terça-feira, 18 de dezembro de 2012

"Um filho foi-nos dado"


Carta de Natal de dom Francesco Cavina, bispo de Carpi, Itália

CARPI, terça-feira, 18 de dezembro de 2012 (ZENIT.org) - "O Filho de Deus, fazendo-se homem, veio nos revelar quem é Deus e quem é o homem". Desta revelação partem as reflexões que o bispo de Carpi, dom Francesco Cavina, dedica neste natal ao mistério da paternidade de Deus, numa carta intitulada "Um filho foi-nos dado".
"O que significa reconhecer que Deus é Pai? O que significa o fato de Jesus ser o Filho de Deus?" Estas são as perguntas iniciais do idílico percurso por que Cavina conduz o leitor, através das referências à Palavra de Deus e aos Padres da Igreja, coletando ainda pensamentos e provocações de autores contemporâneos.
"Ao enviar o Filho, o Pai nos enviou outro ‘Si mesmo’", diz Santo Agostinho: Jesus, portanto, escreve o bispo, “não veio apenas revelar-nos quem é Deus, mas fazer os homens entenderem o que sempre foram no plano de Deus: filhos. Àqueles que o acolhem, o Verbo Encarnado dá o poder de se tornarem filhos de Deus. A nossa filiação é um dom recebido, um ‘poder’ que nos é dado, uma graça que alcança a nossa vida".
Estamos diante do mistério da Encarnação e do Natal, no seu mais verdadeiro significado de dom gratuito para a felicidade e para a liberdade. É um caminho que toca em algumas das declarações de Jesus na Última Ceia, diante das quais, escreve o bispo de Carpi, "é de se ficar atordoado"; uma estrada que vai do reconhecer-se do pai-nosso, rico em misericórdia, ao sentir-se filhos e, portanto, irmãosem Jesus Cristo.
A conclusão das reflexões aborda a identidade e a missão da Igreja como lugar onde "o Pai, o Filho e o Espírito Santo vêm até nós, se interessam por nós, ainda que, ao mesmo tempo, aconteçam traições terríveis. Habituar-nos a este milagre pode nos tirar também a reverência e nos tornar inconscientes. Continua sendo verdade, porém, que ficamos cara a cara com Aquele que nos criou, que criou os céus e a terra, com Aquele que, na hora em que pudermos vê-lo, nos deixará infinitamente espupefatos".
O mesmo estupor é incentivado como atitude para o leitor, que se sente “levado pela mão” até a frente do estábulo de Belém, convidado a presenciar a revelação de Deus Paiem seu Filho Jesus.
O texto da carta está disponível no site da diocese de Carpi, em italiano: www.carpi.chiesacattolica.it
Tudo fala de Ti, tudo prepara para Ti, tudo Te anuncia!


“Predito por todos os profetas,
esperado com amor de mãe pela Virgem Maria,
Jesus foi anunciado e mostrado presente no mundo por são João Batista.
O próprio Senhor nos dá a alegria de entrarmos agora no mistério do Seu Natal,
para que Sua chegada nos encontre vigilantes na oração e celebrando os Seus louvores” (Liturgia do Advento).

Em que sentido podem os cristãos afirmar que Jesus foi “predito por todos os profetas”? Não seria esta afirmação um exagero, uma extrapolação? Não!
Os cristãos não afirmam que todos os profetas falaram explicitamente do Messias que viria; não afirmam também que todos os livros das Escrituras dos judeus falam explicitamente do Messias que viria.
Os cristãos professam, sabem e têm convicta e serena certeza que toda a Escritura e toda a história de Israel, antigo povo de Deus, caminham misteriosamente para o Cristo Jesus. Neste sentido, é toda a Escritura, é toda profecia, é cada acontecimento da história do Israel da Antiga Aliança que, pouco a pouco, apontam para o Cristo, testemunham-No, levam a Ele, na medida da presciência misteriosa do Deus Santo, que no Espírito do Seu Filho já falava pelos profetas e já fecundava a toda a história de Israel, mesmo nos seus momentos mais obscuros e sofridos... “Como é profunda a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus! Como são insondáveis as Suas decisões, e como são impenetráveis Seus caminhos! Quem poderá compreender o pensamento do Senhor? Quem foi o Seu conselheiro? Quem Lhe emprestou alguma coisa, para que Ele tenha algo a devolver? Porque todas as coisas vêm Dele, por meio Dele e vão para Ele. A Ele pertence a glória para sempre. Amém” (Rm 11,33-36).



