| Mãe de Deus | ||
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Dom Murilo S. R. Krieger, scj * Havia na Ilha de Creta, na Grécia, uma pintura bizantina sobre madeira dourada, um ícone, da Virgem Maria, muito venerada pela população. Andreas Ritzos, pintor grego do século 15, realizou as mais belas pinturas neste tema. Por essa razão, muitos lhe atribuem este tipo iconográfico. Ao certo quem a fez e quando, não o sabemos. O certo é que foi transportada para Roma e entronizada solenemente na Capela de São Mateus, em 1499. Ali permaneceu,
Finalmente, em 1866, o quadro foi conduzido solenemente ao seu santuário, no Monte Esquilino, por ordem do Santo Padre, que recomendou aos Redentoristas: "Fazei com que todo o mundo conheça o Perpétuo Socorro". No Brasil, essa invocação a Maria surgiu no final do século XIX, com os padres da Congregação do Santíssimo Redentor, que chegaram ao País em 1893. Sentido do ícone − Maria em posição frontal, num braço ela acolhe e carrega Jesus e, com o outro, o aponta para quem olha para o quadro, aludindo no gesto à frase: “Ele é o caminho”. A tipologia é bizantina, e quase acadêmica a execução do rígido planejamento das vestes do ícone. Mas o que chama a atenção é o movimento oposto e assustado do menino, de cujo pé lhe cai a sandália, e ainda a comovente ternura do rosto da mãe. A Virgem Maria está vestida com uma túnica de cor púrpura, sinal da divindade na qual ela excepcionalmente está próxima. O manto azul escuro, que também lhe cobre a cabeça indica sua humanidade. O Menino Jesus, embora criança, tem uma expressão de maturidade que convém a um Deus eterno. Sentado no braço esquerdo da Mãe, Jesus olha apreensivo para os elementos que simbolizam sua pai-xão. Suas mãozinhas apertam a mão de Maria, como que para pedir-lhe proteção. Ao ver esses instrumentos, o menino se assusta e agarra-se à mãe, enquanto uma sandália lhe cai do pé. Os arcanjos Gabriel e Miguel, na parte superior, de um lado e do outro de Maria, apresentam os instrumentos da paixão de Jesus Cristo. Um dos arcanjos segura a cruz e o outro a lança e a cana com uma esponja na ponta ensopada de vinagre (cf. Jo19,29). Próximas às figuras, estão algumas letras gregas. As letras “IC XC” são a abreviatura do nome “Jesus Cristo” e “MP ØY” são a abreviatura de “Mãe de Deus”. As letras que estão abaixo dos arcanjos correspondem à abreviatura de seus nomes. Maria e João Paulo II − No ano de 1999, o papa João Paulo II realizou uma viagem apostólica à Polônia, cidade de Wadowice, segue um trecho da homilia do santo padre, 16 de junho, nas vésperas e coroação da imagem da Bem Aventurada Virgem Maria com o título de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Em seguida a oração por ele proferida. “Os nossos antepassados sempre estiveram convencidos do insubstituível papel da Mãe de Deus na vida da Igreja e de todo o cristão. No decurso dos últimos cem anos, os habitantes de Wadowice exprimiam-no de modo particular quando se reuniam com veneração diante da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a escolhiam como Mediadora, Padroeira da vida pessoal, familiar e social.” Oração “Sob a tua proteção, Maria, procuramos refúgio. À tua proteção confiamos à história desta cidade, da Igreja e de toda a Pátria. Ao teu amor materno confiamos cada um de nós, das nossas famílias e da sociedade inteira. Não desprezes a súplica de nós que estamos na provação e livra-nos sempre de todo o perigo. Maria, pede para nós a graça da fé, da esperança e da caridade, a fim de que, sob o teu exemplo e a tua guia, levemos o testemunho do amor do Pai, da morte redentora e da ressurreição do Filho e da ação santificadora do Espírito Santo. Permanece sempre conosco! Virgem gloriosa e bendita, Nossa Senhora, nossa Advogada, Nossa Medianeira, Nossa Consoladora, nossa Mãe! Amém. * Esse texto foi retirado do livro Com Maria, a Mãe de Jesus, do autor dom Murilo S. R. Krieger, scj, arcebispo de Salvador (BA). Paulinas Editora Fonte: Revista Família Cristã |
domingo, 20 de janeiro de 2013
90 anos de transformações na Igreja
Dom Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás, pertence a
uma geração de bispos brasileiros que identifica na missão da Igreja uma
transformação social. Ele esteve à frente da criação da Comissão
Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi),
onde, ainda hoje, atua com bastante entusiasmo. Na entrevista a seguir,
concedida ao portal IHU On-Line, dom Tomás
recorda sua trajetória na Igreja e enfatiza que a “CPT aconteceu num
momento de muita animação, decisão, caminhada e energia a favor dos
pobres. Foi fruto do Concílio Vaticano II e de Medellín”. Para ele,
tanto a CPT quanto o Cimi “trouxeram para dentro da Igreja uma abertura,
porque a convivência com esses povos trazia, na pessoa dos agentes de
pastoral das CPTs, para o interior da Igreja a preocupação com a
situação deles”. E conclui: “Houve um crescimento dentro da própria
instituição eclesiástica”.
Poucos dias antes de completar 90 anos de idade, dom Tomás
Balduíno diz se sentir “livre”. “Não tenho mais o governo de uma
diocese, mas se eu pastoreio, eu pertenço ao Colégio Episcopal. Então,
tenho na Igreja a atuação referente à missão de pastor”.
Depois de ter presenciado momentos difíceis na Igreja, como o período militar, Dom Tomás gosta de pensar o futuro da Igreja numa perspectiva de “esperança”. “O futuro próximo é a continuidade. Agora, o futuro mais remoto a Deus pertence. Eu acho que tem muito elemento dentro da Igreja no sentido de uma renovação. Será que isso terá acesso ao governo mundial da Igreja na pessoa do Papa? Não sei”, conclui.
Confira a entrevista.
Quando e por que decidiu seguir a vida religiosa e entrar na Ordem Dominicana?
Dom Tomás Balduíno – Desde menino eu já tinha vontade de ser padre. Talvez por influência familiar dos tios padres por parte da minha mãe, ou de um tio padre por parte do meu pai. Na cidade onde morava, Formosa-GO, havia uma comunidade de religiosos dominicanos franceses. Admirava estes monges pela vida missionária deles, pelo sacrifício de rodar boa parte do estado de Goiás a cavalo. Então, me engajei na Igreja, e quando era adolescente fui encaminhado para o seminário, depois para o noviciado em Uberaba. Mais tarde estudei em São Paulo e cursei Filosofia; na França, mais tarde, estudei Teologia, porque faltam professores no Brasil. Nessa época tivemos uma influência interessante dos precursores do Concílio Vaticano II. Fui ordenado padre na França e, ao voltar ao Brasil, depois de um certo tempo de lecionar nas faculdades de Filosofia, meu provincial me designou para a missão indigenista. Esse foi o início de uma nova etapa. Não que eu escolhesse, mas fui levado a isso pelas circunstâncias, porque eu era o superior da missão, e a partir de um certo momento, na década de 1960, fui procurado pelos lavradores que estavam sendo pressionados pelos proprietários da terra no estado do Pará. Acabei me envolvendo com esse mundo. Depois também trabalhei com os povos indígenas. Tive mais contato com o povo Xikrin, do Alto do Itacaiúnas; aprendi a língua convivendo com eles.
