Sandy provoca debates sobre mudança climática nos EUA
“O aquecimento global provavelmente foi um pequeno fator,
mas significativo para o Sandy. Porém, este fator aumentará com o
tempo”, diz o especialista em clima Michael Oppenheimer
Por Rebecca Hanser, da IPS/Envolverde
Para os especialistas em questões climáticas, a destruição e a
devastação causadas pelo furacão Sandy na costa nordeste dos Estados
Unidos são outra razão para colocar o aquecimento global na agenda
política. O furacão acendeu o fraco debate em torno da mudança
climática, ao qual ambientalistas atribuem episódios como o do Sandy. A
recuperação imediata após o desastre causado pelo furacão se tornou a
principal preocupação, embora os ambientalistas insistam em dizer que
não se deve esquecer dos possíveis focos de contaminação causados pelo
impacto sofrido no sistema de saneamento.
“Sandy é o que ocorre quando as temperaturas aumentam um grau”, disse
Bill McKibben, presidente e cofundador do movimento 350.org, em um
comunicado de imprensa. “Os cientistas que previram esta mega-tempestade
também divulgaram outro duro alerta: se continuarmos pelo mesmo
caminho, nossos filhos viverão em um planeta superquente, que terá
temperatura quatro ou cinco vezes maior do que agora”.

O
aquecimento global é o resultado de atividades humanas como a queima de
combustíveis fósseis. Esta, entre outras, gera grandes concentrações de
gases-estufa que elevam a temperatura dos oceanos e da atmosfera. “A
indústria dos combustíveis fósseis causa a crise climática que gera
fenômenos extremos como o furacão Sandy”, disse McKibben. “Pedimos às
grandes petroleiras que deixem de gastar milhões de dólares para
influírem nas eleições e doem o dinheiro para paliar os efeitos do
desastre”, acrescentou.
Um informe da organização Rainforest Action Network demonstra que os
bancos que financiam e investem em companhias intensivas em carbono
também são responsáveis pela deterioração do clima. Tampouco medem de
forma apropriada sua própria pegada de carbono, embora haja pautas
suficientes disponíveis para ajudá-los, segundo o estudo
Financiando o Desbaratamento do Clima: Impactos das Emissões Financiadas pelo Setor Bancário.
Nem todos os especialistas concordam quanto às causas que produziram o
furacão Sandy. “É uma questão de probabilidades”, disse à IPS Steven
Hamburg, diretor científico do Fundo de Defesa Ambiental. “Não se pode
dizer que o Sandy aconteceu por causa da mudança climática. Pode-se
dizer que é muito mais provável que este tipo de tempestade obedeça a
fatores coadjuvantes, que incluem elementos diretamente relacionados com
o aquecimento global. Sandy poderia ter ocorrido sem mudança climática?
Naturalmente. É provável? Não”, acrescentou.
O jornalista David Biello, especializado em questões ambientais
concorda: “O aquecimento global não criou o Sandy, mas certamente para
seu impacto contribuíram alguns elementos que definitivamente o deixaram
pior”. Biello, editor-adjunto da
Scientific American, explicou
que “normalmente os furacões chegam à costa e retornam para o mar, mas,
devido ao derretimento do gelo no Ártico, neste verão boreal houve um
padrão climático que impediu o furacão Sandy de seguir essa trajetória e
o levou de volta à terra”.
Os especialistas concordam que a frequência e a intensidade dos
furacões aumentarão com o tempo. “O aquecimento global provavelmente foi
um pequeno fator, mas significativo para o Sandy. Porém, este fator
aumentará com o tempo”, disse à IPS o especialista em clima Michael
Oppenheimer, professor na Universidade de Princeton. “Este tipo de
grandes tempestades só ocorre uma vez a cada cem anos, e agora se torna
mais frequente, o que é um grande desafio para a adaptação humana e a
resiliência de nossa infraestrutura”, alertou Oppenheimer. “Não vemos
mais furacões, mas há mais variedades de tempestades e com uma
intensidade maior”, concordou Hamburg.
Sandy quebrou o chamado “silêncio climático” da campanha para as
eleições presidenciais de amanhã nos Estados Unidos. As atividades do
dia 29 foram suspensas e no dia seguinte foi impossível ignorar o tema.
“Os candidatos decidiram não falar sobre mudança climática, mas esta
decidiu falar a eles”, afirmou Mike Tidwell, diretor da Chesapeake
Climate Action Network, em um comunicado de imprensa. Porém, Biello
discorda. “Gostaria de pensar dessa forma, mas temos muitos chamados de
alerta, dos quais o maior foi o Katrina, que apagou a cidade de New
Orleans do mapa. Infelizmente, até agora não se progrediu muito”,
ressaltou.
A organização Riverkeeper, com sede em Nova York, expressou sua
preocupação pela crescente contaminação da água por dejetos flutuantes,
vazamento de petróleo e de outros produtos químicos dos tanques de
combustível de veículos e barcos semi-afundados, tudo o que contamina as
águas do rio Hudson e o porto de Nova York. A organização também
destaca o perigo para a saúde pública de vazamentos na rede de esgoto,
que já é considerado um “problema crônico”.
Também explicou que, embora o vazamento de esgoto seja comum quando
há tempestades moderadas e fortes, a contaminação deixada pelo Sandy é
diferente porque invadiu estradas e casas, não foi para o rio nem para o
porto. “Esta tempestade não acabou”, disse o presidente Barack Obama em
discurso feito no dia 30 de outubro, na sede da Cruz Vermelha. “Não há
tempo para falta de ação. A recuperação vai demorar um tempo
significativo”, enfatizou. (Fonte: Revista Forum)