Sínodo 2012: a questão que está em jogo
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arquidiocese de São Paulo
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"Há uma séria crise na evangelização e na transmissão da fé em nossos dias, em várias partes do mundo", destaca Dom Odilo
Também participarão, como convidados, representantes do clero, das organizações dos leigos, da Vida Consagrada Religiosa e de várias instituições da Igreja, além de peritos sobre os temas tratados.
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No final de três semanas de muito ouvir, de intensa união de esforços em vista de um caminho comum da Igreja (“sínodo” significa isso!), espera-se que a assembleia sinodal possa apontar caminhos para uma renovação da evangelização e da transmissão da fé.
De fato, duas são as questões postas pelo tema: a evangelização e a transmissão da fé cristã. Ambas são dependentes e relacionadas entre si.
A Igreja tem consciência de que sua missão é evangelizar, ou seja, proclamar e testemunhar ao mundo o Evangelho do Reino de Deus. E isso, com o objetivo de despertar nas pessoas a atenção e o interesse pelo Evangelho e de ajudá-las a chegar ao ato de fé. Essa é a razão de ser da evangelização: ajudar a chegar à fé cristã, transmitir esta fé aos outros, com a ajuda da graça de Deus.
Nem sempre esse objetivo é alcançado. O semeador tem a consciência de que sua missão é lançar as sementes à terra; ele faltará para com sua tarefa se deixar de o fazer; ele sabe de antemão que muita semente preciosa cairá em terreno duro, entre espinhos, ou sobre as pedras; nem por isso ele não deixa de semear. E também vai animado pela esperança que muita semente cairá em terreno bom e acabará produzindo o fruto esperado...
Por qual motivo esse tema foi escolhido para a 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos? As explicações podem ser diversas; mas é certo que há uma séria crise na evangelização e na transmissão da fé em nossos dias, em várias partes do mundo. Há falhas na evangelização, por ser insuficiente, inadequada, ou desfocada; e quando a proclamação da Boa Nova não é feita bem, os frutos não aparecem.
Talvez os evangelizadores não estejam sendo bastante convincentes, por várias razões; ou os ouvintes não estão interessados e não conseguimos interessá-los; talvez o momento cultural (“mudança de época”...) não está sendo propício para o anúncio sério e frutuoso do Evangelho... Nada disso, porém, pode justificar a cessação do processo evangelizador. É preciso continuar a buscar uma saída, a contar com a graça de Deus, mais poderosa que nossos discursos e métodos. A evangelização não pode parar, pois seria a falência da missão que a Igreja recebeu de Cristo.
Além disso, a transmissão da fé está sendo fraca, ou está até mesmo sendo interrompida em muitas situações e lugares. É bem sabida a dificuldade que os pais, mesmo fervorosos, têm para transmitir a fé aos filhos; e quando as novas gerações não abraçam mais a fé, deixam de receber o sacramento do Matrimônio e de formar uma família cristã, constituída sobre as bases da fé e da vivência cristã, quando deixam de pedir o Batismo para os filhos e de os apresentar para a Catequese de iniciação à fé e à vida cristã, estamos diante do fato lamentável da interrupção do processo da transmissão da fé, de geração em geração; e os casos não são raros!
Estamos diante de um “novo paganismo”, que nasce e se desenvolve, muitas vezes, dentro dos próprios ambientes católicos. Esta questão é muito grave e desafiadora para a missão da Igreja! Os motivos por que isso acontece são muitos e não devem ser atribuídos apressadamente à culpa de quem quer que seja. Não se trata de achar culpados, mas de agir adequadamente. A análise das causas ajuda a entender o fenômeno, que se passa debaixo de nossos olhos; mas a simples compreensão do fenômeno, por muito que seja importante, ainda não é a solução.
Não há mistérios nem fórmulas mágicas. Passou o tempo em que a fé era transmitida espontaneamente e vivida no ritmo da tradição e da pressão social. A questão toda é evangelizar de novo e fazê-lo bem. Ou a Igreja retoma com vigor a evangelização, feita de muitas maneiras; ou então, a fé deixa de ser transmitida. É como fechar um registro: a água não passa mais...
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo@DomOdiloScherer