quarta-feira, 5 de setembro de 2012

FRASES DE LUIS LADARIA
"Em Jesus não só podemos ver o Pai mas temos também o único caminho de chegar até ele" (cf. Jo 14, 6-9).
"O Deus revelado em Cristo é, ao mesmo tempo, o Deus uno e o Deus trino".
"Não teria sentido que as pessoas divinas atuassem "separadamente" uma das outras".

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Mensagem de Bento XVI para exéquias do Cardeal Martini

Caros irmãos e irmãs,

Neste momento desejo expressar a minha proximidade, com a oração e o afeto, a toda a Arquidiocese de Milão, à Companhia de Jesus, aos parentes e as todos aqueles que estimaram e amaram o Cardeal Carlo Maria Martini e quiseram acompanhá-lo nesta última viagem.

"Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho" (Sal 119 (118), 105): as palavras do Salmista podem resumir toda a existência deste Pastor generoso e fiel à Igreja. Foi um homem de Deus, que não somente estudou a Sagrada Escritura, mas a amou intensamente, fez dela luz para a sua vida, a fim de que tudo fosse , para a maior glória de Deus. E justamente isso foi capaz de ensinar aos fiéis e àqueles que estão à procura da verdade que a única Palavra digna de ser ouvida, acolhida e seguida é a de Deus, porque indica a todos o caminho da verdade e do amor. E o foi com uma grande abertura de ânimo, jamais rejeitando o encontro e o diálogo com todos, respondendo concretamente ao convite do Apóstolo a estar "sempre pronto a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede" (1 Pd 3, 15). E o foi com um espírito de caridade pastoral profunda, segundo o seu lema episcopal, "Pro veritate adversa diligere, atento a todas as situações, especialmente as mais difíceis, fazendo-se próximo, com amor, a quem se encontrava no desânimo, na pobreza e no sofrimento.

Numa homilia de seu longo ministério a serviço desta Arquidiocese ambrosiana assim rezava: (Homilia de 29 de março de 1980).

O Senhor, que guiou o Cardeal Carlo Maria Martini em toda a sua existência acolha na Jerusalém do Céu esse incansável servidor do Evangelho e da Igreja. A todos os presentes e àqueles que choram a sua partida chegue o conforto da minha Bênção.

De Castel Gandolfo, 3 de setembro de 2012
Onde dormirão os pobres?

Publicado por Jblibanio em 13/5/2012 (165 leituras)
ONDE DORMIRÃO OS POBRES (Êxodo 22, 26)?
(Carta para a Folha de São Paulo)

A Igreja defrontou-se sempre com o binômio imagem e realidade. As análises sociológicas e críticas ajudam-na a perceber a defasagem entre ambas. “Requiem para a libertação” de Otávio Frias Filho prestou-lhe esse serviço, não desvendando-lhe a essência - papel da teologia -, mas retratando-lhe o rosto.
O autor percebeu bem o deslocamento de uma figura de Igreja da libertação, que marcou presença nas escuras décadas da repressão até o heroísmo de seus mártires, para uma Igreja festiva da visibilidade mediática.
A Igreja da libertação revelara naqueles momentos a força germinal da fé. Iluminou-lhe a teologia da libertação. Não era “materialista”, nem se confinara a uma sociologia coletivista, mas recuperara a dimensão ética inegociável do Cristianismo. Rompera, sim, a barreira dualista entre dimensão espiritual e material da existência, como o próprio mistério da Encarnação - fazer-se carne - do Verbo Divino - espírito - realisticamente revela.
A dimensão religiosa humana não se identifica com o coração da fé cristã. Os efeitos espiritualistas, estimulados por instrumentos da técnica mediática, não são experiências cristãs sem mais. Estas são indissociáveis do compromisso sério e conseqüente com os pobres na linha do seguimento de Cristo. A Lei Antiga, que o Cristianismo assumiu, mostra-nos Deus ouvindo o clamor do estrangeiro, da viúva, do órfão, do pobre (Ex 20, 20-26). Javé se preocupa pelo “onde dormirão os pobres”. Essa exigência ética e teologal fez a preocupação e a ocupação da teologia da libertação. Nenhum papa pode dizimá-la, porque iria contra o cerne da fé bíblico-cristã.
A Igreja da libertação pôde ter descuidado outras dimensões humanas da afetividade e da festa, hoje em voga. Isso não significa sua morte. É momento de rever os pontos em que falhou e integrar no seu seio a alegria, o gozo da oração e da festa, sem abrir mão em nada da seriedade de seu engajamento com os pobres. Aí está o seu futuro.     J. B. Libanio

terça-feira, 4 de setembro de 2012


Palavra de encerramento na festa de Sant’Ana e São Joaquim 2012.

