domingo, 2 de setembro de 2012

É dando que se recebe?
Estamos em tempos de montagem de governos. Há disputas por cargos e funções por parte de partidos e de políticos. Ocorrem sempre negociações, carregadas de interesses e de muita vaidade. Neste contexto, se ouve citar um tópico da inspiradora oração de São Francisco pela paz “é dando que se recebe” para justificar a permuta de favores e de apoios onde também rola muito dinheiro. É uma manipulação torpe do espírito generoso e desinteressado de São Francisco. Mas desprezemos estes desvios e vejamos seu sentido verdadeiro.
Há duas economias: a dos bens materiais e a dos bens espirituais. Elas seguem lógicas diferentes. Na economia dos bens materiais, quanto mais você dá bens, roupas, casas, terras e dinheiro, menos você tem. Se alguém dá sem prudência e esbanja perdulariamente acaba na pobreza.
Na economia dos bens espirituais, ao contrario, quanto mais dá, mais recebe, quanto mais entrega, mais tem. Quer dizer, quanto mais dá amor, dedicação e acolhida (bens espirituais) mais ganha como pessoa e mais sobe no conceito dos outros. Os bens espirituais são como o amor: ao se dividirem, se multiplicam. Ou como o fogo: ao se espalharem, aumentam.
Compreendemos este paradoxo se atentarmos para a estrutura de base do ser humano. Ele é um ser de relações ilimitadas. Quanto mais se relaciona, vale dizer, sai de si em direção do outro, do diferente, da natureza e até de Deus, quer dizer, quanto mais dá acolhida e amor mais se enriquece, mais se orna de valores, mais cresce e irradia como pessoa.
Portanto, é “dando que se recebe”. Muitas vezes se recebe muito mais do que se dá. Não é esta a experiência atestada por tantos e tantas que dão tempo, dedicação e bens na ajuda aos flagelados da hecatombe socioambiental ocorrida nas cidades serranas do Rio de Janeiro, no triste mês de fevereiro, quando centenas morreram e milhares ficaram desabrigados? Este “dar” desinteressado produz um efeito espiritual espantoso que é sentir-se mais humanizado e enriquecido. Torna-se gente de bem, tão necessária hoje.
Quando alguém de posses, dá de seus bens materiais dentro da lógica da economia dos bens espirituais para apoiar aos que tudo perderam e ajudá-los a refazer a vida e a casa, experimenta a satisfação interior de estar junto de quem precisa e pode testemunhar o que São Paulo dizia:”maior felicidade é dar que receber”(At 20,35). Esse que não é pobre, se sente espiritualmente rico.
Vigora, portanto, uma circulação entre o dar e o receber, uma verdadeira reciprocidade. Ela representa, num sentido maior, a própria lógica do universo como não se cansam de enfatizar biólogos e astrofísicos. Tudo, galáxias, estrelas, planetas, seres inorgânicos e orgânicos, até as partículas elementares, tudo se estrutura numa rede intrincadíssima de inter-retro-relações de todos com todos. Todos co-existem, inter-existem, se ajudam mutuamente, dão e recebem reciprocamente o que precisam para existir e co-evoluir dentro de um sutil equilíbrio dinâmico.
Nosso drama é que não aprendemos nada da natureza. Tiramos tudo da Terra e não lhe devolvemos nada nem tempo para descansar e se regenerar. Só recebemos e nada damos. Esta falta de reciprocidade levou a Terra ao desequilíbrio atual.
Portanto, urge incorporar, de forma vigorosa, a economia dos bens espirituais à economia dos bens materiais. Só assim restabeleceremos a reciprocidade do dar e do receber. Haveria menos opulência nas mãos de poucos e os muitos pobres sairiam da carência e poderiam sentar-se à mesa comendo e bebendo do fruto de seu trabalho. Tem mais sentido partilhar do que acumular, reforçar o bem viver de todos do que buscar avaramente o bem particular. Que levamos da Terra? Apenas bens do capital espiritual. O capital material fica para trás.
O importante mesmo é dar, dar e mais uma vez dar. Só assim se recebe. E se comprova a verdade franciscana segundo a qual ”é dando que recebe” ininterruptamente amor, reconhecimento e perdão. Fora disso, tudo é negócio e feira de vaidades.
Leonardo Boff é autor de A oração de São Francisco, Vozes 2010.

thiago damato 
POEMA DE LIBERTAÇÃO

E trancado neste pequeno apartamento
Numa periférica cidade da América Latina
Eu ainda sinto o peso do colonialismo,
da escravidão, do ouro roubado de Minas,
do latifúndio consagrado.

Mas uma brisa leve balança as cortinas
E eu penso que esta mesma brisa secou lágrimas de Che,
Bolívar, Oscar Romero, Allende, Frei Tito de Alencar.
Então, raios de sol devassam o quarto, levando-me ao longe.
Sobrevoo as Cordilheiras, a Amazônia, o Canal do Panamá,
o Pacífico e o Atlântico.

De volta, hora de aterrissar.
Abro os olhos e fixo-me no Cristo crucificado
Guardando uma parede branca , velha e descascada.

E num lugar tão pequeno, num momento tão fugaz,
percebo algo grandioso, sublime:
A esperança dos menores é eterna!

