sábado, 8 de setembro de 2012

Arquidiocese se prepara para Semana Social Brasileira

 
“Estado para que e para quem?” é o tema da 5ª Semana Social Brasileira, que acontecerá no período de 22 a 25 de maio de 2013. As reflexões em busca da resposta desta pergunta já vêm acontecendo, durante este ano de 2012, em dioceses de todo o Brasil.

Em preparação à Semana Social Brasileira, a Arquidiocese de Natal promove duas atividades, no mês de setembro, coordenadas pelo Vicariato Episcopal para as Instituições Sociais. A primeira atividade é um seminário e acontece sábado, dia primeiro de setembro, das 8 às 16 horas, no auditório do IFRN, situado na Av. Rio Branco, no centro da capital. O seminário contará com a assessoria dos professores universitários César Sanson e Íris Oliveira. Os dois serão palestrantes da Mesa Redonda que abordará o tema: “Queremos o Estado a serviço da nação, que garanta direitos a toda população”.

A outra atividade será o Grito dos Excluídos, com uma vigília, que acontecerá dia 6 de setembro, das 18 às 21 horas, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Parnamirim. A programação iniciará com uma missa, presidida pelo Arcebispo, Dom Jaime Vieira Rocha. Depois, haverá um resgate da história dos Gritos dos Excluídos, realizados em anos anteriores, e uma homenagem a Dom Antônio Soares Costa e ao Padre Sabino Gentile, ambos já falecidos.
Semana Social
A realização das Semanas Sociais conta com o apoio de diversos atores e setores da sociedade, desde o início dos anos 90. É um evento promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e tem a finalidade de mobilizar comunidades eclesiais e movimentos sociais para refletir sobre temas que dizem respeito à busca por um país justo, democrático, solidário e sustentável.
Divulgação
Cartaz da Semana Social
ESSE EVENTO ACONTECEU NA SEMANA PRÓXIMA PASSADA
O Vicariato Episcopal para as Instituições Sociais contribui desse modo para a vivência da cidadania na Arquidiocese de Natal.
AS CONFERÊNCIAS PASSAM 
OS PROBLEMAS PERMANECEM
As soluções para os problemas ambientais estão muito longe de aparecerem no cenário pois os dirigentes das sociedades humanas se renovam para aprofundarem a questão. Nenhuma novidade que possamos celebrar referente ao meio ambiente. O que fazer diante do imobilismo social? Temos que continuar nossas pequenas conferências em sala de aula mostrando o papel dessa geração que estamos formando. 
Mais tarde a situação vai estar muito mais difícil. Mas por enquanto temos que formar novas mentalidades. Temos que garantir, por meio da educação, uma geração cuidadora da natureza. Você que está lendo esse texto faz parte dessa equipe. Pense um pouco em nossas riquezas naturais e torne-se um defensor da mesma, orientando aqueles que estão em seu meio social.