Querido Povo de Deus, devoto de Sant’Ana e São Joaquim,

Excelentíssimo e Reverendíssimo Arcebispo Metropolitano, D. Jaime Vieira,
Reverendíssimos irmãos presbíteros e diáconos,
Reverendissimas e queridas religiosas,
Seminaristas,
Exma Sra. Prefeita Norma Ferreira,
Deputados,
Vereadores,
Demais Autoridades civis e militares,
Equipes de trabalho da festa, às quais agradeço e reconheço pelo bem feito,

Temos tanto a agradecer. Agradecemos a Deus por mais uma oportunidade que nos é concedida de poder encerrar mais uma festa dos padroeiros. Sem dúvida, Tivemos um Novenário que nos proporcionou um momento muito especial de encontro com Jesus Cristo, através de tudo que celebramos e vivemos. Tivemos um tempo da graça de Deus na vida da nossa Paróquia e, sem dúvida, na história do nosso Município. Não podemos dissociar o que é São José de Mipibu de hoje, esquecendo o que foi, o que é e o que será a Igreja Católica. Por isso, precisamos continuar a investir e confiar nos cristãos e, conseqüentemente, nos seus cidadãos. Confio que os cristãos de São José de Mipibu, como tantos outros do passado, precisam qualificar o que pode ser este Município no desenrolar do tempo. Que elementos determinantes da dignidade humana dos filhos desta terra são vistos? Que potencialidades nós temos, que poderão fazer a diferença da história mipibuense no futuro? Quem, deveras, está preocupado com isto? Tenho certeza que na festa dos nossos padroeiros, refletimos sobre estas várias possibilidades. Tudo graças ao encontro das famílias, dos jovens, das crianças, das pessoas de boa vontade que entendem o valor da experiência da vida em comunidade. Isto mesmo! A Igreja forma as pessoas para o verdadeiro sentido da beleza comunitária. Pois, ela tem seu encanto porque se harmoniza pela diferença. Ela trás, pelos símbolos, mas antes de tudo, pelo que ela é e por Quem ela é, as reais condições de fortalecimento da vida em Sociedade. Partindo da Palavra, que é Deus, diz ao ser humano o que ele mais precisa e anseia para sua felicidade. Por isso, a verdade, a justiça, a paz, que só se solidificarão quando cada um tiver o que for necessário para o seu bem estar, devem ser a anunciadas e vividas. Jesus afirmou que veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). Essa consciência de que o que esperamos do futuro já devemos buscá-lo no tempo presente, não pode ser esquecido pelas palavras e pelo testemunho cristãos. Jesus Cristo, na perspectiva do tempo de Deus, que é eterno e, por isso, sempre atual, disse: convertei-vos e crede no Evangelho, porque o Reino de Deus está próximo (Mc 1,15). A grande e mais excelsa missão da Igreja é traduzir no tempo o que Deus quer para a Humanidade. Para São José de Mipibu o Plano de Salvação é o mesmo. Precisamos nos converter a Ele e, a partir do encontro pessoal com Jesus Cristo, tornarmo-nos Discípulos/Missionários. Eis a urgência da ação pastoral da Igreja para os tempos atuais. Não podemos trair a Jesus Cristo! Não podemos trair a Igreja! Não podemos trair o nosso Batismo! Não podemos trair a nossa Filiação Divina! E isto serve para todos. Nós, ministros ordenados, governantes, deputados, vereadores, representantes da justiça, lideranças comunitárias, candidatos a cargos eletivos deste ano, famílias, jovens, estudantes, universitários, profissionais liberais, agricultores, professores e, muito especialmente, os mais pobres dos pobres, que enquanto sujeitos tornam-se ao mesmo tempo objeto do que nós devemos dizer e fazer para o desenvolvimento da Paróquia e do Município. Particularmente, sinto que, como cristãos e cidadãos, devemos ser mais inquietos e abertos a novas realidades. São José de Mipibu não será e não terá futuro se não for capaz de visualizar o futuro. Estamos na Região Metropolitana do Estado, na Grande Natal. Com suas perspectivas de crescimento estrutural e econômico, que devido a alguns empreendimentos de proporção internacional, a saber: a construção do Aeroporto Internacional de São Gonçalo e a realização da Copa do Mundo, sofrerá um rápido desenvolvimento, que, para o qual, talvez não esteja preparado humanamente para absolver tamanha exigência na área dos recursos humanos que são necessários. Não só como Município, mas também como Igreja, precisamos visualizar os desafios concomitantes a estes