segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Nota Pública do Fórum Nacional de Educação sobre a importância estratégica da educação para o País

Autor: Fórum Nacional de Educação | Data: 26 de outubro de 2012
Nota Pública do Fórum Nacional de Educação sobre a importância estratégica da educação para o País e a sua vinculação ao critério de destinação dos royalties do petróleo, por ocasião do processo de votação do PL 2565/11, na Câmara dos Deputados.
Nota Pública do Fórum Nacional de Educação sobre a importância estratégica da educação para o País e a sua vinculação ao critério de destinação dos royalties do petróleo, por ocasião do processo de votação do PL 2565/11, na Câmara dos Deputados.
Brasília, 26 de outubro de 2012.
O Fórum Nacional de Educação, órgão de Estado e espaço inédito de interlocução entre a sociedade civil e governo, instituído pela Portaria nº. 1407/2010, reivindicação histórica da comunidade educacional e fruto de deliberação da Conferência Nacional de Educação (Conae-2010), acompanhou a tramitação do Projeto de Lei nº 8.035/2010 que visa a instituir o próximo Plano Nacional de Educação com duração decenal.
O PNE, já aprovado na Câmara dos Deputados e encaminhado ao Senado Federal (PLC 103/12) é o principal instrumento que a sociedade brasileira contará para revolucionar a educação nacional e assim, resgatar a enorme dívida histórica para com esse direito social proclamado pela nossa Constituição Federal cidadã. Porém, para o PNE tornar-se realidade, depende de financiamento necessário à efetivação de suas metas e, por força de dispositivo constitucional, para este fim, a Câmara dos Deputados já definiu a vinculação de 10% do PIB para financiar as suas metas.
Por outro lado, há consensos, tanto no governo, quanto na sociedade civil que as fontes que assegurarão a aplicação dos 10% do PIB devem ser imediatamente definidas e, na votação dos royalties pagos à União, aos estados e aos municípios, o Fórum Nacional de Educação defende que o critério de destinação dessa receita tributária, seja o investimento na educação escolar pública nacional.
Por este motivo, o Fórum Nacional de Educação defende que 100% dos royalties advindos dos novos contratos da exploração de petróleo sejam destinados à educação, como um dos meios para viabilizar o patamar de 10% do PIB para a educação pública nacional.
Certamente, dessa forma, senhores deputados, o PLC 103/2012, que trata do novo PNE começará a ganhar musculatura e, ao mesmo tempo, oferecerá as garantias para uma aplicação orientada, eficiente e efetiva, dessa receita, na educação escolar brasileira.
O FNE, portanto, respeitando a soberania e a independência do Poder Legislativo, recomenda aos Deputados Federais que empreendam os esforços necessários para emendar o PL 2565/2011, de modo a incluir e aprovar a destinação de 100% dos royalties do petróleo à educação pública oferecendo suporte à efetivação das metas do próximo PNE.
O Coordenador-Geral do FNE, ad referendum, delibera esta recomendação

Nota pública do CTI sobre a questão fundiária Guarani-Kaiowá

É importante que essa comoção seja acompanhada de um conhecimento efetivo dos nós que emperram os processos de regularização das terras dos Guarani e Kaiowá
29/10/2012


