sábado, 10 de novembro de 2012

32º Domingo do Tempo comum


Este 32º domingo, trás na dinâmica da liturgia, o comportamento assinalado pela extraordinária solidariedade de duas mulheres viúvas (1ª leitura e Evangelho). A hospitalidade da primeira é compensada pelo milagre de Elias, sobretudo porque foi acompanhada pela fé na palavra de Deus e a humildade generosa da segunda mereceu ouvir de Jesus um elogio sem igual. Ensina-nos S. Paulo que o único sacrifício que agrada a Deus é o do coração disposto a amar quem quer que seja, não só oferecendo-lhe o que se possui, mas até a própria vida, se necessário for (2ª leitura).
·      Primeira leitura: 1 Rs 17,10-16
Contextualizando a primeira leitura, é possível chamar atenção para o confronto que havia entre os profetas de Baal, que eram adorados pelos habitantes de Canaã e o profeta de Deus, Elias, o homem da esperança.
No tempo de Elias quase todo o povo foi vítima das seduções desse deus Baal. Os ídolos são sempre assim: prometem o que não têm, por isso terminam iludindo os que lhes prestam culto.
Diante dessa apostasia, qual a postura de Elias, o profeta de Deus? Fazer a vontade de Deus, conscientizando povo a não entrar “nessa!”
O rei, após ser informado pelos bajuladores a respeito do trabalho de Elias, deu ordens para localizar o profeta e condená-lo à morte. É nessa faze da história de Elias que se insere o episódio da leitura de hoje.
Para livrar-se da ira de Acab, o profeta foge. Certo dia chega à cidade de Sarepta onde encontra uma viúva, à qual restou só um punhado de farinha e um pouco de azeite. O profeta é alimentado pela viúva, que lhe oferece o único alimento que lhe restava.
A viúva acredita nas palavras do profeta, oferece-lhe tudo o que tem e Deus abençoa a sua generosidade.
Vejamos, pois: Deus abençoa os que partilham os seus próprios bens; a multiplicação dos nossos bens é consequência da nossa generosidade.
·      Evangelho: Mc 12,38-44
Marcos divide o texto de hoje em duas partes: O primeiro (vv. 38-40), Jesus lembra aos discípulos para que tenham cuidado, quanto ao comportamento dos doutores da lei; a segunda parte (vv. 41-44) trás a narração sobre a viúva pobre que deposita seu donativo, o último recurso que ela tinha no cofre do templo.
Mas então, quem eram essas “figuras impolutas”, os doutores da Lei? Tratava-se dos “especialistas no conhecimento dos preceitos da LEI de Deus e de suas prescrições para o povo de Israel” (Esdras 7,11); além do mais, eram eles que exigiam e julgavam nos tribunais o que deviam também cumprir e não cumpriam.
  Um detalhe: Por que Jesus aparece sempre reprovando a atitude dos “doutores da lei”, os “escribas”? Por que não desfrutavam de forma alguma da sua simpatia? Porque eram “exibicionistas”, “orgulhosos”, “injustos” e “desumanos”, portanto, incoerentes com o que ensinavam e exigiam em relação aos outros. Folcloristas, no sentido negativo; a ponto de tornarem-se ridículos. O Mestre não tolerava essas facetas “encenações”, aliás, até parece que sentia alergia.