fenômenos. Além de um projeto de Evangelização ousado e objetivo, teremos que aprimorar e aguçar nossa capacidade de interpretação da realidade (hermenêutica). A V Conferência de Aparecida já deu uma luz para que a Igreja possa adentrar na dinâmica necessária para a demanda desta Nova Evangelização. O que temos que fazer, no momento, é termos determinação na aplicação do que já nos foi proposto, lembrando-nos da importância do Estado de Missão Permanente, a Formação Permanente e, por que não dizer, a Setorização Paroquial ampliada das práticas missionárias que nos levarão ao mínimo (pequenas comunidades) e a presença também nos meios de comunicação que nos colocarão diante de todos e para todos. Temos o Espírito Santo de Deus, nossa Força, temos a Palavra, que é de Deus e é Eterna, temos a “Eucarístia que, há 250 anos é fonte de evangelização nestas terras do Mipibu”, temos um Povo querido, que tem desejo de Cristo, que ama a Igreja e que, por isso, pode abrir o coração à missão e a busca de melhores condições de vida e dignidade humana. Desta forma, também faz-se necessário que os representantes públicos, do presente e do futuro, possam apostar nas condições e possibilidades do nosso povo, “tendo um projeto, não só político, mas mais ainda de gestão” que contemple realmente as necessidades mais urgentes das nossas comunidades, como a educação, saúde, segurança, saneamento básico, lazer de qualidade, que valorize a cultura e a vida dos nossos jovens e crianças, dentre outras peculiaridades. Para que estes bens e valores possam fazer parte da vida dos mipibuenses mais rapidamente, o apoio simbólico da Igreja pode ser determinante. O povo mipibuense ama a Igreja e confia na Igreja, pois tem consciência que ela sempre esteve ao lado da comunidade e com a comunidade. Basta lermos nossa história. São 250 anos que se entrecruzam a vida religiosa com a vida civil. Vejamos onde está e o que representa a Igreja Matriz para o povo mipibuense (axis mundi). Nela está o centro de Mipibu. Pois é a síntese arquitetônica da beleza inconsciente da comunidade. Ela tem Cristo eucarístico sempre presente no sacrário. Nela a Eucarístia é diariamente celebrada pela santificação de todos, que amam a Cristo e a Igreja.
Querido Povo de Deus, vamos continuar, vamos evangelizar! A especial realização da festa dos nossos padroeiros, mais uma vez, nos diz que podemos e, mais ainda, que devemos. Não podemos pecar por omissão e falta de fé. Quem somos nós sem Deus? O que pode ser da vida humana sem a presença Daquele que é o princípio e o fim de tudo? O mundo moderno e os pobres de espírito da atualidade querem o ofuscamento de Deus da vida dos homens; porque se Deus é escondido, tudo pode ser permitido, como a injustiça, a miséria, a fome, a corrupção e a morte de inocentes, o desrespeito aos miseráveis e etc. Deus é amor e só quem se entregou ao maligno ofende e sabota o que é de Deus. Quem O ama terá a vida plena e a promoverá aos outros.
Por fim, querido Pastor, D. Jaime Vieira Rocha, nosso Arcebispo Metropolitano, o senhor acabou de receber o PÁLIO, que é a insígnia própria dos metropolitas, ou seja, daqueles que devem ser referência da Unidade e da Comunhão numa determinada província eclesiástica e na relação com a pessoa do Santo Padre. Querido Pastor, os santos Padres sempre afirmaram que onde está o Bispo,aí, está a Igreja. Nós acreditamos verdadeiramente nesta sentença e queremos como Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim dizer que estamos em comunhão com o Senhor e com a Igreja de Cristo. Estamos ao seu lado nas alegrias e nas dificuldades. Formamos o nosso querido Povo para a comunhão e a verdade de Cristo, que é a mesma da Igreja. O Senhor nos alegra com sua presença e nos confirma na Fé. Este ano, com o Ano da Fé, celebraremos o IV Congresso Eucarístico Paroquial, e sua presença, aqui e agora, já é um presságio do que queremos testemunhar neste aniversário dos 250 anos da nossa Paróquia, os 50 anos do Conc. Vat II e os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica. Precisamos fortalecer a Fé dos que nos foram confiados. Sua presença já é para nós catequese e testemunho da presença de quem é um BOM PASTOR. Deus seja louvado! Obrigado, D. Jaime! Obrigado, querido Povo de Deus e Viva Sant’Ana e São Joaquim!