Escrito por Dom Henrique 

Juventude Missionária avalia caminhada e aponta desafios

Por Jaime Carlos Patias   
15 / Dez / 2012 08:34
Os coordenadores estaduais da Juventude Missionária (JM) do Brasil, reunidos em Brasília na 5ª Assembleia Nacional da Pontifícia Obra da Propagação da Fé apontaram, na tarde desta sexta-feira, 14, as principais realizações e desafios enfrentados nas atividades.
Para Fernando Diego Furtado, coordenador da JM no estado do Amazonas, uma das dificuldades encontradas na região é a falta de compromisso das pessoas para assumir o trabalho. “O pouco conhecimento da JM no estado e a sua integração com a catequese, são outros desafios enfrentados no momento”.
Articular a JM nas dioceses que ainda não tem Infância e Adolescência Missionária (IAM), cooperar com a Missão permanente, dialogar com as juventudes, articular a missão além-fronteiras e ad gentes, encontrar assessores com o carisma da JM e assumir uma atitude mais profética diante das questões sociais, foram desafios apontados por Érica Júlia Ventura, coordenadora da JM em Minas Gerais, estado que conta com 28 dioceses. Os destaques positivos da JM no estado são, segundo a coordenadora, “a participação na vida da comunidade, a articulação por província eclesiástica, as parcerias com a IAM, o COMIRE e o Conselho Missionário dos Seminários (COMISE), os encontros paroquiais, diocesanos e estaduais, a interação através dos meios de comunicação e a participação nas Santas Missões Populares”.
Em Sergipe, nas três dioceses, Aracajú, Propriá e Estância, existem grupos de JM. Segundo a coordenadora estadual, Fernanda Rodrigues Santana “a questão financeira, a articulação do Conselho Missionário Regional (COMIRE) e a falta de perseverança dos jovens são as principais dificuldades”. Fernanda avalia como pontos positivos a parceria da JM com a Infância e Adolescência Missionária (IAM). “Os nossos trabalhos são feitos juntos”. Destacou ainda o reconhecimento e o apoio por parte dos padres e das Religiosas. Sobre a articulação e organização destaca “a boa comunicação entre as três dioceses o que fortalece o trabalho”. O comprometimento dos jovens, as missões realizadas, as implantações de novos grupos, são outras luzes.
Gabriel Araújo Pacheco, representante da JM do estado de Tocantins destacou como positivo “a boa organização na coordenação, o apoio dos bispos das cinco dioceses no estado e o acompanhamento das Irmãs religiosas”. Já os maiores desafios, segundo ele, são “as distâncias entre as dioceses, o insuficiente domínio da metodologia e o fraco conhecimento do que é a JM por parte de membros do clero”.
Em geral os grandes desafios apontados pelos coordenadores foram a organização e articulação de equipes, o comprometimento dos jovens, a formação dentro da metodologia da JM e a resistência por parte de alguns padres e grupos de jovens em aderir ou apoiar os trabalhos.
Com o tema “Ide e fazei discípulos entre todas as nações!” (Mt 28, 19), e lema: “Eis-me aqui envia-me” (Is 6, 8), a 5ª Assembleia da Obra da Propagação da Fé teve início no último dia 13 e se estenderá até domingo, 16. Além dos coordenadores estaduais da JM, participam ainda representantes das Famílias Missionárias, Idosos e Enfermos Missionários, atividades que juntamente com a Juventude Missionária, fazem parte da mesma Obra.
Por Papa Bento XVI   
17 / Dez / 2012 07:36 
Dia Mundial da Paz 1º de janeiro de 2013


Bem-aventurados os obreiros da paz

1. Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspectiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações duma vida feliz e próspera.

À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias, anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos.

Na realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo.

Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens.

E no entanto as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus.

Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: «Bem--aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9).

