34º Domingo do Tempo Comum
34º
Domingo (Cristo Rei)
Introdução
As leituras
deste “domingo de Cristo Rei” chama atenção de cada um de nós e de toda a
comunidade cristã, para que compreendamos a profunda natureza da realeza de
Jesus Cristo, “a razão da nossa fé”. Ele é o Rei, mas o seu reinado tem uma
outra razão de ser.
O Mestre não diz: “o meu Reino
não é neste mundo”, mas sim: “o meu Reino não é deste mundo”. Não diz: “o meu
reino não é aqui”, mas sim: “o meu reino não é daqui”. Com efeito, o seu Reino
é aqui na Terra até o fim dos séculos... Contudo, não é daqui, porque é
peregrino no mundo” (Santo Agostinho, Comentários
ao Evangelho de São João).
“O Reino de Deus não pode
associar-se com o Reino do pecado... Tenha Cristo em nós o seu trono”
(Orígenes, padre da Igreja, ano 185).
1ª leitura
(Dn 7,13-14)
Para
facilitar melhor a compreensão dos dois versículos desse trecho (7, 13-14),
faz-se necessário uma consideração precisa a respeito de todo o capítulo.
Daniel
na sua narração, chama atenção para alguns pormenores:
Ele
começa dizendo (7,2-8): “Tive uma visão noturma... quatro feras gigantescas
saíam do mar. Trata-se de Leão, urso, leopardo com quatro asas, uma outra com
dez chifres. Em meio à visão, Daniel diz que viu também um ancião sentado num
trono. E por aí segue a narração.
O
que significa a presença de desses animais no contexto da leitura? O próprio
agente do texto indica a explicação: trata-se dos grandes reinos que se
sucederam no mundo e que oprimiam os filhos de Deus.
O
leão é (a Babilônia); o urso e o leopardo (os povos dominadores: A Média e a
Pérsia); a quarta e a mais terrível, significa (o reino de Alexandre Magno e
seus sucessores), ou seja, especialmente, Antíoco IV, o perseguidor dos
israelitas. Esse último rei está no poder, exatamente no período em que
profetiza Daniel.
O
melhor está aqui: o vidente contempla outra cena importante: no céu são
instalados alguns tronos e um ancião (que simboliza o próprio Deus) senta-se
para o devido julgamento.
Há
um “final feliz”: Entra em cena a sentença: os animais são privados de poder e
a última é trucida, destruída e atirada na fornalha (Dn 7,912).
Pois
em, é nesse alvo que se encontra o texto. Daniel procura mostrar “um ser
semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu”. Logo é possível
chegarmos a esse denominador: É Deus confiando o seu poder, a glória e o reino.
E mais: As Ações justas e misericordiosas em prol da vida não vêm do mar, com
os seus monstros, mas do céu, de Deus.
Clareando
melhor o que acabo de dizer no parágrafo anterior, a profecia se realizou em
toda a sua plenitude só com a vinda de Jesus. Porque é Ele, não tenhamos
dúvida, aquele que dá início ao Reino dos Santos do Altíssimo (Mc 14,62).
Segunda
leitura (Ap 1,5-8)
É
incontestável a informação de que um cristão chamado João, autor de um dos Evangelhos,
das Cartas (Primeira, Segunda e Terceira) e do chamado Apocalipse de São João,
tenha vivido confinado numa ilha por confessar Jesus Cristo. Ele próprio se
autodenomina João (1,1.4.9;22,8).
O
objetivo do autor é proporcionar coragem para os que fazem a comunidade da Ásia
Menor (é possível ser exatamente aquela à qual ele pertencia), que está
condenada a enveredar pela dispersão por causa da terrível perseguição.
Antes
de qualquer outra preocupação, João lembra aos fiéis cristãos a condição
fundamental da fé: “Cristo é o príncipe dos reis da terra” (v. 5). Eis a razão
da esperança para todos aqueles que ainda hoje são vítimas de injustiças: Jesus
Cristo é o Senhor da nossa vida.
Nele,
cada cristão é sacerdote porque apresenta a Deus o único sacrifício que lhe
agrada: a vida doada aos irmãos.
A
última parte da leitura (vv. 7-8) alude as palavras de Daniel: “Eis que Ele
(Jesus) vem do meio das nuvens”, e todos poderão Vê-lo. É a concelebração da
sua mais expressiva vitória.
