O tempo que os alunos ficam na escola
É possível aproveitar melhor as horas letivas se o trabalho desenvolvido com os estudantes é de boa qualidade
Terezinha Azerêdo Rios (novaescola@atleitor.com.br)
Quando se aproxima o fim do ano, as pessoas geralmente comentam que o tempo passou rápido e lamentam que ele foi curto para realizar tudo o que foi planejado e para aproveitar bem as possibilidades surgidas no caminho. Na escola, nos apressamos para encerrar as atividades e sair de férias sem deixar pendências. E nos preocupamos com o que não pudemos fazer por causa da falta de tempo. Embora a passagem cronológica seja igual para todos, temos a impressão - e a experiência - de que o tempo não é suficiente para tudo o que queremos e necessitamos fazer.
A temporalidade é mesmo um componente fundamental de nossas vivências. Ela tem a ver com a história, que é feita por todos nós, a cada dia. E ela não é o tempo passando por nós, mas a nossa interferência no tempo. Por isso, é importante refletir sobre nossa atuação e o significado que damos a ela.
O filósofo e teólogo santo Agostinho (354-430) dizia: "O que é o tempo, afinal? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se me perguntam e eu quero explicar, já não sei". O tempo é mesmo difícil de definir, mas todos o vivenciamos. Acontece que nem sempre refletimos sobre a dupla dimensão com que ele nos aparece. Ele é cronos - o tempo dos relógios e calendários, passível de medida - e kairós, o tempo ao qual se confere um sentido, povoado pelo significado das ações dos seres humanos, para além de padrões e medidas. É um tempo qualificado pelas relações entre os indivíduos e grupos e pelo contexto no qual elas se estabelecem. Assim é que podemos falar em um tempo rico ou problemático ou em tempos de alegria ou de crise.
Ao avaliar o trabalho realizado na escola e se preparar para planejar as ações do ano seguinte, os gestores criam espaço para uma reflexão sobre a utilização do tempo dos que ali convivem: terá sido ele exaustivo? Ou será que foi produtivo para a comunidade escolar? Foi de partilha e de crescimento para todos?
Muito se tem discutido sobre a necessidade de a escola realizar uma Educação de tempo integral. Se considerarmos o tempo em sua feição de kairós, somos levados a pensar num aproveitamento integral do tempo, mesmo que sua duração seja curta. Isso diz respeito à qualidade do trabalho que se realiza, à inteireza de nossa presença, ao envolvimento e compromisso no desenvolvimento das ações. É verdade que, ao dispor de um número maior de horas, podemos planejar um trabalho que produza mais resultados. Porém é preciso pensar também no significado, do ponto de vista ético, daquilo que se realiza. A ética nos aponta, em seu horizonte, à vida boa como um direito de todos. Temos procurado buscar, é bem verdade, uma vida comprida. Entretanto, é importante que possamos fazê-la também larga. O trabalho na escola será efetivamente integral se não for apenas de tempo esticado, mas de Educação alargada.
Temos urgência de uma boa Educação. Mas não há necessidade de nos apressarmos se isso significar correr contra o tempo. A Educação de boa qualidade é aquela a favor de todos, que não é contra ninguém. Lembrar isso e se empenhar nessa direção constitui um bom presente - tempo vivido e ofertado - no Natal e sempre, na escola e na vida.