Injustiça social
O que me marcou profundamente foi a questão da injustiça social no sentido de o governo do estado do Pará vender terras sem levar em conta a população que estava dentro daquele território. Houve conflitos e eu participei deles no início, porque depois fui transferido para Goiás, como bispo diocesano, onde fiquei durante 31 anos. Lá me deparei novamente com a questão da terra, porque é uma região de muito latifúndio, de dominação da elite dos caiados. Nesse tempo que vivi em Goiás, ajudei a inaugurar duas fundações importantes para a Igreja e para a sociedade: o Conselho Indigenista Missionário – Cimi, que foi substituindo pouco a pouco as antigas missões de caráter paternalista; e a Comissão Pastoral da Terra, que surgiu graças a Medellín e ao Concílio Vaticano II, nos anos de1972 e 1973. O Cimi surgiu como opção pelos pobres, mas considerando os pobres como sujeitos, autores e destinatários de sua própria caminhada, como protagonistas de sua própria luta.
Quer dizer, mudou, naquele tempo, completamente a postura da Igreja com relação aos povos indígenas e com relação aos camponeses. As experiências que se tinham eram de criar organizações, confrarias de operários, trabalhadores rurais ligados religiosamente à Igreja. Na posição da Comissão Pastoral da Terra, que nasceu em 1975, houve uma revolução Copernicana, assim como houve no Universo Indígena Pastoral Indigenista de respeitar a condição de sujeito dos trabalhadores rurais e não objeto de nossa ação caritativa.
O senhor foi cofundador do Conselho Indigenista Missionário em 1972 e seu segundo presidente. Como avalia a questão indígena no país 40 anos depois?
Dom Tomás Balduíno – Houve avanço no sentido das organizações indígenas. O próprio Conselho Indigenista Missionário tem numa nova política de tratamento aos povos indígenas. Em vez de querer confiná-los em um determinado lugar pastoral, como era antigamente, sugeriu uma proposta – que no início nos chocou e depois se viu que era o “ovo de Colombo” – de favorecer assembleias de chefes de tribos diferentes. Tínhamos receio, porque eram tribos muitas vezes hostis entre si, mas constatamos que eles atenderam ao convite para se reunirem. Passamos a reunir chefes indígenas em assembleias, e eles saíam convictos de que o inimigo do índio nunca era outro índio, e que precisavam recuperar sua cultura e, consequentemente, as terras. Para isso, eles começaram a se organizar em diversas articulações, associações regionais e nacionais. Assim, do lado dos índios houve avanço e eles continuam avançando.
O retrocesso foi do lado do governo que, aliado aos grupos capitalistas do agro e hidronegócio, se negou a demarcar as terras indígenas e enfraqueceu o próprio organismo da Funai, sucateando, de outro lado, o Incra. A mesma falta de vontade para com os povos indígenas é a falta de vontade para com os camponeses em relação à reforma agrária.
Como começou seu trabalho na Comissão Pastoral da Terra – CPT? Em que contexto histórico e político ela surgiu e como vê sua atuação nos dias de hoje?
Dom Tomás Balduíno – A CPT aconteceu num momento de muita animação, decisão, caminhada e energia a favor dos pobres. Foi fruto do Concílio Vaticano II e de Medellín. Havia um clima geral de entusiasmo dentro da própria igreja, na diocese, sobretudo nas congregações religiosas. Portanto, a CPT nasceu com a aceitação da Igreja , e tanto ela quanto o Cimi são pastorais de fronteira, diferentemente das outras pastorais litúrgicas, ecumênicas, bíblicas, de formação catequética ou presbiteral de seminaristas. A CPT e o Cimi trouxeram para dentro da Igreja uma abertura, porque a convivência com esses povos trazia, na pessoa dos agentes de pastoral das CPTs, para o interior da Igreja a preocupação com a situação deles. Houve um crescimento dentro da própria instituição eclesiástica.
Mas essas pastorais mudaram no governo de João Paulo II. Houve um retrocesso dentro da Igreja, no sentido de desconfiança com relação a este mundo externo, essas pastorais, a própria Teologia da Libertação, que é fruto dessas duas pastorais. Então, a Igreja acompanhou um pouco, nesse movimento pendular, o fechamento das pastorais. A CPT chega a ser proibida em determinadas dioceses e isso mostra um pouco o clima que nós vivemos hoje.
Com relação ao seu trabalho, foi um trabalho samaritano, eu diria. O que fez o samaritano? Ele se inclinou diante do caído. Mas ela não criou uma instituição para recolher aquele caído e outros caídos; o levantou e no dia seguinte aquele caído já podia levantar outro caído. A CPT criou vários instrumentos. Quer dizer, na evolução da pastoral, percebeu que direitos humanos, terra e água são três prioridades. Para ajudar o pessoal da terra, ela criou um corpo de advogados, porque ela luta contra o latifúndio, contra o próprio Judiciário, contra todas as forças da elite para garantir o status quo, ao passo que os camponeses vinham trazer uma transformação, por exemplo, contra o latifúndio. Eles ocupavam a terra e o que fazia a CPT diante de toda a aula de legalidade da propriedade? Ela simplesmente apoiava as ocupações de terras numa nova perspectiva que, aliás, é constitucional de prioridade à função social da terra. Isso não era muito bem aceito, nem dentro da Igreja nem dentro da sociedade. O próprio poder Judiciário era muito preso às normas antigas de direitos absolutos à propriedade privada. Isso foi sendo quebrado. A CPT, em um tempo mais remoto, ajudou com agrônomos, porque muitas vezes o pessoal recuperava a terra, mas não sabia mais trabalhar.
Quais são as dificuldades de manter a CPT no Brasil e também dentro dos atuais rumos que a Igreja vem seguindo?
Dom Tomás Balduíno – Com relação à manutenção, a CPT está “ralada”, sem recurso. Ela sofre disso, porque desde o início foi apoiada com recursos externos da Europa. Mas devido à crise econômica e à diminuição no contingente católico, os recursos diminuíram. Outro fenômeno é que essas entidades entraram em convênio com o governo, e passaram a se deparar com exigências capitalistas. Então, a CPT está com esse desafio para resolver. Não se trata do fim ou da dissolução da CPT por faltas de recursos. Mas num país como o nosso, que tem tantos recursos e onde muitas igrejas são florescentes de templos invejáveis em tamanho, conforto etc., pastorais de fronteira estão empobrecidas.