A bem-aventurança evangélica

2. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23) são promessas. Com efeito, na tradição bíblica, a bem-aventurança é um género literário que traz sempre consigo uma boa nova, ou seja um evangelho, que culmina numa promessa. Assim, as bem-aventuranças não são meras recomendações morais, cuja observância prevê no tempo devido – um tempo localizado geralmente na outra vida – uma recompensa, ou seja, uma situação de felicidade futura; mas consistem sobretudo no cumprimento duma promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da justiça e do amor. Frequentemente, aos olhos do mundo, aqueles que confiam em Deus e nas suas promessas aparecem como ingénuos ou fora da realidade; ao passo que Jesus lhes declara que já nesta vida – e não só na outra – se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles. Compreenderão que não se encontram sozinhos, porque Deus está do lado daqueles que se comprometem com a verdade, a justiça e o amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-Se a Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na própria vida de Deus, isto é, a vida da graça, penhor duma vida plenamente feliz. De modo particular, Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus.

A bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teorico-práticos meramente subjectivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, « o Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com a paz » (v. 11).

A paz: dom de Deus e obra do homem

3. A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris – cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça.A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício.

Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigénito. Assim o homem pode vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas.

A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e animadas por um «nós» comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros comparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir.

A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenómenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação dum mundo novo. Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem (cf. Jr 31, 31-34), oferecendo-nos a possibilidade de ter « um coração novo e um espírito novo » (cf. Ez 36, 26).

Por isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal factor do desenvolvimento integral dos povos e também da paz. Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18). O obreiro da paz, segundo a bem--aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.

A partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade – religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. Esta consiste, principalmente, na realização do bem comum das várias sociedades, primárias e intermédias, nacionais, internacionais e a mundial. Por isso mesmo, pode-se supor que os caminhos para a implementação do bem comum sejam também os caminhos que temos de seguir para se obter a paz.

Obreiros da paz são aqueles que amam,defendem e promovem a vida na sua integridade

4. Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspectos, a começar da concepção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.

Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se dêem conta de que assim estão a propor a prossecução duma paz ilusória. A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz. Na verdade, como se pode pensar em realizar a paz, o desenvolvimento integral dos povos ou a própria salvaguarda do ambiente, sem estar tutelado o direito à vida dos mais frágeis, a começar pelos nascituros? Qualquer lesão à vida, de modo especial na sua origem, provoca inevitavelmente danos irreparáveis ao desenvolvimento, à paz, ao ambiente. Tão pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida.

Também a estrutura natural do matrimónio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter peculiar e a sua insubstituível função social.

Estes princípios não são verdades de fé, nem uma mera derivação do direito à liberdade religiosa; mas estão inscritos na própria natureza humana – sendo reconhecíveis pela razão – e consequentemente comuns a toda a humanidade. Por conseguinte, a acção da Igreja para os promover não tem carácter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentemente da sua filiação religiosa. Tal acção é ainda mais necessária quando estes princípios são negados ou mal entendidos, porque isso constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma ferida grave infligida à justiça e à paz.

Por isso, uma importante colaboração para a paz é dada também pelos ordenamentos jurídicos e a administração da justiça quando reconhecem o direito ao uso do princípio da objecção de consciência face a leis e medidas governamentais que atentem contra a dignidade humana, como o aborto e a eutanásia.

Entre os direitos humanos basilares mesmo para a vida pacífica dos povos, conta-se o direito dos indivíduos e comunidades à liberdade religiosa. Neste momento histórico, torna-se cada vez mais importante que este direito seja promovido não só negativamente, como liberdade de – por exemplo, de obrigações e coacções quanto à liberdade de escolher a própria religião –, mas também positivamente, nas suas várias articulações, como liberdade para: por exemplo, para testemunhar a própria religião, anunciar e comunicar a sua doutrina; para realizar actividades educativas, de beneficência e de assistência que permitem aplicar os preceitos religiosos; para existir e actuar como organismos sociais, estruturados de acordo com os princípios doutrinais e as finalidades institucionais que lhe são próprias. Infelizmente vão-se multiplicando, mesmo em países de antiga tradição cristã, os episódios de intolerância religiosa, especialmente contra o cristianismo e aqueles que se limitam a usar os sinais identificadores da própria religião.

O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos.

E, entre os direitos e deveres sociais actualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao facto, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento económico dependeria sobretudo da liberdade total dos mercados. Assim o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros. A propósito disto, volto a afirmar que não só a dignidade do homem mas também razões económicas, sociais e políticas exigem que se continue « a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção ».4 Para se realizar este ambicioso objectivo, é condição preliminar uma renovada apreciação do trabalho, fundada em princípios éticos e valores espirituais, que revigore a sua concepção como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade. A um tal bem corresponde um dever e um direito, que exigem novas e ousadas políticas de trabalho para todos.

