Cônego Celso Pedro da Silva Dt 4,1-2.6-8; Sl 14 (15); Tg 1,17-18.21b-22.27; Mc 7,1-8.14-15.21-23
Alguns fariseus e escribas de Jerusalém que estavam na Galileia se aproximaram de Jesus e notaram que os discípulos não faziam o rito religioso de lavar as mãos antes das refeições. Comer com as mãos impuras não é a mesma coisa do que comer com as mãos sujas. Deve-se lavar as mãos antes das refeições por questão de higiene e cuidado com a saúde. Para que as mãos não fossem consideradas impuras, no tempo de Jesus havia um rito religioso de lavagem das mãos. Era um preceito religioso e, ao menos naquela ocasião, os discípulos não o observaram. Estavam comendo sem terem lavado as mãos. Os fariseus e os escribas queriam saber por que eles não seguiam a tradição dos antigos, e perguntaram a Jesus. Uma pergunta pode ser feita para a aquisição de conhecimento, e pode ser feita como censura crítica. A pergunta respeitosa quer saber se há uma razão séria para comer sem lavar as mãos. A outra pergunta não quer saber. Ela já está criticando porque não estão lavando as mãos como deveriam. Quem assim pergunta não quer saber se há uma razão e já supõe que o outro esteja errado.
Jesus, que percebeu logo a intenção da pergunta, respondeu com energia, citando uma passagem do profeta Isaías (29,13): “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. É vão o culto que me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos”. Jesus os chama de hipócritas e diz que se apegam a tradições humanas esquecendo-se dos mandamentos de Deus. Jesus contrapõe os preceitos humanos aos mandamentos de Deus e afirma que o apego a preceitos e tradições pode ter como consequência deixar de lado o que é de fato a vontade de Deus.
Para saber se estamos no caminho certo da vontade de Deus, temos que olhar para dentro de nós mesmos, olhar para o nosso coração como lugar das nossas escolhas e decisões. O que torna alguém impuro são as más intenções ou os projetos arquitetados na mente e no coração: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez.
Não seria melhor fazer as duas coisas, ter bons projetos no coração e observar o rito de lavar as mãos antes das refeições? Sim, desde que cada coisa esteja em seu devido lugar. Não colocar a tradição humana acima da vontade de Deus.
Moisés incentivou o povo a guardar os mandamentos do Senhor sem acrescentar ou suprimir coisa alguma. É sábio e prudente aquele que não obscurece a vontade de Deus encobrindo-a com preceitos humanos. É sábio e prudente quem sabe discernir o que mais convém ao ter que tomar uma decisão prática na vida. Os preceitos e as tradições podem nos ajudar como um professor ajuda o aluno que ainda não sabe. Quando o aluno aprende, já não precisa da ajuda do professor.
A Palavra de Deus foi plantada dentro de nós. Nós a acolhemos para praticá-la. São Tiago sintetiza o que Deus espera de nós como cumpridores da Palavra de Deus quando nos diz em que consiste a religião pura e sem mancha aos olhos de Deus, nosso Pai: “Visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e conservar-se limpo do contágio do mundo”. Já dizia o salmista que vive sem mancha aquele que pratica a justiça que brota da verdade que está em seu coração. |
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