Jesus é encontrado no templo de Jerusalém, o centro do poder político e religioso daquela época, condenando não só o pecado de vaidade por parte dos doutores da Lei, mas, sobretudo porque eles “dilapidavam as casas das viúvas” (v. 40). Elas são as protegidas por Deus (Sl 146,9): “Ai de quem as maltrata! Ai de quem as faz chorar!
Em contraposição aos doutores da lei, às pessoas que dominam a sociedade, a segunda parte do evangelho, apresenta um exemplo de religiosidade autêntica: uma pobre viúva que escancara o seu coração e doa tudo o que tem.
Que lições é possível tirarmos? A mais simples e imediata, é de humildade, confiança, generosidade e fé em Deus, apesar de nunca ter acompanhado Jesus, como fizeram os doze, e como fazemos muitos de nós.
E mais: Precisamos entender melhor que, “cristão não é o homem rico que, possuindo muito bens, pode dar generosas esmolas, oferecendo parte daquilo que lhe sobra: cristão é só aquele que, rico ou pobre, coloca à disposição dos irmãos, ´tudo´ o que possui”.
O pobre também é convidado a partilhar os seus bens. Não há  ninguém tão pobre que não tenha nada a oferecer.
Mais uma lição: a viúva que oferece tudo é a imagem de Deus – a imagem de Jesus Cristo que – como ensina S. Paulo – “sendo rico, se fez pobre” (2 Cor 8,9).
Para Jesus, é evidente o contrate alarmante e injusto entre as lideranças (doutores da lei, escribas, fariseus, políticos, ricos e outros) e a classe das viúvas, representantes dos pobres, marginalizados, das “classes sobrantes”.
Enquanto os outros só buscam ver por fora, Jesus vê além das aparências, vê lá por dentro! Jesus vê o coração fechado do rico; Jesus vê o coração aberto da viúva pobre, que termina oferecendo tudo o que tem.
 Pois bem, aí está a autêntica atitude religiosa que é a de entregar-se totalmente a Deus, doando do que tem, doando-se a si mesmo ao seu semelhante, ao invés de confiar no seu poder e na sua riqueza.
O trecho estudado, faz-nos alguns questionamentos sobre as razões que trazemos no coração. Chega de máscaras e subterfúgios. Precisamos ser francos e sinceros. Cuidado para não ficarmos tão somente nas boas intenções, apesar das mesmas serem a primeira condição para se alcançar uma vida autêntica.
·      Segunda leitura: Hb 9,24-28
O trecho da Segunda leitura nos indica dois motivos pelos quais Jesus deve ser considerado como único e verdadeiro sacerdote.
Os antigos sacerdotes (Antiga Lei) – nos diz a leitura – ofereciam os seus sacrifícios num templo material. Cristo, ao contrário, cumpre o seu ministério no céu, num santuário não construído pelas mãos humanas.
Jesus, ao invés, ofereceu um só e perfeito sacrifício, não derramou o sangue dos animais, mas doou o seu próprio, e, com o seu gesto de amor, destruiu definitivamente o pecado (9vv. 25-27).
Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco de Nova Cruz