Como o senhor se tornou bispo? Que aspecto destaca da sua atuação como bispo de Goiás?
Dom Tomás Balduíno – Eu era prelado – um padre com direitos de bispo – numa prelazia, que é uma área confiada a uma ordem religiosa. Fui parar em Goiás porque sou goiano. O povo cuidadosamente foi atrás do núncio e disse: “Nós queremos um bispo goiano!”. Ele olhou assim, no elenco deles, e me achou lá no sul do Pará. Eu fui então nomeado o bispo de Goiás, o bispo diocesano por pedido do povo. Muitos se arrependeram. (Risos)
Será?
Dom Tomás Balduíno – Eles queriam um goiano, mas de outro tipo.
Por quê?
Dom Tomás Balduíno – No meu episcopado, iniciado em 1967, propus fazer uma caminhada na linha do Concílio do Vaticano II. Foi interessante, porque era um momento de muito entusiasmo na Igreja como um todo, e eu comecei a receber voluntários de diversas partes do país, que iam para lá colaborar com esse trabalho. Temos um hospital na diocese, e médicos que tinham um futuro promissor em outras áreas deixaram suas carreiras para vir trabalhar aqui. Com isso, houve um fortalecimento da caminhada. Desde o início valorizamos a participação popular na Igreja, não a Igreja Clerical, reservada aos padres, aos religiosos, mas a Igreja Comunhão e Participação.
Iniciei meu episcopado no final de 1967, e no início de 1968 tivemos a convocação da Primeira Assembleia Diocesana. A maioria dos membros da Assembleia já era de leigos e pessoas das comunidades eclesiais de base. Então, você vê o que isso significa como revolução, como transformação. Claro que houve problemas, sobretudo em Goiás, onde há muita tradição das celebrações tradicionais. Eu esclareci que assumiria aquela pastoral do jeito que o povo queria.
Bispos
Como era um momento propício dentro da Igreja, nos ligamos a bispos de outras dioceses, com dom Pedro Casaldáliga, dom Antônio Fragoso, dom Paulo Evaristo Arns, dom Fernando Gomes dos Santos. Além das assembleias da CNBB, nós tínhamos um grupo informal de bispos, que tinha muita liberdade de sentar e chamar a assessoria, coisa que era muito difícil naquele tempo na assembleia dos bispos. Esse grupo informal se reunia com muita cautela, porque tudo era vigiado naquele tempo. Facilmente a polícia e o DOPS entravam em alguma reunião. Então, fazíamos as reuniões às sombras das assembleias da CNBB, que eram muito respeitadas. Isso ajudou a cada um de nós na nossa diocese, e ajudou a própria CNBB, até na escolha de seus presidentes. Não pensem que a aparição de dom Aloísio Lorscheider, Ivo Lorscheiter caiu do céu; foi trabalho desse grupo.
Quais as dificuldades de atuar no período da ditadura? A Igreja esteve bastante dividida nesse período.
Dom Tomás Balduíno – Houve até apoio ao Golpe, “porque nos livrou do comunismo sem derramamento de sangue”, diziam os próprios bispos. O sistema ditatorial tem muita tensão com a Igreja; um coronel inclusive declarou: “Nós conseguimos barrar os estudantes, silenciar a imprensa, está faltando só o púlpito das igrejas”. Nós sabíamos da resistência militar às nossas propostas, porque eram propostas não apenas de aprimoramento da pastoral interna da Igreja, mas de apoio às organizações populares. Segundo José de Souza Martins, o Golpe Militar de 1964 foi dado não exclusivamente, mas principalmente, para quebrar a espinha dorsal das organizações camponesas. Os militares achavam que através delas o comunismo internacional entraria no Brasil.
Como o senhor se sente hoje sendo bispo emérito depois de toda a sua atuação na Igreja?
Dom Tomás Balduíno – Me sinto muito livre. O bispo tem um grande espaço em que pode atuar dentro da Igreja. Isso é tradição, desde Santo Agostinho, Santo Ambrósio, Santo Irineu. Há bispos que eu reconheço, são tímidos, que, aliás, foram ordenados porque são mais piedosos, às vezes, medíocres. Então, depois de emérito, podemos dizer: “Ah, o bispo agora é general de pijama e não tem mais problemas”. Não tenho mais o governo de uma diocese, mas se eu pastoreio, eu pertenço ao Colégio Episcopal, sou membro do Concílio Ecumênico. Então, tenho na Igreja a atuação referente à missão de pastor.
Sou conselheiro da CPT nacional, e assessor do Cimi. Então, sou convidado a participar das assembleias, dos encontros, de maneira que estou presente. Quando mudei de Goiás e vim morar na casa de dominicano, trouxe minhas caixas, meus pertences de serviços, de utilidades, livros etc. Levei quatro meses para começar a abrir aquilo. Eu era chamado para todo o canto. Por isso muitas vezes eu digo, lembrando a palavra de Mandela: “Eu preciso aposentar da aposentadoria”. Mas, por outro lado, isso me estimula.
Como o senhor avalia a situação de dom Pedro Casaldáliga? E de outros bispos, como Dom Erwin, que também são ameaçados de morte pelo trabalho que desenvolvem?
Dom Tomás Balduíno – O Pedro para mim é um ícone. Ele me considera como padrinho, porque no dia em que ele ia responder a carta desistindo de ser bispo, conversou comigo e mudou de ideia. Ele me chamou no quarto e mostrou aquela carta. Eu falei na cara dele: “Olha, Pedro, eu não entendo você! Você aceitou ser prelado, pastor dessa Igreja como presbítero, e na hora de receber o sacramento, a consagração desse pastoreio, você recusa?”. Aí ele pensou um pouco mais, reuniu o pessoal, conversou e a resposta foi favorável. Por causa desse incidente, ele me considera como padrinho. Eu o considero como um verdadeiro irmão e exemplo para a minha vida. É um homem de uma vida extraordinária, uma profunda vida espiritual, mística, um profeta e também um poeta da melhor estirpe.
Pedro ultimamente deu apoio à entrada dos Xavantes na antiga fazenda Suiá-Missu, que estava ocupada por inúmeros fazendões. Mas graças a Deus o Judiciário deu ganho de causa aos Xavantes. Dom Pedro deu apoio, estímulo, e sempre cutucou o governo para não retroceder. O processo está caminhando firmemente. O que fizeram então? Ameaçaram dom Pedro: “Esse aqui tem poucos dias para ser eliminado”. Então, Pedro está refugiado.
Que perspectiva vislumbra para a Igreja brasileira a partir de agora?