É muito positiva e surpreendente a comoção que uma carta manifesto escrita pela comunidade Guarani Kaiowá da aldeia Pyelito Kue, localizada no complexo de Iguatemi Pegua, provocou na opinião pública em relação ao genocídio que há décadas se instalou contra os povos indígenas no Mato Grosso do Sul. Diversas pessoas que agora tomam conhecimento da situação inaceitável que enfrentam os Guarani e Kaiowá no cone sul do Estado têm se manifestado nas redes sociais repudiando o genocídio e a conivência de diversos setores dos governos estadual, federal e do Poder Judiciário. Personalidades públicas e entidades têm feito o mesmo. A repercussão do tema, embora não ganhe o espaço que deveria nos grandes meios de comunicação (também coniventes), traz a esperança de que uma ampla divulgação desta tragédia possa trazer a força que falta para a regularização das terras tradicionais reivindicadas pelos Guarani e Kaiowá no MS, única forma de resolução do conflito.
O que é surpreendente é que ações judiciais contra os indígenas no MS, despejos, assassinatos, violência e racismo são há muito o dia a dia dessas comunidades e nunca tanta gente se deu conta disso. Por isso, é importante que essa comoção seja acompanhada de um conhecimento efetivo dos nós que emperram os processos de regularização de suas terras, para que a vontade de ajudar não se esgote rapidamente, como costuma ser o caso, numa sensação de que o problema é insolúvel e numa descrença generalizada em relação à capacidade e disposição do poder público em quitar a dívida monstruosa que tem com os Guarani e Kaiowá.
É evidente que a regularização das terras indígenas no Mato Grosso do Sul, assim como ocorre em outros Estados, esbarra nos interesses e numa postura intransigente de parte dos ruralistas, que hoje têm peso enorme na correlação de forças dos governos federal e estadual, e, sobretudo, têm meios financeiros para exercer uma pressão esmagadora para que o Poder Judiciário emperre ao máximo os processos.
Esses são os dois nós que emperram os processos e que precisam ser desatados ao mesmo tempo para que os índios de fato tenham posse plena das terras: 1) a falta de prioridade orçamentária e política do Governo Federal para finalizar os estudos de identificação e delimitação das terras indígenas no MS; 2) a conivência do Poder Judiciário, muitas vezes curvado à pressão e aos interesses dos ruralistas no sentido de paralisar os processos, nas suas mais diversas fases.
Nesse contexto, o CTI acredita que seria preciso um mecanismo que permitisse “convencer” os proprietários de boa-fé a retirar as ações contra os processos de regularização das TIs e que ao mesmo tempo permitisse ao Governo Federal levar a cabo esses processos dentro dos marcos do artigo 231 da Constituição Federal de 1988 (leia mais). Ocorre que esse mecanismo já existe no Mato Grosso do Sul, e nenhum dos setores majoritários do Governo Federal que alegam ter interesse em resolver a questão se empenhou em utilizá-lo.
Fica evidente, portanto, que falta muita vontade política do Governo Federal e é preciso que a pressão da opinião pública se direcione no sentido de provocá-lo a usar dos mecanismos que já tem em mãos para resolver a questão.
Explicando melhor: o Governo do Mato Grosso do Sul aprovou a Lei Estadual nº 4.164/2012, que “autoriza o Poder Executivo a Criar o Fundo Estadual de Terras Indígenas”, o FEPATI. Esse mecanismo permite, sem qualquer alteração da Constituição de 1988, a criação de um fundo financeiro para indenizar proprietários de boa-fé cujos imóveis incidam sobre as terras indígenas no Mato Grosso do Sul. Pela Constituição de 1988, Artigo 231, § 6º, os títulos emitidos sobre terras tradicionalmente ocupadas são nulos e, portanto, os imóveis a que se referem não podem ser indenizados. Através dessa Lei o Estado do Mato Grosso do Sul implicitamente reconhece que emitiu títulos inválidos e pretende indenizar os proprietários de boa fé pagando-lhes pelo valor da chamada “terra nua” (posto que as “benfeitorias de boa fé” erigidas nos imóveis são indenizáveis pelo parágrafo 6º do artigo 231 da Constituição).
Esse nó da indenização da chamada “terra nua” tem motivado o Governo Federal, sobretudo o Ministério da Justiça, e os próprios ruralistas a justificar uma suposta necessidade de alterar a Constituição Federal de 1988 para resolver os conflitos mais acirrados envolvendo terras indígenas, como os do Mato Grosso do Sul. Com isso eles jogam uma cortina de fumaça no problema, fingindo buscar uma solução conciliatória, mas pretendendo na verdade restringir ainda mais os direitos dos povos indígenas no Brasil inteiro.
Mas uma possível solução já está nas mãos do Governo, por meio da recém aprovada Lei Estadual 4.164, e o Ministério da Justiça nada faz para tentar buscar recursos para o FEPATI e negociar com os proprietários de boa fé a retirada das ações judiciais. Ao contrário, é conivente com medidas de flagrante desrespeito aos índios, que só fazem aumentar o problema, como a polêmica e inconstitucional Portaria 303, da AGU.
Conclamamos todos a pressionar o Ministério da Justiça, a Casa Civil e a Presidenta para reunir seus esforços no sentido de buscar recursos para o FEPATI, e negociar a retirada das ações judiciais contra os índios! Se o problema é indenizar proprietários de boa-fé (que não são tantos assim, se forem julgados aqueles que realizam ou realizaram ações violentas contra os índios), a saída já está nas mãos do Governo. Qualquer alegação ao contrário, ou propostas irresponsáveis de alteração do artigo 231, são meras desculpas e devem ser combatidas.
Se houver interesse efetivo do Governo, uma campanha internacional para emponderar e angariar recursos para o FEPATI, negociando a retirada das ações judiciais, poderia contribuir decisivamente para garantir aos Guarani e Kaiowá a regularização e usufruto efetivo de suas terras tradicionais, resgatando a dignidade desses povos.