Festa da padroeira da Arquidiocese começa neste domingo

 
A partir de domingo, 11 de novembro, a Arquidiocese e a cidade do Natal festejam a padroeira, Nossa Senhora da Apresentação. Durante dez dias, os fiéis terão a oportunidade de participar de uma diversificada programação com caminhadas, missas, novenas, atendimento de confissões, reza do Ofício de Nossa Senhora e do terço, e atividades sociais, incluindo funcionamento de barracas e shows musicais.

O ápice dos festejos acontecerá no dia 21, feriado no município de Natal. Nesse dia, a programação terá início a zero hora, com uma vigília, na Pedra do Rosário. A partir das 3h30, acontecerá a procissão fluvial, pelas águas do Rio Potengi, com a imagem de Nossa Senhora da Apresentação. A procissão encerrará na Pedra do Rosário, onde, às 5 horas, será celebrada a missa, presidida pelo Vigário Geral da Arquidiocese, Padre Edilson Soares Nobre. Tradicionalmente, todos os anos, milhares de fiéis participam dessa celebração.

Ainda no dia 21, às 7h30, haverá missa, na antiga Catedral, presidida pelo Monsenhor Agnelo Dantas Barretto. Às 10 horas, na Catedral Metropolitana, haverá missa solene, presidida pelo Arcebispo, Dom Jaime Vieira Rocha. Às 14 horas, acontecerá a caminhada, intitulada '9º Natal Caminha com Maria', saindo do Santuário dos Mártires, no bairro de Nazaré, para a Catedral Metropolitana, onde haverá missa, também presidida pelo Arcebispo.
Durante os festejos, circula a XI edição da Revista Rosário do Potengi. Nesta edição, a revista traz uma matéria sobre o funcionamento da Paróquia da Catedral, criada em 29 de dezembro de 2009; artigos sobre o Ano da Fé, 50 anos da Campanha da Fraternidade e do Concílio Vaticano II; além da novena e do hinário da festa.
À luz do Ano da Fé e do Concílio
"Mãe da Apresentação, modelo perfeito de fé" é o tema escolhido para a festa de Nossa Senhora da Apresentação 2012. Segundo o pároco da Paróquia da Catedral, Padre Valdir Cândido de Morais, o tema está relacionado com o Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI. "Julgamos que Maria foi quem mais professou sua fé, dando o sim ao projeto de Deus. Então, por isso, e em consonância com o Ano da Fé, escolhemos este tema", enfatizou.

Já, o lema é uma citação do Evangelho de Lucas, no texto conhecido como Magnificat: "Bem aventurada aquela que acreditou". "Uma vez que Maria deu seu sim ao projeto de Deus, ao mesmo tempo a alegria invadiu seu coração, e ela, por meio do Espírito Santo, tornou realidade o projeto de Deus, gerando o filho, Jesus Cristo", explicou o pároco.

Durante as festividades, a cada noite um subtema norteará a pregação da novena. Segundo o Padre Valdir, cada subtema é baseado no capítulo 8, da Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II. "Esse capítulo é dedicado à Bem Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus. A Lumen Gentium foi promulgada pelo Papa Paulo VI, em 21 de novembro de 1964, dia da apresentação de Nossa Senhora", comenta Padre Valdir.
Um convite ao projeto de Deus
De acordo com o pároco da Catedral, a festa de Nossa Senhora da Apresentação é momento que possibilita às pessoas a adesão ao projeto de Deus. "Somos uma Igreja em estado permanente de missão e estamos vivenciando as alegrias do Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, como também vivemos os 50 anos do Concílio Vaticano II. Neste clima de alegria, queremos que este momento da festa de Nossa Senhora da Apresentação possibilite a nossa adesão ao projeto de Deus, que tão bem foi aceito por Nossa Senhora", destaca Padre Valdir. E acrescenta: "A festa que vamos celebrar nestes dias é um grande momento de crescimento na nossa missão e, ao mesmo tempo, um momento propício para reacender nossa fé e receber as graças que nos vêm pela intercessão da Mãe, Maria Santíssima."
Foto: Cacilda Medeiros
Imagem de Nossa Senhora da Apresentação

Meditando o Evangelho de hoje

Dia Litúrgico: Sábado, 10 de Novembro

Evangelho de hoje: Lc 16,9-15


31ª Semana do Tempo Comum

Eu vos digo: fazei-vos amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos tabernáculos eternos. Aquele que é fiel nas coisas pequenas será também fiel nas coisas grandes. E quem é injusto nas coisas pequenas o será também nas grandes. Se, pois, não tiverdes sido fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as verdadeiras? E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Ora, ouviam tudo isso os fariseus, que eram avarentos, e zombavam dele. Jesus disse-lhes: "Vós procurais parecer justos aos olhos dos homens, mas Deus vos conhece os corações; pois o que é elevado aos olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus. 



Comentário

Viver dividido é uma das causas do desgaste e da angústia dos homens e mulheres da pós-modernidade. Jesus nos afirma categoricamente no evangelho de hoje: "Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro”. Senhor, liberta nosso coração, pois estamos cansados e abatidos por tanta divisão interior, por tantos senhores a nos "mandar” e a "exigir” nossa dedicação e atenção. Teu evangelho nos alerta sobre o "senhor” dinheiro, mas ele é apenas um dentre tantos "senhores” manipuladores e possessivos que estão a nos rodear.
Bento XVI cria Pontifícia Academia para promover a língua e a cultura latina

Papa Bento XVI
Vaticano, 10 Nov. 12 / 03:11 pm (ACI/EWTN Noticias).- O Papa Bento XVI emitiu no dia 10 de novembro, memória de São Leão Magno, a Carta Apostólica em forma do Motu Próprio “Latina Lingua”, com a qual institui a Pontifícia Academia de Latinidade, cujo fim será promover e valorizar a língua e a cultura latina.

