilia da Missa celebrada ontem, 12 de junho, na igreja dedicada a São José em Abu Dhabi.
O Cardeal recordou em especial a situação dos migrantes: “Eu sei que vocês vêm de vários países, alguns dos quais eu conheço bem e passei alguns anos de minha vida como sacerdote e bispo, aprendendo a conhecer e apreciar suas culturas. Hoje, vocês vivem aqui, numa terra que lhes permite trabalhar e ganhar o pão de cada dia para o sustento de suas famílias. É um aspecto importante, porque na vida todos somos um pouco migrantes. Além disso, vocês vivem numa terra querida para o Islã, religião com a qual nós cristãos compartilhamos o princípio do único Deus, a adoração do Altíssimo e o valor da oração. Aqui, vocês aprendem a praticar a convivência inter-religiosa baseada no respeito recíproco e na colaboração em vários aspectos”.
O Cardeal Filoni incentivou os fiéis recordando o compromisso da comunidade: "Hoje, não se pode ser cristãos pela simples razão de ter nascido numa família cristã. Isto é ainda mais evidente para vocês que vivem num país diferente do seu. Renovem todos os dias a opção pela fé, dando a Deus o primeiro lugar e vencendo as tentações provenientes de diferentes culturas. As provações às quais vocês são submetidos são numerosas. A tentação de anular a fé está sempre presente e a conversão se torna uma resposta a Deus que deve ser confirmada cotidianamente”.
Fonte: Agência Fides