A fome: desafio ético e político

O número de famintos, segundo a FAO, saltou de 860 milhões para um bilhão e duzentos milhões
29/10/2012
Leonardo Boff

Por causa da retração econômica provocada pela atual crise financeira, o número de famintos, segundo a FAO, saltou de 860 milhões para um bilhão e duzentos milhões. Tal fato perverso impõe um desafio ético e político. Como atender as necessidades vitais destes milhões e milhões?
Historicamente este desafio sempre foi grande, pois a necessidade de satisfazer demandas por alimento nunca pôde ser plenamente atendida, seja por razões de clima, de fertilidade dos solos ou de desorganização social. À exceção da primeira fase do Paleolítico quando havia pouca população e superabundância de meios de vida, sempre houve fome na história. A distribuição dos alimentos foi quase sempre desigual.
O flagelo da fome não constitui, propriamente, um problema técnico. Existem técnicas de produção de extraordinária eficácia. A produção de alimentos é superior ao crescimento da população mundial. Mas eles estão pessimamente distribuídos. 20% da humanidade dispõe para seu desfrute 80% dos meios de vida. 80% da humanidade deve se contentar com apenas 20% deles. Aqui reside a injustiça.
O que ocasiona esta situação perversa é a falta de sensibilidade ética dos seres humanos para com seus coiguais. É como se tivéssemos esquecido totalmente nossas origens ancestrais, aquela da cooperação originária que nos permitiu sermos humanos.
Esse déficit em humanidade resulta de um tipo de sociedade que privilegia o indivíduo sobre a sociedade, valoriza mais a apropriação privada  do que a coparticipação solidária, mais a competição do que a cooperação, dá mais centralidade aos valores ligados ao masculino (no homem e na mulher) como a racionalidade, o poder, o uso da força do que os valores ligados ao feminino (também no homem e na mulher) como a sensibilidade aos processos da vida, o cuidado e a disposição à cooperação.
Como se depreende, a ética vigente é egoísta e excludente. Não se coloca a serviço da vida de todos e de seu necessário cuidado. Mas está a serviço dos interesses de indivíduos ou de grupos com exclusão de outros.
Uma desumanidade básica se encontra na raiz do flagelo da fome. Se não vigorar uma ética da solidariedade, do cuidado de uns para com os outros não haverá superação nenhuma.
Importa considerar que o desastre humano da fome é também de ordem política. A política tem a ver com a organização da sociedade, com o exercício do poder e com o bem comum. Já há séculos, no Ocidente, e hoje de forma globalizada, o poder político é refém do poder econômico, articulado na forma capitalista de produção. O ganho não é democratizado em benefício de todos, mas privatizado por aqueles que detém o ter, o poder e o saber; só secundariamente beneficia os demais. Portanto, o poder político não serve ao bem comum. Cria desigualdades que representam real injustiça social e hoje mundial. Em consequência disso, para milhões e milhões de pessoas, sobram apenas migalhas sem poder atender suas necessidades vitais. Ou simplesmente morrem em consequência das doenças da fome, em maior número, inocentes crianças.
Se não houver uma inversão de valores, se não se instaurar uma economia submetida à política e uma política orientada pela ética e uma ética inspirada numa solidariedade básica não haverá possibilidade de solução para a fome e subnutrição mundial. Gritos caninos de milhões de famintos sobem continuamente aos céus sem que respostas eficazes lhes venham de algum lugar e façam calar este clamor.
Por fim, cabe reconhecer que a fome resulta também do desconhecimento da função das mulheres na agricultura. Segundo a avaliação da FAO são elas que produzem grande parte do que é consumido no mundo: de 80% - 98% na África subsaariana, de 50%-80% na Ásia e 30% na Europa central e do leste. Não haverá seguridade alimentar sem as mulheres agricultoras, caso não lhes for conferido mais poder de decisão sobre os destinos da vida na Terra. Elas representam 60% da humanidade. Por sua natureza de mulheres são as mais ligadas à vida e à sua reprodução. É absolutamente inaceitável que, a pretexto de serem mulheres, se lhes neguem os títulos de propriedade de terras e o acesso aos créditos e a outros bens culturais. Seus direitos reprodutivos não são reconhecidos e se lhes impede o acesso aos conhecimentos técnicos concernentes à melhoria da produção alimentar.
Sem estas medidas continua válida a crítica de Gandhi: "a fome é um insulto; ela avilta, desumaniza e destrói o corpo e o espírito… senão a própria alma; é a forma de violência mais assassina que existe”.