A Mãe Terra

Cândido Grzybowski
Sociólogo, diretor do Ibase
De 20 a 22 de junho deste ano, no Rio, será realizada a Conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, vinte anos após a ECO-92. Sou dos céticos em relação à vontade e à capacidade de nossos governantes – atolados em crises e compromissos com os grandes conglomerados econômico-financeiros que dominam a economia globalizada – chegarem a acordos à altura dos desafios que a humanidade tem pela frente. Cabe à cidadania fazer a sua parte, do local ao mundial. É uma necessidade inadiável indignar-se e agir contra um modo de produzir e consumir que serve para poucos e, ao mesmo tempo, destrói as bases da vida. Com esta crônica, no contexto que antecede a Conferência da ONU, inicio uma série de pequenas reflexões sobre a necessária revisão dos fundamentos em torno dos quais nos organizamos como sociedades humanas.
Junto-me a muitos, especialmente no processo Fórum Social Mundial, e endosso o diagnóstico de que estamos diante de uma crise de civilização, caracterizada pela perda de capacidade de resposta do sistema dominante, hoje globalizado, diante dos desafios planetários, tanto de preservação da integridade do planeta Terra e da vida para futuras gerações como da enorme injustiça social e ambiental intra e interpovos, hoje. Os fundamentos, a legitimidade e os rumos desse modelo capitalista industrial, produtivista e consumista estão derretendo e podem acabar tornando irreversível o processo de destruição ecológica e social.
Na crise da civilização atual, uma questão que emerge como condição sine qua non é a necessidade de recompor e reconstruir a nossa relação com a natureza. Afinal, somos parte da biosfera, somos natureza nós mesmos, natureza viva dotada de consciência. Somos dependentes uns dos outros, múltiplos e diversos, com capacidade de criar significados e direções, de incidir e adaptar a natureza às nossas necessidades. Somos, no entanto, parte da própria natureza, que nos impõe limites éticos no tratá-la, cuidá-la, preservá-la e comparti-la entre todos e todas. Interagir e trocar com a natureza, com a sua complexidade de sistemas ecológicos é, por definição, o viver. Por isso, precisamos resgatar o conceito filosófico e político fundante de Mãe Terra atribuído ao planeta, ainda presente em muitas culturas e no imaginário popular. Planeta único e mãe de todos os humanos, de toda a vida que conhecemos, a integridade do planeta Terra está ameaçada pela civilização capitalista industrial. A privatização, a mercantilização e a comodificação de tudo, a manipulação da vida e dos elementos, sem limites, pela biotecnologia e nanotecnologia, todos são processos que ameaçam a nossa grande mãe comum, a Terra – hoje e para futuras gerações. A tal economia verde, que está na agenda da Rio+20, nada mais é que uma aposta dos grandes conglomerados econômico-financeiros para transformar a biodiversidade e os elementos naturais em frente de uma nova e radical expansão capitalista. Estamos diante da possibilidade de sermos levados para o caminho da destruição sem retorno. Isto é o contrário de sustentabilidade.
Para ser sustentável, a civilização humana tem que renunciar ao antropocentrismo como filosofia, ética e religião e mudar radicalmente a sua aposta nas soluções da ciência e da técnica para violar e dominar a Mãe Terra a todo custo, tudo em nome da acumulação, do ter mais e mais, gerando desigualdades sociais e exclusões de todo tipo, com muito sofrimento e privações para bilhões de seres humanos. A primeira tarefa que decorre daí é desativar a máquina de produção e acumulação de riqueza material e financeira atual. O desenvolvimento, que tem como condição o crescimento contínuo, é a máquina do capitalismo. Ele combina apropriação e uso sem limites da natureza, vista como mera depositária de recursos, com a exploração e dominação dos que trabalham, tudo em nome da acumulação de lucros. A questão ética central aqui é: como abandonar valores e um estilo de vida do ter mais, produzindo ao mesmo tempo sempre mais luxo e pobreza, para dar lugar ao ser mais feliz, mais solidário, mais consciente das responsabilidades em regenerar, reproduzir e preservar a integridade da base natural, compartindo-a como a grande Mãe Terra, com todos de hoje e com as futuras gerações?
A vida, toda forma de vida, tem o direito fundamental de existir, bem como os complexos sistemas ecológicos que integram e regulam o planeta Terra. A Conferência Rio+20, ao invés de pensar em novas frentes de grandes negócios para alimentar o crescimento, com a tal economia verde, poderia considerar seriamente as fronteiras planetárias, o espaço seguro para a humanidade florescer.
Segundo renomados cientistas, as fronteiras planetárias para a ação humana – que, uma vez ultrapassadas, podem provocar uma mudança ambiental irreversível, com efeitos catastróficos – são:
  1. mudança climática;
  2. acidificação dos oceanos;
  3. concentração estratosférica de ozônio;
  4. emissões atmosféricas de ozônio;
  5. fluxos biológicos, geológicos e químicos (interferência do fósforo e do nitrogênio);
  6. uso global da água fresca;
  7. mudanças no sistema de uso da terra;
  8. perda de biodiversidade;
  9. poluição química.
Essas fronteiras estão mais detalhadas em: Resilience Alliance. Planetary boundaries: exploring the safe operations space for humanity. Ecology and Society, nº 14(2), p. 32. Disponível em: http://www.ecologyandsociety.org.
Esta me parece uma agenda possível e necessária para tratar a Mãe Terra como ela merece. A tarefa é urgente. Seremos capazes de mudar o rumo do desastre?
Publicado em 28 de fevereiro de 2012

Mensagem do dia
 
Sábado, 08 de setembro 2012
No Senhor encontramos repouso
Talvez você esteja com o coração pesado e precisando do Senhor. Tenha certeza de que Ele mesmo está chamando todos nós. Vamos acolher este convite que Ele nos faz hoje: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso"(Mateus 11,28).

