Segundo a OIT, em todo mundo são mais
de 75 milhões de jovens desempregados, o que equivale a quase 40% do
total de pessoas sem emprego. A taxa de desemprego entre os jovens é o
triplo à verificada entre os adultos
06/12/2012
Lucas Ribeiro Prado*
São
muitos os problemas que atingem a juventude. Isso faz com que muitas
vezes ela seja percebida de uma forma fragmentada e sem um recorte de
classe. Todavia, alguns problemas vividos pelos jovens são fundamentais
no seu processo de consciência, possibilitando assim sua organização
política e mobilização massiva. A Organização Internacional do Trabalho
(OIT) tem alertado para o problema do crescente desemprego juvenil em
todo o mundo. Paralelamente a isso, Barack Obama tem demonstrado grande
preocupação de que o endividamento estudantil nos Estados Unidos possa
aprofundar ainda mais a crise mundial.
Segundo a OIT, em todo
mundo são mais de 75 milhões de jovens desempregados, o que equivale a
quase 40% do total de pessoas sem emprego. A taxa de desemprego entre os
jovens é o triplo à verificada entre os adultos. A organização estima
que o desemprego juvenil continuará crescendo até 2017.
Na Europa
a situação da juventude está cada vez mais crítica. As taxas de
desemprego juvenil na Grécia são de 58%; na Espanha, de 56%; em
Portugal, de 38%; e na Itália, de 35%. Nos países do norte da África a
situação do desemprego também é grave. No Egito, o desemprego atinge 90%
dos jovens. No Brasil, apesar dos baixos índices de desemprego nos
últimos anos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
54% dos desempregados são jovens entre 18 e 29 anos. A juventude tem
sido o setor mais atingido pela crise até agora.
O custo do
ensino superior dobrou nos últimos trinta anos em todo mundo. Nos EUA, a
dívida estudantil dobrou nos últimos cinco anos, chegando a US$ 1
trilhão (cerca de R$ 2,13 trilhões), ultrapassando as dívidas dos
cartões de crédito e automóveis. Num contexto de crise econômica, os
custos da faculdade ultrapassaram a inflação global e a inadimplência
dobrou desde 2008, havendo a possibilidade de uma nova bolha financeira
semelhante a dos títulos imobiliários.
Isso tem preocupado o
presidente Barack Obama que tem tomado algumas medidas para contornar o
problema, como a redução da atuação de bancos comerciais no programa
federal de auxílio estudantil e a ameaça de diminuição das subvenções
públicas para as universidades que aumentarem as taxas de matrícula, mas
nenhuma delas obteve sucessos.
Está cada vez mais difícil para
os recém formados conseguirem emprego nos EUA: 46% estão desempregados,
muitos sequer conseguem terminar suas graduações e os que conseguem
passarão em média 25 anos pagando por elas. A crise dos créditos
estudantis poderá desestabilizar ainda mais a economia norte americana.
Na
América Latina, o Chile é o caso mais emblemático do endividamento
estudantil. Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE), a educação chilena é a mais desigual e a segunda mais
cara do mundo. Após um intenso processo de privatização do ensino
superior na década de 80, atualmente existem 500 mil universitários que
estão endividados para pagar seus estudos, sendo que 110 mil são
considerados inadimplentes. A dívida dos estudantes chilenos alcança os
US$ 364 milhões (aproximadamente R$ 775 milhões).
No Canadá,
apesar de todas as universidades serem públicas, as taxas cobradas fazem
com que o endividamento estudantil chegue a US$ 15 bilhões
(aproximadamente R$ 31,9 bilhões) afetando 57% dos estudantes. O governo
canadense aumentou em 75% o valor das taxas do ensino superior nos
últimos cinco anos, como forma de compensar os gastos públicos com a
educação dos últimos 40 anos. O endividamento estudantil combinado com a
elevação do custo do ensino superior e os altos índices de desemprego
poderão resultar em uma taxa de inadimplência cada vez maior.
No
Brasil está em curso um processo de ampliação do crédito estudantil.
Desde 2010 o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) cresceu 1.150%,
500 mil estudantes utilizam o fundo, o que equivale a R$ 1,6 bilhão. Só
em 2012 foram 140 mil novos contratos. A reforma universitária, aprovada
durante a ditadura militar, em 1968, criou as bases da privatização da
universidade pública brasileira, desvinculando recursos públicos para a
educação e dando ampla autonomia para a iniciativa privada. Atualmente,
82% das matrículas no ensino superior são feitas em universidades
privadas, sendo que cinco delas são as maiores do país.
Por outro
lado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
70% dos estudantes universitários brasileiros trabalham. Uma outra
fatia de 14% da juventude mais pobre da população não trabalha nem
estuda, um total de 5,3 milhões de jovens. Isso representa um grande
desafio para a organização da juventude da classe trabalhadora, tanto no
espaço de trabalho quanto no espaço da escola.
Na atual
conjuntura, o desemprego e o endividamento estudantil têm afetado
profundamente a vida dos jovens em todo mundo e resultado em
mobilizações massivas. O desemprego tem mobilizado milhares de jovens na
Espanha, Itália, Portugal, Inglaterra e Grécia, em protestos contínuos
desde 2009. Um dos grandes fatores de mobilização da “primavera árabe”
em 2010 foi o desemprego da juventude. No Chile, mais de 300 mil
estudantes saíram às ruas em 2011 para protestar contra o endividamento
estudantil. Nos EUA, o endividamento estudantil foi um dos fatores que
mobilizaram os jovens no Occupy Wall Street em 2011, mobilizando cerca
de 20 mil estudantes. No Canadá, mais de 260 mil estudantes saíram às
ruas este ano, na “primavera canadense”, contra o aumento das taxas do
ensino superior. Todos esses movimentos assumiram um caráter
antineoliberal.
Essas mobilizações colocam a importância de se
organizar a juventude em torno de um Projeto Popular para a Educação,
capaz de superar as contradições que se aprofundarão com a crise
mundial. A articulação de lutas pela universidade pública e gratuita,
contra o endividamento estudantil e contra o aumento dos custos do
ensino superior serão questões fundamentais para as lutas de massa da
juventude nos próximos períodos. Mas, para que essas questões se
transformem em lutas é preciso que as organizações de juventude
amadureçam seus métodos de trabalho de base para atingir jovens que
estudam e trabalham, e outros que nem estudam e nem trabalham.
*Advogado popular e militante da Consulta Popular
(Fonte: Brasil de Fato)