Um ecumenismo ético
Vivemos uma época de complexidades.
As manifestações do sujeito se desenvolveram de diversos modos e em todos os
tempos e espaços. A Igreja, e aqui refiro-me a muitas comunidades cristãs que
reconheceram e reconhecem a importância da unidade dos cristãos, percebeu a
incoerência dos discípulos de Cristo que renegam a prece do Senhor que roga ao
Pai que todos sejam um como Ele e o Pai são Um (Cf. Jo 17,11). A maior traição
dos seguidores de Jesus Cristo é a divisão presente e alimentada pelas
comunidades que foram constituindo-se no decorrer da história. A experiência de
Pentecostes foi, é e sempre será o modelo eclesial dos convertidos à pessoa do
Ressuscitado (Cf. At 2 e 4).
O Concílio Vaticano II tratou da
“promoção da reintegração de todos os cristãos como um dos seus principais
objetivos” (Cf. UR,1). Isto porque as
divisões existentes nas comunidades cristãs são um escândalo para o mundo e
prejudicam enormemente a pregação do Evangelho a toda criatura (Idem). Essas
preocupações continuam a fazer parte da vida da Igreja, e impulsionadas pelo
magistério dos últimos pontífices, João Paulo II e Bento XVI, são colocadas
como uma das urgências para as comunidades cristãs no mundo inteiro. Mesmo
ciente da razoabilidade teológica da proposta, depois de conhecer a situação da
realidade das comunidades cristãs na Europa, fui levado a fazer a seguinte interrogação:
O Ecumenismo é uma necessidade teológica ou política? Sem dúvida, depois da
leitura do capítulo 17 do evangelista João, não podemos ter dúvida que a
perspectiva tem que ser teológica. Contudo, quando visualizamos a finalidade da
missão de Jesus em implantar o Reino de Deus (Cf. Mc 1,15; Mt 4,12.17 e Lc
4,14s) e o que pode acontecer se aqueles que têm a responsabilidade de
anunciá-lo e realizá-lo estão divididos, surge ou, pelos menos, deveria surgir
uma atenção à seguinte afirmação do próprio Jesus: “Se um reino está dividido
contra si mesmo, este reino não se pode manter. Se uma família contra si mesma,
esta família não poderá subsistir” (Cf. Mc 3,24-25). O projeto do Reino é de
Deus, porém a conversão a este deve ser nossa. A divisão é um sinal da ausência
de Deus no que é realizado por aqueles que foram enviados por Jesus Cristo.
O secularismo é uma das faces da
modernidade que não quer aceitar mais a interferência de Deus, e claro que dos
princípios e moralidade cristãos, no que é simplesmente humano. As correntes
ideológicas tornaram-se as semideusas das tribos ditatoriais. A violência
verbal e aética está se radicalizando num niilismo que levará a vitimização da
própria condição humana. O que é cultural e identificativo da Civilização
ocidental já está em crise e diluindo-se tempestivamente. A relativização da
vida, a desconstrução da experiência familiar, a crise de sentido por se confundir
o transcendental com o Transcendente, vivendo-se religiões, porque não dizer
até a cristã, sem querer comprometer-se com um Outro que me integra totalmente
e me espera.
A defesa dum “Ecumenismo Ético” é premente, razoável e necessária nas
atuais circunstancias eclesiais, sociais e políticas. Não foram dados passos
doutrinais tão significativos na nossa realidade. Todavia, não pode ser
esperado que uma avalanche de depredações ao que é importante para a Sociedade,
e aqui esta que também é composta por cristãos, aconteça e a maioria que compõe
as instituições fiquem calados, omissos e acovardados. A unidade dos cristãos
pode ser tratada por uma necessidade prática e política. O que é importante,
como valor para os cristãos e muitos homens e mulheres de boa vontade, pode e
deve ser contemplado por todos. Tudo o que vem para o bem da sociedade; como
também, tudo que vai de encontro ao pensamento cristão merece uma preocupação
maior da parte de todos. Se não acordarmos agora, depois será tarde demais. As sementes
do que é bom, verdade, nobre e justo devem prevalecer se de fato vem Deus. Fica a proposta, mas também a inquietação.
Por fim, o que é de Deus e do Seu
Filho, Jesus Cristo, não pode vir de encontro à dignidade humana. Zelemos pelo
que é de Deus, na unidade e como sinal do amor, que estaremos de fato vivendo o
espírito da vida cristã. Que Deus nos fortaleça nesta perspectiva e, que, nós
cristãos, nos convertamos! Assim o seja!
Pe. Matias Soares
Pároco
de S. J. de Mipibu e Vig. Episcopal Sul