quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Conselho Permanente debate pauta da 51ª Asembleia Geral dos Bispos da CNBB

30/10/2012 | CNBB Teve início na manhã desta terça-feira, 30 de outubro, a 79ª Reunião Ordinária do Conselho Permanente (CP) da CNBB. O encontro segue até o dia 1º de novembro, com uma extensa pauta de trabalho para os seus participantes: Presidência da entidade, Presidentes das Comissões Episcopais Pastorais e Especiais e Presidentes dos 17 Regionais.
O principal ponto de discussão será a pauta da 51ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, que será realizada em abril de 2013, em Aparecida (SP). Já a primeira sessão desta manhã tratou da análise de conjuntura do Brasil e do mundo, apresentada pelo professor Pedro Gontijo, secretário executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz, organismo vinculado à CNBB.
Os dados do Censo 2010, que revelou os números do quadro das religiões no Brasil, foram rapidamente abordados. O secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, recordou que será enviada uma mensagem, pelo Conselho Episcopal Pastoral, com a reflexão a respeito destes dados, com a assessoria do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades).
Também foi apresentado um repasse da situação do Colégio Pio Brasileiro, de Roma. A CNBB prepara-se para assumir a direção da instituição. O vice-presidente da Conferência, dom José Belisário, apresentou aos bispos como foi a visita realizada pela Presidência ao Colégio, bem como à Congregação para a Educação Católica. O diálogo quanto à transição administrativa ocorre num clima de tranquilidade, e deverá ser aprofundada na próxima Assembleia Geral.
A função do Conselho Permanente é orientar e acompanhar a atuação da CNBB e dos Organismos a ela vinculados, além de ser uma instância eletiva e deliberativa. A pauta dos encontros inclui iniciativas que tratem da execução das decisões da Assembleia Geral e do próprio Conselho Permanente.
Fonte: www.cnbb.org.br

terça-feira, 30 de outubro de 2012

OIT e parceiros alertam para situação de 75 milhões de jovens desempregados no mundo


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(OIT)Representantes de organizações de empregadores e de trabalhadores dos países ibero-americanos assinaram a Declaração de Madri sobre Emprego Juvenil, alertando sobre a necessidade de serem tomadas medidas para enfrentar os problemas dos jovens que ingressam no mercado de trabalho. A declaração foi resultado de uma reunião, no último fim de semana, convocada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Secretaria Geral Iberoamericana (SEGIB).
A Declaração destaca que no mundo existem cerca de 75 milhões de jovens desempregados, “com casos extremos como os de Espanha e Portugal, onde se registra um desemprego superior a 50% e 35% respectivamente, enquanto que na América Latina é de cerca de 15%”.
Os representantes de empregadores e trabalhadores se comprometeram a promover junto com os governos ibero-americanos uma Conferência Regional Tripartite que se realizaria em 2013 para incentivar e melhorar políticas e programas relacionados com o emprego dos jovens. A reunião de interlocutores sociais ibero-americanos contou com a presença do novo Diretor Geral da OIT, Guy Ryder, da Diretora Regional da OIT para a América Latina e o Caribe, Elizabeth Tinoco, e do Diretor da Divisão de Assuntos Econômicos da SEGIB, Federico Poli.
A delegação dos empregadores foi chefiada pelo vice-presidente executivo da Organização Internacional de Empregadores (OIE), Daniel Fuentes de Rioja, e pelo secretário geral da Confederação Sindical das Trabalhadoras e Trabalhadores das Américas (CSA), Victor Báez.
Fonte: ONU BRASIL

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

  
  



Dom Muller sobre diálogo interrreligioso: "não significa renunciar à própria identidade"


Roma (RV) - Se recorda hoje 26 anos do histórico Encontro de Assis das Religiões pela Paz, iniciativa do então papa João Paulo II. Por ocasião do transcurso da data, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Gerhard Muller, destacou que no diálogo com outras religiões não se deve esconder a própria fé e a própria identidade, em nome de um diálogo politicamente correto.

“Para um cristão,_ referiu Dom Muller,_ o respeito pela religiosidade dos outros não significa e não deveria significar uma renuncia à própria fé, à própria identidade e à verdade definitiva recebida, através da Igreja, na Revelação de Deus”.

