Pesquisa mostra que crianças expõem vida pessoal nas redes sociais
Publicação: 03 de Novembro de 2012
Sexta-feira,
fim da tarde. Crianças e adolescentes se divertem embaixo do bloco em
um condomínio fechado de classe média alta da capital federal. É o
anúncio da chegada do fim de semana. Entre as velhas brincadeiras,
futebol e polícia e ladrão são algumas das preferidas. Mas, além de se
divertirem como na época dos pais, a turma entre 9 e 13 anos tem outra
mania: as redes sociais.
"Pelo menos, uma vez por dia, acesso [o
Facebook] para conversar com meus amigos, jogar e compartilhar links com
imagens de quadrinhos ou gravuras engraçadas", diz Guilherme Lima, de
11 anos.
A professora Fabíola Neves, mãe dele, diz que está
sempre de olho no que o filho faz na rede. "Com o consentimento dele,
tenho as senhas de conta de e-mail e redes socais e sempre vejo com quem
ele conversa e que tipo de conteúdo acessa", conta. Porém, admite que
não é possível monitorá-lo por 24 horas. "Não sei que conteúdos ele
acessa quando não está em casa [na escola ou na casa de amigos], mas
acredito que sejam sempre os mesmos. Se ele já tivesse visto algo
inadequado ou tivesse em contato com estranhos, eu saberia pelo
comportamento", garante.
As meninas da mesma faixa etária adoram
combinar os encontros pelas redes sociais. Nas rodinhas, equipadas com
seus smartphones e iPods, elas postam mensagens nas redes em que contam o
local onde estão e o que estão fazendo, o famoso check in, assim como
fotos pessoais, de celebridades ou de roupas e esmaltes em alta no mundo
da moda. "Gosto de compartilhar e curtir o que minhas amigas postam e
de saber o que elas estão fazendo", diz Luísa Neves, de 13 anos.
A
atividade online intensa das crianças e dos adolescentes preocupa os
especialistas. "Você acaba deixando o que a gente chama de um rastro
digital muito preciso ao informar com muito detalhe o seu cotidiano.
Isso registrado na internet pode ser acessado por pessoas mal
intencionadas", alerta o psicólogo e diretor de prevenção da organização
não governamnetal SaferNet Brasil, Rodrigo Nejm.
A pesquisa TIC
Kids Online Brasil 2012, divulgada no mês passado pelo Comitê Gestor da
Internet no país, mostra a exposição dos pequenos no mundo virtual. Os
indicadores revelam que, no país, 70% das crianças e dos adolescentes
entrevistados têm perfil próprio nas redes sociais. Entre os menores de
13 anos, 42% dos entrevistados (na faixa de 9 e 10 anos) e 71% (de 11 e
12 anos) já fazem uso delas. A idade mínima exigida para ter um perfil
na internet é 13 anos. Porém, grande parte altera a idade para ficar
conectado.
A pesquisa, que entre abril e julho deste ano ouviu
1.580 crianças e adolescentes e o mesmo número de pais em todas as
regiões brasileiras, também constatou que a maioria desses jovens coloca
em seu perfil foto que mostra claramente o rosto (86%), expõe o
sobrenome (69%) e pode navegar nas redes sociais quando quiser, sem
acompanhamento dos pais (63%).
Um indicador que chama a atenção é
que 53% dos pais afirmaram não usar a internet. No entanto, 71% acharam
que as crianças usam a rede com segurança. Porém, a pesquisa mostra que
entre crianças de 9 e 10 anos, 6% já tiveram contato na internet com
alguém que não conhecia pessoalmente, entre 11 e 16 anos, o percentual
sobe para 26%.
"Isso é muito sério porque esses mesmos pais que
estão dizendo que é pouco provável que seus filhos tenham algum tipo de
situação de perigo na internet, não conhecem exatamente que situações de
vulnerabilidade seus filhos podem passar nesse ambiente. Há uma certa
sensação de segurança dos pais que não obrigatoriamente se confirma na
experiência concreta dos seus filhos que, às vezes, tem experimentado
alguns conteúdos que podem trazer algum tipo de dano", acrescenta
Rodrigo Nejm.
Na avaliação do psicólogo, a criança e o
adolescente podem ter contato com conteúdo violento, pessoas estranhas e
eventualmente até com criminosos. Apesar disso, ele destaca que mais
importante é preparar esse público para lidar com situações de risco,
que existem sempre, dentro e fora do ambiente virtual . "Quando a gente
fala de conhecer novas pessoas, a gente tem que tomar cuidado para não
fazer um pânico moral. É preciso olhar esses dados com cuidado, chamar a
atenção para os perigos, mas também não é o caso de entrar em pânico e
achar que a internet é superperigosa. Isso pode ser muito legal para
questões de socialização", explica.
A proteção dos pequenos é uma
das atribuições da Polícia Federal (PF), mas não em todos os casos.
"Para a PF investigar precisa haver a publicação ou a disponibilização
de arquivos envolvendo pornografia infantil na internet, pois desse modo
essa prática tem caráter transnacional. A rigor, quando o caso se
restringe ao armazenamento desse tipo de material e ao abuso de
crianças, quem assume é a Polícia Civil", explica o delegado da PF Júlio
César Fernandes, responsável pelo grupo especial de combate aos crimes
de ódio e pornografia infantil na internet. O grupo, criado em 2003,
recebe e analisa as denúncias. As investigações são feitas pelas
delegacias de defesa institucional nas superintendências ou pelas
delegacias descentralizadas.
Em entrevista à Agência Brasil, o
delegado disse ainda que o perfil dos aliciadores é variado, sem faixa
etária definida, mas a maioria é homem e solteiro. As principais
investigações envolvendo pornografia infantil estão na região Centro-Sul
do Brasil. "Ainda não sabemos se isso ocorre porque há um maior volume
de casos ou porque lá as unidades estão mais especializadas. As unidades
que têm mais volume também têm os responsáveis que estão há mais tempo à
frente dessa área temática. Os trabalhos mais emblemáticos foram
desenvolvidos pelas delegacias de defesa institucional do Paraná e do
Rio Grande do Sul", destaca.
Fonte: Agência Brasil