Construir o bem da paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia

5. De vários lados se reconhece que, hoje, é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão da economia. Quer um desenvolvimento integral, solidário e sustentável, quer o bem comum exigem uma justa escala de bens-valores, que é possível estruturar tendo Deus como referência suprema. Não basta ter à nossa disposição muitos meios e muitas oportunidades de escolha, mesmo apreciáveis; é que tanto os inúmeros bens em função do desenvolvimento como as oportunidades de escolha devem ser empregues de acordo com a perspectiva duma vida boa, duma conduta recta, que reconheça o primado da dimensão espiritual e o apelo à realização do bem comum. Caso contrário, perdem a sua justa valência, acabando por erguer novos ídolos.

Para sair da crise financeira e económica actual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico. O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa óptica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade. Olhando de outra perspectiva, porém, o sucesso verdadeiro e duradouro pode ser obtido com a dádiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da própria capacidade de iniciativa, já que o desenvolvimento económico suportável, isto é, autenticamente humano tem necessidade do princípio da gratuidade como expressão de fraternidade e da lógica do dom. Concretamente na actividade económica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a actividade económica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.

No âmbito econômico, são necessárias – especialmente por parte dos Estados – políticas de desenvolvimento industrial e agrícola que tenham a peito o progresso social e a universalização de um Estado de direito e democrático. Fundamental e imprescindível é também a estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial; devem ser estabilizados e melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres. A solicitude dos diversos obreiros da paz deve ainda concentrar-se – com mais determinação do que tem sido feito até agora – na consideração da crise alimentar, muito mais grave do que a financeira. O tema da segurança das provisões alimentares voltou a ser central na agenda política internacional, por causa de crises relacionadas, para além do mais, com as bruscas oscilações do preço das matérias--primas agrícolas, com comportamentos irresponsáveis por parte de certos agentes económicos e com um controle insuficiente por parte dos Governos e da comunidade internacional. Para enfrentar semelhante crise, os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objectivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua actividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e económico.

Educação para uma cultura da paz, o papel da família e das instituições

6. Desejo veementemente reafirmar que os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.

Ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Ela possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado recíproco. De modo especial, a família cristã guarda em si o primordial projecto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino. A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização duma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor.

Nesta tarefa imensa de educar para a paz, estão envolvidas de modo particular as comunidades dos crentes. A Igreja toma parte nesta grande responsabilidade através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades. O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.

Uma missão especial em prol da paz é desempenhada pelas instituições culturais, escolásticas e universitárias. Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais. Podem também contribuir para uma reflexão científica que radique as actividades económicas e financeiras numa sólida base antropológica e ética. O mundo actual, particularmente o mundo da política, necessita do apoio dum novo pensamento, duma nova síntese cultural, para superar tecnicismos e harmonizar as várias tendências políticas em ordem ao bem comum. Este, visto como conjunto de relações interpessoais e instituições positivas ao serviço do crescimento integral dos indivíduos e dos grupos, está na base de toda a verdadeira educação para a paz.

Uma pedagogia do obreiro da paz

7. Concluindo, há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem comum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será « dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar »,7 de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf. Mt 5, 21-48). É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança.

Jesus encarna o conjunto destas atitudes na sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. Mt 10, 39; Lc 17, 33; Jo 12, 25). E promete aos seus discípulos que chegarão, mais cedo ou mais tarde, a fazer a descoberta extraordinária de que falamos no início: no mundo, está presente Deus, o Deus de Jesus Cristo, plenamente solidário com os homens. Neste contexto, apraz-me lembrar a oração com que se pede a Deus para fazer de nós instrumentos da sua paz, a fim de levar o seu amor onde há ódio, o seu perdão onde há ofensa, a verdadeira fé onde há dúvida. Por nossa vez pedimos a Deus, juntamente com o Beato João XXIII, que ilumine os responsáveis dos povos para que, junto com a solicitude pelo justo bem-estar dos próprios concidadãos, garantam e defendam o dom precioso da paz; inflame a vontade de todos para superarem as barreiras que dividem, reforçarem os vínculos da caridade mútua, compreenderem os outros e perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias, de tal modo que, em virtude da sua acção, todos os povos da terra se tornem irmãos e floresça neles e reine para sempre a tão suspirada paz.