Ele acrescentou ainda, segundo refere a agência SIR, que “a Igreja pode propor um verdadeiro diálogo somente a partir da verdade sobre ela mesmo. Seria vergonhoso esconder a fé autêntica e abandonar a unicidade da Revelação e da Encarnação do Filho de Deus, em nome de um diálogo politicamente correto. É justificado e correto somente um diálogo conduzido na verdade e no amor".

“Por isto_continua_ a nossa fé, dirigida à Cristo e a verdade sobre nós mesmo devem sempre ocupar um lugar privilegiado em cada ocasião de diálogo dos cristãos com aqueles que não o são. Portanto, o diálogo com os seguidores das religiões não cristãs é uma forma de testemunho de fé que deve ser sempre respeitoso para com o outro e a dignidade da sua consciência.(JE)
29.10.12 - Mundo
Minhas lembranças do Vaticano II
José Lisboa Moreira de Oliveira
Filósofo. Doutor em teologia. Ex-assessor do Setor Vocações e Ministérios/CNBB. Ex-Presidente do Inst. de Past. Vocacional. É gestor e professor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília
Adital
Neste mês de outubro celebramos o 50º aniversário do início do Concílio Vaticano II. A primeira vez que ouvi falar deste concílio foi no ano de 1963. Eu tinha sete anos de idade. Meu pai, católico fervoroso e praticante, assinava uma revista católica. Certo dia ele chegou em casa com um exemplar desta revista. Vi que na capa da revista havia uma fotografia do papa João XXIII. Meu pai, então, relatou que o papa tinha morrido e no lugar dele tinha sido eleito Paulo VI. Com eu já tinha sido alfabetizado por minha mãe, comecei a ler a notícia da morte do papa. Lá pelas tantas o texto dizia que João XXIII tinha sido o papa que convocou e abriu o Concílio Vaticano II.
Sem saber o que era "Concílio Vaticano II” fui perguntar a meu pai. Ele me explicou, então, que era uma reunião dos bispos do mundo inteiro com o papa. Completou a informação dizendo que o bispo da nossa diocese, que eu havia conhecido naquele mesmo ano, tinha ido de navio para Roma, a fim de participar do concílio. Meses depois o bispo foi à minha cidade e presenteou meu pai com um postal colorido e autografado, que tinha a foto do navio no qual ele viajou até Roma.
Fui, então, crescendo e ouvindo outras notícias sobre o Vaticano II. Lembro-me bem do seu encerramento. Era o dia 8 de dezembro de 1965, festa da Imaculada Conceição, padroeira da minha cidade. Como nossa cidade não tinha pároco, o padre da cidade vizinha foi fazer a festa e na homilia lembrou que naquele dia estava sendo encerrado o concílio. Os anos se passaram, entrei no seminário e toda a minha formação foi feita no clima do Vaticano II. Tive a graça de ter como professores teólogos de renome como Zoltán Alszeghy, Carlo Maria Martini, René Latourelle e Joseph Fuchs, todos eles comprometidos com a execução do concílio. Os textos teológicos usados na Universidade Gregoriana eram quase todos de peritos do concílio. Ao concluir a minha formação teológica estava profundamente embebido do espírito do concílio.
Aos poucos fui entendendo a grande revolução provocada pelo Vaticano II. Tudo começa com a superação da eclesiologia jurídica pela eclesiologia de comunhão. E para realizar tal superação o concílio voltou às fontes bíblicas e às fontes patrísticas. Recuperou a Palavra e a verdadeira Tradição. A Igreja é ícone da Trindade e, como tal, não pode ser uma monarquia absoluta comandada por um monarca. Ela é comunhão ou unidade na diversidade, assim como a Trindade é mistério de unidade na diversidade das três divinas Pessoas. Sendo ícone do mistério trinitário, a Igreja é convocada para servir a humanidade e não para ser servida. Por essa razão deve renunciar a toda forma de pompa, de luxo e de ostentação que costuma caracterizar os poderosos deste mundo. Foi convidada pelo concílio a ser pobre como o seu Fundador e, a exemplo dele, cuidar amorosamentedos pobres (LG, 8).