Thiago Damato, poeta menor
Niterói/RJ, Brasil.
Inverno de 2012

sexta-feira, 31 de agosto de 2012





22º Domingo do Tempo Comum: Cumprir os mandamentos
Cônego Celso Pedro da Silva
Dt 4,1-2.6-8; Sl 14 (15); Tg 1,17-18.21b-22.27; Mc 7,1-8.14-15.21-23
Alguns fariseus e escribas de Jerusalém que estavam na Galileia se aproximaram de Jesus e notaram que os discípulos não faziam o rito religioso de lavar as mãos antes das refeições. Comer com as mãos impuras não é a mesma coisa do que comer com as mãos sujas. Deve-se lavar as mãos antes das refeições por questão de higiene e cuidado com a saúde. Para que as mãos não fossem consideradas impuras, no tempo de Jesus havia um rito religioso de lavagem das mãos. Era um preceito religioso e, ao menos naquela ocasião, os discípulos não o observaram. Estavam comendo sem terem lavado as mãos. Os fariseus e os escribas queriam saber por que eles não seguiam a tradição dos antigos, e perguntaram a Jesus. Uma pergunta pode ser feita para a aquisição de conhecimento, e pode ser feita como censura crítica. A pergunta respeitosa quer saber se há uma razão séria para comer sem lavar as mãos. A outra pergunta não quer saber. Ela já está criticando porque não estão lavando as mãos como deveriam. Quem assim pergunta não quer saber se há uma razão e já supõe que o outro esteja errado.
Jesus, que percebeu logo a intenção da pergunta, respondeu com energia, citando uma passagem do profeta Isaías (29,13): “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. É vão o culto que me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos”. Jesus os chama de hipócritas e diz que se apegam a tradições humanas esquecendo-se dos mandamentos de Deus. Jesus contrapõe os preceitos humanos aos mandamentos de Deus e afirma que o apego a preceitos e tradições pode ter como consequência deixar de lado o que é de fato a vontade de Deus.
Para saber se estamos no caminho certo da vontade de Deus, temos que olhar para dentro de nós mesmos, olhar para o nosso coração como lugar das nossas escolhas e decisões. O que torna alguém impuro são as más intenções ou os projetos arquitetados na mente e no coração: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez.
Não seria melhor fazer as duas coisas, ter bons projetos no coração e observar o rito de lavar as mãos antes das refeições? Sim, desde que cada coisa esteja em seu devido lugar. Não colocar a tradição humana acima da vontade de Deus.
Moisés incentivou o povo a guardar os mandamentos do Senhor sem acrescentar ou suprimir coisa alguma. É sábio e prudente aquele que não obscurece a vontade de Deus encobrindo-a com preceitos humanos. É sábio e prudente quem sabe discernir o que mais convém ao ter que tomar uma decisão prática na vida. Os preceitos e as tradições podem nos ajudar como um professor ajuda o aluno que ainda não sabe. Quando o aluno aprende, já não precisa da ajuda do professor.
A Palavra de Deus foi plantada dentro de nós. Nós a acolhemos para praticá-la. São Tiago sintetiza o que Deus espera de nós como cumpridores da Palavra de Deus quando nos diz em que consiste a religião pura e sem mancha aos olhos de Deus, nosso Pai: “Visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e conservar-se limpo do contágio do mundo”. Já dizia o salmista que vive sem mancha aquele que pratica a justiça que brota da verdade que está em seu coração.
31/08/2012 - 16:09 Mesa da Palavra
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SER PROFETA
O profeta numa perspectiva cristã está a serviço da vida, comprometido com o projeto de Deus para o povo sofrido que caminha em busca da sua libertação. Ele não é aquela pessoa que adivinha as coisas. Mas aquela pessoa segura de Deus orientada para a missão de anunciar o reino de justiça, amor e fraternidade. O olhar do profeta, é o olhar de Deus porque é Deus que age, o mérito pode ficar com o profeta mas é Deus que age. O profeta é apenas um instrumento nas mãos de Deus.
Com essa visão somos chamados a assumir a missão profética, a anunciar o reino de Deus e também denunciar o pecado. Tudo o que leva à morte do homem é pecado e deve ser denunciado. Por isso mesmo, o profeta da modernidade é aquela pessoa que está no mundo consciente dessa missão. E sabe que está no mundo para fazer acontecer o que Deus quer. Além da sua vida pública o profeta não se descuida de sua espiritualidade. Procura sempre um lugar reservado para rezar, para se fortalecer diante das armadilhas do maligno. As três tentações que Jesus sofreu e venceu no deserto, são as três tentações que todos os profetas sofrem. Mas, a exemplo de Jesus são capazes da vitória. Deus promove os profetas, e porque promove coloca suas regras. O projeto de Deus anunciado da boca dos profetas ao mundo transforma-se na maior e melhor proposta de vida para todos.
Ser profeta é aceitar a vontade de Deus e ser fiel até o fim da vida. Quem caminha à luz do Documento de Aparecida está comprometido sim, com o projeto de salvação. Nesse sentido estamos caminhando nos setores missionários formando lideranças de comunidades. As lideranças que seguem a orientação da Igreja demonstram fidelidade ao projeto de evangelização. Que a força do evangelho continue a revigorar nossas forças. (Carlos: bacharelando em teologia)

MISSÃO NO SETOR I
Domingo a partir das 9 horas da manhã temos missão no setor I de nossa paróquia. Os missionários se encontrarão na capela São Francisco para iniciar a missão. A nossa meta é evangelizar e formar novas lideranças no setor. Este mês tivemos dois grandes momentos com as famílias na rua padre Cícero. Reunimos as famílias para reflexão sobre a família brasileira e rezamos o terço com a participação dos moradores.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

FORMAÇÃO NO SETOR I
Sábado estaremos reunidos para o momento de formação no setor missionário. Estamos estudando os documentos da Igreja. São os leigos em formação permanente rumo a uma paróquia do jeito do Documento de Aparecida.