NOTA DO ARCEBISPO DE NATAL SOBRE
AS MANIFESTAÇÕES POPULARES
Dom Jaime Vieira Rocha, Arcebispo Metropolitano de Natal,
consciente de seu múnus de pastor e guia da Igreja de Jesus Cristo, que
é força viva e atuante no solo potiguar, vem, por esta, dirigir ao
Povo de Deus de toda a Igreja Católica no Rio Grande do Norte, e às
mulheres e homens de boa vontade, uma palavra de esperança e, ao mesmo
tempo, de admoestação a todos quantos sonham e desejam um Brasil justo,
solidário, soberano e democrático, com oportunidades para todos.
Nas últimas semanas temos assistido - e até participado -
das manifestações de milhares de irmãs e irmãos marchando nas ruas, de
grandes e pequenas cidades, exigindo da classe política e dos gestores
públicos da União, dos Estados e dos Municípios, maior compromisso com
os interesses supremos da sociedade brasileira, no que diz respeito às
políticas públicas mais elementares, como saúde, educação, segurança,
transporte, entre outras, de qualidade e suficientes para a demanda da
população, especialmente, a significativa parcela socialmente
vulnerável.
Das ruas irrompe o clamor do povo que já não suporta mais a
imposição de humilhações e aviltamento da dignidade humana dos que
precisam dirigir-se aos serviços de saúde, de educação, de segurança e
de transporte público. O povo, com rasgos de desespero, manifesta sua
indignação pelo descaso recorrente dos que nos governam, pela ausência
de uma política pública de Estado de convivência com o semiárido onde
habitamos, e para com os demais desafios de outras regiões. Causa-nos
perplexidade assistir o retroceder da velha indústria da seca,
verdadeira serviçal da corrupção que inibe o desenvolvimento do
Nordeste, fonte perene de pilhagem da coisa pública, neste momento de
mais um ciclo de seca.
Temos convicção do direito que temos de expressar nossa
insatisfação. O Brasil pertence aos brasileiros. Suas riquezas são
fruto do trabalho árduo de todos os que labutam para construí-lo e
fazê-lo mais próspero. A coisa pública está para servir às necessidades
coletivas do povo brasileiro. As lideranças políticas investidas de
cargos públicos, nas três esferas de poder do Estado, devem atuar como
guardiãs diligentes de tudo o que está aos seus cuidados, como bons
administradores do Bem Comum. Jamais como usurpadores dos bens e das
esperanças do Povo.
Somos um Estado republicano, plasmado nos valares da
Democracia, que vimos construindo nesses últimos 25 anos. Daí emerge,
pois, nossa responsabilidade com que estamos fazendo e participando
neste momento histórico do Brasil. Jamais temos o direito de faltar com
o respeito, zelo e cuidado para com as instituições, sejam públicas ou
privadas. Sejam as organizações da sociedade civil, sejam os partidos
políticos, ambos, indispensáveis à Democracia. Devemos, sim, lutar e
trabalhar para melhorá-los, aperfeiçoá-los, limpá-los, resgatando-os
das mãos dos aproveitadores da boa-fé da nossa gente.
Alertemo-nos uns aos outros acerca dos atos de violência contra
as pessoas, as instituições públicas e empresas privadas. Esses atos
insanos em nada contribuem para conquistarmos o que todos almejamos. A
luta se dá e se funda no desejo de um Brasil melhor para todos. A
violência só levará ao fracasso e, por conseguinte, fragiliza o Estado
Democrático que conquistamos. Não nos esqueçamos que os adeptos do
autoritarismo estão à espreita, também esperançosos de mais uma vez se
apropriarem do Estado. Essas atitudes, que espalham divisões, ódio,
guerra e cizânia nas boas intenções e desejos que nos movem, restringem
as possibilidades de sucesso e felicidade. Ofereçamos, pois, o que
temos de melhor, partilhemos nossos sonhos e desejos. Definamos melhor
as bandeiras que empunhamos nas ruas e, com elas, nomeemos as
lideranças capazes de unir o que está disperso, dar rumo e direção, sem
perder a fortaleza e a espontaneidade que nasceram e se alimentam da
vontade de cada cidadão que se apresenta como sujeito ativo e
protagonista do Brasil que queremos. Que nossas manifestações estejam
repletas de cidadania, de atitudes de paz, de respeito, de tolerância,
de zelo e extrema atenção pela sacralidade da vida e integridade
física de cada pessoa. "A violência nega a ordem querida por Deus." A
Paz é fruto da Justiça"(Is 32,17). No Deus da Paz e de todo bem!
Natal-RN, 30 de junho de 2013
Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo Metropolitano de Natal
Fonte: Arq. de Natal