Com esta invocação, faço votos de que todos possam ser autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.

Vaticano, 8 de Dezembro de 2012.

Aumento do Trabalho Infantil no Equador  
O fenômeno do trabalho infantil continua aumentando pelas ruas de Quito, não obstante a vontade de erradicá-lo no país. Na capital do Equador, se encontram pequenos vendedores de todos os gêneros de mercadoria, obrigados ou não pelos respectivos pais a trabalhar em míseras condições.

Há também muitas mães desempregadas, com famílias numerosas, que para manter os próprios filhos são obrigados a trabalhar com elas.
Segundo os dados da Agência Fides, o Ministério para a Inclusão Econômica e Social (MIES) refere que no Equador 290 mil crianças trabalham voluntariamente e involuntariamente, alguns pelas ruas e outros nas fábricas ou no campo. Não se têm dados precisos sobre o número efetivo dos menores que trabalham e são explorados, mas, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INEC), em dezembro de 2011 de 3.675.803 de crianças e adolescentes equatorianos entre cinco e 17 anos de idade, 213.146 trabalhavam.
Fonte: Agência Fides

Sociedade civil: a fera amansada

Alvaro Bianchi
As últimas décadas do século XX presenciaram a emergência de novos movimentos sociais e de um renovado associativismo. Vinculado ao vigoroso ascenso dos movimentos sociais no final da década de 60, à luta pela expansão dos direitos fundamentais e à afirmação da identidade de atores sociais até então marginalizados, esse processo renovou as formas tradicionais de participação política introduzindo novas tácticas de mobilização popular e novas formas organizativas.
Novas formas de associação
De maneira genérica, podemos apontar três processos que ocorreram a partir do final dos anos 1960 e formatam o contexto no qual esses novos movimentos e organizações tiveram lugar: crise/crítica das formas tradicionais de organização política consubstanciadas nos partidos comunistas e social-democratas e nos sindicatos tradicionais; crise/crítica do Estado de bem-estar social e do seu potencial de controle e passivação das classes subalternas; crise/crítica dos regimes antidemocráticos da América Latina e do Leste europeu.
Tais processos, combinados de maneira desigual, deram origem a formas de associação e participação política que, rompendo com antigas instituições, inauguraram um novo ciclo de organização popular, introduzindo práticas sociais inovadoras, criando novos espaços de participação política, reinventando a solidariedade e produzindo formas originais de organização.
A emergência de uma dimensão produtiva na sociedade civil tem alimentado as teorias ditas do terceiro sector, do sector não-lucrativo ou sector público não-estatal. Nessas teorias, é identificada a possibilidade de uma esfera que, definindo-se como pública porque voltada ao interesse geral, coloca-se à margem do Estado, retirando a sua força da sociedade civil. É esta a esfera dos novos movimentos sociais, as associações sem fins lucrativos e as organizações não-governamentais (ONGs) que, ocupando espaços que o Estado não pode ou não quer preencher, produziriam bens e serviços de interesse colectivo.
O facto de tais organizações se definirem como autônomas não tem impedido que, cada vez mais, realizem parcerias e convênios com o Estado e o sector privado. Através de contratos e financiamento, os Governos transferem, assim, para as organizações da sociedade civil parte das suas funções. Noutros casos, o Estado cede instalações e serviços já existentes a esse sector, como no processo de reforma do Estado na Inglaterra de Margaret Thatcher ou no projeto de criação de organizações sociais e reforma do Estado de Luiz Carlos Bresser Pereira no Brasil. A relação poderia, ainda, envolver o sector privado que, através de «parcerias estratégicas» com organizações da sociedade civil, implementaria estratégias de desenvolvimento econômico e social ou forneceria serviços necessários para, principalmente, comunidades carentes. Por último, existem situações em que agências internacionais de financiamento, como o Banco Mundial e a United States Agency for International Development (USAID), realizam acordos de cooperação com tais organizações para a implementação de projetos políticos, econômicos e sociais.
Da dependência financeira…