Na sua condição de servidora, a Igreja não apenas ensina e admoesta, mas é também convidada a escutar e a aprender com a humanidade (GS, 41). Porém, para ter a humildade de escutar e de aprender com a humanidade, a Igreja precisa ter consciência de que ela é também peregrina e, por isso, santa "e sempre necessitada de purificação”, tendo a obrigação de procurar sem descanso a penitência e a renovação (LG, 8). Além disso, a sua condição de caminhante e de penitente em busca de conversão deve levá-la a uma abertura que seja capaz de acolher os irmãos e as irmãs das outras igrejas cristãs, sem pretensões e sem arrogância. Deve igualmente acolher as pessoas das religiões não cristãs, dialogando e unindo-se a elas na construção do bem, da solidariedade e da paz. Com relação aos que não acreditam, a Igreja foi convidada a acolhê-los cortesmente no espírito do Evangelho de Jesus (GS, 21).
Ora, tudo isso supõe uma mudança de mentalidade, bem como uma completa reestruturação do estilo de ser Igreja. Por essa razão o Vaticano II repensou o conceito de santidade, vendo-a como vocação universal, para a qual todos os homens e todas as mulheres são chamados. Na variedade de vocações e de ministérios cada um e cada uma é convidado a participar ativamente do sacerdócio de Cristo e do seu seguimento (LG, 41). Neste sentido todas as formas específicas de vocação são importantes, não havendo superioridade de nenhuma delas sobre as demais. A partir desse pressuposto o concílio redimensiona a função dos bispos e dos presbíteros. Estes não estão acima do povo, mas devem exercer o ministério com o povo e no meio do povo. Não são escolhidos para serem separados do povo de Deus, mas para se consagrarem ao serviço dele (PO, 3). Na mesma perspectiva é pensada a vocação e a missão da vida consagrada. E os cristãos leigos e as cristãs leigas deixam de ser "ovelhinhas”, cuidadas e protegidas pelos pastores, para serem protagonistas da missão. A atividade evangelizadora dos leigos e das leigas é indispensável para a Igreja, e o direito e dever de evangelizar não nasce de uma permissão da hierarquia, mas da união deles e delas com Cristo, através do batismo e da crisma (AA, 2-3).
Todos estes elementos levaram o Vaticano II a repensar também o conceito e a prática da missão da Igreja. Esta não é mais vista como atividade para a implantação da Igreja Católica, mas como continuidade da missão do Filho e do Espírito que chamam a humanidade para ser Povo de Deus e para participar da vida divina (AG, 2-5).
E como toda renovação e conversão eclesial requerem um alimento constante e uma fonte abastecedora, o Vaticano II iniciou sua atividade revendo por completo a Liturgia da Igreja. Tal revisão começou pela teologia litúrgica e chegou também às celebrações. A liturgia retomou sua dimensão trinitária e foi bastante simplificada. Pautou-se pelo princípio de que ela é o culto a Deus, oferecido pelo Corpo de Cristo, exigindo a participação de todos e de todas. A celebração deixou de ser coisa de padre para ser ação da comunidade. E para que a comunidade participe ela precisa entender o que celebra. Por essa razão a liturgia volta a ser celebrada na língua do povo. Um detalhe que parece secundário, mas que, na verdade, funciona como uma espécie de paradigma de toda a renovação conciliar.
Sem dúvida alguma não estávamos preparados o suficiente para acolher ao mesmo tempo tanta beleza e tanta riqueza. Por isso, logo após o encerramento do concílio, já começaram os medos, os recuos e as dissidências. Porém, não podemos permitir que aquele mofo eclesiástico anterior ao concílio volte a imperar na Igreja Católica Romana. Seria traição e incapacidade de ler os sinais dos tempos. As intuições do Vaticano II deveriam impelir a Igreja Católica do século XXI a ir além dele mesmo, ao invés de retroceder e fechar-se no conservadorismo e na eclesiologia jurídica.
[Autor de O Evangelho da Vocação. Dimensão vocacional da evangelização. São Paulo: Loyola, 2003].