Atenção:
Diante do sofrimento e injustiças da vida, jamais busquemos o revide diante dos
nossos inimigos e também de Cristo. Não! Com Cristo, procuremos transformar os
corações “deles”: reconhecerão os seus erros e se converterão ao Amor que,
infelizmente, nem sempre é amado.
Evangelho
(Jo. 18,33b-37)
Jesus Cristo, Rei do Universo. “Sou
Rei! O meu Reino não é deste mundo”.
A Festa de Cristo Rei
encerra o Ano Litúrgico. Tem, por isso, uma dimensão escatológica e parusíaca:
Ele há-de-vir de novo, no fim dos tempos, para julgar os vivos e os mortos e
entregar o mundo ao Pai, que será tudo em todos. Ele é o Princípio e o Fim, o
Alfa e Ômega.
Quem instituiu esta festa foi o
Papa Pio XI, no ano de 1925. Foi uma iniciativa que teve como objetivo, pelo
menos naquele momento, de contrariar os comportamentos laicistas e ateístas que
continuam a desenvolver-se na sociedade.
Algumas
considerações sobre esta realidade:
De
que Reino se trata?
Falar
de realeza em tempo de democracia pode soar a saudosismo palaciano ou o
triunfalismo. Mas trata-se de uma realeza de outra esfera, de outra dimensão: o
reinado de Cristo é servir! Ele mesmo disse que veio “não para ser servido, mas
para servir e dar a vida”. O seu Reino não é deste mundo. Reina desde a Cruz.
Os reis e “príncipes” deste mundo (reis, presidentes, primeiros-ministros, etc.)
muitas vezes servem-se a si mesmos, são narcisistas, gostam de poder. Não é
assim com Jesus que se sacrificou por nós e fez da Cruz o Seu trono. O cristão
tem de tentar “reinar” ao jeito de Jesus: servindo, sacrificando-se pelos
irmãos. “Não podemos servir a dois senhores” – a nós (ou ao mundo) e a Deus.
Devemos aderir de alma e coração ao Reino de Deus que está em Jesus Cristo e na
Sua Igreja e dentro de nós: “o Reino de Deus está dentro de vós!” “Eu sou Rei!”
“O meu jugo é suave, e leve a minha carga. Venha a nós o vosso Reino!”.
Durante
toda a sua vida pública, Jesus teve extremo cuidado para que não se desse uma
interpretação política à sua missão. De quanto em vez, queriam fazê-lo rei, mas
ele sempre procura evitar tratar de tal proposta.
Tratando-se
das características do Reino de Cristo, o Prefácio da Missa de hoje aponta
algumas delas: Reino de Verdade (num mundo de tanta mentira verbal e vital) e
de Vida (num mundo cheio de morte: aborto, eutanásia, terrorismo, guerras,
homicídios, suicídios, assaltos mão-armada, perseguição política, etc. ...);
Reino de justiça (tanta injustiça feita aos pobres!), de Amor (tanto ódio,
ressentimentos e egoísmo!) e de Paz (entre tantas guerras e guerrilhas que
começam dentro de nós e nas famílias). Outras características podiam
inspirar-se nas bem-aventuranças.
“É
preciso que Ele reine!”, exclama São Paulo:
Um
fiel soldado deve estar ao lado dos seus superiores e nunca lhes voltar às
costas. É necessário combater com eles e por eles! Antigamente celebrava-se
hoje (domingo) a festa da Ação Católica. É preciso agir na sociedade. Ser sal e
luz, num mundo insosso e às escuras. Mas muitos cristãos estão a cadência do
indiferentismo, estão dormindo. Urge despertar. Todos à obra no apostolado, na
evangelização, na ação sócio-caritativa, no testemunho verbal e vital. É
preciso que Ele reine! Só Ele deve reinar! Com os três poderes: legislativo
(cuja Constituição é o Evangelho, e Ele o Mestre), executivo (é Pastor, Servo)
e judicial (é Juiz e Advogado universal dos direitos humanos – já vai fazendo
justiça e há-de fazer no fim dos tempos: “Vinde, benditos de meu Pai...”).
Propósitos
1) Reinar
desde a Cruz: foi assim que fez Jesus;
2) Estar
mais disposto a servir do que a ser servido;
3) Combater
pela verdade, pela justiça, pelo amor, pela paz.
Pe. Francisco de Assis
(Pascom: Nova Cruz)