Ou talvez você esteja carregando o fardo do seu casamento, de seus filhos adolescentes ou casados. Pode ser que você esteja vendo o casamento de seu filho desmoronar, aquele de quem você esperava tanto. Talvez, o seu próprio casamento esteja desmoronando.

Muitas vezes, nós estamos com a alma cansada e isso se reflete em nosso corpo: não dormimos, passamos a noite com sonos intermitentes, então, não vemos a hora de ela [noite] chegar novamente, e depois, não vemos a hora de chegar o dia. Mas, hoje, o Senhor está dizendo para você que vá a Ele, pois n'Ele você vai encontrar o repouso e o descanso de que precisa.

Graças a Deus, quantos de nós já encontramos solução no Senhor! Nós já experimentamos maravilhas em nossa vida. Quanta coisa nós pedimos e o Senhor nos concedeu. Seja qual for o peso que você esteja carregando, o Senhor está lhe dizendo: "Venha a mim, meu filho, você que está sobrecarregado com o peso dos fardos e Eu lhe darei descanso e repouso".

"Senhor, Tu sabes as dores da alma que esses irmãos estão carregando. É promessa Sua e eles estão vindo, estão acreditando. Dá a cada um de Seus filhos e filhas o descanso, o repouso de que precisam, porque, muitas vezes, esse descanso vem porque o Senhor pousa Sua mão entre nós. Dá-nos, meu Deus, o repouso da alma, do espírito e o alívio de que precisamos".

No Senhor encontramos repouso, paz, alegria, paz, amor, enfim, tudo de que precisamos para seguir nossa jornada.

Deus o abençoe!

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova


Veja também:
.: Assista às pregações de mo

sexta-feira, 7 de setembro de 2012


A adolescência forma caráter?

Tatiana Serra
ilustração
Você já deve ter ouvido alguém falar: “fulano não tem caráter”, “beltrano tem o caráter forte” e “cicrano só pode ser mau-caráter”. São várias as possibilidades e as definições para essa palavra.
Sua origem grega tem ligação com a impressão de uma marca sobre um objeto e mostra que o caráter distingue uma pessoa; também pode tornar possível prever as ações e atitudes de um indivíduo; é o traço moral da personalidade; qualidade inerente a uma pessoa; índole, natureza e temperamento; soma dos hábitos, virtudes e vícios; índole ou firmeza de vontade; conjunto do que o indivíduo possui desde seu nascimento...
A socióloga Ângela Marulanda, em seu livro O desafio de crescer com os filhos, afirma que “caráter é aquilo dentro de nós que regula o nosso agir moral”. Mas como ele se forma? Ao poucos e ao longo da vida. Como o caráter de uma pessoa é formado? Quem o influencia? Quem estiver mais próximo do indivíduo ou, de acordo com Sigmund Freud, “é formado pelas pessoas que ele escolheu para conviver". Aliás, também foi ele que afirmou que a experiência da infância tem forte influência sobre a personalidade adulta.
A escritora americana Cecily von Ziegesar, uma das principais autoras da chamadachick lit – a literatura feita sob medida para leitoras adolescentes –, esteve em São Paulo na última Bienal do Livro. Do alto de seus mais de 60 milhões de cópias vendidas em todo o mundo (sua principal obra é a saga de 13 livros Gossip Girl),Cecily afirmou à revista Veja que a adolescência é capaz de formar o caráter. “É na adolescência que a gente se torna a pessoa que será para sempre. Por isso é tão interessante escrever sobre esse período”, disse ela.
É importante lembrar ainda que a formação de um caráter tem a ver com os obstáculos encontrados. E a correlação entre caráter e adolescência pode ser explicada por se tratar de um período em que situações de impacto (muitas vezes, as primeiras delas) acontecem, como ver os pais se divorciarem ou ter o coração quebrado por alguém de quem se gosta – um garoto ou aquela melhor amiga que você achava que teria ao seu lado para o resto da vida.
Vale a pena parar para pensar nisso, especialmente aqueles docentes que trabalham com essa faixa etária; querendo ou não, o professor é referência de vida e comportamento para esses jovens – para o bem e para o mal.
04/09/2012

22.1 milhões de crianças & adolescentes na América Latina e Caribe não estão na escola ou correm sérios riscos de evasão escolar....