De acordo à sua constituição, anexada à Carta Apostólica, a Pontifícia Academia de Latinidade dependerá do Pontifício Conselho da Cultura, estará regida por um Presidente auxiliado por um secretário, ambos nomeados pelo Papa, e estará conformada por um máximo de 50 membros, entre acadêmicos, estudiosos e autoridades da matéria, nomeados pelo Secretário de estado.

O Papa nomeou como primeiro Presidente da Pontifícia Academia o professor Ivano Dionigi, e como Secretário o P. Roberto Spataro.

O Papa Bento XVI sublinhou que a língua latina foi mantida em alta consideração pela Igreja Católica e pelos Romanos Pontífices, quem freqüentemente têm promovido seu conhecimento e difusão.

“Em realidade, desde Pentecostes a Igreja falou e orou em todas as línguas dos homens. Entretanto, as Comunidades cristãs dos primeiros séculos usaram ampliamente o grego e o latim, línguas de comunicação universal do mundo no qual viviam, graça às quais a novidade da Palavra de Cristo encontrava a herança da cultura helênico-romana”, escreveu o Papa.

Bento XVI indicou que depois da queda do Império Romano do Ocidente, a Igreja não só seguiu valendo-se do latim, mas também se converteu em custódia e promotora do seu uso, tanto no âmbito teológico e litúrgico como na formação e transmissão do saber.

O Papa também se referiu à debilitação da língua latina no âmbito dos estudos humanísticos e na cultura geral, mas sublinhou que atualmente persiste um renovado interesse na cultura e na língua latina. “Torna-se portanto urgente sustentar o compromisso por um maior conhecimento e um uso mais competente da língua latina”, assinalou.

Bento XVI destacou que “para contribuir no alcance de tais objetivos, seguindo os rastros de meus venerados Predecessores, com o presente Motu Proprio hoje instituo a Pontifícia Academia de Latinidade, dependente do Pontifício Conselho da Cultura. Estará regida por um Presidente, ajudado por um Secretário, por mim nomeado, e por um Conselho Acadêmico”. (ACIDigital)
Comentário ao Credo do Povo de Deus - I


Caro Internauta, no horizonte deste Ano da Fé, proclamado pelo Santo Padre Bento XVI, desejo comentar, pouco a pouco, o Credo do Povo de Deus, professado de modo solene pelo Papa Paulo VI, no encerramento do Ano da Fé de 1968. Trata-se de uma bela e robusta síntese da nossa fé católica e apostólica! Espero que a meditação desse Símbolo a todos ajude no aprofundamento da nossa opção de vida pelo Cristo Senhor e no maior conhecimento da nossa santa fé católica.

Cremos em um só Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - Criador das coisas visíveis - como este mundo, onde se desenrola nossa vida passageira -, Criador das coisas invisíveis - como são os puros espíritos, que também chamamos anjos -, Criador igualmente, em cada homem, da alma espiritual e imortal.