Dom Tomás Balduíno – A Igreja depende 99,9% do papa. Então, o Concílio e o Pós-Concílio aconteceram graças primeiro a um papa, um homem extraordinário que foi colocado ali como transição. Ele revirou a igreja de pernas para o ar. O Concílio Vaticano II foi uma coisa notada não só nas Igrejas, mas também no mundo não cristão. Depois Paulo VI aplicou pacientemente o Concílio Vaticano II, e o papa João Paulo II trouxe outra perspectiva. Então, quando muda o papa, muda tudo. Não tudo, porque a Igreja é plural. Mesmo com toda a perspectiva de unidade, ela é plural.
O futuro próximo é a continuidade. Agora, o futuro mais remoto a Deus pertence. Eu acho que tem muito elemento dentro da Igreja no sentido de uma renovação. Será que isso terá acesso ao governo mundial da Igreja na pessoa do papa? Não sei. O futuro a Deus pertence. Mas tem potencial. E o potencial, a meu ver, aponta para outro rumo, não na linha da hierarquia, do clero, do masculino. Mas na linha do leigo e na valorização da mulher.
Gostaria de acrescentar algo?
Dom Tomás Balduíno – Acho importante, com relação a esse conjunto que eu falei, a perspectiva de esperança diante de uma situação de muito sofrimento, de angústia e tristeza.
Sucedeu uma coisa na região da Serra da Mesa onde estão os Avá-Canoeiro: nasceu uma criança chamada Pantio. Fazia 22 anos que não nascia nenhuma criança naquela etnia, que é um grupo destinado à extinção. E, de repente, nasce o Pantio, uma linda criança. Isso tem um sabor de Natal, você não acha? Uma estrela que aponta um caminho bonito, um caminho de esperança, um caminho da boa nova, como aconteceu para os magos. Isso que eu queria colocar aqui como perspectiva. De onde se esperava a morte nasceu a vida. E essa vida não é só para os povos indígenas, não é só para o grupo Avá-Canoeiro, mas para todos nós, para o mundo todo. Amém!
Fonte: Revista família Cristã
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Depois de ter presenciado momentos difíceis na Igreja, como o período militar, Dom Tomás gosta de pensar o futuro da Igreja numa perspectiva de “esperança”. “O futuro próximo é a continuidade. Agora, o futuro mais remoto a Deus pertence. Eu acho que tem muito elemento dentro da Igreja no sentido de uma renovação. Será que isso terá acesso ao governo mundial da Igreja na pessoa do Papa? Não sei”, conclui.
Confira a entrevista.
Quando e por que decidiu seguir a vida religiosa e entrar na Ordem Dominicana?
Dom Tomás Balduíno – Desde menino eu já tinha vontade de ser padre. Talvez por influência familiar dos tios padres por parte da minha mãe, ou de um tio padre por parte do meu pai. Na cidade onde morava, Formosa-GO, havia uma comunidade de religiosos dominicanos franceses. Admirava estes monges pela vida missionária deles, pelo sacrifício de rodar boa parte do estado de Goiás a cavalo. Então, me engajei na Igreja, e quando era adolescente fui encaminhado para o seminário, depois para o noviciado em Uberaba. Mais tarde estudei em São Paulo e cursei Filosofia; na França, mais tarde, estudei Teologia, porque faltam professores no Brasil. Nessa época tivemos uma influência interessante dos precursores do Concílio Vaticano II. Fui ordenado padre na França e, ao voltar ao Brasil, depois de um certo tempo de lecionar nas faculdades de Filosofia, meu provincial me designou para a missão indigenista. Esse foi o início de uma nova etapa. Não que eu escolhesse, mas fui levado a isso pelas circunstâncias, porque eu era o superior da missão, e a partir de um certo momento, na década de 1960, fui procurado pelos lavradores que estavam sendo pressionados pelos proprietários da terra no estado do Pará. Acabei me envolvendo com esse mundo. Depois também trabalhei com os povos indígenas. Tive mais contato com o povo Xikrin, do Alto do Itacaiúnas; aprendi a língua convivendo com eles.
Injustiça social
O que me marcou profundamente foi a questão da injustiça social no sentido de o governo do estado do Pará vender terras sem levar em conta a população que estava dentro daquele território. Houve conflitos e eu participei deles no início, porque depois fui transferido para Goiás, como bispo diocesano, onde fiquei durante 31 anos. Lá me deparei novamente com a questão da terra, porque é uma região de muito latifúndio, de dominação da elite dos caiados. Nesse tempo que vivi em Goiás, ajudei a inaugurar duas fundações importantes para a Igreja e para a sociedade: o Conselho Indigenista Missionário – Cimi, que foi substituindo pouco a pouco as antigas missões de caráter paternalista; e a Comissão Pastoral da Terra, que surgiu graças a Medellín e ao Concílio Vaticano II, nos anos de1972 e 1973. O Cimi surgiu como opção pelos pobres, mas considerando os pobres como sujeitos, autores e destinatários de sua própria caminhada, como protagonistas de sua própria luta.
Quer dizer, mudou, naquele tempo, completamente a postura da Igreja com relação aos povos indígenas e com relação aos camponeses. As experiências que se tinham eram de criar organizações, confrarias de operários, trabalhadores rurais ligados religiosamente à Igreja. Na posição da Comissão Pastoral da Terra, que nasceu em 1975, houve uma revolução Copernicana, assim como houve no Universo Indígena Pastoral Indigenista de respeitar a condição de sujeito dos trabalhadores rurais e não objeto de nossa ação caritativa.
O senhor foi cofundador do Conselho Indigenista Missionário em 1972 e seu segundo presidente. Como avalia a questão indígena no país 40 anos depois?
Dom Tomás Balduíno – Houve avanço no sentido das organizações indígenas. O próprio Conselho Indigenista Missionário tem numa nova política de tratamento aos povos indígenas. Em vez de querer confiná-los em um determinado lugar pastoral, como era antigamente, sugeriu uma proposta – que no início nos chocou e depois se viu que era o “ovo de Colombo” – de favorecer assembleias de chefes de tribos diferentes. Tínhamos receio, porque eram tribos muitas vezes hostis entre si, mas constatamos que eles atenderam ao convite para se reunirem. Passamos a reunir chefes indígenas em assembleias, e eles saíam convictos de que o inimigo do índio nunca era outro índio, e que precisavam recuperar sua cultura e, consequentemente, as terras. Para isso, eles começaram a se organizar em diversas articulações, associações regionais e nacionais. Assim, do lado dos índios houve avanço e eles continuam avançando.
O retrocesso foi do lado do governo que, aliado aos grupos capitalistas do agro e hidronegócio, se negou a demarcar as terras indígenas e enfraqueceu o próprio organismo da Funai, sucateando, de outro lado, o Incra. A mesma falta de vontade para com os povos indígenas é a falta de vontade para com os camponeses em relação à reforma agrária.