Teólogo Paulo Suess fala sobre liturgia e Vaticano II

"Se Francisco Xavier e praticamente todos os missionários e missionárias até a primeira metade o século XX eram obrigados, em nome da Igreja, a negar a possibilidade de salvação para os não cristãos, o Vaticano II trouxe, no dizer de Bento XVI, “alguma forma de descontinuidade”, afirma o teólogo Paulo Suess, em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU) On-Line.
Tanto isto é verdade que “a Fraternidade Pio X percebeu corretamente que o Vaticano II representa uma verdadeira reforma que inclui continuidade e ruptura”
Por ocasião do 50º aniversário do início do Concílio Vaticano II, o assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), descreve a gênese, a trajetória e as rotas do importante decreto Ad Gentes, que redesenhou a missão da Igreja.
Segundo Paulo Suess, o Concílio Vaticano II instou "a igreja a deixar a realidade do mundo e entrar na realidade do mundo. E essa realidade tem várias dimensões: a dimensão macrocultural da modernidade secularizada e a dimensão da convivência concreta no mundo pluricultural".
Trata-se, continua Suess, "de construir duas pontes de mão dupla: uma entre Igreja e a dimensão universal das conquistas do mundo moderno, e outra, entre Igreja e o mundo local e cultural, onde o povo vive, se encontra e comunica".
Paulo Suess nasceu na Alemanha. É doutor em Teologia Fundamental com um trabalho sobre Catolicismo popular no Brasil. Em 1987 fundou o curso de Pós-Graduação em Missiologia, na Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, onde foi coordenador até o fim de 2001. Recebeu o título de Doutor honoris causa, das Universidades de Bamberg (Alemanha, 1993) e Frankfurt (2004). É assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário – Cimi e professor no ciclo de pós-graduação em missiologia, no Instituto Teológico de São Paulo (ITESP). Entre suas publicações, destaca-se Dicionário de Aparecida. 40 palavras-chave para uma leitura pastoral do Documento de Aparecida (São Paulo: Paulus, 2007).
Confira a entrevista.
A partir da perspectiva da Igreja em Missão, como o senhor analisa o Concílio Vaticano II, evento que, neste ano, celebra 50 anos da sua abertura?
Paulo Suess – A missão é estrela-guia na constelação dos 16 Documentos do Concílio que emergiram de demandas prático-pastorais. Práticas litúrgicas, leituras bíblicas, convivência ecumênica, necessidades de uma nova presença no mundo operário e indígena apontaram para a necessidade de uma reconfiguração das relações entre Igreja, mundo moderno, culturas e humanidade. Novas relações, sobretudo com os pobres e os outros, exigiram repensar as linhas pastorais até então consideradas “legais” e forjaram, como fio condutor, a missão voltada ao povo e ao mundo na perspectiva de aggiornamento e encarnação. O aggiornamento à modernidade e a encarnação nos contextos pluriculturais representam uma verdadeira “virada popular”. Virada popular significa contemplar a Deus não em alturas abstratas, mas no rosto da humanidade crucificada e ouvir a Sua voz através dos sinais de Deus no mundo.
O decreto Ad Gentes é o documento conciliar que trata da atividade missionária da Igreja? Qual a gênese desse documento no processo do Concílio?
Paulo Suess – Os impulsos elementares para a teologia da missão e a pastoral missionária desabrocharam nas Constituições sobre a Igreja (Lumen Gentium; Gaudium et Spes) e a Liturgia (SC), nos decretos sobre o Ecumenismo (UR) e a Vocação dos Leigos (AA), e nas Declarações sobre a Liberdade Religiosa (DH) e as Religiões Não Cristãs (NA). O “Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja” apenas sintetizou essas dimensões que ganharam a sua força radical pela revisão da eclesiologia do Vaticano I. Nos processos que levaram à redefinição da missão, observa-se um deslocamento de uma Igreja que tem missões territoriais, pelas quais faz coletas e pede orações, para uma Igreja na qual a missionariedade e a “natureza missionária” dos batizados representam a orientação fundamental de todas as suas atividades.
O anúncio do Vaticano II, na festa da conversão do Apóstolo Paulo, die 25 de janeiro de 1959, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, tem um profundo significado simbólico. Data e lugar escolhidos pelo papa João XXIII apontam para uma igreja em estado de conversão “fora dos muros” da cristandade.