Antes de tudo chama atenção o plural usado pelo Papa: cremos! É que a fé, sendo sempre uma atitude pessoal, uma adesão que cada pessoa faz com toda a sua consciência, vida e liberdade, é também sempre uma realidade comunitária, eclesial: creio com a Igreja, creio enquanto membro da Igreja, creio com a fé da Igreja e creio na fé da Igreja, isto é, na doutrina que a Igreja professa inspirada pelo Santo Espírito de Jesus.
É totalmente sem sentido que um católico fizesse uma triagem na fé da Igreja, crendo em umas verdades e rejeitando outras. Aí já não se é realmente católico. Interessante, neste aspecto, é o sentido mesmo do adjetivo “católica”. Dizer que a Igreja de Cristo é católica (= kat’olon), isto é, “segundo a totalidade”: aquele à qual o Senhor concedeu a totalidade da doutrina salvífica, do sacramentos e dos dons e carismas para que possa viver como verdadeiro povo de Deus em Cristo Jesus. Deste modo, um católico que escolhesse o que crer e o que não crer no conjunto da fé católica, já não seria realmente católico, já não seria segundo a totalidade daquilo que Jesus nosso Senhor deixou para o bem da Sua Igreja. Por isso mesmo, a fé, sendo uma realidade pessoal – Eu creio! – realiza-se de verdade na comunidade dos crentes em Cristo – Nós cremos!
Um vício do mundo atual, que devemos evitar com todo cuidado, é aquele do individualismo, que leva a pensar que posso ter um contato direto com Deus e nele crer do modo que bem imaginar. Neste triste caso, o contato já não é com Deus, mas com um ídolo, um deus feito por mim, à minha medida, de encomenda, segundo os meus critérios! Se Deus Se revelou em Cristo e, na potência do Espírito do Ressuscitado, formou para Si um povo, devo colocar-me em espírito de obediência da fé (cf. Rm 1,5) numa atitude de escuta para acolher aquilo que o Espírito de Cristo diz continuamente à Sua Igreja (cf. Ap 2,7.11.17.29; 3,6.13.22). Colocar-se na fé da Igreja é escutar efetivamente o Senhor tal qual Ele Se revelou e não, arbitrariamente, forjar uma fé ao meu gosto e um deus à minha imagem. Resumindo: o “eu creio” professado por cada cristão deve sempre estar no “nós cremos” professado pela Igreja toda.

 


Escrito por Dom Henrique 
"A Infância de Jesus": livro do Papa sairá em português


Cidade do Vaticano (RV) – Um dia após a sua apresentação mundial, no Vaticano, o último livro de Bento XVI sobre a vida de Jesus será lançado em português no dia 21 de novembro em Portugal.

A obra conclui a trilogia sobre ‘Jesus de Nazaré’ e aborda os primeiros anos da vida de Cristo, os chamados “Evangelhos da infância”. No prefácio, Bento XVI explica que se trata de uma introdução aos dois livros precedentes, sobre a figura e a mensagem de Cristo.

'Jesus de Nazaré – A Infância de Jesus' refere que “Jesus nasceu numa época que pode ser determinada com exatidão. No início da atividade pública de Jesus, Lucas oferece mais uma vez uma datação pormenorizada e exata daquele momento histórico: é o décimo quinto ano do império de Tibério César”.

De acordo com Bento XVI, são necessários “dois passos” para uma interpretação correta dos textos bíblicos: “De um lado, é preciso perguntar-se o que os autores pretendiam dizer com o seu texto, naquele momento histórico; no entanto, “não é suficiente deixar o texto no passado, arquivando-o entre os eventos acontecidos há tempos”.

O Papa frisa que “este colóquio na encruzilhada entre passado, presente e futuro nunca poderá ser completo e que nenhuma interpretação alcança a grandeza do texto bíblico”.

O primeiro volume de ‘Jesus de Nazaré’ foi publicado em 2007 e era dedicado ao início da vida pública de Cristo (desde o batismo à transfiguração). A segunda parte da obra foi apresentada em março de 2011, e tratava os momentos que precederam a morte de Jesus e a sua ressurreição.

Joseph Ratzinger começou a escrever a obra no verão de 2003, antes de ser eleito Papa.
(CM)
Deserto: realidade e metáfora
Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Adital