São José de Mipibú, 26 de julho de 2012

Pe. Matias Soares
Pároco de São José de Mipibú e Vigário Episcopal Sul da Arquidiocese.   
              


Legado do Concílio
26/01/2011
Cardeal Eugenio de Araujo Sales - Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de JaneiroA+a-ImprimirAdicione aos FavoritosRSSEnvie para um amigo
Há cinco décadas realizou-se o Concílio Ecumênico Vaticano II. Fica a interrogação: qual o seu legado? Suas diretrizes estão sendo postas em prática?

Em comentário anterior, buscamos ver o relacionamento Igreja-mundo. Hoje, os frutos, no interior da própria obra instituída por Cristo.

Sem modificar absolutamente nada do que constitui sua identidade – nem podia ser de outra forma! – foram introduzidas alterações de grande e benéfica repercussão na vida dos fiéis. Podemos comparar com um rejuvenescimento.

Antes, a Igreja se apresentava preponderantemente como uma sociedade de estrutura vertical. A partir das decisões do Vaticano II, sob as luzes do Espírito Santo, desencadeou-se um profundo e constante processo de comunhão e participação em todos os níveis da vida cristã. Perdura a estrutura existente, mas surgiu uma nova consciência: todo batizado efetivamente a força redentora de Jesus. Como diz São Paulo: “Completo em minha carne o que falta à Paixão do Cristo” (Cl 1,24).

A Constituição “Lumen Gentium”, fazendo eco a documentos mais antigos, nos lembra que todos os fiéis se integram no sacerdócio santificador de Cristo. Esta visão da realidade eclesial tem igualmente uma estrutura hierárquica. Por vontade do Fundador, cada cristão recebe parte do seu poder redentor, sem que a comunidade se transforme em massa amorfa, em aglomerado anônimo. Há um corpo orgânico que se assemelha a uma família bem constituída. A dignidade de cada filho, pequeno ou crescido, em nada enfraquece a autoridade específica dos pais. Pelo contrário, confirma-a, em sua plena dimensão. Na instituição fundada por Cristo, a atuação do leigo não diminui o insubstituível ofício do Pastor que, em nome do Senhor, é o guia de uma sociedade participativa. O Bispo exerce sua múmus, não por deputação dos fiéis mas em nome de Jesus que a outorga. Por isso, não se podem comparara o governante civil, os dirigentes políticos com a função dos Sucessores dos Apóstolos. O cristão deve ver nos Pastores o dom do amor redentor de Jesus a seu rebanho: “Quem vos ouve é a mim que ouve” (Lc 10,16) é “A quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20,23).

Hoje são múltiplas as formas de trabalho dos leigos nas paróquias e dioceses. Sabem-se corresponsáveis não somente em atividades internas, como a catequese, mas também na ação junto ao mundo: atividade social, nos meios de comunicação, nos campos educacional e ecumênico. Antes do Concílio já existiam, mas com exceções ou em nível não-oficial. Hoje, é comum perceber esse novo procedimento. São membros ativos da missão confiada por Cristo aos Apóstolos. Das celebrações, todos tomam parte, embora em grau diverso; vários ministérios, de forma extraordinária, não são exclusivos dos ministros sacros; na elaboração do planejamento pastoral é ampla a cooperação.

A introdução da língua vernácula na Liturgia foi, sem dúvida, fator importante de maior integração entre os diferentes níveis que formam o Povo de Deus.

O Vaticano II trouxe uma preciosa modificação no relacionamento entre a Igreja Católica e as demais religiões. Recebeu valioso incentivo o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, uma nova perspectiva em relação aos Judeus. Parte da preservação da identidade, para abrir-se aos que têm outras crenças. O resultado, embora lento, é indiscutível. Grandes problemas da Humanidade, como a busca da paz, hoje são abordados dentro de uma convivência cordial. O respeito mútuo permite o esforço sincero e leal em benefício dos povos. As reuniões ocorridas em Assis, promovidas pelo Santo Padre e com a presença de líderes religiosos os mais diversos, são a prova desse bom êxito do Concílio.