Foi pela primeira vez, na história da Igreja, que um concílio sentiu a necessidade de elaborar um documento sobre a missão. Contudo, parecia tudo muito fácil e, praticamente, já resolvido antes do Concílio. O cardeal Agagianian, prefeito da então chamada “Congregação pela Propagação da Fé”, não se cansou de afirmar que no campo missiológico todas as questões estavam resolvidas através das encíclicas missionárias dos últimos papas. Missão e missiologia, que entraram no concílio como anexos ao campo da pastoral, saíram do processo conciliar como teologia fundamental e núcleo teológico-pastoral central do Vaticano II.
Ao texto definitivo de Ad Gentes precederam sete versões que permitem acompanhar as lutas pelo novo significado do paradigma “missão” (cf. P. Suess, Introdução à teologia da missão, 3ª ed., Petrópolis, 2011, p. 122 et seq.). O lugar do “mundo”, da “missão” e da “liberdade religiosa” na Igreja foi disputado até o último momento do Concílio. Finalmente, poucos dias depois da promulgação da “Declaração sobre as religiões não cristãs” (NA, 28.10.65), na quarta e última sessão e no último dia (7-12-1965), o “Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária” foi promulgado por Paulo VI, junto com a “Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo” (GS) e a “Declaração sobre a liberdade religiosa” (DH). Ad Gentes recebeu 2.314 votos “sim” e apenas 5 votos “não”.
Quais são os elementos ou conteúdos fundamentais do decreto Ad Gentes?
Paulo Suess – Os conteúdos fundamentais do decreto Ad Gentes não devem ser vistos isoladamente dos outros documentos do Concílio. O “pacote” missiológico do Vaticano II pode ser resumido em alguns passos, revisões e conversões de uma caminhada pós-colonial, sempre ameaçada por regressões:
– do eclesiocentrismo à centralidade do Reino de Deus;
– de uma identificação da Igreja com a hierarquia para uma Igreja “Mistério”, “Povo de Deus” e “Instrumento de salvação”;
– de um laicato auxiliar e subordinado do clero para um laicato que participa do sacerdócio comum dos fiéis (LG 34), do múnus profético de Cristo (LG 12; 35,1) e do apostolado. O Povo de Deus é marcado por uma igualdade constitucional (cf. LG 37);
– da opção abstrata pelo “homem” para sujeitos com rostos concretos. O povo de Deus integra os pobres e tem uma missão pública, histórica, profética e fraterna;
– De uma Igreja
= que olhou na celebração eucarística para a parede e falava em latim
= que entendeu a sua teologia como explicação de dogmas e
= que em sua pastoral estava amarrada a padrões culturais da Europa, para uma Igreja versus populum, que podemos chamar de “virada popular”;
– do território da missão à natureza missionária da Igreja povo de Deus (desterritorialização da missão);
– do ter missões ao “viver em estado de missão” (AG 2; DAp 213);
– da missão ad gentes à missão intergentes (diálogo inter-religioso, ecumênico e intercultural), que significa um passo da unilateralidade entre doador e receptor dos benefícios da missão para a reciprocidade nas relações missionárias;
– do monopólio salvífico à partilha da graça da salvação: se Francisco Xavier e praticamente todos os missionários e missionárias até a primeira metade o século XX eram obrigados, em nome da Igreja, a negar a possibilidade de salvação para os não cristãos, o Vaticano II trouxe, no dizer de Bento XVI, “alguma forma de descontinuidade”;
– da supervisão à inculturação. A “supervisão” nos afasta do chão e dos rostos concretos dos pobres. A eficácia missionária não está nos instrumentos utilizados nem na liderança em “nossas obras”, mas na coerência entre a mensagem do Reino e sua contextualização, também através do nosso estilo de vida.
A passagem da supervisão para a inculturação atinge, obviamente, o campo onde o povo celebra sua vida, ou seja, o campo litúrgico. Muitas reformas litúrgicas pós-conciliares, feitas por “supervisores” sem conhecimento e participação do povo, estão caminhando para o distanciamento pré-conciliar. A Missa Tridentina não é um sinal que aponta para uma Igreja autóctone encarnada na vida do povo. A “virada popular” do Vaticano II clama por essa Igreja autóctone que rompe com qualquer tipo de tutela colonial.
A partir do Concílio, entre avanços e recuos, como o senhor avalia os passos dados pela Igreja na sua relação com o mundo?