Veja do autor o livro: Comer e beber juntos e viver em paz, Vozes 2006.

A renovação permanente

A conversão pessoal e comunitária é o melhor caminho da unidade e é o único modo das Igrejas se renovarem e exercerem sua missão de diálogo com a humanidade
29/10/2012

Marcelo Barros

“A Igreja reformada deve se reformar permanentemente”. Esta palavra de Lutero é recordada em todo o mundo nesses dias em que a reforma protestante completa mais um aniversário (31 de outubro) e prepara a celebração dos seus 500 anos (2017). Neste ano do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, podemos também comemorar os 50 anos da primeira reunião oficial de bispos católicos em que cristãos de outras Igrejas foram convidados como observadores e participantes. De fato, naqueles anos, o Concílio mudou o clima de distância entre as confissões diferentes e transformou irmãos separados em Igrejas irmãs. Isso teve consequências importantes não só para as próprias Igrejas, mas para todo o mundo. Os cristãos se uniram no apoio e participação em movimentos como a luta contra o apartheid na África do Sul e pela paz e justiça no mundo. Na América Latina, a teologia da libertação nasceu ecumênica e foi aprofundada no diálogo entre teólogos/as católicos e evangélicos/as. Em 1983, ao celebrar os 500 anos do nascimento do reformador Martinho Lutero, o papa João Paulo II afirmou que Lutero é um mestre da fé para todos os cristãos.
Se 31 de outubro foi a data simbólica da divisão das Igrejas do Ocidente, essa mesma data marcou um gesto importante de reconciliação e unidade. Neste dia, em 1999, a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial assinaram um acordo sobre a justificação pela fé, ponto maior da divisão no século XVI e que, hoje, não é mais motivo de divisão entre as Igrejas. Há menos de dois anos, o papa Bento XVI visitou na Alemanha o mosteiro onde Lutero viveu como monge agostiniano. Naquele lugar, junto com o presidente da Federação Luterana Mundial, o papa afirmou que Lutero era um modelo da pessoa crente que busca permanentemente a Deus, como nós todos somos chamados a fazer. Atualmente, em vários lugares do mundo, exegetas católicos e evangélicos trabalham e ensinam juntos as Sagradas Escrituras. Teólogos católicos são professores em universidades de teologia luterana e metodista. Ao mesmo tempo, professores evangélicos são mestres em universidades católicas.
O modelo de unidade que se deseja para as Igrejas não é o da uniformidade que, de todas, faria uma super-Igreja única e poderosa. Já no século III, Cipriano, bispo de Cartago, ensinava: “A unidade abole a divisão, mas respeita as diferenças”. O Conselho Mundial de Igrejas que reúne 349 Igrejas em uma fraternidade congregacional propõe como modelo de unidade “uma diversidade reconciliada”. No século XVI, ao pregar que a renovação da Igreja deve ser permanente, Lutero recordava que Jesus nos chama a uma contínua conversão de nossas vidas. A conversão pessoal e comunitária é o melhor caminho da unidade e é o único modo das Igrejas se renovarem e exercerem sua missão de diálogo com a humanidade. Jesus pediu ao Pai que seus discípulos sejam unidos, para que o mundo possa crer (Jo 17, 19- 21). Esse assunto interessa a toda a humanidade porque é verdade o que afirmou o teólogo suíço Hans Kung: “O mundo não terá paz, enquanto as religiões não aprenderem a dialogar e a conviver como irmãs e, por várias razões culturais e sociais, isso não ocorrerá se as Igrejas cristãs não derem logo o exemplo e não retomarem o caminho do diálogo e da unidade”.