Como começou seu trabalho na Comissão Pastoral da Terra – CPT? Em que contexto histórico e político ela surgiu e como vê sua atuação nos dias de hoje?
Dom Tomás Balduíno – A CPT aconteceu num momento de muita animação, decisão, caminhada e energia a favor dos pobres. Foi fruto do Concílio Vaticano II e de Medellín. Havia um clima geral de entusiasmo dentro da própria igreja, na diocese, sobretudo nas congregações religiosas. Portanto, a CPT nasceu com a aceitação da Igreja , e tanto ela quanto o Cimi são pastorais de fronteira, diferentemente das outras pastorais litúrgicas, ecumênicas, bíblicas, de formação catequética ou presbiteral de seminaristas. A CPT e o Cimi trouxeram para dentro da Igreja uma abertura, porque a convivência com esses povos trazia, na pessoa dos agentes de pastoral das CPTs, para o interior da Igreja a preocupação com a situação deles. Houve um crescimento dentro da própria instituição eclesiástica.
Mas essas pastorais mudaram no governo de João Paulo II. Houve um retrocesso dentro da Igreja, no sentido de desconfiança com relação a este mundo externo, essas pastorais, a própria Teologia da Libertação, que é fruto dessas duas pastorais. Então, a Igreja acompanhou um pouco, nesse movimento pendular, o fechamento das pastorais. A CPT chega a ser proibida em determinadas dioceses e isso mostra um pouco o clima que nós vivemos hoje.
Com relação ao seu trabalho, foi um trabalho samaritano, eu diria. O que fez o samaritano? Ele se inclinou diante do caído. Mas ela não criou uma instituição para recolher aquele caído e outros caídos; o levantou e no dia seguinte aquele caído já podia levantar outro caído. A CPT criou vários instrumentos. Quer dizer, na evolução da pastoral, percebeu que direitos humanos, terra e água são três prioridades. Para ajudar o pessoal da terra, ela criou um corpo de advogados, porque ela luta contra o latifúndio, contra o próprio Judiciário, contra todas as forças da elite para garantir o status quo, ao passo que os camponeses vinham trazer uma transformação, por exemplo, contra o latifúndio. Eles ocupavam a terra e o que fazia a CPT diante de toda a aula de legalidade da propriedade? Ela simplesmente apoiava as ocupações de terras numa nova perspectiva que, aliás, é constitucional de prioridade à função social da terra. Isso não era muito bem aceito, nem dentro da Igreja nem dentro da sociedade. O próprio poder Judiciário era muito preso às normas antigas de direitos absolutos à propriedade privada. Isso foi sendo quebrado. A CPT, em um tempo mais remoto, ajudou com agrônomos, porque muitas vezes o pessoal recuperava a terra, mas não sabia mais trabalhar.
Quais são as dificuldades de manter a CPT no Brasil e também dentro dos atuais rumos que a Igreja vem seguindo?
Dom Tomás Balduíno – Com relação à manutenção, a CPT está “ralada”, sem recurso. Ela sofre disso, porque desde o início foi apoiada com recursos externos da Europa. Mas devido à crise econômica e à diminuição no contingente católico, os recursos diminuíram. Outro fenômeno é que essas entidades entraram em convênio com o governo, e passaram a se deparar com exigências capitalistas. Então, a CPT está com esse desafio para resolver. Não se trata do fim ou da dissolução da CPT por faltas de recursos. Mas num país como o nosso, que tem tantos recursos e onde muitas igrejas são florescentes de templos invejáveis em tamanho, conforto etc., pastorais de fronteira estão empobrecidas.
Como o senhor se tornou bispo? Que aspecto destaca da sua atuação como bispo de Goiás?
Dom Tomás Balduíno – Eu era prelado – um padre com direitos de bispo – numa prelazia, que é uma área confiada a uma ordem religiosa. Fui parar em Goiás porque sou goiano. O povo cuidadosamente foi atrás do núncio e disse: “Nós queremos um bispo goiano!”. Ele olhou assim, no elenco deles, e me achou lá no sul do Pará. Eu fui então nomeado o bispo de Goiás, o bispo diocesano por pedido do povo. Muitos se arrependeram. (Risos)
Será?
Dom Tomás Balduíno – Eles queriam um goiano, mas de outro tipo.
Por quê?
Dom Tomás Balduíno – No meu episcopado, iniciado em 1967, propus fazer uma caminhada na linha do Concílio do Vaticano II. Foi interessante, porque era um momento de muito entusiasmo na Igreja como um todo, e eu comecei a receber voluntários de diversas partes do país, que iam para lá colaborar com esse trabalho. Temos um hospital na diocese, e médicos que tinham um futuro promissor em outras áreas deixaram suas carreiras para vir trabalhar aqui. Com isso, houve um fortalecimento da caminhada. Desde o início valorizamos a participação popular na Igreja, não a Igreja Clerical, reservada aos padres, aos religiosos, mas a Igreja Comunhão e Participação.
Iniciei meu episcopado no final de 1967, e no início de 1968 tivemos a convocação da Primeira Assembleia Diocesana. A maioria dos membros da Assembleia já era de leigos e pessoas das comunidades eclesiais de base. Então, você vê o que isso significa como revolução, como transformação. Claro que houve problemas, sobretudo em Goiás, onde há muita tradição das celebrações tradicionais. Eu esclareci que assumiria aquela pastoral do jeito que o povo queria.
Bispos
Como era um momento propício dentro da Igreja, nos ligamos a bispos de outras dioceses, com dom Pedro Casaldáliga, dom Antônio Fragoso, dom Paulo Evaristo Arns, dom Fernando Gomes dos Santos. Além das assembleias da CNBB, nós tínhamos um grupo informal de bispos, que tinha muita liberdade de sentar e chamar a assessoria, coisa que era muito difícil naquele tempo na assembleia dos bispos. Esse grupo informal se reunia com muita cautela, porque tudo era vigiado naquele tempo. Facilmente a polícia e o DOPS entravam em alguma reunião. Então, fazíamos as reuniões às sombras das assembleias da CNBB, que eram muito respeitadas. Isso ajudou a cada um de nós na nossa diocese, e ajudou a própria CNBB, até na escolha de seus presidentes. Não pensem que a aparição de dom Aloísio Lorscheider, Ivo Lorscheiter caiu do céu; foi trabalho desse grupo.
Quais as dificuldades de atuar no período da ditadura? A Igreja esteve bastante dividida nesse período.
Dom Tomás Balduíno – Houve até apoio ao Golpe, “porque nos livrou do comunismo sem derramamento de sangue”, diziam os próprios bispos. O sistema ditatorial tem muita tensão com a Igreja; um coronel inclusive declarou: “Nós conseguimos barrar os estudantes, silenciar a imprensa, está faltando só o púlpito das igrejas”. Nós sabíamos da resistência militar às nossas propostas, porque eram propostas não apenas de aprimoramento da pastoral interna da Igreja, mas de apoio às organizações populares. Segundo José de Souza Martins, o Golpe Militar de 1964 foi dado não exclusivamente, mas principalmente, para quebrar a espinha dorsal das organizações camponesas. Os militares achavam que através delas o comunismo internacional entraria no Brasil.