Nota Pública do Fórum Nacional de Educação sobre a importância estratégica da educação para o País

Autor: Fórum Nacional de Educação | Data: 26 de outubro de 2012
Nota Pública do Fórum Nacional de Educação sobre a importância estratégica da educação para o País e a sua vinculação ao critério de destinação dos royalties do petróleo, por ocasião do processo de votação do PL 2565/11, na Câmara dos Deputados.
Nota Pública do Fórum Nacional de Educação sobre a importância estratégica da educação para o País e a sua vinculação ao critério de destinação dos royalties do petróleo, por ocasião do processo de votação do PL 2565/11, na Câmara dos Deputados.
Brasília, 26 de outubro de 2012.
O Fórum Nacional de Educação, órgão de Estado e espaço inédito de interlocução entre a sociedade civil e governo, instituído pela Portaria nº. 1407/2010, reivindicação histórica da comunidade educacional e fruto de deliberação da Conferência Nacional de Educação (Conae-2010), acompanhou a tramitação do Projeto de Lei nº 8.035/2010 que visa a instituir o próximo Plano Nacional de Educação com duração decenal.
O PNE, já aprovado na Câmara dos Deputados e encaminhado ao Senado Federal (PLC 103/12) é o principal instrumento que a sociedade brasileira contará para revolucionar a educação nacional e assim, resgatar a enorme dívida histórica para com esse direito social proclamado pela nossa Constituição Federal cidadã. Porém, para o PNE tornar-se realidade, depende de financiamento necessário à efetivação de suas metas e, por força de dispositivo constitucional, para este fim, a Câmara dos Deputados já definiu a vinculação de 10% do PIB para financiar as suas metas.
Por outro lado, há consensos, tanto no governo, quanto na sociedade civil que as fontes que assegurarão a aplicação dos 10% do PIB devem ser imediatamente definidas e, na votação dos royalties pagos à União, aos estados e aos municípios, o Fórum Nacional de Educação defende que o critério de destinação dessa receita tributária, seja o investimento na educação escolar pública nacional.
Por este motivo, o Fórum Nacional de Educação defende que 100% dos royalties advindos dos novos contratos da exploração de petróleo sejam destinados à educação, como um dos meios para viabilizar o patamar de 10% do PIB para a educação pública nacional.
Certamente, dessa forma, senhores deputados, o PLC 103/2012, que trata do novo PNE começará a ganhar musculatura e, ao mesmo tempo, oferecerá as garantias para uma aplicação orientada, eficiente e efetiva, dessa receita, na educação escolar brasileira.
O FNE, portanto, respeitando a soberania e a independência do Poder Legislativo, recomenda aos Deputados Federais que empreendam os esforços necessários para emendar o PL 2565/2011, de modo a incluir e aprovar a destinação de 100% dos royalties do petróleo à educação pública oferecendo suporte à efetivação das metas do próximo PNE.
O Coordenador-Geral do FNE, ad referendum, delibera esta recomendação

Nota pública do CTI sobre a questão fundiária Guarani-Kaiowá

É importante que essa comoção seja acompanhada de um conhecimento efetivo dos nós que emperram os processos de regularização das terras dos Guarani e Kaiowá
29/10/2012