Paulo Suess – Hoje, a Igreja Católica reúne vários setores de mentalidades, práticas pastorais e teologias diferentes, o que torna difícil falar de “passos dados pela Igreja”. Esses passos de setores espiritualistas e realistas, fundamentalistas e movimentos militantes, de ordens religiosas e novas comunidades se movem em direções diferentes. Segundo o respectivo setor, podemos falar de recuos ou avanços ao mesmo tempo. Ultimamente observa-se certa aversão do setor hegemônico contra a realidade concreta. Nossa metodologia do ver-julgar-agir, que acompanhou a teologia indutiva latino-americana e que ainda foi positivamente mencionada na Mater et Magistra (1961) de João XXIII (MM 235), sofreu, desde Santo Domingo (1992), na maioria dos documentos, restrições pela nova abordagem do “crer-ver-agir”. Em seguida, muitas vezes se confundiu os níveis diferentes do crer, que é teológico, e do ver, que é sócio-histórico.
Mas a história nunca é linear. Muitas conquistas do Vaticano II estão presentes em nossa realidade pastoral e nos documentos produzidos nesse tempo pós-conciliar, apesar de certo descompasso entre documentos e a própria prática missionária. Somos uma Igreja de apóstolos e mártires, hoje com poucos profetas. Precisamos desinibir a “virada popular”.
Precisamos reescrever os tratados sacramentais – matrimônio, penitência, sacerdócio –, que clamam por um aprofundamento que tome o Vaticano II como ponto de partida. 70% das comunidades na Amazônia estão sem eucaristia dominical. Aparecida cobrou à Igreja de “repensar profundamente e relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais” (DAp 11). “Fidelidade”, nessa reconstrução da “virada popular”, só faz sentido se houver “audácia” na recepção e na projeção do Vaticano II. Sem audácia, a tradição se torna tradicionalismo e prisão e não haverá tradução, encarnação e comunicabilidade do cristianismo em novos contextos micro e macroculturais.
Exige-se, hoje, um discernimento audaz tanto na assunção dos múltiplos projetos de vida, que culturas regionais representam, como na avaliação de conquistas da modernidade que, com sua dupla face de progresso e violência, beneficiam e ameaçam a sobrevivência da humanidade. A audácia pode ser confundida com adaptações apressadas, com modernizações meramente técnicas, com a corrida atrás do sempre novo, sem consciência histórica. Missas e ministros midiáticos, alinhados a padrões de marketing, podem destruir o sagrado.
Como a Igreja latino-americana traduziu para a sua realidade as decisões conciliares, sobretudo ao que diz respeito à Igreja missionária?
Paulo Suess – A “virada popular” como aggiornamento significa para a igreja deixar a realidade do mundo e entrar na realidade do mundo. E essa realidade tem várias dimensões: a dimensão macrocultural da modernidade secularizada e a dimensão da convivência concreta no mundo pluricultural. Aggiornamento expressa a vontade de construir duas pontes de mão dupla: uma entre Igreja e a dimensão universal das conquistas do mundo moderno, e outra, entre Igreja e o mundo local e cultural, onde o povo vive, se encontra e comunica.
O Concílio nomeou essas tentativas de aproximação respeitosa aos povos e ao mundo com algumas palavras balbuciantes, como “adaptação” (SC 37s; GS 514), “autonomia da realidade terrestre” (GS 36; 56) e da cultura, “sinais do tempo” (GS 4; 11), e “diálogo” (CD 13; UR 4), “encarnação” e “solidariedade” (GS 32). Em nossa caminhada teológico-pastoral latino-americana traduzimos essas palavras como “opção pelos pobres” e “libertação”, em Medellín (1968), “participação”, “assunção” e “comunidades de base”, em Puebla (1979), como “inserção” e “inculturação”, em Santo Domingo (1992) e como “missão”, “testemunho” e “serviço” de uma Igreja samaritana e advogada da justiça e dos pobres, em Aparecida (2007).
Nenhuma dessas palavras descreve a totalidade do projeto pastoral do Vaticano II, mas seu conjunto representa uma síntese daquilo que esse concílio queria ser: um farol da luz de Cristo no meio dos povos e do mundo.