Essa estreita relação existente entre as organizações da sociedade civil, o Estado e o mercado coloca sérias dificuldades para se pensar a autonomia das primeiras em relação às demais. As pesquisas comparativas que têm sido realizadas indicam a inexistência de uma clara autonomia financeira. O estudo internacional dirigido por Lester Salamon indicou que, para um conjunto de 35 países, uma média de 35% dos recursos das organizações do chamado «sector não lucrativo» eram provenientes dos cofres públicos, 53,4% da cobrança de taxas e apenas 11,7% de filantropia. Na Irlanda e na Bélgica a participação do Estado nessas receitas chega a 77%. No Brasil a fraca participação do Governo –15% – é compensada pela elevada cobrança de taxas, geralmente como contrapartida dos usuários de serviços públicos, responsável por 77% do orçamento dessas organizações.
É preciso, entretanto, tomar com cuidado esses dados. Nos países chamados «em desenvolvimento» há outras fontes de recursos, como os financiamentos provenientes de agências internacionais e de ONGs e associações com sede nos países capitalistas centrais. Os dados de Salomon não dão conta desses recursos, mas uma pesquisa da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), com as suas associadas revelou que a principal fonte de receitas são as «agências internacionais de cooperação», responsáveis por 43% do orçamento, enquanto órgãos estatais nacionais, estaduais e municipais eram responsáveis por outros 20%.
à dependência política
Governos e agências internacionais tem definido, por meio desses recursos, a agenda de organizações da sociedade civil. Tais agendas, formatadas por meio das parcerias e convênios estabelecidos, minaram a autonomia de muitas dessas organizações. Em muitos casos estas transformaram-se em meios de preservação do status quo econômico, político e social ou mesmo de conformação de um sistema de dominação que restringe a ação autônoma e a oposição. Não é só a ideia da autonomia que é abalada por tais situações, como a própria ideia de que a sociedade civil seria o locus dos impulsos emancipatórios.
Paradoxalmente, os processos de crítica/crise dos regimes burocráticos do Leste europeu, que deram o impulso inicial para o ressurgimento do conceito de sociedade civil, transformaram-se num poderoso argumento contra as ideias de autonomia da sociedade civil e doe seu carácter inerentemente progressista. Pois foi justamente nos países nos quais ela afirmou de maneira mais enfática a pretensão de autonomia sob a forma da «sociedade civil contra o Estado» – Polônia e Hungria – que de maneira mais rápida foi absorvida pelo Estado e pelo mercado, perdendo significativamente a sua força inicial.
No Leste europeu e na América Latina, combinaram-se frequentemente processos de concertação que levaram à desmobilização da sociedade civil e à incorporação das suas direções no aparelho governativo, com a rápida transformação dessas direções em defensoras do livre mercado. Em muitas ocasiões as chamadas organizações não governamentais foram coadjuvantes no processo de desmantelamento dos serviços públicos estatais e protagonistas do esvaziamento das organizações tradicionais de luta da classe trabalhadora e da juventude e de moderação dos conflitos sociais.
Quanto aos impulsos emancipatórios que residiriam na sociedade civil, não é demais alertar que este conjunto de organismos não é socialmente indiferenciado. Os cortes classistas e as lutas entre os diferentes grupos sociais atravessam esse conjunto de organismos. Este alerta justifica-se na medida em que, no vocabulário político hodierno, tornou-se preponderante um conceito tocquevilliano de «sociedade civil». Neste, a sociedade civil passou a significar um conjunto de associações situadas fora da esfera estatal, indiferenciadas e potencialmente progressistas, agentes da transformação social e portadoras de interesses universais não contraditórios.
A constituição do movimento altermundialista e as experiências dos fóruns sociais mundiais pareceriam confirmar essa visão. Mas vale alertar que além das organizações que compõem o movimento altermundialista, o reacionário Project for a New American Century e os demais think tanks conservadores que formataram a política externa do Governo Bush, fazem parte, também, dessa sociedade civil. Simone Chambers e Jefrey Kopstein (2001) chamaram a atenção, apropriadamente, para a existência de uma “bad civil society”: o desenvolvimento de correntes autoritárias ou, até mesmo, totalitárias, no interior da própria sociedade civil e não à sua margem, como foi o caso do nazismo na República de Weimar e do fascismo na Itália.