O reconhecimento amplo e claro da liberdade de consciência suprimiu áreas de estéril atrito. Reafirma o Concílio a verdade única, o dever de buscá-la com afinco, mas não agride a convicção dos demais filhos de Deus. Para nós, a Igreja Católica é a única fundada por Jesus Cristo, mas o Vaticano II proclama que há nas diversas confissões cristãs elementos verdadeiros da herança cristã (“Lumem Gentium”, nº 15) e naqueles que, sem culpa, não conhecem Jesus Cristo, existem “sementes do Verbo” de Deus (Decreto “Ad Gentes”, nº 11).

Os meios de comunicação social mereceram, com justiça, uma atenção especial. O documento “Inter Mirifica”, com as subsequentes Instruções “Communio et Progressio” e a mais recente, “Aetatis Novae”, revelam uma mudança de atitudes, enfatizando o valor desses inestimáveis instrumentos para propagar a Mensagem do Evangelho.

A 18 de novembro de 1965, quando Paulo VI promulgava a Constituição Apostólica “Dei Verbum” sobre a divina Revelação, abriu novo e importante capítulo na vida da Igreja. Nesse Documento estavam postos os fundamentos para um profundo e eficaz retorno à Bíblia. Ela sempre ocupou um lugar de destaque em toda vida católica. Mas a partir do Vaticano II, alargaram-se novos horizontes, com efeitos benéficos em toda a atuação eclesial.

A Palavra de Deus escrita goza, na Igreja Católica, especialmente na Liturgia, catequese, ação pastoral de uma vivacidade que, nem sempre, é encontrada em outras denominações cristãs.

A dinâmica da renovação litúrgica não se exaure no texto do “Sacrossanto Concílio”.

E Maria ocupou, no Vaticano II, o lugar que merece, no coração da Obra de Cristo.

Esses comentários por ocasião do 50º aniversário da realização do último Concílio desejam estimular a leitura e o estudo dos 16 documentos que marcaram profundamente este milênio. O fato de ter havido, e ainda perduram, desvios, não justifica restrições ao Vaticano II. Ele é resultado de pessoas que não souberam ou não quiseram interpretá-lo à luz do Espírito Santo.

O “Legado do Concílio” é um grandioso movimento que marcou e ainda assinala hoje – e o fará no futuro - , a vida da Igreja de Cristo.



Rádio Catedral


  + Arcebispo Emérito
Dom Eugenio Sales
A alegria Pascal
Tempo de Graça
A Palavra do Senhor
João Paulo II
Catechesi Tradendae


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Legado do Concílio
26/01/2011
Cardeal Eugenio de Araujo Sales - Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de JaneiroA+a-ImprimirAdicione aos FavoritosRSSEnvie para um amigo
Há cinco décadas realizou-se o Concílio Ecumênico Vaticano II. Fica a interrogação: qual o seu legado? Suas diretrizes estão sendo postas em prática?

Em comentário anterior, buscamos ver o relacionamento Igreja-mundo. Hoje, os frutos, no interior da própria obra instituída por Cristo.

Sem modificar absolutamente nada do que constitui sua identidade – nem podia ser de outra forma! – foram introduzidas alterações de grande e benéfica repercussão na vida dos fiéis. Podemos comparar com um rejuvenescimento.

Antes, a Igreja se apresentava preponderantemente como uma sociedade de estrutura vertical. A partir das decisões do Vaticano II, sob as luzes do Espírito Santo, desencadeou-se um profundo e constante processo de comunhão e participação em todos os níveis da vida cristã. Perdura a estrutura existente, mas surgiu uma nova consciência: todo batizado efetivamente a força redentora de Jesus. Como diz São Paulo: “Completo em minha carne o que falta à Paixão do Cristo” (Cl 1,24).