É muito positiva e surpreendente a comoção que uma carta manifesto escrita pela comunidade Guarani Kaiowá da aldeia Pyelito Kue, localizada no complexo de Iguatemi Pegua, provocou na opinião pública em relação ao genocídio que há décadas se instalou contra os povos indígenas no Mato Grosso do Sul. Diversas pessoas que agora tomam conhecimento da situação inaceitável que enfrentam os Guarani e Kaiowá no cone sul do Estado têm se manifestado nas redes sociais repudiando o genocídio e a conivência de diversos setores dos governos estadual, federal e do Poder Judiciário. Personalidades públicas e entidades têm feito o mesmo. A repercussão do tema, embora não ganhe o espaço que deveria nos grandes meios de comunicação (também coniventes), traz a esperança de que uma ampla divulgação desta tragédia possa trazer a força que falta para a regularização das terras tradicionais reivindicadas pelos Guarani e Kaiowá no MS, única forma de resolução do conflito.
O que é surpreendente é que ações judiciais contra os indígenas no MS, despejos, assassinatos, violência e racismo são há muito o dia a dia dessas comunidades e nunca tanta gente se deu conta disso. Por isso, é importante que essa comoção seja acompanhada de um conhecimento efetivo dos nós que emperram os processos de regularização de suas terras, para que a vontade de ajudar não se esgote rapidamente, como costuma ser o caso, numa sensação de que o problema é insolúvel e numa descrença generalizada em relação à capacidade e disposição do poder público em quitar a dívida monstruosa que tem com os Guarani e Kaiowá.
É evidente que a regularização das terras indígenas no Mato Grosso do Sul, assim como ocorre em outros Estados, esbarra nos interesses e numa postura intransigente de parte dos ruralistas, que hoje têm peso enorme na correlação de forças dos governos federal e estadual, e, sobretudo, têm meios financeiros para exercer uma pressão esmagadora para que o Poder Judiciário emperre ao máximo os processos.
Esses são os dois nós que emperram os processos e que precisam ser desatados ao mesmo tempo para que os índios de fato tenham posse plena das terras: 1) a falta de prioridade orçamentária e política do Governo Federal para finalizar os estudos de identificação e delimitação das terras indígenas no MS; 2) a conivência do Poder Judiciário, muitas vezes curvado à pressão e aos interesses dos ruralistas no sentido de paralisar os processos, nas suas mais diversas fases.
Nesse contexto, o CTI acredita que seria preciso um mecanismo que permitisse “convencer” os proprietários de boa-fé a retirar as ações contra os processos de regularização das TIs e que ao mesmo tempo permitisse ao Governo Federal levar a cabo esses processos dentro dos marcos do artigo 231 da Constituição Federal de 1988 (leia mais). Ocorre que esse mecanismo já existe no Mato Grosso do Sul, e nenhum dos setores majoritários do Governo Federal que alegam ter interesse em resolver a questão se empenhou em utilizá-lo.
Fica evidente, portanto, que falta muita vontade política do Governo Federal e é preciso que a pressão da opinião pública se direcione no sentido de provocá-lo a usar dos mecanismos que já tem em mãos para resolver a questão.
Explicando melhor: o Governo do Mato Grosso do Sul aprovou a Lei Estadual nº 4.164/2012, que “autoriza o Poder Executivo a Criar o Fundo Estadual de Terras Indígenas”, o FEPATI. Esse mecanismo permite, sem qualquer alteração da Constituição de 1988, a criação de um fundo financeiro para indenizar proprietários de boa-fé cujos imóveis incidam sobre as terras indígenas no Mato Grosso do Sul. Pela Constituição de 1988, Artigo 231, § 6º, os títulos emitidos sobre terras tradicionalmente ocupadas são nulos e, portanto, os imóveis a que se referem não podem ser indenizados. Através dessa Lei o Estado do Mato Grosso do Sul implicitamente reconhece que emitiu títulos inválidos e pretende indenizar os proprietários de boa fé pagando-lhes pelo valor da chamada “terra nua” (posto que as “benfeitorias de boa fé” erigidas nos imóveis são indenizáveis pelo parágrafo 6º do artigo 231 da Constituição).
Esse nó da indenização da chamada “terra nua” tem motivado o Governo Federal, sobretudo o Ministério da Justiça, e os próprios ruralistas a justificar uma suposta necessidade de alterar a Constituição Federal de 1988 para resolver os conflitos mais acirrados envolvendo terras indígenas, como os do Mato Grosso do Sul. Com isso eles jogam uma cortina de fumaça no problema, fingindo buscar uma solução conciliatória, mas pretendendo na verdade restringir ainda mais os direitos dos povos indígenas no Brasil inteiro.
Mas uma possível solução já está nas mãos do Governo, por meio da recém aprovada Lei Estadual 4.164, e o Ministério da Justiça nada faz para tentar buscar recursos para o FEPATI e negociar com os proprietários de boa fé a retirada das ações judiciais. Ao contrário, é conivente com medidas de flagrante desrespeito aos índios, que só fazem aumentar o problema, como a polêmica e inconstitucional Portaria 303, da AGU.
Conclamamos todos a pressionar o Ministério da Justiça, a Casa Civil e a Presidenta para reunir seus esforços no sentido de buscar recursos para o FEPATI, e negociar a retirada das ações judiciais contra os índios! Se o problema é indenizar proprietários de boa-fé (que não são tantos assim, se forem julgados aqueles que realizam ou realizaram ações violentas contra os índios), a saída já está nas mãos do Governo. Qualquer alegação ao contrário, ou propostas irresponsáveis de alteração do artigo 231, são meras desculpas e devem ser combatidas.
Se houver interesse efetivo do Governo, uma campanha internacional para emponderar e angariar recursos para o FEPATI, negociando a retirada das ações judiciais, poderia contribuir decisivamente para garantir aos Guarani e Kaiowá a regularização e usufruto efetivo de suas terras tradicionais, resgatando a dignidade desses povos.