Como o senhor se sente hoje sendo bispo emérito depois de toda a sua atuação na Igreja?
Dom Tomás Balduíno – Me sinto muito livre. O bispo tem um grande espaço em que pode atuar dentro da Igreja. Isso é tradição, desde Santo Agostinho, Santo Ambrósio, Santo Irineu. Há bispos que eu reconheço, são tímidos, que, aliás, foram ordenados porque são mais piedosos, às vezes, medíocres. Então, depois de emérito, podemos dizer: “Ah, o bispo agora é general de pijama e não tem mais problemas”. Não tenho mais o governo de uma diocese, mas se eu pastoreio, eu pertenço ao Colégio Episcopal, sou membro do Concílio Ecumênico. Então, tenho na Igreja a atuação referente à missão de pastor.
Sou conselheiro da CPT nacional, e assessor do Cimi. Então, sou convidado a participar das assembleias, dos encontros, de maneira que estou presente. Quando mudei de Goiás e vim morar na casa de dominicano, trouxe minhas caixas, meus pertences de serviços, de utilidades, livros etc. Levei quatro meses para começar a abrir aquilo. Eu era chamado para todo o canto. Por isso muitas vezes eu digo, lembrando a palavra de Mandela: “Eu preciso aposentar da aposentadoria”. Mas, por outro lado, isso me estimula.
Como o senhor avalia a situação de dom Pedro Casaldáliga? E de outros bispos, como Dom Erwin, que também são ameaçados de morte pelo trabalho que desenvolvem?
Dom Tomás Balduíno – O Pedro para mim é um ícone. Ele me considera como padrinho, porque no dia em que ele ia responder a carta desistindo de ser bispo, conversou comigo e mudou de ideia. Ele me chamou no quarto e mostrou aquela carta. Eu falei na cara dele: “Olha, Pedro, eu não entendo você! Você aceitou ser prelado, pastor dessa Igreja como presbítero, e na hora de receber o sacramento, a consagração desse pastoreio, você recusa?”. Aí ele pensou um pouco mais, reuniu o pessoal, conversou e a resposta foi favorável. Por causa desse incidente, ele me considera como padrinho. Eu o considero como um verdadeiro irmão e exemplo para a minha vida. É um homem de uma vida extraordinária, uma profunda vida espiritual, mística, um profeta e também um poeta da melhor estirpe.
Pedro ultimamente deu apoio à entrada dos Xavantes na antiga fazenda Suiá-Missu, que estava ocupada por inúmeros fazendões. Mas graças a Deus o Judiciário deu ganho de causa aos Xavantes. Dom Pedro deu apoio, estímulo, e sempre cutucou o governo para não retroceder. O processo está caminhando firmemente. O que fizeram então? Ameaçaram dom Pedro: “Esse aqui tem poucos dias para ser eliminado”. Então, Pedro está refugiado.
Que perspectiva vislumbra para a Igreja brasileira a partir de agora?
Dom Tomás Balduíno – A Igreja depende 99,9% do papa. Então, o Concílio e o Pós-Concílio aconteceram graças primeiro a um papa, um homem extraordinário que foi colocado ali como transição. Ele revirou a igreja de pernas para o ar. O Concílio Vaticano II foi uma coisa notada não só nas Igrejas, mas também no mundo não cristão. Depois Paulo VI aplicou pacientemente o Concílio Vaticano II, e o papa João Paulo II trouxe outra perspectiva. Então, quando muda o papa, muda tudo. Não tudo, porque a Igreja é plural. Mesmo com toda a perspectiva de unidade, ela é plural.
O futuro próximo é a continuidade. Agora, o futuro mais remoto a Deus pertence. Eu acho que tem muito elemento dentro da Igreja no sentido de uma renovação. Será que isso terá acesso ao governo mundial da Igreja na pessoa do papa? Não sei. O futuro a Deus pertence. Mas tem potencial. E o potencial, a meu ver, aponta para outro rumo, não na linha da hierarquia, do clero, do masculino. Mas na linha do leigo e na valorização da mulher.
Gostaria de acrescentar algo?
Dom Tomás Balduíno – Acho importante, com relação a esse conjunto que eu falei, a perspectiva de esperança diante de uma situação de muito sofrimento, de angústia e tristeza.
Sucedeu uma coisa na região da Serra da Mesa onde estão os Avá-Canoeiro: nasceu uma criança chamada Pantio. Fazia 22 anos que não nascia nenhuma criança naquela etnia, que é um grupo destinado à extinção. E, de repente, nasce o Pantio, uma linda criança. Isso tem um sabor de Natal, você não acha? Uma estrela que aponta um caminho bonito, um caminho de esperança, um caminho da boa nova, como aconteceu para os magos. Isso que eu queria colocar aqui como perspectiva. De onde se esperava a morte nasceu a vida. E essa vida não é só para os povos indígenas, não é só para o grupo Avá-Canoeiro, mas para todos nós, para o mundo todo. Amém!
Fonte: Revista família Cristã
Meditando o Evangelho de hoje
Dia Litúrgico: Domingo, 20 de Janeiro
Evangelho de hoje: Jo 2,1-11
2º Domingo do Tempo Comum
Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: "Eles já não têm vinho”. Respondeu-lhe Jesus: "Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou”. Disse, então, sua mãe aos serventes: "Fazei o que ele vos disser”. Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. Jesus ordena-lhes: "Enchei as talhas de água”. Eles encheram-nas até em cima. "Tirai agora” – disse-lhes Jesus – "e levai ao chefe dos serventes”. E levaram. Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, [...] chamou o noivo e disse-lhe: "É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora”. [...]
Lectio Divina
Leitura: "Disse, então, sua mãe aos serventes: ‘Fazei o que ele vos disser’”.
Meditação: Jesus sempre está atento às nossas necessidades, mesmo as mais simples. Nesse texto notamos também a intercessão de Maria e sua missão de ensinar os cristãos à fazer a vontade de Jesus.
Oração: Senhor Jesus, Deus da paz, do amor e da alegria, obrigado por se preocupar comigo e com minhas necessidades. Que pela minha fé, meus familiares e amigos, também experimentem a sua bondade.
Ação: Contarei sempre com a ação bondosa de Jesus e com a intercessão de Maria.
Fonte: Editora Ave Maria
Ainda Epifania!
Fonte: Dom Henrique
Em
certo sentido, a liturgia da Palavra deste segundo Domingo comum, ainda
está ligada ao Santo Natal, tempo da manifestação do Senhor. Na
liturgia da Igreja antiga, a festa da Epifania, da Manifestação,
celebrava, de uma só vez e num só dia, a visita dos Magos, o batismo de
Jesus e as bodas da Caná.