Algo significativo aconteceu na IV Conferência do Episcopado Latino-Americano em Santo Domingo. O tema da “cultura cristã”, quer dizer, a reflexão sobre uma cultura que não existe, foi substituída nas Conclusões por “evangelização inculturada” (SD 292,3). E no decorrer dessas Conclusões encontra-se o imperativo categórico da evangelização: “Toda evangelização há de ser, portanto, inculturação do Evangelho. (...) A inculturação do Evangelho é um imperativo do seguimento de Jesus e é necessária para restaurar o rosto desfigurado do mundo” (cf. LG 8; SD 13).
Após 50 anos, como o senhor analisa a atualidade do Concílio, sobretudo na perspectiva da Igreja em Missão?
Paulo Suess – Como evento histórico, o Concílio é ponto de partida. Reinterpretações fazem parte da fidelidade aos seus documentos e da audácia da caminhada pastoral que a história exige (cf. DAp 11). Podemos distinguir diferentes “convivências” com o Vaticano II:
1º: a não recepção pelo grupo em torno da chamada Fraternidade Pio X. Esse setor percebeu corretamente que o Vaticano II representa uma verdadeira reforma que inclui continuidade e ruptura;
2º: a recepção modernizante, porém essencialmente conservadora, sem assunção dos questionamentos do mundo moderno, que o Concílio fez;
3º: a recepção conclusiva, como se o Vaticano II fosse um ponto final ou uma trincheira que nos permite, em pleno inverno eclesial, esperar tempos mais favoráveis. Esse setor procura salvar afirmações fundamentais do Concílio – o “máximo” alcançável, o “sustentável” – sem a dinâmica histórica que o considera como ponto de partida;
4º: a recepção seletiva e estratégica pelo setor de movimentos pentecostais e fundamentalistas, que grosso modo dispensaram a “iluminação” conciliar, por confundirem com ilustração; sinais importantes deste setor são a emocionalidade, a visibilidade através de eventos de massa e o personalismo de um líder sedutor, popular e populista ao mesmo tempo. Sua presença maciça na mídia se explica pelo alinhamento sistêmico e político, por promessas milagrosas e pelo esquecimento da cruz. Esse setor reforça a alienação das massas populares e as afasta do mistério pascal;
5º: a recepção dinâmica na linha de uma pastoral de libertação e participação dos pobres, assumida por Medellín e as conferências seguintes. Bandeiras como CEBs, inculturação, Igreja autóctone com teologias e liturgias diferenciadas, diálogo, liberdade religiosa, macroecumenismo só terão futuro e serão hasteadas nessa perspectiva da historicidade do evento Vaticano II. Quem quer “segurar” o Concílio como ponto de chegada destrói suas intenções profundas.
À luz do Concílio Vaticano II, o que significa ser Igreja missionária hoje?
Paulo Suess – Ser Igreja missionária, hoje, significa ser Igreja. Não existe uma Igreja não missionária. E ser Igreja significa ser Povo de Deus, povo messiânico, profético, sacerdotal e testemunhal em estado permanente de conversão institucional, pessoal e estrutural; significa assumir de perto a opção pelos e com os pobres e os “outros”, com os quais trabalhamos e convivemos com o cultural e o materialmente disponíveis para colaborar na construção de um mundo para todos. Ainda estamos longe de fazer do lembrete “natureza missionária”, que o Concílio nos deixou, uma realidade pastoral. Ainda estamos longe de ver na missão não apenas uma “tarefa opcional”, mas de assumi-la como “parte integrante da identidade cristã” (DAp 144).
Missão é visão do horizonte utópico da libertação. A libertação é possível. A justiça de Deus não é a justiça da estátua com olhos vendados. Deus ouve o clamor dos pobres, vê o sofrimento dos migrantes e convoca com a sua palavra os que a confusão babilônica dos macrodiscursos excluiu do convívio social.
Missão é visão acoplada à ação. Com nossa indignação profética percebemos que tudo pode ser diferente.
A partilha e a opção pelos pobres apontam para tarefas básicas neste mundo: a redistribuição dos bens feita pelos pobres e o reconhecimento dos outros e das outras em sua alteridade. Essa visão se transforma em ação através da presença no meio dos outros pobres e através de palavra, profética e misericordiosa, ao mesmo tempo.
A Missão produz sinais de justiça e cria imagens de esperança. No mundo, onde os privilegiados perdem o sentido de vida e os excluídos perdem a visão de um horizonte e a força de resistência, o querigma missionário elementar é a esperança que emerge da presença e da solidariedade.
21/08/2012 - 14:28 Entrevista
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