Percebida não como um todo indiferenciado, mas como um conjunto marcado pelos profundos antagonismos classistas, a sociedade civil perde o seu véu ilusório. Ao invés de local da universalização de interesses particularistas ela deveria ser vista como um espaço da luta de classes, da afirmação de projetos antagônicos e, portanto, da construção de uma utopia não-autolimitada.
Referências bibliográficas
CHAMBERS, Simone  e KOPSTEIN, Jefrey. Bad civil society. Political Theory, v. 29, n. 6, p. 837-865, Dez. 2001.
Padre Joãozinho, scj on dezembro 17th, 2012
“Ai de mim se não Evangelizar” (1Cor 9,16)
Caríssimo(a), a paz e a bênção de Nosso Senhor Jesus Cristo estejam
convosco!
Sou Dom Raymundo Damasceno Assis, Cardeal Arcebispo de Aparecida e
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Dirijo-me
pessoalmente a você para apresentar a Campanha de Evangelização 2012. Assim
como o Apóstolo Paulo que evangelizou com amor e dedicação, somos chamados
a evangelizar com esta grandiosa ação em nossas dioceses, paróquias e
comunidades que promovem a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Vamos fazer uma
Campanha de Evangelização do tamanho do Brasil. E precisamos da ajuda do
tamanho da sua Fé.
Em um país como o Brasil, onde a estrutura da Igreja Católica forma uma das
maiores bases sociais para a população, é preciso que todos nós ajudemos a
Igreja em sua missão e propagação do Evangelho. Nossa Igreja é formada por
homens e mulheres; jovens e idosos; religiosos e religiosas; leigos e
leigas. Juntos, somos a maior instituição benfeitora e promotora de
caridade do Brasil. Alimentamos quem tem fome e tratamos quem procura por
nossos hospitais. Ninguém distribui mais alimentos do que nossa gente, o
povo de Deus!
Educamos mais alunos que qualquer outra instituição de ensino desse país,
como as crianças em nossas creches e os idosos em nossos lares de
convivência. Ninguém distribui mais bolsas para a educação do que nossos
colégios e faculdades com mais de 2 milhões de alunos. Por isso, estamos
presentes em todos os municípios do Brasil levando amor, unidade e
esperança para todas as pessoas de fé, de todas as raças, guiados pela Boa
Nova da verdade e da paz, sempre na defesa do bem e da dignidade da pessoa
humana e firmes no propósito de evangelizar, como nos ordenou o Mestre.
Acolhemos milhões de pessoas em nossas casas, trazidas pela fé que anima a
nossa Igreja. Nossos carismas são inspirados pelo Espírito Santo e estão
presentes em mais de duzentas mil comunidades pregando o Evangelho, sob a
intercessão e proteção de Maria, nossa Mãe e Mãe de todos os povos. Por
isso, como batizados, somos convidados a favorecer cada vez mais o bem
comum e colaborar com a nossa Igreja. Precisamos da sua ajuda. Venha
dividir um pouco do que é só seu para multiplicar o que podemos fazer por
todos.
Lembre-se que há mais de 500 anos evangelizamos o Brasil, guiados pela
nossa profissão de fé em Cristo Jesus. Nossas missões estão nos quatro
cantos do país e do mundo. Enquanto todos já se esqueceram do Haiti, nossos
missionários e nossas missionárias permanecem por lá ajudando quem
necessita, sob o Evangelho de Jesus Cristo. Somos mais de 130 milhões
unidos em uma só família: a Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil.
Este é o sinal que nos faz criar laços de comunhão fraterna, favorecendo
uma Igreja presente e atuante em nossos tempos. E todos devem conhecer e
colaborar com isso. É um compromisso de solidariedade e fraternidade com os
nossos irmão e irmãs em Cristo!
Nesse sentido, a CNBB quer caminhar bem perto e junto com você e a Campanha
para a Evangelização significa a abertura de um caminho para despertar a
solidariedade de todos os católicos no sustento da missão da Igreja em
nosso país. E em outros países mais necessitados. Entre no site da Campanha
www.evangelija.com e faça sua doação, colabore com a sua generosidade e
seja também um benfeitor e promotor da caridade de nossa amada Igreja
Católica!
Em Cristo Jesus!
Dom Raymundo Damasceno Cardeal Assis – Arcebispo Metropolitano de
Aparecida-SP
Presidente da CNBB