A Constituição “Lumen Gentium”, fazendo eco a documentos mais antigos, nos lembra que todos os fiéis se integram no sacerdócio santificador de Cristo. Esta visão da realidade eclesial tem igualmente uma estrutura hierárquica. Por vontade do Fundador, cada cristão recebe parte do seu poder redentor, sem que a comunidade se transforme em massa amorfa, em aglomerado anônimo. Há um corpo orgânico que se assemelha a uma família bem constituída. A dignidade de cada filho, pequeno ou crescido, em nada enfraquece a autoridade específica dos pais. Pelo contrário, confirma-a, em sua plena dimensão. Na instituição fundada por Cristo, a atuação do leigo não diminui o insubstituível ofício do Pastor que, em nome do Senhor, é o guia de uma sociedade participativa. O Bispo exerce sua múmus, não por deputação dos fiéis mas em nome de Jesus que a outorga. Por isso, não se podem comparara o governante civil, os dirigentes políticos com a função dos Sucessores dos Apóstolos. O cristão deve ver nos Pastores o dom do amor redentor de Jesus a seu rebanho: “Quem vos ouve é a mim que ouve” (Lc 10,16) é “A quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20,23).

Hoje são múltiplas as formas de trabalho dos leigos nas paróquias e dioceses. Sabem-se corresponsáveis não somente em atividades internas, como a catequese, mas também na ação junto ao mundo: atividade social, nos meios de comunicação, nos campos educacional e ecumênico. Antes do Concílio já existiam, mas com exceções ou em nível não-oficial. Hoje, é comum perceber esse novo procedimento. São membros ativos da missão confiada por Cristo aos Apóstolos. Das celebrações, todos tomam parte, embora em grau diverso; vários ministérios, de forma extraordinária, não são exclusivos dos ministros sacros; na elaboração do planejamento pastoral é ampla a cooperação.

A introdução da língua vernácula na Liturgia foi, sem dúvida, fator importante de maior integração entre os diferentes níveis que formam o Povo de Deus.

O Vaticano II trouxe uma preciosa modificação no relacionamento entre a Igreja Católica e as demais religiões. Recebeu valioso incentivo o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, uma nova perspectiva em relação aos Judeus. Parte da preservação da identidade, para abrir-se aos que têm outras crenças. O resultado, embora lento, é indiscutível. Grandes problemas da Humanidade, como a busca da paz, hoje são abordados dentro de uma convivência cordial. O respeito mútuo permite o esforço sincero e leal em benefício dos povos. As reuniões ocorridas em Assis, promovidas pelo Santo Padre e com a presença de líderes religiosos os mais diversos, são a prova desse bom êxito do Concílio.

O reconhecimento amplo e claro da liberdade de consciência suprimiu áreas de estéril atrito. Reafirma o Concílio a verdade única, o dever de buscá-la com afinco, mas não agride a convicção dos demais filhos de Deus. Para nós, a Igreja Católica é a única fundada por Jesus Cristo, mas o Vaticano II proclama que há nas diversas confissões cristãs elementos verdadeiros da herança cristã (“Lumem Gentium”, nº 15) e naqueles que, sem culpa, não conhecem Jesus Cristo, existem “sementes do Verbo” de Deus (Decreto “Ad Gentes”, nº 11).

Os meios de comunicação social mereceram, com justiça, uma atenção especial. O documento “Inter Mirifica”, com as subsequentes Instruções “Communio et Progressio” e a mais recente, “Aetatis Novae”, revelam uma mudança de atitudes, enfatizando o valor desses inestimáveis instrumentos para propagar a Mensagem do Evangelho.

A 18 de novembro de 1965, quando Paulo VI promulgava a Constituição Apostólica “Dei Verbum” sobre a divina Revelação, abriu novo e importante capítulo na vida da Igreja. Nesse Documento estavam postos os fundamentos para um profundo e eficaz retorno à Bíblia. Ela sempre ocupou um lugar de destaque em toda vida católica. Mas a partir do Vaticano II, alargaram-se novos horizontes, com efeitos benéficos em toda a atuação eclesial.

A Palavra de Deus escrita goza, na Igreja Católica, especialmente na Liturgia, catequese, ação pastoral de uma vivacidade que, nem sempre, é encontrada em outras denominações cristãs.

A dinâmica da renovação litúrgica não se exaure no texto do “Sacrossanto Concílio”.

E Maria ocupou, no Vaticano II, o lugar que merece, no coração da Obra de Cristo.

Esses comentários por ocasião do 50º aniversário da realização do último Concílio desejam estimular a leitura e o estudo dos 16 documentos que marcaram profundamente este milênio. O fato de ter havido, e ainda perduram, desvios, não justifica restrições ao Vaticano II. Ele é resultado de pessoas que não souberam ou não quiseram interpretá-lo à luz do Espírito Santo.

O “Legado do Concílio” é um grandioso movimento que marcou e ainda assinala hoje – e o fará no futuro - , a vida da Igreja de Cristo.



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