A fome: desafio ético e político

O número de famintos, segundo a FAO, saltou de 860 milhões para um bilhão e duzentos milhões
29/10/2012
Leonardo Boff

Por causa da retração econômica provocada pela atual crise financeira, o número de famintos, segundo a FAO, saltou de 860 milhões para um bilhão e duzentos milhões. Tal fato perverso impõe um desafio ético e político. Como atender as necessidades vitais destes milhões e milhões?
Historicamente este desafio sempre foi grande, pois a necessidade de satisfazer demandas por alimento nunca pôde ser plenamente atendida, seja por razões de clima, de fertilidade dos solos ou de desorganização social. À exceção da primeira fase do Paleolítico quando havia pouca população e superabundância de meios de vida, sempre houve fome na história. A distribuição dos alimentos foi quase sempre desigual.
O flagelo da fome não constitui, propriamente, um problema técnico. Existem técnicas de produção de extraordinária eficácia. A produção de alimentos é superior ao crescimento da população mundial. Mas eles estão pessimamente distribuídos. 20% da humanidade dispõe para seu desfrute 80% dos meios de vida. 80% da humanidade deve se contentar com apenas 20% deles. Aqui reside a injustiça.
O que ocasiona esta situação perversa é a falta de sensibilidade ética dos seres humanos para com seus coiguais. É como se tivéssemos esquecido totalmente nossas origens ancestrais, aquela da cooperação originária que nos permitiu sermos humanos.
Esse déficit em humanidade resulta de um tipo de sociedade que privilegia o indivíduo sobre a sociedade, valoriza mais a apropriação privada  do que a coparticipação solidária, mais a competição do que a cooperação, dá mais centralidade aos valores ligados ao masculino (no homem e na mulher) como a racionalidade, o poder, o uso da força do que os valores ligados ao feminino (também no homem e na mulher) como a sensibilidade aos processos da vida, o cuidado e a disposição à cooperação.
Como se depreende, a ética vigente é egoísta e excludente. Não se coloca a serviço da vida de todos e de seu necessário cuidado. Mas está a serviço dos interesses de indivíduos ou de grupos com exclusão de outros.
Uma desumanidade básica se encontra na raiz do flagelo da fome. Se não vigorar uma ética da solidariedade, do cuidado de uns para com os outros não haverá superação nenhuma.
Importa considerar que o desastre humano da fome é também de ordem política. A política tem a ver com a organização da sociedade, com o exercício do poder e com o bem comum. Já há séculos, no Ocidente, e hoje de forma globalizada, o poder político é refém do poder econômico, articulado na forma capitalista de produção. O ganho não é democratizado em benefício de todos, mas privatizado por aqueles que detém o ter, o poder e o saber; só secundariamente beneficia os demais. Portanto, o poder político não serve ao bem comum. Cria desigualdades que representam real injustiça social e hoje mundial. Em consequência disso, para milhões e milhões de pessoas, sobram apenas migalhas sem poder atender suas necessidades vitais. Ou simplesmente morrem em consequência das doenças da fome, em maior número, inocentes crianças.
Se não houver uma inversão de valores, se não se instaurar uma economia submetida à política e uma política orientada pela ética e uma ética inspirada numa solidariedade básica não haverá possibilidade de solução para a fome e subnutrição mundial. Gritos caninos de milhões de famintos sobem continuamente aos céus sem que respostas eficazes lhes venham de algum lugar e façam calar este clamor.
Por fim, cabe reconhecer que a fome resulta também do desconhecimento da função das mulheres na agricultura. Segundo a avaliação da FAO são elas que produzem grande parte do que é consumido no mundo: de 80% - 98% na África subsaariana, de 50%-80% na Ásia e 30% na Europa central e do leste. Não haverá seguridade alimentar sem as mulheres agricultoras, caso não lhes for conferido mais poder de decisão sobre os destinos da vida na Terra. Elas representam 60% da humanidade. Por sua natureza de mulheres são as mais ligadas à vida e à sua reprodução. É absolutamente inaceitável que, a pretexto de serem mulheres, se lhes neguem os títulos de propriedade de terras e o acesso aos créditos e a outros bens culturais. Seus direitos reprodutivos não são reconhecidos e se lhes impede o acesso aos conhecimentos técnicos concernentes à melhoria da produção alimentar.
Sem estas medidas continua válida a crítica de Gandhi: "a fome é um insulto; ela avilta, desumaniza e destrói o corpo e o espírito… senão a própria alma; é a forma de violência mais assassina que existe”.

Veja do autor o livro: Comer e beber juntos e viver em paz, Vozes 2006.