Marcelo Barros é monge beneditino.
Fonte: Brasil de Fato

domingo, 28 de outubro de 2012

Teologia da Libertação, M. Weber e capitalismo como religião
Jung Mo Sung
Diretor da Faculdade de Humanidades e Direito da Univ. Metodista de S. Paulo.
Adital
Max Weber, um dos "clássicos” das ciências sociais modernas, famoso pela tese de desencantamento do mundo, escreveu um texto que merece ser retomado com seriedade hoje. Ele disse: "Tudo se passa, portanto, exatamente como se passava no mundo antigo, que se encontrava sob o encanto dos deuses e demônios, mas assume sentido diverso. Os gregos ofereciam sacrifícios a deus das cidades; nós continuamos a proceder de maneira semelhante, embora nosso comportamento haja rompido o encanto e se haja despojado do mito que ainda vive em nós. [...] O máximo que podemos compreender é o que o divinosignifica para determinada sociedade, ou o que esta ou aquela sociedade considera como divino. [...] A religião tornou-se, em nosso tempo, ‘rotina quotidiana’. Os deuses antigos abandonam suas tumbas e, sob a forma de poderes impessoais, porque desencantados, esforçam-se por ganhar poder sobre nossas vidas, reiniciando suas lutas eternas.” (Ciência e política: duas vocações).
Normalmente se pensa que a modernidade Ocidental expulsou a religião da esfera pública – secularização – e a reduziu ao campo do privado. Além disso, acredita-se que a compreensão religiosa do mundo e a fé foram substituídas pela cosmovisão fundada na ciência e pela racionalidade moderna que não admite, por ex, a crença nos milagres relatadas na Bíblia ou na religiosidade popular. Diante do mundo moderno compreendido dessa forma, uma boa parte das igrejas cristãs pensam que uma das tarefas fundamentais da teologia é resignificar os símbolos e ensinamentos cristãos de tal modo que sejam compatíveis com a cultura moderna. Ou então, se posicionar contra o mundo moderno e pós-moderno por serem ateus e secularizados e tentar recuperar o poder das instituições religiosas na sociedade.
Contudo, Weber –que é citado por muitos para justificar essa visão da modernidade– diz algo bem diferente. Para ele, não há grande diferença entre cidades gregas que ofereciam sacrifícios aos seus deuses e o nosso mundo. Os sacrifícios continuam sendo oferecidos, só que agora não mais a "deuses pessoais”, mas a deuses que se aparecem sob a forma de "forças impessoais”. Isso por dois motivos básicos: a) hoje não se acredita mais que a natureza, por ex., seja prenhe e movida por espíritos sobrenaturais – o que chamamos de "mundo encantado”–, por isso a concepção de deuses da sociedade mudou; b) o aumento da complexidade do sistema socioeconômico criou forças impessoais que regem a dinâmica da vida social.
A diferença de a quem os sacrifícios são oferecidos não apaga o mais fundamental: a continuidade dos sacrifícios. Hoje, os sacrifícios de vidas humanas e da própria "natureza” são exigidos e justificados em nome das "leis do mercado”, essas forças impessoais que assumiu a função do divino. Isso aparece claramente hoje nas declarações que justificam os ajustes econômicos que estão sacrificando os idosos (com corte nas pensões), os enfermos (corte na saúde) e nas crianças e jovens (corte na educação) nos países europeus em crise. Ajustes para salvar o sistema financeiro. Assim como foi na América Latina nas décadas de 1980 e 1990.
O que Weber "intuiu” no início do século XX nos mostra um lado muito "esquecido” ou ocultado da modernidade: o seu aspecto sacrificial, portanto, religioso. O mundo moderno, com o seu capitalismo, não é ateu ou secularizado (no sentido de a religião estar fora da esfera pública), mas é, no discernimento bíblico, idólatra. Isto é, é um sistema baseado em uma divindade – feita de forças impessoais – que exige sacrifício de vidas humanas. Um setor importante da Teologia da Libertação, na década de 1980, denunciou isso e fez desse tema um dos centrais da sua reflexão. (Dois livros de referência dessa crítica são "A luta dos deuses” e "Idolatria do mercado”).
Se não compreendermos bem o caráter idolátrico, portanto religioso (segundo Weber, religião na forma de "rotina cotidiana”) do capitalismo global não seremos capazes de ter clareza na missão do cristianismo no mundo de hoje. Para isso, continua atual o desafio para teólogos/as da libertação de dialogar com cientistas sociais que continuam refletindo a partir desta intuição de Weber, da teoria de fetiche em Marx e/ou da crítica de W. Benjamin ao "capitalismo como religião”.
[Autor, com J. Rieger e N. Miguez, de "Para além do espírito do império: novas perspectivas em religião e política”, Paulinas. Twitter: @jungmosung].