São
três momentos da Manifestação do Senhor: aos Magos, Ele Se manifestou
como Rei dos Judeus pelo brilho da Estrela; no batismo, o Pai O
manifestou como Messias de Israel, ungindo-O com o Espírito Santo para a
missão e, em Caná, Jesus manifestou a Sua glória ao transformar a água
em vinho, e os Seus discípulos creram Nele.
Portanto,
estamos ainda em clima de Manifestação, de Epifania Daquele que veio do
Pai para nossa salvação; e é neste contexto que as leituras da Missa de
hoje devem ser interpretadas.

Fonte: Dom Henrique
sábado, 19 de janeiro de 2013
| 90 anos de transformações na Igreja. |
![]()
Dom
Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás, pertence a uma geração de
bispos brasileiros que identifica na missão da Igreja uma transformação
social. Ele esteve à frente da criação da Comissão Pastoral da Terra – CPT
e do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, onde, ainda hoje, atua
com bastante entusiasmo. Na entrevista a seguir, concedida por telefone à
IHU On-Line, Dom Tomás recorda sua trajetória na Igreja e enfatiza que a
"CPT aconteceu num momento de muita animação, decisão, caminhada e
energia a favor dos pobres. Foi fruto do Concílio Vaticano II e de Medellín”.
Para ele, tanto a CPT quanto o Cimi "trouxeram para dentro da Igreja
uma abertura, porque a convivência com esses povos trazia, na pessoa dos
agentes de pastoral das CPTs, para o interior da Igreja a preocupação
com a situação deles”. E conclui: "Houve um crescimento dentro da
própria instituição eclesiástica”. (Fonte: CPT)
|
A CF 2013 e a Juventude
“Salve Jorge”: da Capadócia ou da Palestina?
19/01/2013
No Brasil e alhures são milhões que veem novelas. Atualmente uma,
“Salve Jorge”, se desenrola na Capadócia, Turquia, onde teria vivido
São Jorge.
Entre os estudiosos há uma antiga discussão sobre o lugar de seu nascimento. Ela vem largamente discutida por Malga di Paulo, pesquisadora da vida do santo e que forneceu os dados para a atual novela. Um livro seu deverá sair brevemente. Para Malga que conhece a fundo a Capadócia, todos os indícios levam àquele lugar como a pátria natal deste famoso mártir. Outros o colocam em Lod na Palestina, hoje Israel, onde se construiu um santuário em sua homenagem.
É muito pouco o que podemos dizer de forma segura sobre o tema. A escola de historiadores críticos da vida dos santos e dos mártires, surgida a partir do século XVII, os Bolandistas, e sua obra a Acta Sanctorum deixa a questão em aberto. Outro grupo, criado ao redor de A. Buttler, baseando-se nos Bolandistas e acessível em portugues em 12 volumes, A Vida dos Santos (Vozes 1984) assevera: ”Há toda uma série de motivos para se acreditar que São Jorge foi um mártir verdadeiro e real que sofreu a morte em Lida na Palestina provavelmente na época anterior a Constantino (306-337). Fora disso, parece que nada mais se pode afirmar com segurança”( vol. IV, p. 188).
Minha tendência é afirmar a Palestina e não Capadócia como o lugar de seu nascimento. A razão se prende ao fato de que teria havido uma confusão de nomes. Com efeito, havia na Capadócia um bispo chamado Jorge da Capadócia, fato historicamente bem atestado. Entrou na história da teologia, em razão das polêmicas acerca da natureza de Cristo: seria só semelhante a de Deus (arianos) ou seria da mesma natureza (anti-arianos)? Tal discussão dividiu a Igreja. O imperador Constâncio II (um de seus títulos era de Papa) queria assegurar a unidade do império mediante uma confissão única, no caso, a ariana. Militarmente ocupou Alexandria, foco da resistência anti-ariana e impôs Jorge da Capadócia como bispo ariano (357-361), mais tarde assassinado. Isso consta até nos manuais de teologia.
Minha hipótese é que os primeiros compiladores da vida de São Jorge, já no século V e depois, no século XII, com o autor da Legenda Aurea, Jacobus de Veragine, confundiram São Jorge com esse conhecido Jorge da Capadócia e assim o fizeram nascer ai. Uma hipótese.
Deixando a discussão de lado, importa lembrar sua figura mais conhecida: um guerreiro, montado sobre um cavalo branco, vestido de couraça, com uma cruz vermelha num fundo branco, enfrentando terrível dragão com sua lança pontiaguda.
Por seu pai ter sido militar, seguiu essa carreira. Foi tão brilhante que o imperador Diocleciano o incorporou à sua guarda pessoal com a alta patente de Tribuno. Quando este imperador obrigou todos os soldados cristãos a renunciarem a fé cristã e adorarem os deuses romanos, sob pena de morte, Jorge se recusou e saiu em defesa de seus irmãos de fé. Preso e torturado, miraculosamente passou, diz a lenda, ileso do caldeirão de chumbo e de vários envenenamentos. Mas acabou sendo decapitado.
No início, no Ocidente, era venerado apenas como um simples mártir com sua palma típica. Com tempo e especialmente devido às cruzadas foi feito guerreiro com seus instrumentos próprios, especialmente associado ao enfrentamento com o dragão, símbolo do mal e do demônio. A lenda mais conhecida no Ocidente é a seguinte:
Certa feita, Jorge, como militar, passou pela Líbia no norte da África. Na pequena cidade de Silene o povo vivia apavorado. Num brejo vizinho reinava terrível dragão. Seu sopro era tão mortífero que ninguém podia se aproximar para matá-lo. Cobrava cada dia dois carneiros. Terminados estes, exigia vítimas humanas, escolhidas por sorteio. Um dia a sorte caiu sobre a filha do rei. Vestida de noiva foi ao encontro da morte. Eis senão quando, surge São Jorge com seu cavalo branco e com sua longa lança. Fere o dragão e domina-o. Amarra-lhe a boca com o cinto da princesa. Esta o conduz manso com um cordeiro até o centro da cidade. Todos, agradecidos, se converteram à fé crista.
É patrono da Inglaterra, já a partir de 1222 mas oficialmente só em 1347 com Eduardo III com festa solene (the St.George’s Day), da Rússia, de Portugal, da Bulgária, da Grécia, da província da Catunha e de muitas outras cidades.