O deserto é uma realidade misteriosa e uma metáfora fecunda do percurso contraditório da vida humana.
Atualmente 40% da superfície terrestre está em processo avançado de desertificação. Os desertos crescem na proporção de 60 mil km2 por ano, o que equivale a 12 hectares por minuto. No Brasil há um milhão de km2em processo de desertificação. Só no Nordeste e em Minas são 180 mil km2. Esse fenômeno ameaçador para as colheitas, para a fome e a emigração de populações inteiras se deve ao desflorestamento, ao mau uso dos solos, às mudanças climáticas e aos ventos.
Lembremos o maior deserto do mundo, o Saara que possui uma superfície maior que a do Brasil (9.065000 km2). Há dez mil anos era coberto por densas florestas tropicais, contendo fósseis de dinossauros e sinais arqueológicos de antigas civilizações, pois outrora o rio Nilo desaguava no Atlântico. Nesta época, porém, ocorreu uma drástica mudança climática que o transformou numa imensa savana e depois num deserto árido eextremamente seco. Não é um sinal para a Amazônia?
Mas a vida sempre é mais forte. Ela resiste, se adapta e acaba triunfando. Ainda hoje nos desertos viceja vida: mais de 800 espécies de vegetais e minúsculos insetos e animais. Mas basta soprar um vento mais úmido ou cair algumas gotas de água para a vida invisível irromper soberbamente.
Em oito dias, a semente germina, floresce, madura, dá fruto que cai ao solo. Ela se recolhe. Espera mais de um ano, sob a calícula do sol e o vergastar do vento, até que possa de novo germinar e continuar o ciclo ininterrupto e triunfante da vida. Outros arbustos se enrolam sobre si mesmos, se contorcem para escapar dos ventos e sobreviver.
Da mesma forma, pequenos animais se alimentam de insetos, borboletas, libélulas e sementes trazidas pelo vento.
Mas quando há um oasis, a natureza parece se vingar: o verde é mais verde, os frutos, mais coloridos e atmosfera, mais ridente. Tudo proclama a vitória da vida.
Com sua tecnologia, o ser humano rasga os desertos, traça estradas luzidias, devolve o deserto à civilização como ocorre nos USA, na China e no Chile. Esta é a realidade da ecologia exterior do deserto.
Mas há desertos interiores, da ecologia profunda. Cada pessoa humana tem o seu deserto para atravessar em busca de uma "terra prometida”. É um percurso penoso e cheio de miragens. Mas o espera sempre um oásis para se refazer.
Há desertos e desertos: deserto dos sentidos, do espírito, da fé. O deserto dos sentidos ocorre especialmente nas relações interpessoais. Depois dealguns anos, a relação de um casal conhece o deserto da monotomia do dia-a-dia e a diminuição do mútuo encantamento. Se não houver criatividade e aceitação dos limites de cada um, pode acabar a relação. Se a travessia não for feita, permanece o deserto desalentador.
Há ainda o deserto do espírito. No século IV quando o cristianismo começou a aburguesar-se, leigos cristãos se propuseram manter vivo o sonho de Jesus. Foram ao deserto para encontrar uma terra prometida em sua própria alma e encontrar o Deus nu e vivo. E o encontraram. Trata-se de uma travessia perigosa do deserto. São João da Cruz fala da noite do espírito "terrível e amedrontadora”. Mas o resultado é uma integração radical. Então, da aridez nasce o paraiso perdido. O deserto é metáfora desta busca e deste encontro.
Por fim há o deserto da fé. Hoje vive-se na Igreja Católica um árido desertopois a primavera que significou o Concílio Vaticano II se transformou num inverno severo por obra de medidas tomadas pelo organismo central do Vaticano no esforço de manter tradições e estilos de piedade que tem a ver com o modelo medieval de Igreja de poder. Ela se comporta como uma fortaleza sitiada e fechada aos apelos que vem dos povos, de seus lamentos e esperanças. É um modelo de Igreja do medo, da suspeita e dapobreza em criatividade, o que revela insuficiência de fé e de confiança no Espírito de Jesus. O que se opõe à fé não é o ateísmo, mas o medo. Uma Igreja cheia de medos perde a sua principal substância que é a fé viva. Os crimes da pedofilia de muitos religiosos e os escândalos financeiros do Banco do Vaticano fizeram com que muitos fiéis conhecessem o deserto, emigrassem da instituição, embora mantendo o sonho de Jesus e a fidelidade aos evangelhos. Vivemos num deserto eclesial sem vislumbrar um oásis pela frente. Será o nosso desafio, o de fazer, mesmo assim, a travessia com a certeza de que o Espírito irrompa e faça surgir flores no deserto. Mas como dói!