Diferença salarial p/ quem tem mestrado ou doutorado chega a 420% a mais do que quem tem apenas Ensino Médio.

A questão indígena no Brasil



Por Nando Poeta

A História oficial
Contada por dominantes.
Os índios são uns bandidos
Perigosos habitantes.
Que não gosta do trabalho
Da preguiça, praticantes.

Os brancos nas Caravelas
Armados até os dentes.
Desembarca impondo a força
Esmagando as sementes.
E que as terras e riquezas
Agora são seus presentes.

Em troca os Brancos lhe davam
Espelhos, vários tecidos.
Canivetes para o corte
Aos índios são prometidos.
Mas bala e arma de fogo
De um lado faz os feridos.

É preciso conhecer
O outro lado da história.
Em que europeus cruéis
Esmagou,matou memória.
Praticando genocídio
Essa foi à trajetória.

O índio teve seu sangue
Na América derramado.
Estupros, furtos, massacres
De um povo humilhado,
Atacados cruelmente
Um a um assassinado.

As terras foram invadidas
Por espanhóis, portugueses.
Também se sentiram donos
Muitos piratas franceses.
Adoçaram sua riqueza
Em seguida os holandeses.

A chamada descoberta
Foi uma pura invenção
Dos tais colonizadores
Que fizeram a invasão.
Afirmando para todos:
- Somos civilização.

Já chegaram à terra alheia
Desmatando a floresta.
Dizendo que o nativo
Era selvagem e não presta.
E que agora o europeu
Será dono do que resta.

Trouxeram nas caravelas
Suas balas, seus canhões.
Disposto a exterminar
Aquelas populações.
Os índios têm suas vidas
Roubadas pelos ladrões.

Todas as tribos indígenas
Em combate desigual.
Sofreram grandes ataques
Na sua terra natal.
Expulsos, e massacrados
Tiveram um ponto final.

Para garantir domínio
Trouxeram a religião
Que rezava pra ter força
Com a catequização.
Acobertaram os crimes
Dessa colonização.

Com arco, flecha e canoa
O índio é habilidoso.
Na dança e pintando o rosto
No combate, corajoso.
Com a fauna e a flora
Sempre muito harmonioso.

O índio em nosso país
Tem sido tão maltratado.
A sua vida, cultura
Se deixa sempre de lado.
O habitante indígena
Precisa ser respeitado.

Legitimo filho da terra
Resistiu ao invasor.
Do falso descobrimento
Feito pelo explorador.
Da riqueza do Brasil
Extraíram seu valor.

Plantaram em nossas mentes,
Que o índio é preguiçoso.
Foge, corre de serviço
Passando o tempo ocioso.
Que querem tudo nas mãos
Além de ser perigoso.

Ao contrário é defensor
Da mata, da natureza.
Amigos dos animais
Os tratam com sutileza.
Querer ter a liberdade
É a sua fortaleza.

A morada na aldeia
Tem tarefa dividida.
O que se planta e se colhe
Seja pesca outra comida.
Por toda gente que habita
Igualmente é repartida.

Cuidar de filhos, plantar
Das mulheres é sua parte.
O homem com caça e pesca
Se pintam com muita arte.
Guerrear com arco e flecha
È sempre seu baluarte.

A choupana é o abrigo
Na tribo é a morada.
Tem oca grande, pequena
E é coletivizada.
A comunidade indígena
Assim é organizada.