Uma polêmica se instaurou quando o Vaticano em 1969 fez uma revisão da lista dos santos e retirou dela o popular São Jorge, por motivos não totalmente claros. Houve uma grita geral, especialmente, por parte da Inglaterra, da Catalunha e também do time de futebol, o Corinthians de quem é patrono. O Card. Dom Paulo Evaristo Arns, corinthiano fervoroso, intercedeu junto ao Papa Paulo VI para que mantivesse a veneração de São Jorge, ao menos como clebração optativa. Ao que o Papa respondeu: ”Não podemos prejudicar nem Inglaterra nem a Nação corinthiana; prossigam com a devoção”. Em 2000 João Paulo II, com senso pastoral, restabeleceu a festa. Ele está presente nas tradições afro: Ogum para a Umbanda e Oxossi para o candomblé-nagô. No Rio, o dia 23 de abril, sua festa, é feriado municipal, pois é o patrono de fato da cidade embora de direito seja São Sebastião.
No próximo artigo tentaremos decifrar o arquétipo de base que subjaz ao guerreiro São Jorge e ao dragão. Enquanto isso, fazemos nossa a oração popular: ”Andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos, não me peguem e tendo olhos não me enxerguem…E meus inimigos fiquem humildes e submissos a Vós. Amém”.
Leonardo Boff foi por muitos anos professor de história dos dogmas no Instituto Franciscano de Teologia de Petrópolis Rio.
Fonte: L. Boff
Entre os estudiosos há uma antiga discussão sobre o lugar de seu nascimento. Ela vem largamente discutida por Malga di Paulo, pesquisadora da vida do santo e que forneceu os dados para a atual novela. Um livro seu deverá sair brevemente. Para Malga que conhece a fundo a Capadócia, todos os indícios levam àquele lugar como a pátria natal deste famoso mártir. Outros o colocam em Lod na Palestina, hoje Israel, onde se construiu um santuário em sua homenagem.
É muito pouco o que podemos dizer de forma segura sobre o tema. A escola de historiadores críticos da vida dos santos e dos mártires, surgida a partir do século XVII, os Bolandistas, e sua obra a Acta Sanctorum deixa a questão em aberto. Outro grupo, criado ao redor de A. Buttler, baseando-se nos Bolandistas e acessível em portugues em 12 volumes, A Vida dos Santos (Vozes 1984) assevera: ”Há toda uma série de motivos para se acreditar que São Jorge foi um mártir verdadeiro e real que sofreu a morte em Lida na Palestina provavelmente na época anterior a Constantino (306-337). Fora disso, parece que nada mais se pode afirmar com segurança”( vol. IV, p. 188).
Minha tendência é afirmar a Palestina e não Capadócia como o lugar de seu nascimento. A razão se prende ao fato de que teria havido uma confusão de nomes. Com efeito, havia na Capadócia um bispo chamado Jorge da Capadócia, fato historicamente bem atestado. Entrou na história da teologia, em razão das polêmicas acerca da natureza de Cristo: seria só semelhante a de Deus (arianos) ou seria da mesma natureza (anti-arianos)? Tal discussão dividiu a Igreja. O imperador Constâncio II (um de seus títulos era de Papa) queria assegurar a unidade do império mediante uma confissão única, no caso, a ariana. Militarmente ocupou Alexandria, foco da resistência anti-ariana e impôs Jorge da Capadócia como bispo ariano (357-361), mais tarde assassinado. Isso consta até nos manuais de teologia.
Minha hipótese é que os primeiros compiladores da vida de São Jorge, já no século V e depois, no século XII, com o autor da Legenda Aurea, Jacobus de Veragine, confundiram São Jorge com esse conhecido Jorge da Capadócia e assim o fizeram nascer ai. Uma hipótese.
Deixando a discussão de lado, importa lembrar sua figura mais conhecida: um guerreiro, montado sobre um cavalo branco, vestido de couraça, com uma cruz vermelha num fundo branco, enfrentando terrível dragão com sua lança pontiaguda.
Por seu pai ter sido militar, seguiu essa carreira. Foi tão brilhante que o imperador Diocleciano o incorporou à sua guarda pessoal com a alta patente de Tribuno. Quando este imperador obrigou todos os soldados cristãos a renunciarem a fé cristã e adorarem os deuses romanos, sob pena de morte, Jorge se recusou e saiu em defesa de seus irmãos de fé. Preso e torturado, miraculosamente passou, diz a lenda, ileso do caldeirão de chumbo e de vários envenenamentos. Mas acabou sendo decapitado.
No início, no Ocidente, era venerado apenas como um simples mártir com sua palma típica. Com tempo e especialmente devido às cruzadas foi feito guerreiro com seus instrumentos próprios, especialmente associado ao enfrentamento com o dragão, símbolo do mal e do demônio. A lenda mais conhecida no Ocidente é a seguinte:
Certa feita, Jorge, como militar, passou pela Líbia no norte da África. Na pequena cidade de Silene o povo vivia apavorado. Num brejo vizinho reinava terrível dragão. Seu sopro era tão mortífero que ninguém podia se aproximar para matá-lo. Cobrava cada dia dois carneiros. Terminados estes, exigia vítimas humanas, escolhidas por sorteio. Um dia a sorte caiu sobre a filha do rei. Vestida de noiva foi ao encontro da morte. Eis senão quando, surge São Jorge com seu cavalo branco e com sua longa lança. Fere o dragão e domina-o. Amarra-lhe a boca com o cinto da princesa. Esta o conduz manso com um cordeiro até o centro da cidade. Todos, agradecidos, se converteram à fé crista.
É patrono da Inglaterra, já a partir de 1222 mas oficialmente só em 1347 com Eduardo III com festa solene (the St.George’s Day), da Rússia, de Portugal, da Bulgária, da Grécia, da província da Catunha e de muitas outras cidades.
Uma polêmica se instaurou quando o Vaticano em 1969 fez uma revisão da lista dos santos e retirou dela o popular São Jorge, por motivos não totalmente claros. Houve uma grita geral, especialmente, por parte da Inglaterra, da Catalunha e também do time de futebol, o Corinthians de quem é patrono. O Card. Dom Paulo Evaristo Arns, corinthiano fervoroso, intercedeu junto ao Papa Paulo VI para que mantivesse a veneração de São Jorge, ao menos como clebração optativa. Ao que o Papa respondeu: ”Não podemos prejudicar nem Inglaterra nem a Nação corinthiana; prossigam com a devoção”. Em 2000 João Paulo II, com senso pastoral, restabeleceu a festa. Ele está presente nas tradições afro: Ogum para a Umbanda e Oxossi para o candomblé-nagô. No Rio, o dia 23 de abril, sua festa, é feriado municipal, pois é o patrono de fato da cidade embora de direito seja São Sebastião.
No próximo artigo tentaremos decifrar o arquétipo de base que subjaz ao guerreiro São Jorge e ao dragão. Enquanto isso, fazemos nossa a oração popular: ”Andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos, não me peguem e tendo olhos não me enxerguem…E meus inimigos fiquem humildes e submissos a Vós. Amém”.
Leonardo Boff foi por muitos anos professor de história dos dogmas no Instituto Franciscano de Teologia de Petrópolis Rio.
Fonte: L. Boff
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