Para curar tem pajé
A reza faz ao tupã.
O Cacique é governante
É o chefe maior do clã.
Respeito à comunidade
Seja jovem ou anciã.

No seio da natureza
Em busca do alimento.
Caça tatu, paca e anta
Pra pescar tem um talento.
Com plantas e as raízes
Faz remédio, tratamento.

O ar, água e os bichos
É um bem muito sagrado.
A terra, toda floresta
É um diamante amado.
E o morador da mata
Deve ser valorizado.

Contribui enormemente
Na formação da cultura.
Com as plantas da floresta
Doença muito se cura.
Produz pra subsistência
Em simples agricultura.

A dança faz o festejo
Ao som de um maracá.
No barulho do instrumento
O toré chega por lá.
Na roda só alegria
No toque de um ganzá.

Aruaque e macro-jê
Língua tupi-guarani,
Caribe, pano, tucano
Nambiquara, cariri
Se fala ianomâmi
O monde e maxacali.

Cana-de-açúcar, algodão
Jerimum, pimenta e fava,
Banana, tabaco, milho
Sempre na mata encontrava.
Inhame, batata-doce
Dava na terra tão brava.

Para saquear a mata
Cortando foi à madeira.
No solo a mineradora
Rouba fazendo carreira.
Fazendeiro, industrial
Em nossa terra faz feira.

As tribos de índio sofrem
Da horrenda violência.
São vitima da exploração
Sofrendo a ingerência.
De tiranos estrangeiros
Que atua com virulência.

Nas terras que foram dele,
Hoje é toda tomada
Pelo grande latifúndio
Por ele é explorada.
Impondo a ferro e a força
Não sobra um pouco de nada.

O nativo usando a flecha
O rico de arma de fogo.
As tribos são dizimadas
Europeu vencendo o jogo.
Madeira cortada ao tronco
Pelo branco demagogo.

Muito foram os transtornos
Existentes na aldeia.
Diarréia, epidemia
Doença pegou na veia.
Deixando a fome bater
Na toca, na sua ceia.

Os comedores de terras
Grilam e planta o garimpo.
Expulsa o índio afirmando
Que agora o chão será limpo
Acumulando a riqueza
Na altura do Monte Olimpo.

O conflito pela posse
Tem sido muito acirrado.
A luta por território
Deve estar bem no tratado.
Cada pedaço de chão
Merece ser demarcado.

A demarcação da terra
Precisa ser garantida.
Proteger a fauna e flora
Para não ser destruída.
É trilhando esse caminho
Que se defende a vida.

Não tem tempo que apague,
A dor do seu sofrimento.
Quando o colonizador
Espalhou o seu tormento.
Escravizando, matando
Deixando ressentimento.

Pra o viver ser defendido
O costume, a liberdade.
As nossas tribos indígenas
Enfrentam brutalidade.
Onde sua resistência
Foi buscar dignidade.

Hoje as comunidades
Indígena em nosso país.
Vive em total abandono
Tomam balas de fuzis.
A demarcação é farsa
Viver ficar pelo um triz.

O Brasil eram dos índios
Com mais de cinco milhões.
Hoje foram reduzidos
Existem poucas nações.
Fruto de ataques brutais
Dos brancos com seus canhões.

E na atualidade
Sofrendo a violência.
Sem terra para plantar
Para a sobrevivência.
No vicio do alcoolismo
Vive com muita carência.

As políticas dos governos
Só reforça o sofrimento.
Desprestigiando o índio
Que morre no seu lamento.
Sem ter direito algum
Fica jogado em relento.

A dívida com os indígenas
Até hoje ela existe.
E a falta de interesse
É coisa que se persiste.
Vivendo em total desprezo
Lutando muito resiste.

Em nossa sociedade
Se deve ter consciência.
Que os Índios e seus costumes
Para nós é referência
De se viver no respeito
Sem cometer truculência.

Queremos fazer justiça
A um povo espoliado.
Que durante vários séculos
Por dominante esmagado.
Seu levante no presente
É para ser libertado.

E que todo governante
Compreenda a mensagem.
Que os direitos indígenas
Não tenha falsa roupagem.
Já se perdeu muito tempo
Ao longo dessa viagem.